1 – Entre o Pessoal e o Coletivo
Na véspera de Rosh Hashaná, após distribuir vinho do copo com o qual ele fez a bênção da Havdalá, o Rebe bate palmas e encoraja a multidão a cantar. (1979)
Celebrar Tishrei com o Rebe, Rabi Menachem M. Schneerson de abençoada memória, era embarcar numa empolgante jornada espiritual. Cada novo dia trazia novos momentos de reverência, visão, entusiasmo, e – acima de tudo – conexão. Pessoas de todas as partes do mundo viajavam para o Rebe em Crown Heights, NovaYork. Vinham como indivíduos, cada qual na própria jornada de crescimento e transformação espiritual. Mas também iam para transcender problemas pessoais, para receber força e inspiração da alma coletiva – do Rebe, que aceita todos nós e nos ajuda a melhorar nossa conexão com D'us.
Hoje, mais de vinte anos após o falecimento do Rebe, nosso trabalho durante Tishrei permanece o mesmo. Procuramos ir além das nossas restrições pessoais, e celebramos nossos papéis específicos na visão abrangente de D'us. Continuamos a ser inspirados e fortalecidos pelo Rebe e seus ensinamentos, para que também possamos atingir transformação e transcendência. Além disso somos ensinados que imagem e imaginação têm a capacidade de reinvocar a força de outro tempo e outro local. 1 Essas imagens foram captadas há mais de três décadas, mas mesmo agora despertam novas experiências.
2 – Torá Falante
O Rebe sai da principal sinagoga após fazer seu discurso anual que precede Rosh Hashaná para mulheres e meninas. Ao sair ele saúda e reconhece cada uma das muitas mulheres que estão presentes. (1980)
Uma das principais formas da liderança do Rebe, de sua comunicação com aqueles que buscavam sua instrução e inspiração, era através de suas palestras públicas de Torá. Durante – e muitas vezes antes – do mês de Tishrei essas palestras eram mais frequentes. Poucos dias antes de Rosh Hashaná a principal sinagoga ficava exclusivamente reservada para mulheres, meninas e moças para que o Rebe pudesse fazer um discurso especial para “as filhas de Israel.” (Todas as suas palestras públicas eram endereçadas a homens e mulheres, mas na maior parte a sinagoga principal era ocupada por homens, enquanto as mulheres ficavam na galeria superior.)
Nessa ocasião especial o Rebe discutia como e por que nossas preces continuam potentes apesar do fato de estarmos no exílio. Paradoxalmente, ele explicava, a dificuldade e a distância do próprio exílio nos garante que D'us deve nos prover com uma medida extra de força divina para superar os desafios que enfrentamos. Da mesma forma o Midrash descreve o próprio D'us rezando em prol dos judeus exilados. D'us não nos provê simplesmente com uma liturgia de prece, mas demonstrou que Ele habita entre nós mesmo no exílio, e partilha nossos problemas. Independentemente das nossas situações pessoais e coletivas, o próprio D'us apóia e reza ao lado de cada um de nós. Isso ocorre especialmente quando nos aproximamos de Rosh Hashaná, e podemos ter certeza de que nossas preces para um ano bom e doce serão respondidas.2
3 – Prece Preparatória
No dia anterior a Rosh Hashaná o Rebe lia notas pessoais e rezava no túmulo de seu sogro, Rabi Yosef Yitzchak Schneersohn, o sexto Rebe de Chabad Lubavitch. Após ler as notas ele as rasgava e depositava sobre o túmulo. (1979)
O costume de visitar um cemitério na véspera de Rosh Hashaná – “para rezar profusamente, e doar dinheiro aos pobres” “para que D'us nos faça bondade pelo mérito dos justos” que estão enterrados ali – pode ser remontado há muitas centenas de anos e está colocado no Código da Lei Judaica. 3 Mas Chabad dá um significado adicional a essa prática. Após as preces matinais o Rebe ficava à porta de seu escritório aceitando bilhetes individuais, nos quais as pessoas escreviam seus nomes e os de sua família, junto com pedidos de bênçãos pessoais e suas esperanças para o ano seguinte. Muitas, muitas mais dessas notas eram enviadas por judeus em comunidades do mundo inteiro, e lideranças chassídicas também apresentavam um bilhete coletivo em prol de toda a comunidade. Quando o Rebe visitava o túmulo de seu sogro ele passava várias horas lendo todas essas notas junto com a tradicional liturgia que é lida nessas ocasiões. Quando ele voltava do cemitério geralmente era no final da tarde.
