Quando eu estava estudando na yeshivá Chabad na Eastern Parkway 770, adoeci com pólio. Isso foi em 1955, o mesmo ano em que o médico judeu, Jonas Salk, introduziu a vacina da pólio, mas chegou tarde demais para mim. Minha doença era grave, e começou como um resfriado, mas a partir daí piorou.
A pólio, para aqueles que são jovens demais para lembrar, era uma doença contagiosa que já foi erradicada no mundo ocidental, mas costumava matar muitas pessoas. Prejudicava os músculos aponto de a pessoa afetada não poder caminhar ou sequer respirar, e a forma padrão de tratamento era colocar o doente num pulmão artificial de ferro e esperar pelo melhor.
Fui levado ao Hospital Kingston Avenue, que não existe mais, mas na época era o melhor hospital para doenças contagiosas. Fui colocado num pulmão de ferro, que parecia uma grande panela de água fervente, com apenas a cabeça do lado de fora. Este pulmão de ferro fazia a compressão dos músculos paralisados do peito, e assim levava oxigênio ao meu corpo. Mas eu estava muito, muito doente.
O médico que me cuidava tinha uma maneira arrogante de falar e ele disse ao meu pai e meu irmão: “D'us sabe se ele vai sobreviver às próximas doze horas.”
Ao ouvir aquilo, eles foram até o Rebe e disseram a ele qual era o meu prognóstico. Mas o Rebe apenas fez um gesto negativo com a mão. “Ele vai sobreviver ao médico,” declarou ele. E deu-me muitas bênçãos para a recuperação.
Durei mais que o prognóstico de doze horas dado pelo médico, mas continuei meu isolamento no pulmão de ferro. Meus colegas da yeshivá – Kehos Wiess, Mottel Zajac e Berel Baumgarten – tinham sido instruídos pelo Rebe a me visitar todo dia para assegurar que eu recebia comida casher e para colocar meus tefilin. Quando o médico os viu, disse: “Não se incomodem com ele… apenas deixem-no morrer em paz.” Eles relataram isso ao Rebe, que lhes disse a mesma coisa que tinha dito ao meu pai e meu irmão: “Ele vai sobreviver ao médico.”
E tragicamente, isso foi exatamente o que aconteceu. Dois dias depois, o médico contraiu pólio e morreu.
Fiquei no pulmão de ferro durante o verão – junho, julho, agosto e setembro – e então fui transferido para um hospital em Welfare Island (que hoje é Roosevelt Island) para recuperação. Durante esse período, sempre que o Rebe distribuía vinho do seu copo durante kos shel berachá ao final de um Yom Tov, ele sempre dava para meu pai para que levasse para mim.
Pela bondade de D'us, me recuperei, embora levasse dois anos. Então tive de usar uma cadeira de rodas por algum tempo e não podia caminhar sem muletas. Ainda estava na cadeira de rodas quando minha família me acompanhou de volta à yeshivá. Enquanto estávamos no saguão, o Rebe estava na sinagoga para liderar a prece Maariv. Quando ele nos viu, imediatamente se voltou e convidou-nos ao seu escritório.
Durante aquela audiência, ele me disse: “Na minha opinião, você vai ficar totalmente saudável,” e então me perguntou: “Reb Yechiel, o que você está fazendo para encontrar um par para casamento?”
“O Rebe quer dizer agora?” perguntei surpreso. Aqui estava eu, fazendo reabilitação, andando de cadeira de rodas, e o Rebe estava me dizendo para procurar uma esposa?
“De forma alguma,” ele disse. “Não agora. Agora é o meio da noite, portanto está um pouco tarde. Mas amanhã você deve fazer isso.”
“Mas eu tenho dívidas,” falei, explicando que tinha acabado de comprar um carro, e certamente não teria a renda para sustentar uma esposa e família.
Então o Rebe respondeu: “Não se preocupe. D'us sustenta você e meio bilhão de pessoas no mundo; Ele irá sustentar mais algumas.”
A essa altura, meu pai perguntou: “O Rebe quer dizer em sua situação atual?”
Jamais esquecerei a surpreendente resposta do Rebe:
“Sua condição é óbvia. A moça pode decidir se é ou não para ela. Sei de casos em que as questões não são óbvias, e as pessoas não estão abertas às outras. Nessa situação, não há nada a revelar, é aquilo que é.”
Então o Rebe me disse: “Es vet zain noch a trit in yam – Vai ser apenas mais um passo em sua jornada. Assim como D'us o ajudou a sobreviver, Ele o ajudará a se casar também.”
Acredite ou não, no dia seguinte uma mulher ligou para a minha tia dizendo que ela me vira e achava ter encontrado uma moça para mim que também tinha se recuperado da pólio. Seu nome era Leah Lipkind, e ela se tornou minha esposa e a mãe dos nossos filhos.
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