Saudações e bênçãos
Após ficar sem notícias suas por um longo tempo, fiquei contente ao receber suas recomendações através dos jovens de Chabad que visitaram sua comunidade recentemente, em conexão com a conferência pública. Fiquei gratificado ao ouvir que você participou da discussão, mas para mim foi uma surpresa saber que ainda está enfrentando o problema da idade do mundo, como sugerido por várias teorias científicas que não podem se reconciliar com a visão da Torá de que o mundo tem 5722 anos de idade [na colocação deste artigo no site, 5770].
Sublinhei a palavra teoria, pois é necessário ter em mente que, em primeiro lugar, a ciência formula e lida com teorias e hipóteses, enquanto que a Torá lida com verdades absolutas. Estas são duas disciplinas diferentes, onde não cabe uma reconciliação.
Foi especialmente surpreendente para mim que, de acordo com a reportagem, o problema citado está aborrecendo-o ao ponto de haver invadido sua vida cotidiana como judeu, interferindo com o verdadeiro cumprimento das mitsvot diárias. Espero sinceramente que a impressão que me foi transmitida seja errônea. Pois, como sabe, o princípio básico judaico na’aseh (primeiro) e v’nishmá (em seguida), tornam obrigatório para o judeu cumprir os mandamentos Divinos, independentemente do grau de entendimento, e obediência à lei Divina jamais pode ser condicionada à a provação humana.
Em outras palavras, falta de entendimento, e mesmo a existência de dúvidas legítimas, nunca podem justificar desobediência aos mandamentos Divinos; muito menos, quando as dúvidas são ilegítimas, no sentido de que não possuem base real ou lógica, como o problema em questão.
Aparentemente, nossa discussão acontecida muito tempo atrás, e a qual, prezo saber, não foi esquecida por você, mesmo assim não esclareceu este assunto em sua mente. Tentarei fazê-lo agora, escrevendo, o que impõe tanto brevidade como outras limitações. Espero, no entanto, que as observações que se seguem ajudarão no seu objetivo.
Basicamente, o problema tem raízes numa concepção errada do método científico, ou simplesmente, do quê é a ciência. Devemos distinguir entre ciência empírica e experimental, lidando com, e confinado a, descrever e classificar fenômenos; e ciência especulativa, tratando de fenômenos desconhecidos, às vezes fenômenos que não podem ser duplicados em laboratório.
Especulação científica é na verdade uma incongruência da terminologia; pois ciência, estritamente falando, significa conhecimento, enquanto que nenhuma especulação pode ser chamada de conhecimento no verdadeiro sentido da palavra. Na melhor das hipóteses, a ciência pode apenas falar em termos de teorias inferidas de certos fatos conhecidos e aplicada no reino do desconhecido. Aqui ciência tem dois métodos gerais de dedução:
a – O método de interpolação (como distinguido de extrapolação) onde, conhecendo a reação sob dois extremos, tentamos inferir o que a reação poderia ser a qualquer ponto entre os dois.
b – O método de extrapolação, onde inferências são feitas além de um alcance conhecido, baseada em certas variáveis dentro do alcance conhecido. Por exemplo, suponha que saibamos as variáveis de um certo elemento com variação de temperatura de 0 a 100, e baseados nisso estimamos que a reação poderia estar a 101, 200, ou 2000.
Dos dois métodos, o segundo (extrapolação) é claramente o mais incerto. Além disso, a incerteza aumenta com a distância do alcance conhecido e com o decréscimo deste alcance. Dessa maneira, se o alcance conhecido está entre 0 e 100, nossa inferência a 101 tem maior probabilidade que a 1001.
Vamos notar logo que toda a especulação a respeito da origem e idade do mundo está no segundo método, mais fraco, o da extrapolação. A fraqueza torna-se mais aparente se tivermos em mente que uma generalização inferida de um conseqüente conhecido para um antecedente ignorado, é mais especulativa que uma inferência de um antecedente para um conseqüente.
O fato de que uma inferência de conseqüente para antecedente seja mais especulativa do que uma inferência de antecedente para conseqüente, pode ser demonstrado muito simplesmente:
Quatro dividido por dois é igual a dois. Aqui o antecedente é representado dividendo e pelo divisor, e o conseqüente – pelo quociente. Saber o antecedente neste caso nos dá um resultado possível – o quociente (o número 2).
