A carta do Rabino Israel Baal Shem Tov
Comentários de Moshe-Yakov Wisnefsky

Rabi Yisrael Baal Shem Tov [ "Israel, o Mestre do Bom Nome (de D’us)," 1698 -1760], foi o fundador do movimento chassídico. Aqui apresentamos a famosa carta que o Baal Shem Tov escreveu ao seu cunhado na Terra Santa, Rabi Gershon de Kitov, na qual ele descreve seu encontro com a alma de Mashiach, e que instruções lhe foram transmitidas de como acelerar a sua vinda1. Esta carta foi publicada pela primeira vez em 1781 como um apêndice de Ben Porat Yosef [p.128a] por Rabi Yaakov Yosef de Polnoye, um dos principais discípulos de Baal Shem Tov. Desde então, ela foi republicada várias vezes em diversos livros. Esta carta nunca chegou ao seu destino inicialmente previsto. Alguns discípulos do Baal Shem Tov adotaram a prática de estudar esta carta profundamente - alguns até de lê-la diariamente - pois perceberam que ela contém a base dos ensinamentos do Baal Shem Tov, que por sua vez, levará à revelação do Mashiach.

Esta tradução baseia-se na do mestre chassídico Rabi Aryeh Kaplan, p. 12 e os comentários e notas são baseadas principalmente no livro de R. Yitschac Ginsburgh , “Sod Hashem Lireiav”, pp. 362-3 (Jerusalém, 1985)”

“Em Rosh Hashaná do ano 5071 realizei, por meio de juramento, uma elevação da alma [para os reinos espirituais mais elevados], tal como é revelado a você, e vi coisas maravilhosas que jamais havia visto antes. O que vi e aprendi lá é impossível transmitir em palavras, mesmo face a face.

Aqui apresentamos a famosa carta que o Baal Shem Tov escreveu ao seu cunhado na Terra Santa, Rabi Gershon de Kitov, na qual ele descreve seu encontro com a alma de Mashiach, e que instruções este lhe passou de como seria possível acelerar a sua vinda.

Ao retornar ao Jardim do Éden inferior [um dos níveis de morada das almas], vi incontáveis almas, de vivos e mortos, alguns que eu conhecia e outras não. Elas iam para frente e para trás, indo de um universo a outro através da Coluna 2 que é conhecida por aqueles que mergulham em mistérios. Seu estado de júbilo era tão intenso que os lábios não conseguem exprimir, e ouvidos físicos são por demais grosseiros para escutar.

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Havia também muitas pessoas perversas que tinham se arrependido de seus atos; seus pecados foram perdoados, já que este era um momento especial de graça. Mesmo para os meus olhos, foi maravilhoso quantos foram aceitos como penitentes, muitos dos quais você também conhece. Houve grande alegria entre eles também, e também subiram conforme a maneira acima já mencionada.

Todos eles imploraram e pediram-me incessantemente: "Por causa da glória de Sua Torá, D'us lhe concedeu uma maior compreensão para perceber e conhecer essas coisas. Ascenda conosco, para que possa tornar-se nossa ajuda e apoio."

Subi de nível em nível, até que entrei na câmara de Mashiach ...

Por causa da grande alegria que senti entre eles, decidi acompanhá-los nesta elevação. Devido ao grande perigo envolvido em ascender a universos celestiais, pedi ao meu mestre (Achiya o Shilonite3) para vir comigo, já que nunca havia subido a um nível tão elevado. Subi de nível em nível, até que entrei na câmara de Mashiach,4, onde Mashiach aprende Torá com todos os sábios e tsadikim e também com os Sete pastores5 .

Todos devem adotar o ensinamento do Baal Shem Tov de que existe a igualdade de alma de todo o povo judeu, que é a base de seu amor infinito a todos os judeus (ver Tanya, cap. 32).

Lá senti uma grande alegria, mas desconhecia a sua razão. No início pensei que o motivo talvez fosse por eu já ter falecido e partido deste mundo físico, D’us não o permita. Posteriormente, me explicaram que o tempo de minha morte ainda não havia chegado, e que eles tinham um grande prazer lá em cima quando eu promovia a união dos dois mundos através da revelação da sagrada Torá aqui em baixo. Até esse dia, eu desconhecia o motivo daquele júbilo.

[A pergunta que segue já havia sido postulada à Mashiach nos tempos talmúdicos pelo rabino Yehoshua ben Levi (Talmud Sanhedrin 98a). Então, a resposta foi: "Hoje", que foi interpretado pelo profeta Elias, com o significado de que: "Hoje - se você somente ouvir a voz de D'us" (Salmos 95:7). Segundo o rabino Yossef Yitschac de Lubavitch (Licutê Diburim, Simchat Torá 5690, # 30 [p. 618ff]), o Baal Shem Tov estava na verdade dizendo para Mashiach:

"Já ouvimos a Sua voz, até o ponto de entregar nossas vidas, a fim de cumprí-la. Por que, então, você não veio?"]

