Rabi Israel Baal Shem Tov entrou num mundo gelado, assustador e o acendeu. Ensinava que até a alma mais simples pode se conectar ao Criador Infinito com amor e alegria. Suas histórias e ensinamentos respiram com vida vibrante, dotando as ações diárias com cores vibrantes e energia irrefreável.
Eis aqui uma pequena coleção dos ensinamentos do Baal Shem Tov, vindas de duas antologias clássicas e apresentadas na linguagem contemporânea, sobre a necessidade de celebrar a vida, apresentando estratégias para superar a tristeza, e preencher tudo aquilo que se faz com júbilo.
Prefácio: A Alegre Revolução do Baal Shem Tov
Como era o mundo judaico quando o Baal Shem Tov entrou em cena?
O terror dos massacres dos cossacos e tártaros de 1648-1649 que destruíram comunidades inteiras ainda reverberavam na Polônia judaica. O grande desapontamento do falso messias, Shabtai Tzvi, tinha deixado muitos judeus fiéis desiludidos e com o coração partido.
A infra-estrutura da vida judaica tinha sido corrompida, pois os príncipes poloneses rotineiramente vendiam o cargo de rabino da comunidade a pessoas incapazes, fazendo uma zombaria do cargo. Uma cisão tinha se formado entre aqueles que podiam ter estudos talmúdicos e outros que, na luta para sobreviver, não tinham tempo nem cabeça para livros e estudo.
Especialmente desmoralizante era o padrão dos sermões populares. Alguns pregadores estavam tão obcecados com seus temas de culpa, castigo e desespero, que castigavam seus congregantes por questões pelas quais eles nem eram obrigados, nem esperados em alcançar.
Se você vive com alguém por um tempo suficiente, começa a acreditar que ele é um membro da sua família. Este era o caso com a miséria: os judeus tinham começado a ver a depressão como uma marca de piedade e um dever judaico. Lutar contra ela não apenas era fútil, mas pura heresia, pois qualquer traço de alegria era suspeito como pecado.1
E agora um pregador viajante fica num púlpito na praça da cidade, elogiando as virtudes do judeu simples, descrevendo o interminável amor de D'us por todo e cada um “como um pai amaria seu único filho nascido para ele em sua idade avançada,” relatando histórias de pessoas simples como eles mesmos e citando passagens talmúdicas para elevar o espírito das pessoas e colocar alegria em suas almas. Um poderoso movimento tinha surgido, o Chassidismo, algo que iria transformar para sempre a paisagem judaica.
O Retorno do Baal Shem Tov à Alegria
Não era como se o Baal Shem Tov tivesse introduzido júbilo ao Judaísmo. O flagelo desses pregadores de fogo e enxofre era a anomalia; o Baal Shem Tov estava retornando à tradição. O Livro dos Salmos, com seus amargos lamentos, está repleto de canções explosivas, eufóricas nos convocando a “servir a D'us com felicidade!”
O Talmud elogia aqueles que cumprem mitsvot alegremente, informando que prece e estudo devem ser atividades felizes. Rabi Yehudah Halevi, Maimônides, Bachya ben Asher todos discutem júbilo como um serviço divino, até vital.
Mas para o Baal Shem Tov, júbilo era mais que um detalhe da vida judaica; era um caminho por si mesmo – a chave do caminho central. Além disso, o Baal Shem Tov não limitava júbilo a prece, estudo e cumprimento de mitsvot. Consistente com seu princípio guia de que D'us está em toda parte e pode ser encontrado em todas as coisas, ele ensinou que todo evento que ocorre a uma pessoa, tudo que uma pessoa vê ou ouve, tudo apresenta uma oportunidade para conhecer o Criador e servir a Ele. Não pode haver tempo, circunstância nem lugar no qual você não pode se conectar com o Infinito. E assim, não há desculpa para não ser feliz a qualquer tempo – pois a alegria é a chave para todo serviço Divino.
E talvez mais fascinante: o Baal Shem Tov entendia júbilo como um artefato para reparar o mundo, como uma chave para a redenção.
O Baal Shem Tov e a Alegria como Retificação
O Baal Shem Tov e seus discípulos eram eruditos talmúdicos, bem como eruditos da Cabala, em especial a Cabala do Ari, Rabi Isaac Luria 2 – como eram, na verdade a maioria dos eruditos judeus da época. Num certo sentido, eles estavam apenas levando à sua conclusão lógica a revolução que o Ari tinha começado um século e meio antes. O Ari tinha descrito em detalhes como cada mitsvá da Torá conserta e melhora o mundo.
