Por Rabino Yossef Dubrawsky, Adaptado de uma palestra do Rabino Yossef Yitschac Jacobson

Tributo a uma das mais proeminentes vozes da nossa geração o Lubavitcher Rebe, Rabino Menachem Mendel Schneerson, para o dia de sua Hilula, 3 de Tamuz

Às vezes perguntamos: será que faz diferença um ato isolado meu, uma palavra minha, um pensamento meu. D’us nos deu uma série de orientações na Sua Torá. E daí? Será que faz mal para alguém se eu comer um cheese burguer ou mentir? Vai desequilibrar algo nos cosmos de D’us?

O Lubavitcher Rebe, em julho de 1969, no mês em que os Estados Unidos enviaram astronautas para a lua, respondeu a esta pergunta da seguinte forma:

Imagine dois astronautas que foram treinados meticulosamente durante semanas, meses e anos para poder realizar sua missão com êxito - aprenderam o que devem vestir, o que devem comer, como sentar, como se mover etc. Agora estão sentados na nave espacial, vestidos e prontos para a partida; o motor já está ligado. Logo depois do take-off um deles tira um cigarro para fumar. As pessoas não podiam acreditar, ele seria severamente condenado! Alguém poderia dizer: O pobre homem está apenas querendo acender um cigarro? Por que tanta comoção, tanto repúdio?

O acender do cigarro teria de ser apreciado dentro do contexto em que ocorreu. Não é qualquer “Joe” numa esquina pegando um cigarro para relaxar. Aqui não se trata de um ato isolado! Este astronauta está no processo de uma missão para a qual o país investiu bilhões de dólares durante décadas: pesquisas científicas, estudos, treinamentos, construção de satélite e da nave espacial, tudo foi investido para este momento histórico de progresso da humanidade. Agora, por acender este cigarro, o astronauta está, não apenas prejudicando seus pulmões, mas arriscando bilhões de dólares de pesquisas, o país inteiro que está confiando nele, sua vida, a vida de seu colega e toda a missão colocada em risco!

O Rebe explicou que é exatamente esta a história de Torá e mitsvot. Se você come algo ou fala algo não é um ato isolado. Nós estamos numa nave espacial. D’us criou o nosso mundo com uma missão. Ele pôs a humanidade e o povo judeu nessa nave e sua missão é trazer a história a um ponto onde Céus e Terra vão se beijar, onde Divindade e Santidade serão reveladas neste mundo. Sua missão é pegar o nosso universo físico, mundano, egocêntrico e revolucioná-lo, tornando-o um veículo para expressar a harmonia e bondade de seu Criador. Sua missão é pegar a nave e levá-la ao mundo da Redenção.

A cada pessoa foi dada uma quantidade de anos, recursos, energias e local de moradia para cumprir a sua missão e terá que aproximar a nave de seu destino. Quando falo algo negativo, quando envergonho alguém, quando como algo não casher, não é um ato isolado, e “ninguém tem de se meter na minha vida”. Quando minto, sou desonesto ou consumo algo que não devo, eu coloco em perigo o processo inteiro da Criação; D’us investiu, Ele mesmo, e toda história para este grande momento!

Em outra ocasião o Rebe contou sobre Yossef HaTsadic; todos nós conhecemos a história bíblica de Yossef. Houve uma grande fome e Yossef conseguiu armazenar grãos durante sete anos e tornar-se o Vice-rei do Egito.

Como a mídia moderna reportaria esta história?

“Numerosas vidas são perdidas pela fome, doença e miséria. Novo Vice-rei é apontado para salvar a situação”. No destaque da página teria uma biografia de Yossef: “Passado desconhecido. Passou dez anos em uma prisão. Carismático, espirituoso, qualidades de liderança”.

Como é que a Torá nos conta esta história?

Yossef estava na prisão e um dia ele encontrou-se com dois prisioneiros (chefe dos copeiros e chefe dos padeiros) que pareciam bem agitados e disse: “Bom dia! Por que vocês estão tão melancólicos hoje? O que posso fazer para ajudá-los?”

Eles contaram os pesadelos que tiveram na noite anterior. Yossef interpreta seus sonhos. Dois anos depois quando o Faraó tem um sonho, o Chefe dos Copeiros lembrou-se de Yossef e o indicou ao Faraó para interpretar seu sonho. O Faraó impressionado e agradecido o apontou como Vice-rei e Yossef acaba salvando o Oriente Médio e a sua família inteira da fome!

