Durante meu mandato como senadora por New Jersey, Sarah, uma amiga e colega de trabalho, pediu-me para ajudá-la num sério problema pessoal. Sarah era uma talentosa escritora que muitas vezes me proporcionava uma perspectiva religiosa sobre assuntos judaicos no estado.
Originalmente de Paris, Sarah sentiu que estaria mais à vontade numa atmosfera francesa, e decidiu mudar-se para Montreal. Ali ela conheceu um artista francês, casou-se com ele e começaram uma nova vida em Montreal juntamente com o filho dela, de quatro anos.
Porém, Sarah logo percebeu que o homem que ela acreditava ser bom e decente não era na verdade nem bom nem decente. Ele ameaçou sequestrar o filho dela, alegando que levaria a criança para o norte do Canadá, onde ninguém jamais os encontraria.
E assim, numa certa noite às 23h Sarah bateu à porta da minha casa em Cherry Hill, assustada e aborrecida. Entendi imediatamente que o marido dela tinha transformado a ameaça em ação e raptado a criança. Meu coração tremeu por ela.
No dia seguinte fomos a Montreal para contratar um advogado e comparecer perante um juiz para que Sarah pudesse ter seu filho de volta. Contei ao juiz a verdade sobre o marido dela, que ele tinha levado uma vida muito desregrada. Dentro de dez minutos, o juiz bateu o martelo e deu a Sarah seu filho de volta.
Os deveres de um senador vão muito além das obrigações normais do governo
Naquela noite esperamos até o sol se pôr, e voltei de carro a Cherry Hill com Sarah e seu filho. Eu tinha informado meu marido de que precisávamos esvaziar o refrigerador e tornar nossa cozinha casher. Enquanto estivemos fora, meu marido Harold tinha localizado um mercado de comida casher em Philadelphia, e estocado carnes casher e laticínios para Sarah e seu filho.
A permanência de Sarah conosco me fez lembrar dos meus oito e nove anos de idade, quando minha família morava no Brooklyn, Nova York. Embora eu não seja judia, as lembranças da minha infância voltaram e senti uma forte sensação de familiaridade. Embora Sarah estivesse passando por circunstâncias difíceis, lembro-me claramente que ainda conseguíamos rir sobre a situação.
À sua maneira singular, Sarah queria me agradecer por tê-la ajudado. Sendo uma mulher profundamente religiosa, ela quis que eu escrevesse ao Rebe de Lubavitch, Rabi Menachem Mendel Schnnerson, sobre eu mesma, sobre minha carreira, etc. Ao mesmo tempo, ela escreveu ao Rebe, contando a ele como meu marido e eu a tínhamos ajudado na hora de necessidade, e pedindo que ele me desse sua bênção.
Não estou certa por que, mas segui seu conselho.
Quando recebi a resposta do rabino, fiquei um pouco surpresa, pois o conteúdo não era aquilo que alguém tipicamente escreveria a uma senadora. Até hoje guardo a carta como um tesouro. Além disso, sinto fortemente que todo o incidente com Sarah, e a carta do falecido Rabi Schneerson, encerram uma importante lição para mim. É sobre amar um ao outro. Eis a carta do Rebe:
Pela Graça de D'us
6 de Adar, 5742
1º de março de 1982
Brooklyn, NY
Sra Alene S. Ammond Cherry Hill, NJ
Bênção e Saudação:
Esta é para acusar o recebimento de sua carta datada em 25 de fevereiro, na qual se apresenta como católica, e delineia os pontos altos de sua vida e do seu serviço público, notando que tem um forte desejo de continuar utilizando suas capacidades para fazer uma importante contribuição em determinadas áreas do trabalho público.
Para uma pessoa com seu histórico, não há necessidade de enfatizar a importância de toda pessoa entender seu potencial, especialmente alguém que foi dotado com talentos e capacidades especiais, e os tem usado com sucesso.
Há um antigo dito talmúdico, que é tanto eterno quanto universal: “Nada se coloca no caminho da vontade”, associado com a certeza: “Faça o esforço correto, e será bem-sucedido.”
Tendo em vista as suas experiências no passado e a sua determinação para o futuro, estou confiante de que encontrará os meios e maneiras corretos para atingir seus objetivos, ainda mais porque num caso desses a pessoa recebe ajuda do Alto.
Ao mesmo tempo, eu gostaria de chamar atenção para um detalhe que não se pode enfatizar demais. Refiro-me às Divinamente ordenadas Sete Categorias de leis e princípios morais que foram dadas a Nôach e seus descendentes pelo Criador e Mestre do mundo, i.e., a toda a humanidade. Estas incluem princípios fundamentais como a proibição de idolatria, roubo, as leis de justiça, etc. Embora o senso comum dite que essas leis são indispensáveis como a base de qualquer sociedade humana decente, a experiência tem mostrado que, sendo a natureza humana como é, o senso comum não tem sido um fator confiável na implementação das leis ditas básicas, se forem baseadas apenas nos ditames do senso comum. Basta mencionar que o Holocausto da Segunda Guerra surgiu e se espalhou num país e num povo que tinha se destacado muito na área do pensamento, filosofia e ética humana. Mas como tudo estava baseado na mente humana, e não no reconhecimento de um Ser Supremo, pôde ser torcido para mostrar e “justificar” a mais horrível desumanidade e crueldade na história humana.
Portanto é obrigação de todos, especialmente nessa época de hoje, promover as ditas leis morais como ordenadas pelo Ser Supremo. Certamente aqueles que têm uma posição proeminente na sociedade têm uma responsabilidade maior no sentido de fortalecer o tecido moral da sociedade pelo exemplo e pelo preceito, especialmente entre a geração mais jovem, para um futuro melhor e mais brilhante para todos.
Com os melhores desejos de sucesso em todo o acima, e Com estima e bênção,
[Assinatura do Rebe]
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