4 – Luz para Um Ano Novo
Na véspera de Rosh Hashaná, após a prece noturna, uma vela acesa era mantida ao lado enquanto o Rebe fazia a havdalá marcando a conclusão da festa. Isso também marcvaa a conclusão de um farbrenguen que começou mais cedo e continuou até o cair da noite. (1983)
O Rebe repetia com frequência e elaborava sobre essas palavras do primeiro Rebe de Chabad, Rabi Shneur Zalman de Liadi: “Todo e cada ano uma nova luz desce da sabedoria sobrenatural de D'us que nunca tinha brilhado anteriormente, pois a iluminação de cada ano parte e ascende à sua raiz quando chega o novo ano, e depois – através do toque do shofar, e durante a prece – uma nova luz celestial é atraída de uma fonte ainda mais transcendente…4
Este ensinamento dota a véspera e a manhã de Rosh Hashaná com gravidade fora do comum: a luminosa radiância de D'us no mundo partiu, e o ônus está sobre nós para invocar um revelação nova, mais transcendente. A partir de 1951 o Rebe tocava o shofar na principal sinagoga, e liderava a congregação nas preces seguintes. A seriedade e reverente intensidade da tarefa era expressa em emoção de um tipo que não se via em outras épocas. Após as preces matinais, e ao soar dos últimos toques de shofar, o comportamento do Rebe mudava. A seriedade era temperada com alegre celebração. A nova luz do ano novo é mais atraída a cada dia que passa, e assim o júbilo somente aumenta.
5 – Da Reverência ao Júbilo
Na conclusão das preces de Yom Kipur, o Rebe entrava em seu estúdio, colocando a mão sobre a mezuzá. Após vestir o casaco, ele ia para casa para fazer havdalá e a refeição pós Yom Kipur com sua esposa, Rebetsin Chaya Mushka. (1981)
Yom Kipur, o Dia da Expiação, é o ponto alto dos quarenta dias do processo de arrependimento e retorno a D'us. O ponto alto do próprio Yom Kipur é sua quinta prece única, Neilá, que significa “fechar”. Isso é tradicionalmente entendido como uma alusão ao fechamento final dos portões celestiais da misericórdia divina. Mas o Rebe explicava que isso marca o momento em que entramos na câmara mais interior da graça divina, e quando as portas se fecham estamos lá dentro. Como o ponto alto dos dias de reverência, Neilá também nos leva pela passagem e aos dias de júbilo . Após um dia passado na sinagoga vestidos de branco – como anjos – nós agora sentimos que nossas preces foram realmente ouvidas, que fomos envoltos em um abraço divino. 5
Após proclamar nossa fé no único D'us (uma vez), nosso compromisso com a eterna glória e D'us (três vezes), e a singularidade profunda de todas as facetas da revelação divina (sete vezes), a congregação irrompe numa canção vitoriosa. Na sinagoga do Rebe não havia lugar para a enorme multidão dançar em círculos; então a multidão dançava no lugar, abaixando e levantando vigorosamente. O Rebe subia em sua cadeira (nos últimos anos uma plataforma especialmente preparada) e levantando os braços numa celebração exuberante.
Quando o Rebe saía da sinagoga e ia para o seu estúdio, sua face irradiava alegria, e ele jubilosamente desejava “Gut Yomtev” aos chassidim na fila ao seu redor.
6 – A Sucá
Fora da Sede Mundial Lubavitch, no 770 da Eastern Parkway, o Rebe tinha sua sucá, construída por um grupo de alunos de yeshivá. (1979)
Somos ordenados a habitar na sucá da mesma maneira que habitamos em nossa casa, não apenas comendo ali, mas também passando o maior tempo que pudermos, estudando, socializando e celebrando. Construindo sobre ensinamentos cabalísticos anteriores, sucessivos Rebes de Chabad elaboram a ideia de que esta é a única mitsvá que uma pessoa realiza com o corpo inteiro. Como uma mitsvá nada mais é que a vontade superior de D'us, isso significa que cumprir este mandamento com todo o nosso ser, da cabeça aos pés, está envolvido pela vontade de D'us. Da mesma forma, a sucá incorpora a transcendência abrangente de D'us, que está acima de qualquer tipo de diferenciação, e portanto tem a capacidade de trazer a paz, interiormente e pessoalmente, e também para o mundo inteiro de forma coletiva. 6
7 – As Quatro Espécies
Com lulav e etrog em mãos, o Rebe emergiu da porta principal a caminho da Sucá, e encorajava as pessoas cantando com um aceno de braço (esquerda, 1981). Homens e mulheres esperam em longas filas pela oportunidade de fazer uma bênção com o lulav e etrog do Rebe (direita, 1983 e 1984).
