Por um tempo, parecia que tudo estava perdido ... depois veio a ousada resposta de um líder à tragédia.

Nota do editor: O que segue é uma tradução livre de uma história publicada no jornal israelense Yediot Achronot dia 4 de Iyar, 5717 (5 de maio de 1957). Preservamos o artigo basicamente como foi publicado originalmente sobre as pessoas e os eventos que ele descreve.

Na véspera de Yom HaAtzmaut (Dia da Independência) no ano passado, quando as fogueiras estavam sendo levantadas no Monte Herzl, em Jerusalém, fogo estava queimando também em Tzafrir (Kfar Chabad), a aldeia Chabad-Lubavitcher no Vale de Lod. Durante quatro dias a aldeia estava em luto profundo e enorme, de uma forma que os chassidim de Lubavitch não haviam provado há muitos anos.

Naquela noite terrível e amarga, estes assassinos entraram na aldeia. Eles foram até a sinagoga da escola agrícola local, onde os jovens estudantes estavam no meio das orações de Maariv e dispararam o gatilho de seus rifles Karl-Gustav, um verdadeiro massacre: cinco crianças e uma professora foram mortas e outras dez crianças ficaram feridas; seu sangue cobrindo os sidurim que cairam de suas mãos salpicando as paredes da sinagoga.

Os chassidim de Kfar Chabad ficaram de pé estupefatos diante da terrível cena que os seus olhos encontraram. Um pogrom em Israel! Um pogrom em Chabad! Eles sussurraram e morderam os lábios de raiva. As mulheres também estavam ali, torcendo as mãos e murmurando para si mesmas em russo e hebraico, os olhos emitindo um fluxo interminável de lágrimas.

Esta não era uma cena comum para os Lubavitchers. Esses chassidim, que haviam sobrevivido aos pogroms na Rússia do czar Nicolau e que o Exército Vermelho não conseguiu intimidar, banidos para as planícies congeladas da Sibéria, que passaram décadas de prisão e nos campos de trabalho forçado de Stalin não conseguiam curvar, agora estavam arrasados e desesperados. Agora, que o golpe atingiu o lar no coração do estado judeu.

No centro da aldeia estava o rabino Avraham Maayor, que havia sido um oficial de alta patente no exército russo. Avraham Maayor, do qual a lenda contou que ele calmamente se levantava e cantava melodias chassídicas quando um bando de soldados o espancava com as pontas de suas espingardas, agora se levantava clamando aos céus: “Mestre do Universo, Por que ?! Como as crianças pecaram ?!”

O desespero e o abatimento invadiram a aldeia e começaram a corroer suas fundações. Alguns viram o que aconteceu como um sinal de que o sonho de uma vida pacífica na Terra Santa era prematuro. Talvez devêssemos nos separar, buscar refúgio em lugares mais seguros? A aldeia estava morrendo lentamente.

A Espera da Aldeia

Mas ficou claro para todos que antes que qualquer movimento decisivo fosse feito, o Rebe deveria ser consultado. Nada seria feito sem o seu conhecimento e consentimento. Todos esperavam, mas nenhuma resposta ou sinal vinha de lá, de Nova York. Quatro dias se passaram desde o ataque terrorista. Um longo telegrama foi imediatamente enviado, informando ao Rebe todos os detalhes da tragédia, e uma resposta era esperada naquela mesma noite. Mas o Rebe ficou em silêncio. O que aconteceu, muitos se perguntaram, por que ele não responde? Ele não tem uma palavra de conforto para seus arrasados seguidores?

Um telegrama do Rebe, deve-se deixar claro, é parte integrante da vida de um chassid Chabad em todo o mundo. Todo problema, toda decisão referente à vida comunitária ou privada do chassid de Lubavitch é encaminhada à sede do Rebe no Brooklyn, e qualquer que seja a resposta, é isso que é feito. E a resposta é sempre imediata, seja por correio normal, correio expresso ou telegrama de emergência - dependendo da urgência do assunto - e sempre curto, sucinto e direto ao ponto.

Por que, então, a resposta do Rebe sobre um assunto tão relevante não está chegando? Os anciãos da aldeia não tinham explicação e, à medida que as horas e os dias passavam, a questão continuava atormentando suas almas devastadas, e sua angústia e desespero pesavam cada vez mais em seus corações.