Entretanto, se apenas sabemos o resultado final, isto é, o número 2, e nos perguntarmos como podemos chegar ao número 2, a resposta permite várias possibilidades, conseguidas por meio de métodos diferentes:
a – 1 mais 1 igual a 2.
b – 4 menos 2 igual a 2.
c – 1 vezes 2 igual a 2
d – 4 dividido por 2 igual a 2.
Perceba que se outros números forem usados, o número de possibilidades nos dando o mesmo resultado é infinito. (por exemplo, 5 menos 3 é igual a 2; 6 dividido por 3 é igual a 2, ad infinitum…)
Acrescente a esta uma outra dificuldade, que é predominante em todos os métodos de indução. Conclusão baseada em alguns dados conhecidos, quando são ampliados ao natural, isto é, quando são expandidos até áreas desconhecidas, podem ter apenas validade na presunção de que tudo o mais é igual, o que significa dizer sobre uma identidade de condições predominantes, e sua ação e contra-ação sobre cada um. Se não podemos estar seguros de que as mudanças teriam qualquer semelhança no tipo; se, além disso, não pudermos ter certeza de que não havia outros fatores envolvidos – tais conclusões de inferências estão completamente invalidadas.
Para uma ilustração mais completa, pretendo referir-me a um dos pontos que acredito ter mencionado durante nossa conversa. Numa reação química, não importa se fissão ou fusão, a introdução de um novo catalisador no processo, embora em quantidade ínfima, pode mudar a forma e a duração do processo químico, ou iniciar um processo inteiramente novo.
Ainda não terminamos de citar as dificuldades inerentes em todas as assim chamadas teorias científicas a respeito da origem do mundo. Lembremos que toda a estrutura da ciência está baseada em observações de reações e processos no comportamento dos átomos em seu estado presente, como existem agora na natureza. Cientistas lidam com conglomerados de bilhões de átomos reunidos, e como se relacionam com outros conglomerados existentes de átomos. Os cientistas sabem muito pouco sobre os átomos em seu estado puro; sobre como um único átomo pode reagir com outro único átomo num estado de separação; menos ainda sobre como partes de um átomo podem reagir com outras partes do mesmo ou de outros átomos.
Podemos agora resumir a fraqueza, mais a desesperança, de todas as chamadas teorias científicas a respeito da origem e idade do universo.
a – Estas teorias têm sido avançadas com base em dados observáveis durante um período de tempo relativamente curto, ou apenas por algumas décadas, e no máximo por alguns séculos.
b – Com base nesta pequena quantidade de dados conhecidos (embora de forma alguma perfeitamente), os cientistas se aventuram a construir teorias pelo método fraco da extrapolação, e do conseqüente ao antecedente, expandindo-se a muitos milhares (de acordo com eles, a milhões e bilhões) de anos!
c – Avançando nessas teorias, eles jovialmente desconsideram fatores universalmente admitidos por todos os cientistas, a saber, que no período de nascimento do universo, condições de temperatura, pressão atmosférica, radiatividade, e uma quantidade de outros fatores cataclísmicos eram totalmente diferentes daqueles existentes no presente estado do universo.
d – O consenso da opinião científica é que deve ter havido muitos elementos radiativos no estágio inicial que não mais existem, ou existem apenas em quantidades mínimas; alguns deles – elementos cuja potência cataclísmica é conhecida apenas em doses mínimas.
e – A formação do mundo, se pretendemos aceitar essas teorias, começaram com um processo de coligação (aglutinando-se juntos) de átomos solitários ou de componentes do átomo e suas conglomerações e consolidação, envolvendo processos e variáveis totalmente desconhecidos.
Para resumir, de todas as fracas teorias científicas, aquela que lida com a origem do cosmos e com suas datas é (conforme os próprios cientistas admitem) a mais fraca dentre as fracas.