Problemas, dor, maus decretos, tudo que é feio e negativo neste mundo, tudo são artefatos de constrições da luz. O mal é um tipo de epi-fenômeno que existe somente como resultado da catástrofe pré-cósmica, o despedaçamento de Tohu: pois essa centelha do bem caiu, foi cortada de sua origem, permitindo que sua luz fosse distorcida e até presa dentro de uma casca exterior grosseira.
Assim como a doença é causada por uma constrição do fluxo de vida de um órgão para outro, também os problemas, sofrimento, maus decretos e qualquer feiúra deste mundo é causada por uma constrição da energia Divina que vitaliza todas as coisas. (Em termos cabalísticos, são chamados julgamentos.)
A cura, então, é reatar a centelha caída com sua origem. “Julgamentos somente podem ser adoçados na sua fonte,” assim é o ditado cabalístico. Cabe à Torá nos guiar para encontrar aquela origem e nos prover um meio para afetar a reunião.
O Baal Shem Tov encontrou aquela conexão no júbilo: encontre a beleza dentro da feiúra, a centelha de luz por trás da escuridão, a intenção mais profunda do Criador beneficente por trás de qualquer circunstância que esteja perturbando você, e celebre. A celebração em si redime a centelha divina e a leva até sua origem. Reconectado, o mal é adoçado e transformado.
Na verdade, o Zohar diz isso tudo: Venha e veja, o Mundo Inferior está sempre pronto a receber, e é chamado de uma pedra preciosa. O Mundo Superior somente pode prover o Mundo Inferior segundo seu estado. Se brilha de baixo, da mesma forma é iluminado no alto; mas se reluz em tristeza, recebe julgamento em retorno.
Similarmente, está escrito: “Sirva a D'us com alegria!” – porque o júbilo humano atrai outro júbilo sobrenatural. Portanto, assim como o Mundo Inferior é coroado, assim reflete do alto.3
O júbilo do Chassidismo, então, não é um júbilo ingênuo, nem o entusiasmo desenfreado de um fanático enlouquecido. Ele possui um objetivo – porque vemos o que está quebrado, portanto procuramos a chave para curar. E o giro daquela chave é a alegria sincera dentro dos nossos corações.
Numa famosa carta ao seu cunhado, o Baal Shem Tov escreve sobre sua ascensão ao mais elevado de todos os reinos sobrenaturais, a câmara do Messias. Ele pergunta: “Mestre, quando vais chegar?” A resposta: “Quando suas fontes brotarem para fora, e as pessoas comuns farão yichudim como você faz.” Com as fontes hoje sendo amplamente espalhadas certamente estamos chegando àquele destino.
18 Citações do Baal Shem Tov
1. Confiar e Celebrar
Visualize que o Criador, cuja glória preenche a terra, Ele e Sua presença estão continuamente com você. Esta é a mais sutil de todas as experiências. Diga a si mesmo: “Ele é o Mestre de tudo que ocorre no mundo. Ele pode fazer tudo que eu desejo. E portanto, não faz sentido para mim colocar minha confiança em algo exceto Nele: que Ele seja abençoado.”
Alegre-se constantemente. Pondere e acredite com fé completa que a Divina Presença está com você lhe protegendo; que você está unido com o Criador e o Criador está unido com você, com todo membro e toda faculdade; que seu foco está fixado no Criador e o foco do Criador está fixado sobre você.
D’us poderia fazer tudo que Ele quiser. Se desejasse, Ele poderia aniquilar todos os mundos num só instante e recriá-los todos num único momento. Dentro Dele estão enraizados toda bondade e todos os severos julgamentos no mundo. Pois a corrente de Sua energia corre através de cada coisa.
E você diz: “Quanto a mim, eu não confio, nem temo, ninguém nem nada exceto Ele, bendito seja Ele.”
Tzava’at Harivash 137
2. Sinceridade, Imersão e Alegria
Acima de tudo, sempre garanta que você serve ao seu Criador sem segundas intenções. Para chegar a este grau de pura sinceridade, você precisará ser muito inteligente. É tão profundo, tão profundo, quem pode encontrar? Isto exige constante atenção. Não permita que sua mente se distraia sequer por um momento. Uma única distração é tudo que é preciso.
Em segundo lugar, seja cuidadoso sobre a imersão no micvê em todos os tempos adequados. Quando imergir, concentre-se na meditação que se relacione com imersão num micvê.
