Depois de ter estabelecido Tomchei Temimim, os maamarim que o Rebe Rashab costumava proferir eram ditos em novo formato. Começou a dizê-los em série, explicando assuntos correlatos. Antes disso, o maamar geralmente não era relacionado àquele dito antes ou depois.
Os maamarim do Rebe Rashab são notáveis por sua profundidade e objetividade. Tratam da matéria com muita riqueza de detalhes de todos os ângulos, com explicações lógicas e claras, bem como conclusões claríssimas. É por isso que o Rebe Rashab é tido como o “Rambam da Chassidut”.
O Rebe Rashab também escreveu quatro ensaios especiais sobre como um judeu deve servir a D’us.
O Rebe Rashab estava profundamente envolvido com atividades comunitárias relacionadas a judeus russos e de todo o mundo. Mas não só lamentava as situações difíceis; procurava soluções. Por exemplo, à época de dificuldades financeiras terríveis, as quais afetaram especialmente a comunidade judaica, o Rebe Rashab foi de vital importância na fundação de uma tecelagem que trouxe amplo sustento para 2.000 famílias.No vigésimo dia do mês de Marcheshvan é o aniversário de nascimento de um grande líder judeu que, pela sua vida e obra, tem inspirado largamente nosso povo. Seu nome é Rabi Shalom Dovber Schneersohn, quinta geração, em linha direta de sucessão, de Rabi Shneur Zalman, autor da famosa obra Tanya e fundador do chassidismo Chabad. Rabi Shalom Dovber (conhecido como o Rebe Rashab) foi o filho de Rabi Shemuel (o Rebe Maharash) e pai do Rebe Anterior de Chabad, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn (o Rebe Rayats).
A história da vida de Rabi Shalom Dovber está registrada em detalhes no diário de seu filho. A seguir, alguns fatos interessantes sobre um sonho que se torna realidade e sobre a vida de um menino que iria tornar-se um grande Rebe e líder.
Rivca, a esposa do Rabi Shemuel (que também era sua prima), era uma mulher de charme e graça incomuns; era temente a D us e tinha um belo caráter. Conhecia e apreciava as santas qualidades de seu marido. Uma ocasião, quando estava saindo do estúdio dele, a bainha de seu vestido ficou presa na porta. A porta podia apenas ser aberta pelo lado de dentro, e para soltar seu vestido teria que bater na porta para o marido abri-la. Ela não queria interrompê-lo e tirá-lo de sua escrivaninha, Então lá ficou , em pé, silenciosamente, por muito tempo, até que seu marido, o Rebe, por acaso abrisse a porta. Assim eram os pais de Rabi Shalom Dovber.
Uma noite, no décimo dia do Kislêv (um dia após o aniversário, bem como o yahrzeit de Rabi Dovber, (2º Rebe de Chabad, filho de Rabi Shneur Zalman), Rivca teve um sonho, onde viu sua mãe e seu avô sorridentes. Sua mãe lhe disse: “Rivca, você e seu marido deveriam mandar escrever um Rolo da Torá . E o avô completou: “Vocês serão abençoados com um ótimo filho.” Rivca acordou assustada.
Durante todo o dia pensou a respeito do sonho, mas decidiu não mencioná-lo a seu marido. Então, na décima nona noite de Kislêv (dia no qual o bisavô, Rabi Shneur Zalman, foi liberado), o sonho se repetiu. Desta vez apareceu também seu bisavô. Uma vez mais Rivca foi aconselhada a escrever o Sêfer Torá, e avisada sobre o nascimento de um ótimo filho. Então a mãe voltou-se para o ancião, seu avô: “Zeide, abençoe minha filha.” O Alter Rebe assim o fez, e Rivca respondeu em voz alta e clara, “Amên”, o que a acordou.
Seu marido então perguntou por que dissera “Amên”. Rivca primeiro abluíu as mãos e depois contou a seu marido os dois sonhos que tivera. Uma vez ouvira seu marido dizer que havia duas opiniões sobre sonhos, uma que acreditava neles, e outra que não; mas que um bom sonho sempre vale a pena que se materialize. Agora ela se perguntava o que ele diria.
“Esse é um sonho bom” – disse o marido – “e deveria se realizar.” Arranjos foram feitos para conseguir o mais fino pergaminho para o Sêfer Torá, e um piedoso escriba foi contratado para escrevê-lo. Antes de Rosh Hashaná, o Sêfer Torá foi completado, e no dia após Yom Kipur o siyum (conclusão festiva) foi celebrado. Quarenta dias depois, no vigésimo dia de Marcheshvan, no ano 5621 (1860), Rivca deu à luz um menino, que foi chamado Shalom Dovber.