“Perguntei a Mashiach: ‘Quando o Mestre virá?’, E ele respondeu: ‘No momento em que seus ensinamentos se tornarem públicos e revelados neste mundo, e seus mananciais se espalharem aos locais mais distantes, e eles também tornarem-se capazes de realizar unificações e elevações como você, todas as kelipot deixarão de existir, então chegará um tempo de boa vontade e de salvação.’” Mashiach estabeleceu cinco condições para a sua vinda; cada uma delas é uma etapa de um processo cumulativo:

  1. ‘Seus ensinamentos se tornarão públicos e revelados no mundo’: Como é sabido, para a maioria das pessoas místicas e espiritualmente refinadas tornar-se uma figura pública é uma experiência extremamente dolorosa. No entanto, este é um desafio que deve ser enfrentado já que sua visão ou seus ensinamentos poderão influenciar positivamente o mundo.
  2. ‘Seus mananciais se espalharão aos locais mais distantes’ (Provérbios 5:16): sua própria essência, sua fonte, deverá ser revelada. Se Mashiach está por vir, todos devem ser capazes de experimentar algo como sentir como é ser o Baal Shem Tov.
  3. ‘Aquilo que eu lhe ensinei e o que você compreendeu [por si mesmo]’: expressivas ideias e mesmo aquelas ideias que são inerentemente inexpressíveis devem ser reveladas
  4. ‘Eles também devem ser capazes de promover a união e elevações como você’: o poder do Baal Shem Tov de unificação deve se tornar domínio público. Em seu sentido mais simples, isso significa que todos devem adotar o ensinamento do Baal Shem Tov de que existe a igualdade de alma de todo o povo judeu, que é a base de seu amor infinito a todos os judeus (ver Tanya, cap. 32).
  5. ‘Todas as kelipot deixarão de existir e haverá um tempo de boa vontade e de salvação’: o mal pode ser erradicado e a luz transcendente de D’us pode brilhar. A erradicação do mal a este nível pode ser compreendida como última instância, sendo boa. Isso, no entanto, não pode ser realizado com sucesso, sem primeiro alcançar os quatro níveis anteriores. Todos os mundos unidos em um e elevado para produzir uma infinita e imensa alegria e prazer..

Fiquei maravilhado e sentindo uma grande angústia quanto ao período de tempo necessário para isso, quando ocorrerá? Mas de tudo aquilo que aprendi lá - três práticas potenciais e três nomes Santos, fáceis de aprender e explicar - minha mente apaziguou-se, e eu pensei que, possivelmente, por meio destes, os homens da minha natureza serão capazes de atingir níveis semelhantes aos meus. Serão capazes de subir, aprender e perceber, assim como eu. Mas não me foi permitido, durante todos os dias de minha vida, revelar isto.

[No entanto, de acordo com o rabino Mordechai de Neshchiz (1748-1800), o Baal Shem Tov fez alusão a estas práticas na continuação de sua carta (Imrei Kodesh 40; Sefer Baal Shem Tov, p. 122, no final da nota de número 13).]

“Para o seu bem, fiz um pedido para que me fosse permitido ensinar isso a vocês, mas tal permissão me foi negada. Ainda estou vinculado a este juramento, mas posso informar-lhe e que D’us lhe ajude, que o seu caminho sempre esteja permeado pela presença Divina e que nunca abandone sua consciência na hora de suas preces e estudos. E que cada palavra de seus lábios tenha a verdadeira intenção de unificar (ou seja, esteja sempre ciente de meditar sobre cada palavra): pois em toda letra, há mundos e Almas e Divindade, e eles ascendem, conectam-se e unem-se uns aos outros, para formarem uma palavra, posteriormente unificando-se numa verdadeira união com a Divindade.

[Em cada palavra há mundos: Estes são as ‘três práticas potenciais’ às quais me referi no início desta carta, e que formam a base dos ensinamentos básicos de Baal Shem Tov. Para uma descrição mais detalhada sobre esta técnica, leia “As Letras Hebraicas” do rabino Yitzchak Ginsburgh.]

Ao concluir a carta podemos notar que há apenas dois verbos utilizados: "conectar e unificar". Na seguinte frase: "E [então] una-se a verdadeira unificação em Divindade", apenas um verbo, "unificar", aparece. Disto aprendemos que, em particular, há três estágios de meditação: meditação dos segredos das letras individuais; meditação sobre o processo dinâmico de combinar letras para formar palavras significativas, e, na terminologia do Tanya (II, ch.12 [89b]), meditação sobre “a luz acima de tudo", que aparece espontaneamente em torno da estrutura total de uma palavra final.

Inclua sua alma com elas em cada um e em todos os estágios. Todos os mundos se unirão em um e subirá para produzir uma alegria e prazer infinitamente grandes, como você é capaz de entender a partir da alegria do noivo e da noiva, só que em bem menores proporções: se isto ocorre no microcosmo físico, quanto mais em um nível tão imensamente maior como este. D'us certamente será o seu apoio e, sempre que você retornar obterá sucesso e chegará a uma maior compreensão.

"Dá ao sábio e ele se tornará cada vez mais sábio." (Mishlê/Provérbios 9:9)