Como a sucá, as quatro espécies – o lulav, etrog, hadassim e aravot – também simbolizam paz e unidade. Mas há uma importante distinção. Embora a bênção possa somente ser feita quando as quatro são seguradas juntas, a mitsvá também exige quatro espécies diferentes. O caminho para a paz, em outras palavras – num nível pessoal ou coletivo – é reconhecer que os muitos elementos diferentes da realidade têm todos seu próprio papel específico a desempenhar no plano abrangente de D'us. “Aquele que carece de entendimento, quando sua vontade é frustrada, fica imediatamente enraivecido… Ao passo que aquele que tem entendimento é capaz de encontrar até oposição direta com tolerância.” Ao cumprir a mitsvá das quatro espécies atraímos a paz propagada pela sucá para as realidades fragmentadas da vida. 7
8 – Celebrar com Crianças
Durante uma corrida para crianças o Rebe encorajava-as batendo palmas com entusiasmo (direita, 1980). Uma menina lidervaa o grupo na recitação de um breve ensinamento da Torá enquanto o Rebe observvaa (alto à esquerda, 1983). Crianças anotavam enquanto o Rebe falava (esquerda em baixo, 1982).
Durante o mês de Tishrei, e na verdade durante o ano inteiro, o Rebe prestava atenção especial às crianças. Cumprimentando-as calorosamente, entregando-lhes moedas para caridade, e tratando cada uma com graça e seriedade como fazia com os adultos. Durante as preces e palestras as crianças não eram simplesmente toleradas, mas recebidas e encorajadas a ficarem na frente da sinagoga, perto do local reservado ao Rebe. Durante Chol Hamoed, os dias intermediários de Sucot (e em diversas ocasiões no decorrer do ano) a sinagoga era reservada para corrida de crianças, na qual o Rebe participava e falava diretamente com elas dedicando seu tempo e atenção. Além de partilhar ideias relevantes sobre a festa e suas mitsvot em linguagem clara e simples, o Rebe encorajava as crianças a se verem como líderes disciplinados, e como lançadores de tendências, que poderiam influenciar a todos ao redor para melhor. Aqui também, havia um foco sobre as crianças como indivíduos, e também na sua habilidade de transformar coletivamente a sociedade.
9 – Um Bom Ano, Um Ano Doce
No último dos dias intermediários de Sucot, Hoshanah Rabá, o Rebe ficava à porta de sua sucá distribuindo bolo de mel (lekach) a longas filas de pessoas. Desejva a cada uma um ano bom e doce, e muitos paravam para trocar uma palavra de conselho ou pedir uma bênção pessoal. (1980)
Em muitos midrashim e textos cabalísticos Hoshanah Rabá é descrito como o dia em que o julgamento de D'us é feito e selado. Embora seja o último dia de Sucot, “a época do nosso júbilo ”, também remonta à reverencia das Grandes Festas no início do mês. Hoshanah Rabá nos lembra que nosso relacionamento com D'us é mais bem renovado e consertado exatamente com nossa celebração alegre das festas segundo o comando divino. Através do nosso vitorioso abraço dos mandamentos de D'us – trazendo as quatro espécies juntas e erguendo-as – o divino julgamento para o bem espiritual e físico é também assegurado.
O princípio está refletido nos muitos costumes especiais na véspera de Hoshaná Rabá, e no dia seguinte. À meia-noite o Rebe se juntava à congregação para ler o livro inteiro de Salmos. Na manhã seguinte a leitura, imploramos a D'us para nos ajudar pelo mérito de todos os judeus que se devotaram a Ele tão intensamente, muitas vezes enfrentando imensos desafios. Essas preces têm um tom solene. Mas uma canção Chabad clássica mostra algumas linhas para acentuar à jubilosa fé subjacente e a confiança, enfatizando que “embora exilados e banidos” somos “semelhantes a uma palmeira”, e que “embora dispersos entre aqueles que nos vexam” ainda “abraçamos e nos apegamos a Ti.”
Escute aqui:
10 – Alegre-se!
Mesmo após os dos dois dias, Shemini Atseret e Simchat Torá, as festividades continuam no Rebe. Em toda a vasta área de Nova York, milhares de judeus chegam para receber vinho do copo do Rebe, e se aglomeram ao final da celebração da Torá.
O canto é liderado por um coro infantil, acompanhado por músicos Yossi e Avi Piamenta. Na mão direita o Rebe segura o copo para ser enchido, com a esquerda ele encoraja a alegria de todos. (1981). Simchat Torá tem a suprema expressão não através do estudo, mas pela dança exuberante com a Torá. Porém o Rebe passava muitas horas nos dois dias da festa explorando os profundos segredos da Torá, e com frequência expunha este mesmo ponto. A diferença entre estudo e dança é a diferença entre prazer intelectual e uma expressão de júbilo essencial. Prazer intelectual é limitado de acordo com o entendimento de cada indivíduo. Mas o júbilo essencial expressado na dança exuberante de Simchat Torá é o direito de nascimento de cada judeu, erudito ou ignorante.
Nas palavras do Rebe: “O júbilo não é para ter distinções, como num casamento, onde uma pessoa é o sogro, outro o noivo… porém uma terceira é somente um parente e a quarta nada mais é que um amigo. Em Simchat Torá a alegria é igual para todos. Todo indivíduo é um noivo, e a Torá é sua noiva. 8”
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