Uma linha torcida com três fios, assim nos é dito, não se desfaz facilmente.4Esta linha é completada com um último item: afastar-se da depressão. Deixe que seu coração se alegre em D'us.
Tzava’at Harivash 15
3. Resgate por Celebração
Temos uma tradição do Baal Shem Tov: Celebrando que D'us virá em seu resgate, você já proveu o remédio.
Keter Shem Tov, Apêndice 234
4. Estudos Jubilosos
Estude com energia e grande júbilo. Isso irá reduzir pensamentos perturbadores.
Tzava’at Harivash 51
5. Reverência e Felicidade
Sirva a D'us com reverência e felicidade; uma complementa a outra e que não devem jamais se separar. Reverência infeliz é uma atitude sinistra. Não é bom atormentar a si mesmo pela maneira como você serve a D'us. Mas sim, esteja sempre feliz. Não importa qual espécie de tempo, você ainda deve estar servindo a Ele. Não desperdice seu tempo pensando como e o quê.
Tzava’at Harivash 110
6. A Suprema Recompensa
Nos Ensinamentos dos Pais, aprendemos: “A recompensa de uma mitsvá é uma mitsvá.” Significa que não há recompensa maior que o deleite que você tem ao fazer uma mitsvá com felicidade. O deleite de uma mitsvá feliz é tão grande que mesmo se não houvesse outra recompensa a vir além dela, isso seria o suficiente.
E mesmo assim, na verdade, além desse deleite, há também uma recompensa ilimitada a chegar por qualquer mitsvá que você tenha cumprido feliz.
Keter Shem Tov 129
7. O Asceta Feliz
Digamos que uma fantasia entra em sua mente, um anseio por algo deste mundo. Afaste sua mente disso. Despreze este anseio até que seja odioso e repugnante para você. Aumente seu anseio pelo bem contra o anseio pelo mal e contra este anseio, e domine-o assim. Mas não permita que anseio não realizado o deixe deprimido. Pelo contrário, celebre o fato de você ser privilegiado para superar seus desejos em honra ao Criador, bendito seja Ele! Esta é uma maneira de entender o que nossos rabinos dizem quando falam sobre “aqueles que se rejubilam no sofrimento.”
Tzava’at Harivash 9
8. Melhor Ser feliz Que Rigoroso
Não se deixe levar por detalhes excessivos em tudo que faz. Este é o seu mau impulso trabalhando contra você. Pretende agonizar você insistindo que você não cumpriu sua obrigação, apenas para deixá-lo deprimido. A depressão é uma atitude repreensível, o maior obstáculo para servir a D’us.
Mesmo se você tropeçar no pecado, não afunde no sofrimento. Isso destruiria tudo que você realizou até agora, transformando-o numa vitima fácil para o impulso do mal, pois você sente que é uma causa perdida. Seu serviço divino vai ser minado.
Apenas fique triste pelo pecado, envergonhado perante o Criador, e implore a Ele para absolver o mal que você cometeu. E então volte a se alegrar no Criador, bendito seja, pois você se arrepende totalmente daquilo que fez e resolveu jamais repetir esse erro novamente.
Mesmo sabendo com certeza que você não cumpriu sua obrigação em alguma área porque havia tantos obstáculos, não deixe que isso o deprima. Pense que D’us examina todos os corações e interiores. Eles sabe que você queria fazer as coisas da melhor maneira possível, mas não foi capaz. E então se fortaleça em júbilo ao Criador.
Tzava’at Harivash 46
9. Melhor Esperto do que Triste
Às vezes o mau impulso vai enganar você, culpando por uma grande transgressão quando na verdade tudo que você fez foi negligenciar um detalhe extra, ou talvez não cometeu transgressão alguma. Sua intenção? Fazer você infeliz, e em sua tristeza você desisitir de servir ao seu Criador.
Fique esperto com o golpe. Fale com aquele impulso e diga: “Não vou prestar atenção a este detalhe extra sobre o qual você está falando. Sei a sua intenção, impedir-me de servir ao meu Criador. Sei que você está dizendo mentiras. Mesmo se houver um pouco de pecado aqui, D’us tem grande prazer se eu não prestar atenção a um detalhe você está tentando me manipular em serviço obscuro – e em vez disso, eu servir a Ele com alegria.