O Telegrama

E então, quatro dias depois da tragédia, chegou o telegrama. A notícia se espalhou pela aldeia: Um telegrama do Rebe! O telegrama chegou! Toda a aldeia, homens, mulheres e crianças, reuniram-se na praça para escutar a resposta do Rebe.

E o Rebe era caracteristicamente sucinto. O telegrama continha uma única frase - três palavras em hebraico , mas essas três palavras bastaram para salvar a aldeia da desintegração e seus habitantes do desespero. “Behemshech habinyan tinacheimu”, escreveu o Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson: "Pela sua constante construção vocês serão confortados."

Os chassidim de Kfar Chabad agora tinham uma compreensão firme de seu futuro: sabiam o que tinham a fazer. Deveriam construir! O Rebe disse para construir! E que pela sua contínua edificação eles seriam consolados!

Naquela mesma noite, os anciãos do povoado realizaram uma reunião para discutir como a diretriz do Rebe poderia ser implementada. Após uma breve discussão, foi tomada uma decisão: uma escola vocacional seria construída onde jovens menos desfavorecidos iriam aprender uma profissão. No mesmo lugar onde o sangue foi derramado, o prédio seria erguido.

O Rebe Sabia

Na manhã seguinte, todos os moradores se reuniram no terreno baldio ao lado da escola agrícola e começaram a limpar e nivelar a terra em preparação para o prédio. A alegria estava de volta em seus olhos. Nas semanas que se seguiram, cartas chegavam de parentes e amigos de Nova York descrevendo o que havia acontecido naqueles quatro dias intermináveis em que a aldeia aguardava a resposta do Rebe.

Durante todo o mês de Nissan, o mês da redenção, era costume do Rebe dedicar-se inteiramente ao serviço do Criador, reduzindo ao mínimo seu contato com seus chassidim. Raro era o indivíduo que conseguia uma audiência particular com o Rebe nesse período e tudo, exceto a correspondência mais urgente, era adiada até o final do mês auspicioso.

Quando o mês da Nissan termina, um farbrenguen festivo (reunião chassídica) era sempre realizado na sede do Rebe na Eastern Parkway, no Brooklyn, marcando a retomada do envolvimento do Rebe com seus milhares de seguidores em todo o mundo. O Rebe falava por horas, suas palestras eram intercaladas com música e l'chaims, muitas vezes até as primeiras horas da manhã.

Naquele ano, o farbrenguen que marcou o fim do mês de Nissan também foi realizado. As trágicas notícias da Terra Santa haviam chegado a Nova York momentos antes de o farbrenguen começar, mas os secretários do Rebe decidiram poupá-lo até acabar o encontro. Mas o que seus assistentes não lhe disseram, seu coração parecia ter dito a ele. Naquela noite, o Rebe falou de auto-sacrifício e martírio judaico, kidush Hashem, (santificação do nome de D'us), sobre a reconstrução da Terra Santa e a redenção de Israel. Lágrimas escorriam de seus olhos enquanto ele falava. Durante toda a noite ele falou e chorou, cantou e chorou, e chorou ainda mais.

Por que o Rebe estava chorando? Apenas alguns dos presentes puderam adivinhar quem sabia sobre o telegrama de Kfar Chabad. O farbrenguen terminou. Os chassidim se dispersaram para suas casas e o Rebe se retirou para seu aposento. Com grande trepidação, dois dos chassidim mais próximos do Rebe bateram na porta do Rebe e lhe entregaram o telegrama de Israel. O Rebe afundou em sua cadeira, trancou a porta e não a abriu por três dias. Após três dias de reclusão absoluta, ele chamou seu secretário e ditou sua resposta: “Behemshech habinyan tinacheimu.”, "Pela sua constante construção, vocês serão confortados."

Os chassidim de Kfar Chabad cumpriram o pedido do Rebe. Sem a ajuda de filantropos ou fundações, eles levantaram 50 mil libras israelenses, e hoje, um ano após a tragédia, o novo prédio da escola profissional está completo. Amanhã, enquanto os cidadãos de Israel celebram seu oitavo Dia da Independência, [em relação a data deste artigo] os chassidim de Kfar Chabad realizarão um farbrenguen e relatarão, repetidas vezes, a história do telegrama de três palavras que salvou a aldeia.