No que diz respeito a teshuvá – retornar a D'us, expiar os erros passados – a noção comum é que consiste inteiramente de lágrimas e intenso remorso. Afinal, se alguém realmente se sente mal por causa de um erro, então chorar é natural.
Deixe-me contar-lhe uma história. Antes de entrar numa audiência privada com o Rebe, de abençoada memória, era costume escrever uma nota na qual a pessoa detalhava tudo que ele ou ela desejava discutir na audiência, bem como algo para o qual deseja uma bênção.
Durante uma das minhas audiencias privadas, depois que o Rebe leu e respondeu tudo que estava em minhas anotações, ele ergueu a cabeça, olhou-me nos olhos e perguntou: “Tem mais alguma coisa a pedir?”
Eu sempre tentanta incluir tudo que desejava discutir ou pedir em minha anotação, e aqui está o Rebe olhando para mim, esperando ouvir qualquer outra pergunta que eu pudesse ter… Meu coração começou a correr - o que eu deixara de fora? Tive um branco na mente.
O Rebe perguntou-me gentilmente pela segunda vez: “Você tem mais alguma coisa a perguntar?”
Ele respondeu: “Parece que você não deseja se arrepender por causa da felicidade!”
Fiquei totalmente abalado. Não conseguia pensar em mais nada.
Então uma terceira vez: “Você tem mais alguma coisa a perguntar? Quero terminar de responder todas as suas perguntas antes de começar a falar sobre assuntos que desejo discutir…”
Dessa vez irrompi em pranto. Não conseguia pensar em nada em particular para pedir… O que, então, eu poderia dizer que fosse abrangente? Entre lágrimas eu disse: “Ajude-me, Rebe, a fazer teshuvá!”
A isso o Rebe respondeu: “Parece que você não deseja se arrepender por felicidade!”
Então o Rebe imediatamente voltou-se para os outros temas que ele desejava discutir.
Mais tarde escrevi ao Rebe a seguinte pergunta: Chorar não é totalmente apropriado quando você faz teshuvá e sente total remorso pelos atos passados?
O Rebe respondeu (parafraseado):
“Toda mitsvá que merecemos fazer deve ser cumprida com júbilo. O arrependimento é uma mitsvá como qualquer outra, e portanto deve ser feita com júbilo.”
“Toda mitsvá que merecemos fazer deve ser cumprida com júbilo. O arrependimento é uma mitsvá como qualquer outra, e portanto deve ser feita com júbilo.” O Rebe continuou dizendo que, na verdade, o arrependimento é maior que qualquer mitsvá. Seu objetivo é corrigir a transgressão de todos os outros mandamentos, deve preencher a “lacuna” espiritual que a falta de observância gerou. A capacidade da teshuvá de fazê-lo vem do fato de que ela emana de uma fonte espiritual mais elevada que todas as outras (conforme é explicado em profundidade nos textos chassídicos). E “quanto maior a mitsvá, maior o júbilo.”
O Rebe explicou que segundo a Lei Judaica, até um indivíduo completamente mau pode se arrepender em um momento e então ser considerado um justo. Com um simples pensamento – “D'us! Quero ser aquilo que Tu desejas que eu seja” – uma pessoa é completamente transformada. Embora isso seja só o começo do processo que leva à total expiação, não muda o fato de que ele já se conectou com a Fonte. Portanto, escreveu o Rebe, “O júbilo que se segue deve ser incomparavelmente maior que o júbilo envolvido no desempenho de qualquer outra mitsvá!”
Onde está o Júbilo?
Arrependimento – ou como teshuvá é corretamente traduzida – “retorno” – significa um compromisso de agir agora como eu sempre deveria ter feito – i.e., conectando-me com D'us e atingindo grande santidade através do cumprimento dos mandamentos de D'us.
Quando olho para a minha vida, porém, vejo que não sou merecedor dessa possibilidade; por que eu deveria ter outra chance após ter errado tanto? Apesar disso, D'us escolheu dar-me essa mitsvá especial da teshuvá. Eu poderia começar observando os mandamentos de D'us agora; poderia me conectar com D'us agora.
Imagine um filho que se rebela contra os pais, e então um dia retorna a eles, que o recebem com carinho e de braços abertos. Sem dúvida, ele sentirá grande satisfação e alegria ilimitadas. Assim também, quando D'us amorosamente nos saúda e nos recebe, seus filhos, após nos arrependermos, é claro que isso é motivo de júbilo!
Então precisamos sentir remorso? Sim! Isso faz parte da teshuvá. Precisamos derramar lágrimas, reconhecer como nossas ações passadas nos afastaram de D'us e do nosso âmago sagrado. Mas então precisamos nos alegrar, pois D'us está nos dando a oportundiade de retornar.
Pequenas Resoluções
O Rebe também escreveu que eu não deveria tomar resoluções a longo prazo. Porque a longo prazo, a pessoa não tem o mesmo nível de inspiração que na hora do compromisso real. Depois que a inspiração desaparece, a resolução pode rapidamente fazer o mesmo… Portanto o Rebe aconselhou-me a tomar resoluções a curto prazo, duas ou três semanas no máximo. Então, segundo a situação em duas ou três semanas, tomar uma nova resolução baseado na situação daquela época.
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