“Afinal, não estou fazendo isso em meu próprio benefício, mas para trazer prazer perante Ele. Então quando eu ignoro este detalhe seu, meu Criador não vai Se importar – pois estou ignorando isso somente para poder continuar servindo a Ele! Como eu poderia perder sequer um momento do Seu serviço?!”
Este é um primeiro princípio em servir ao Criador; seja tão precavido quanto possível.
Tzava’at Harivash 44
10. Más Lágrimas, Boas Lágrimas
Chorar é muito ruim; a pessoa deve servir a D'us com alegria. A única exceção é quando você chora de alegria e vinculo com D'us.
Então é muito bom.
Tzava’at Harivash 45
11. De Todas as Maneiras
Sirva a D'us com toda faceta do seu ser. Tudo é em prol do Acima, pois D'us deseja ser servido em todas as maneiras.
Deixe ilustrar o que quero dizer: Às vezes você pode precisar ir e falar com outras pessoas, portanto naquela hora está incapaz de aprender. Então como você serve a D'us naquele momento? Conectando seus pensamentos com D'us, criando unidades sobrenaturais através da sua meditação.
Similarmente, quando você está viajando e incapaz de rezar ou aprender na maneira à qual está acostumado – você deve servi-Lo então numa modalidade diferente.
Não se deixe aborrecer quando estiver numa situação dessas. D'us deseja que você sirva a Ele em todas as modalidades existentes – às vezes de uma maneira, às vezes de outra. É por isso que você ficou nessa situação em que deve viajar ou falar com pessoas – para que possa servir a Ele numa maneira diferente.
Tzava’at Harivash 3
12. Peça com Alegria
Prece com muita alegria certamente é mais querida para D'us do que a prece com tristeza e lágrimas. Uma parábola para isso:
Um pobre vai a um rei de carne e osso com seus pedidos, chorando dramaticamente. Apesar disso, o rei dá a ele apenas uma parte de seu pedido. Mas quando um dos administradores do reino fica diante do Rei, o saúda com eloquência e exuberância, então, no meio deste louvor, ele faz seu pedido. Para ele o rei dá um presente muito generoso, como cabe à nobreza.
Tzava’at Harivash 107
13. D'us em Suas Palavras
Quando você rezar, visualize o que D'us investiu dentro das letras das preces. Veja, palavras são vestes para pensamentos. Como roupas finas mostram a beleza interior de uma pessoa, assim as palavras bem faladas mostram seus pensamentos interiores. Eles emergem de seu mundo pessoal para o mundo revelado. Assim também, suas palavras de prece provêm do mesmo tipo de vestes para a presença de D'us.
Nesse caso, você deveria estar pensando: “Este é um grande rei, e estou tecendo roupas para Ele! Portanto, devo fazer isso com entusiasmo e alegria!”
Empregue toda a sua força naquelas palavras, pois assim você conseguirá unicidade com Ele. Como sua energia está na articulação de cada letra,e em cada letra D'us habita, dessa maneira você se torna um com Ele.
Tzava’at Harivash 108
14: Reze com Júbilo
Noah ouviu: “Faça um tzohar para a arca.” A palavra arca em hebraico é teivá, que também significa “uma palavra”. Um tzohar é algo que brilha. Portanto o versículo poderia significar “Faça brilhar cada palavra que você disser.”
A arca tinha um andar inferior, um segundo andar e um andar superior. Eles correspondem aos três níveis dos Mundos, Almas e Divindade – os três planos da realidade da qual o Zohar fala. Assim também, dentro de toda letra de toda palavra há um aspecto de mundanidade, uma alma, e Divindade está em sua energia interior, sem limites; e sua alma é o que traz essa energia ilimitada e essa forma exterior para união. Quando você pronuncia essas palavras em sua prece, esses três aspectos ascendem, se ligam e se unem um com o outro e com a Divindade além.
Além disso, as letras se unem para formar palavras, formando verdadeiras uniões com D’us. Quando tudo isso ocorre, você deve incluir sua própria alma em cada um dos três estágios, para que todas as palavras se unam como uma e ascendam juntas, causando grande alegria e deleite imensurável. Você deve ouvir cada palavra que diz, pois a Shechiná, a Divina Presença, está falando. A Shechiná se relaciona com o mundo da fala. É o aspecto feminino de D'us, por assim dizer – pois D'us fala de volta com Si mesmo de dentro do Seu mundo. Porém é somente quando cada palavra tem um tzohar – quando as palavras saem brilhando porque você as revela para trazer prazer ao seu Criador.