Quando Shalom Dovber tinha três anos, foi trazido ao chêder, que encontrava-se na sinagoga de seu avô, Rabi Menachem Mendel, 3º Rebe de Chabad (o famoso autor da obra “Tsêmach Tsêdek”). O menino visitava seu avô todos os dias, e o Rebe arrumava tempo para brincar com ele e questioná-lo sobre o que havia aprendido no chêder naquele dia. O garoto amava ternamente o pai e o avô, e quando o último faleceu, ele sofreu muito e tornou-se ainda mais apegado ao pai.
Muitas são as histórias sobre a piedade e singulares qualidades do jovem Shalom Dovber. Uma dessas, quando tinha mais ou menos quatro anos, vale a pena ser lembrada.
O menino estava com a mãe quando um alfaiate trouxe uma roupa que havia confeccionado para ela. O menino se ocupou em volta do alfaiate e, sem malícia alguma, puxou um pedaço de tecido de seu bolso. O homem corou e começou a gaguejar uma explicação de que, na verdade, tivera a intenção de devolver o pedaço de tecido que havia sobrado, mas que havia esquecido.
Quando se foi, a mãe disse ao garoto: “Veja o que você fez ao pobre homem; envergonhou-o e o fez infeliz. Deve ser cuidadoso e nunca envergonhar alguém, mesmo que sua intenção seja boa.”
O menino ficou muito sentido e chorou amargamente. Por algumas semanas carregou o fardo do pecado, até que um dia perguntou ao pai: “Pai, como pode alguém reparar o pecado de envergonhar uma pessoa?” O pai disse-lhe o que fazer, e perguntou o que acontecera. “Queria apenas saber” – o menino respondeu.
Mais tarde, sua mãe perguntou-lhe por que não quis contar ao pai o ocorrido, ao que o menino respondeu gravemente: “Não é suficiente que eu tenha pecado, envergonhando alguém? Queria que eu errasse novamente falando mal dele?” Contar o caso todo ao pai teria significado mencionar também a desonestidade do alfaiate, e isso ele não queria fazer.
Shalom Dovber amava o estudo de Torá, e à época de bar-mitsvá, já era um grande erudito. Quanto mais velho ficava, mais tempo dedicava aos estudos, pelos quais tinha insaciável apetite.
No ano 5640, aos 19 anos, seu pai começou a pedir-lhe ajuda em suas funções públicas. Havia muito a fazer, pois a posição dos judeus sob os czares russos era muito delicada. Era freqüentemente necessário visitar pessoas influentes, tanto dentro como fora do país, para ter alguém que protegesse a vida e propriedade judaicas e aliviasse seu fardo econômico. Nessa época, seu filho, Rabi Yossef Yitschac, que viria a sucedê-lo, nasceu (no 12º dia de Tamuz, 5640).
Após o falecimento do pai (em 5643), Rabi Shalom Dovber isolou-se por um ano inteiro em estudo e oração. Por muitos anos depois, precisou de tratamento médico em estâncias fora do país, porque sua saúde ficou abalada. Durante essas viagens ao exterior teve oportunidade de encontrar-se com pessoas importantes e servir à causa de seus irmãos oprimidos. Também continuou a escrever literatura chassídica, muitos volumes dos quais foram publicados, e que ainda são consultados por estudiosos de Chabad.
Apesar da saúde frágil, se devotou ao serviço público, ajudando seus irmãos material e espiritualmente, mas aceitou a liderança oficial do Movimento Chabad, sucedendo seu pai, somente dez anos mais tarde. Em 5657, fundou a famosa Yeshivá Tomechê Temimim, na cidade de Lubavitch, na Rússia, mais tarde transferida para a Polônia e os Estados Unidos, com muitas ramificações e filiais em várias partes do mundo. No segundo dia de Nissan, no ano 5680, Rabi Shalom Dovber faleceu, e foi colocado a descansar na cidade de Rostov, na Rússia.
Muitos de seus seguidores e alunos, em todas as partes do mundo, que se inspiram na sua devoção altruísta a seu povo, sua piedade e santidade, tentam continuar a cadeia dourada de tradições que aceitavam sob sua orientação como rabinos e líderes, cada qual em sua comunidade. São as “velas brilhantes” ou “lampiões”, iluminando os cantos escuros da Terra, como o ilustre Rabi Shalom Dovber, o Rebe Rashab, havia desejado que fossem.
(Traduzido de Talks and Tales
© Merkaz Le’Inyanei Chinuch, Brooklyn, N. Y.)
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