O ano era 1994. Eu tinha me mudado recentemente para Crown Heights, Brooklyn, após ter me graduado na faculdade em San Diego, Califórnia. Foi uma grande mudança para mim, sair das praias de La Jolla para a Nova York fria e ruidosa. Além disso, eu tinha deixado meu ambiente extremamente liberal e politicamente correto da faculdade para imergir em estudos judaicos intensivos e tentar entender a pergunta de uma vida inteira: “Quem sou eu?”

Embora o conhecimento espiritual fosse algo que eu estivesse buscando, comer também era uma das minhas necessidades, e comecei imediatamente a procurar um emprego. Logo fiquei sabendo que uma mulher precisava de uma professora de ginástica. Tendo feito ginástica durante anos e sido treinadora durante a faculdade, fiquei encantada ao descobrir que havia um pequeno programa de ginástica sendo mantido no porão da casa dessa senhora para meninas chassídicas com cinco anos de idade. Fiquei empolgada. Certo, não era uma ginástica como aquela a que eu estava acostumada, mas eu sabia que poderia improvisar, e queria uma chance de trabalhar com crianças e ensinar-lhes as coisas que eu amava tanto.

Mal sabia eu para quem estaria ensinando.

No meu primeiro dia de aula eu estava um pouco nervosa. Jamais tinha morado numa comunidade “ortodoxa” antes e para mim aquele estilo de vida era novidade. Mas tendo passado um ano em Israel e estudado judaísmo, achei que seria uma boa ideia, e comecei a receber as matrículas.

Havia doze meninas registradas em minha turma. Comecei a ler os nomes: Mushka, Chaya Mushka, Mushkie, Moussia, Chaya Moussia… Não estou brincando, todas as doze meninas tinham versões diferentes do mesmo nome. A princípio pensei que talvez houvesse alguma lei ou regra que eu ainda não tivesse aprendido a respeito. Não conseguia entender como toda menina tinha o mesmo nome. (E, desnecessário dizer, decidimos imediatamente chamar as meninas pelo sobrenome…).

Quando perguntei a elas o que seu nome significava, por que tinham lhes dado aqueles nomes, todas com empolgação explicaram que receberam o nome da Rebetsin Chaya Mushka, a esposa do Rebe. Embora fossem apenas cinco, estavam repletas com lindas histórias de quem fora esta mulher e por que estavam tão orgulhosas de levar o seu nome. Enquanto eu observava essas menininhas do jardim da infância falarem, havia um orgulho e poder que elas tinham ao falar dela, e ficou logo claro que essa fora uma mulher muito especial. Essas eram algumas das primeiras meninas em milhares a receberem o nome dela.

Rebetsin Chaya Mushka tinha falecido em 22 do mês hebraico de Shevat, em 1988. Eu estava impressionada. Sabia muito pouco sobre a “Rebetsin”, como era chamada, mas claramente foi uma mulher cuja influência e espírito tinham permeado todos que a conheceram ou ouviram falar dela. Embora eu não tivesse sido afortunada para conhecê-la em vida, sabia que meu pequeno grupo de Chaya Mushkas seria o início de meu processo de descobrimento sobre quem ela era e o que representava.

A primeira coisa que vi foi sua foto. Sem sombra de dúvida, era uma mulher muito bonita. Deslumbrante. E ao mesmo tempo, havia algo nela tão gracioso, tão real, tão sagrado. Ela falava comigo através da foto enquanto eu contemplava sua face e olhava em seus olhos. Ela incorporava o conceito que frequentemente é atribuído a ela, Kol Kevuda Bat Melech Penima, “Toda a honra da filha do rei está dentro.”

Isso não equivale a dizer que externamente ela também não fosse linda, mas que a verdadeira beleza brilha de dentro e ilumina tudo ao redor. Além disso, aqueles que não merecem honra com freqüência a procuram. Aqueles que são realmente honráveis no recesso de suas almas não precisam de nada externo para validar isso.

A Rebetsin não teve uma vida fácil e mesmo assim nunca alguém ouviu ela ter reclamado. Ser casada com o Rebe, o líder espiritual de centenas de milhares de judeus do mundo inteiro, significava que seu marido não pertencia somente a ela.

Compartilhar o homem que você ama nunca é fácil, e apesar disso era algo que ela escolheu fazer e encorajava. Reconhecia o potencial dele, seu papel, sua capacidade e a maneira pela qual os chassidim precisavam dele, e fez disso o seu foco.

Para muitos, quando eles falavam com ela ou a encontravam, desconheciam completamente quem ela era. Ela queria que fosse dessa maneira.

Era também extremamente inteligente e culta. Estudou Literatura na universidade depois de casada, ao mesmo tempo em que o Rebe estava estudando. E ela era uma leitora ávida. Para suas diversas amigas era Chaya Mushka. Para o resto do mundo, era a Rebetsin, esposa do Rebe de Lubavitch.

E mesmo assim, ela tomava cuidado para não abusar do poder que o título lhe dava. Não era convencida. Não procurava privilégios ou tratamentos especiais. Mas sim, era uma mulher muito modesta, jamais querendo chamar atenção sobre si mesma. Quando se identificava, era sempre como “Sra. Schneersohn, da Rua President.”

Evitava fazer compras ou ir a locais públicos. Isso é compreensível, dada a reputação e status que possuía. Porém o que é mais fascinante, mais poderoso, era seu motivo para não ir. Ao contrário da situação comum na qual a pessoa não quer lidar com a atenção e pessoas incomodando, para a Rebetsin o motivo era o oposto. Ela não queria deixar outras pessoas desconfortáveis. Ela sabia que as pessoas iriam querer agradá-la, e não apenas ela não queria ou precisava disso, como não desejava que ninguém sentisse necessidade de dedicar-lhe uma atenção especial.

Embora ela não quisesse respeito e reconhecimento, certamente os recebia. Pois todos que a conheciam, sabiam o quanto ela merecia o melhor tratamento. Ela permitia que o Rebe fosse o Rebe – alguém que influenciou e mudou os judeus do mundo numa escala que não é possível mensurar. O Rebe podia ser quem ele era por causa de quem a Rebetsin realmente era.

E enquanto ela passava por testes de infertilidade biológica, certamente teve e tem incontáveis filhos que a consideram como mãe em muitas maneiras. Não apenas aquelas que receberam seu nome em memória e honra, mas as numerosas instituições educacionais no mundo inteiro que orgulhosamente carregam seu nome. Era conhecida sua resposta ao ser indagada se tinha filhos: “Os chassidim são meus filhos.” Não somente isso era verdade então, mas em muitas maneiras é ainda mais verdadeiro agora.

Quase treze anos se passaram desde que ensinei aquela aula de Ginástica. E ainda estou procurando entender num nível mais profundo, “Quem sou eu?” Espero passar minha vida tentando saber a resposta. E aquelas doze pequenas Chaya Mushkas não são mais menininhas. Agora são jovens de dezenove anos que estão entrando na vida adulta como mulheres poderosas que podem fazer uma diferença neste mundo. Jovens que carregam a responsabilidade de um nome e um legado de uma mulher que me ajudou a entender como quero responder minha pergunta.

A Rebetsin Chaya Mushka me ensinou – ensinou a nós todos – que a verdadeira beleza vem de dentro, e que aqueles que são mais merecedores de respeito, honra, reconhecimento e reverência, são aqueles que não procuram nem querem isso.