O Rebe comenta sobre isto:

Em primeiro lugar porque Yossef faria esta pergunta? Estão numa prisão de máxima segurança aguardando a pena de morte. Que lugar para esta pergunta! Essas pessoas foram condenadas e estão padecendo no calabouço. Será que há motivo para ficar feliz? Ficar deprimido é mais do que natural!

Em segundo lugar, porque Yossef se importaria com isto? Os dois eram amigos de Potifar, seu ex-patrão, e juntos conspiraram contra ele. Foi o motivo de ele estar sofrendo agora! Ele poderia ficar até satisfeito em vê-los angustiados e deprimidos!

Em terceiro lugar: e o próprio Yossef? O que sabemos sobre seu passado? Perdeu sua mãe aos 9 anos de idade. Com dezessete anos foi raptado pelos próprios irmãos, que jogaram-no em uma fossa e depois o venderam como escravo para um bando de mercadores egípcios. Trabalhando no Egito, ele foi falsamente acusado de violar a esposa de seu patrão. Faz dez anos que está na prisão, sem cartas, sem visitas e o pai dele acredita que ele está morto. Yossef poderia estar repleto de ressentimentos, raiva, amargurado com a vida, com o mundo todo e seria mais do que justificado.

Como Yossef conseguiu manter sua atitude admirável frente a todas estas questões?

O joie de vivre de Yossef não dependia de circunstâncias externas, mas sim do fato de saber que existe uma razão para tudo, que ele tinha que passar exatamente por isto para poder cumprir a missão que lhe fora determinada. A sua consciência de quem ele era e qual era o seu destino, permitiu-lhe manter a calma e a alegria. Consciente de que altos e baixos na vida eram parte de um plano maior, possibilitou que permanecesse firme e positivo.

E isto ainda não parecia ser o suficiente. Yossef não podia tolerar ver dois seres humanos amargurados; por que duas criações de D’us não seriam felizes?!

Na vida todos merecem a felicidade. O próprio fato de D’us ter nos criado, de termos um relacionamento único com Ele e de estarmos cientes de quão precioso é cada momento já são motivos para nos deixar bem animados. Ao se deparar com dois homens deprimidos, Yossef não conseguiu sentir-se em paz. Judeu ou não judeu, Yossef se preocupou. E esta preocupação eventualmente o levou ao cargo de Vice- rei, a salvar a sua família e assegurar o futuro do povo judeu.

Esta é a história na visão do Rebe.

Vejamos Moshê Rabenu. A mídia diria: “Líder carismático, molda três milhões de escravos transformando-os em uma nação forte que se revolta e parte rumo a sua liberdade.”

Qual é a história que a Torá nos conta sobre este grande homem que recebeu a Lei Divina, e a ensinou como uma herança eterna para toda a Congregação de Yaacov?

A Torá chama nossa atenção a um detalhe comovente, e de fato toda a grandeza de Moshê e todos seus feitos devem-se aquele momento.

A cena é a seguinte: Batya, a filha do Faraó, estava andando à beira do Nilo quando avistou uma cestinha flutuando, escutou o choro de um bebê e decidiu esticar seu braço para tentar resgatá-lo. Seu braço não alcançava a cestinha. Rashi, grande comentarista da Torá, nos conta que D’us alongou o seu braço vários metros para que ela conseguisse salvar a criança.

A história de Moshê, responsável pela jornada do Judaísmo, se resume a uma mulher que se importou. Nada tem a ver com aquilo que se pode realizar concretamente. O essencial é que você se importa, se importa tanto para se esforçar e fazer a sua parte independente do êxito final. A história de Moshê Rabenu e de Yidishkeit se resume a isso.

O Lubavitcher Rebe acreditou no potencial de cada ser humano e estimulou centenas de milhares de pessoas a reconhecer o seu infinito potencial e fazer a diferença. Em sua homenagem, devemos todos nós ousar e também fazer a diferença. Um único gesto de bondade pode ser aquele que fará a balança do mundo pender para o lado do mérito e trazer a tão aguardada Redenção com Mashiach, quando as forças negativas serão extintas para sempre e uma era de verdadeira paz, saúde e abundância do bem e do conhecimento da existência de D’us preencherá a terra, assim como as águas cobrem o oceano.