É espantoso que, (e isto, por acaso, é uma das mais óbvias refutações destas teorias) que as várias teorias científicas a respeito da idade do universo não apenas contradizem umas às outras, mas algumas delas são incompatíveis e mutualmente excludentes, pois a data máxima de uma teoria é menor que a data mínima de uma outra.
Se a pessoa aceitar tal teoria sem críticas, isso pode apenas levá-la a um arrazoado enganoso e inconseqüente. Considere, por exemplo, a assim chamada teoria evolucionária da origem do mundo, baseada na presunção de que o universo evoluiu de partículas atômicas e sub-atômicas, as quais, pelo processo de evolução, combinaram-se para formar o universo físico e nosso planeta, no qual vida orgânica de alguma forma se desenvolveu também por um processo evolutivo, até que surgiu o homo-sapiens. É difícil entender que alguém possa aceitar prontamente a criação de partículas atômicas e sub-atômicas num estado que é francamente inconcebível, e mesmo assim fique relutante em aceitar a criação dos planetas, ou de organismos, ou de um ser humano, como sabemos que eles existem.
Os argumentos provenientes da descoberta dos fósseis não é de maneira alguma evidência conclusiva da grande antiguidade da terra, pelas seguintes razões:
a – Tendo em vista as condições desconhecidas que existiam na pré-história, como pressão atmosférica, temperatura, radiatividade, catalisadores desconhecidos, etc., como já mencionados, condições que poderiam ter causado reações e mudanças de natureza e andamento inteiramente diferentes daquelas conhecidas para os processos atuais da natureza, a pessoa não pode excluir a possibilidade de que existiam dinossauros 5722 [nesta data, 5768] anos atrás, e que estes tornaram-se fósseis sob terríveis cataclismas naturais no decorrer de poucos anos, ao invés de em milhões de anos; pois não possuímos medidas concebíveis ou critérios de cálculos sob estas condições desconhecidas.
b – Mesmo aceitando que o período de tempo que a Torá concede para a idade do mundo é definitivamente curto demais (embora eu não veja como alguém possa ser tão categórico), ainda podemos prontamente aceitar a possibilidade de que D’us criou fósseis prontos, ossos ou esqueletos (por razões apenas Dele conhecidas) da mesma maneira que poderia criar organismos vivos prontos, um homem completo, e outros produtos como petróleo, carvão ou diamantes, sem qualquer processo evolutivo.
Quanto à pergunta, se “b” é verdadeiro, por que D’us criaria fósseis?
Esta não é mais válida que a pergunta: Por que criar um átomo? Certamente, tal pergunta não pode servir como argumento bem fundado, muito menos como base lógica para a teoria evolutiva.
Qual é a base científica para limitar o processo da criação apenas ao processo evolutivo, começando com partículas atômicas e sub-atômicas – uma teoria repleta de lacunas mal explicadas e complicações, e ao mesmo tempo excluir a possibilidade da criação como ensinada na narrativa bíblica? Pois, se a última possibilidade for admitida, tudo se encaixa certinho num padrão, e toda a especulação a respeito da origem e idade do mundo torna-se desnecessária e irrelevante.
Certamente não é o caso de questionar esta possibilidade dizendo: Por que o Criador criaria um universo pronto, quando teria sido suficiente para Ele criar um número adequado de átomos ou partículas sub-atômicas com o poder de coligação e evolução para se desenvolverem até a presente ordem cósmica?
O absurdo deste argumento torna-se ainda mais óbvio quando se transforma em base para uma frágil teoria, como se fosse baseada em argumentos sólidos e irrefutáveis suplantando todas as outras possibilidades.
Uma pergunta poderia ser feita: Se as teorias tentando explicar a origem e idade do universo são tão fracas, como podem elas terem sido lançadas? A resposta é simples. É parte da natureza humana procurar uma explicação para tudo que ocorre, e qualquer teoria, embora forçada, é melhor que nenhuma, pelo menos até que uma explicação mais plausível possa ser apresentada.