Ao pronunciar as palavras com alegria faz com que a Shechiná fale dentro delas. Isso exige grande fé, pois atrair a Shechiná é despertar a “verdadeira fé”. Mas aquele que não as diz dessa maneira é chamado um “resmungão que aliena o Mestre do Universo” – o céu não o permita.
Tzava’at Harivash 75
15. Os Dois Comediantes
O Talmud conta a história de Rabi Beroka, que estava com o profeta Eliahu no mercado e perguntou: “Há alguém aqui que pertence ao Mundo Vindouro?”
Eliahu apontou para dois irmãos. Rabi Beroka foi até eles e perguntou qual era seu trabalho. Eles responderam: “Somos comediantes. Fazemos pessoas tristes rirem. E quando vemos duas pessoas discutindo, usamos algum humor para trazer a paz entre elas.”
O Baal Shem Tov ficou perplexo com essa história e pediu uma explicação. Foi isso o que ele ouviu: Esses dois comediantes conseguiam conectar tudo que eles viam numa pessoa com sua origem no mundo superior. Ao fazer isso, qualquer decreto celestial rigoroso sobre esta pessoa era automaticamente anulado. Mas se alguém estava deprimido, eles não podiam fazer essa conexão. Então eles o alegravam com algumas palavras engraçadas, até que pudessem fazer todas as conexões necessárias.
Keter Shem Tov 272
16. A Alegria Adoça o Julgamento
Existem anjos que esperam para entoar sua canção apenas uma vez a cada sete anos. Outros cantam somente a cada cinquenta anos, ou até uma vez a cada mil anos. O que dizem é breve e direto. Alguns dizem “Sagrado!” Outros dizem “Bendito!” Alguns dizem um único versículo – é dito sobre alguns anjos que cada um diz um versículo do capítulo dos Salmos que começa: “Agradeça a D'us porque Ele é bom.”
Porém nós judeus podemos dizer louvores a qualquer tempo ou estação, e fazer elogios, canções o quanto quisermos. A melhor maneira de entender isto é com uma parábola, a história de um rei, para quem todos os servos e empregados iam e recitavam hinos de louvor. Cada um tinha um tempo limitado para falar seu elogio, cada qual segundo sua posição e importância.
Porém isso ocorre apenas quando o rei está de bom humor. Quando o rei está aborrecido e furioso, então todos têm medo de fazer-lhe qualquer elogio, como está escrito: “Por que você está louvando o rei na hora de fúria?”
Isso é por que, devido à preocupação de que o rei pode não estar de bom humor, ou que esteja furioso por alguma razão, eles estão acostumados a ser tão breves quanto possível e fazer uma saída rápida. Porém quando entra o querido e precioso filho do rei, ele não tem essas preocupações. Pois mesmo que o rei esteja furioso, ver seu precioso filho traz a ele alegria e deleite. A raiva se dissipa por si mesma, e obviamente nunca retorna enquanto seu filho estiver perante ele, conforme é a natureza humana. O filho, portanto, não tem preocupações entrando a qualquer hora que desejar fazendo elogios sem fim, pois ele sabe que isso traz ao rei, seu pai, alegria e prazer.
Por que é assim? Por que raiva e fúria desaparecem quando entram alegria e amor? Para onde vão? Sim, esta é a natureza humana, mas mesmo assim, devemos tentar entender como e por quê.
Quando o amor e a alegria prevalecem, causam que raiva e fúria ascendam acima de sua raiz. Isso é parte do conhecimento secreto, que essas forças da ira e julgamento severo são minorados somente quando chegam à sua origem, pois na sua origem, tudo é pura bondade. Ocorre que raiva e fúria são curadas e suavizadas através do amor e júbilo.
Tzava’at Harivash 132
17. Acolhendo Sofrimento com Alegria
Meu mestre, o Baal Shem Tov, nos fez a seguinte pergunta: D'us nos ordena na Sua Torá a amar a Ele. Que benefício Ele ganha do nosso amor por Ele, como minúsculas criaturas? Se você tivesse amor por um rei importante e poderoso, que diferença isso faria para o rei?
Então ouvi dele essa maravilhosa explicação:
O motivo para haver sofrimento e tribulação neste mundo é porque o mundo foi criado através de julgamento estrito – significando através de uma restrição de luz que é chamada tzimtzum. Esses problemas portanto são como um corpo para a alma e para a vida espiritual dentro deles, restringindo a expressão daquela luz como o corpo restringe a alma.
Quando você aceita aquele sofrimento com a energia espiritual de amor e alegria, chega mais perto, liga e conecta o corpo com a alma – significando a aflição física para aquela espiritualidade – e dessa maneira, o sofrimento se desvanece.
Por outro lado se você fizer o oposto, afasta o corpo daquela energia espiritual causando ainda maior restrição. Portanto, a Torá nos provê bons conselhos: Ama o Eterno teu D'us. O nome de D’us [YHVH] é um nome de compaixão, enquanto o nome para D'us [Elokim] é um de severo julgamento. Portanto a declaração significa que através de seu ato de amor, aceitando sofrimento com alegria, você aproxima o nome de D'us de julgamento ao Seu nome de compaixão, pois o corpo é aproximado da alma, permitindo que sua luz brilhe. Medite sobre isso. Como são confortantes as palavras do sábio!
Keter Shem Tov 412; de Toldot Yaakov Yosef, pág. 630b
18. Medicina Doce Como o Mel
O Baal Shem Tov ensinava que em toda palavra que você fala, deveria ter a intenção de ser humilde, esclarecer e adoçar. Rabi Nachman de Horodenka explicava: Isso significa que você deve se afastar da abordagem grosseira de encontrar erros em todos e em vez disso entrar num estilo de compaixão, procurando o positivo. Mesmo que você note algo repugnante em outra pessoa, deve entender que isso também é para o bem – seu próprio bem. O próprio fato de você notar isso demonstra que há algum resquício dessa qualidade desprezível também em você. Agora você pode se arrepender até por ter pensado nisso. Nesse caso, é tudo para seu próprio bem: Se você estava sozinho no mundo, deveria pensar que era piedoso. Agora que vê essas falhas em outra pessoa, consegue entender que elas também estão em você.
Rabi Yaacov Yosef de Polnoye comentou: Para mim parece que este é um significado do versículo “Não é bom que o homem esteja sozinho” – porque então ele jamais iria reconhecer suas falhas. Portanto, “Eu farei para ele um ajudante contra ele” – significa que D'us nos provê com outras pessoas que se opõem a nós, para que possamos ver que temos um traço de quaisquer males que vemos nelas.
Portanto, se você tem um mau vizinho que o está incomodando por suas preces ou do estudo de Torá, ou se você é incomodado por qualquer outra espécie de perturbação, fale com seu coração, dizendo: “Isso é para meu próprio bem. Pode ser que minhas intenções não foram suficientemente corretas. Essa perturbação foi enviada a mim para dar-me auto conscientização e estimular-me a ter maior sinceridade.”
Há mais exemplos, e toda pessoa sábia deveria ouvir e acrescentar suas próprias lições. O principal é entender que D'us é encontrado em todo lugar e em todas as suas atividades. Quando você pensar assim, será capaz de reconhecer o envolvimento do Criador, bendito seja, em todo incidente da vida – assim como em seus estudos e em sua prece… O principal é abandonar a tristeza e abraçar o júbilo. Nosso mestre, Rabino Nachman de Horodenka, contou-me sobre o sonho que ele teve quando estava na Terra de Israel. Ele estava apreensivo sobre retornar à Diáspora por razões conhecidas somente por ele. Mas então teve uma visão num sonho. Foi informado que embora haja muitos doutores que medicam seus pacientes com poções amargas, o melhor Doutor cura através de remédio tão doce como o mel.
Isso é exatamente o que estávamos discutindo, que através de jejuns, auto-aflição e se pressionando com estudo interminável, a tristeza domina, e você cai na armadilha de encontrar defeito em todos que, ao não se comportarem como você, abandonam a chance da vida eterna pela vida transitória do mundo material. Pense na história de Rabi Shimon bar Yochai e seu filho quando saíram da gruta, como é mencionado no Talmud, portanto uma voz tinha de ser ouvida do céu: “Volte à sua gruta!” Isso é medicação com águas amargas.
E então há a forma alternativa de cura, onde mesmo que você note as falhas do outro, percebe que isso é pra o seu próprio auto-aperfeiçoamento. Isso é cura tão doce como o mel, despertando compaixão pelo mundo e por toda pessoa. Expande-se de uma conscientização de que D'us está em cada elemento em particular.
Agora você tem um remédio sem dor, um caminho para si mesmo que é tanto delicioso quanto aromático.
Como são deliciosas as palavras do Sábio!
Keter Shem Tov 302; de Toldot Yaakov Yosef, pág. 731b