Você poderia indagar agora: Na falta de uma teoria mais sólida, por que então a narrativa bíblica da Criação não é aceita por aqueles cientistas? A resposta, novamente, está na natureza humana. É uma ambição humana natural ser inventivo e original. Aceitar a narrativa bíblica priva a pessoa de mostrar sua genialidade analítica e dedutiva. Por isso, desprezando a narrativa bíblica, o cientista deve apresentar razões para fazê-lo, e se refugia em classificá-la como mitologia antiga e primitiva ou coisa que o valha, já que não pode na verdade argumentar contra ela em termos científicos.
Se você ainda está preocupado com a teoria da evolução, posso dizer-lhe sem medo de cair em contradição que não há um fiapo de evidência para apoiá-la. Pelo contrário, durante os anos de pesquisa e investigação desde que a teoria foi apresentada pela primeira vez, tem sido possível observar a vida de certas espécies de animais e plantas de vida breve por milhares de gerações, mas nunca foi possível estabelecer uma transmutação de uma espécie para outra, muito menos transformar uma planta em animal. Daí deduzimos que esta teoria não tem lugar no arsenal de ciência empírica.
A teoria da evolução, à qual têm sido feitas referências, na verdade não tem relação com a narrativa da Torá para a Criação. Pois mesmo se a teoria fosse documentada hoje, e a mutação das espécies fosse provada em testes de laboratório, ainda assim não estaria contradizendo a possibilidade do mundo ter sido criado conforme consta na Torá, ao invés de através do processo evolutivo.
O propósito principal ao citar a teoria da evolução foi o de ilustrar como uma teoria altamente especulativa e sem base científica pode capturar a imaginação de pessoas sem espírito crítico, a ponto de ser oferecida como uma explicação “científica” do mistério da Criação, apesar do fato de que esta mesma teoria nunca foi documentada cientificamente, carecendo de qualquer embasamento científico.
Desnecessário dizer, não é minha intenção difamar a ciência ou desacreditar o método científico. A ciência não pode agir, a não ser aceitando certas teorias ou hipóteses funcionais, mesmo que não possam ser corroboradas, embora algumas teorias sejam difíceis de serem apagadas, mesmo quando refutadas cientificamente ou desacreditadas (a teoria evolutiva é o caso em questão).
Nenhum progresso técnico seria possível, a menos que certas leis físicas sejam aceitas, embora não haja garantia de que a lei irá se repetir. Entretanto, quero enfatizar, como já mencionado, que a ciência tem a ver apenas com teorias, mas não com certezas. Todas as conclusões científicas, ou generalizações, podem apenas ser prováveis em maior ou menor grau, conforme as precauções tomadas no uso das provas disponíveis, e o grau de probabilidade decresce necessariamente com a distância dos fatos empíricos, ou com o aumento das variáveis desconhecidas, etc., como já indicado. Se você tiver isso em mente, prontamente perceberá que não pode haver nenhum conflito real entre qualquer teoria científica e a Torá.
Minhas observações acima tornaram-se mais longas do que eu pretendia, mas ainda são muito breves em relação às falsas premissas e à confusão prevalecendo em muitas mentes. Além do mais, minhas declarações tiveram que ser restritas a observações gerais, pois é difícil para o leigo aprofundar-se em maiores detalhes. Se você tem mais dúvidas, não hesite em escrever-me.
Para concluir, um assunto tocado em nossa conversa:
A mitsvá de vestir tefilin todos os dias, com a mão sobre o coração, e na cabeça – a sede do intelecto, indica, entre outras coisas, a verdadeira atitude judaica: primeiro o desempenho (mão), com sinceridade e entusiasmo, seguido pela compreensão intelectual (cabeça); i.e., na’aseh primeiro, depois v’nishma.
Possa este espírito permear o seu intelecto e despertar suas forças emotivas e encontrar expressão em cada aspecto da vida diária, pois o essencial é a ação.
Com bênçãos,
Saudações e bênçãos
Meu secretário, Dr. Nissan Mindel, mostrou-me sua carta datada de 23 de outubro, e estou satisfeito em notar que você perdeu tempo para revisar minha carta de 18 de Tevêt, e em escrever suas observações sobre ela. Muito obrigado.
Ao responder, posso seguir a ordem de minha carta à luz de suas observações, ou posso usá-las na ordem em que aparecem em sua carta. Escolherei o segundo método. Em qualquer caso, acredito que suas opiniões serão harmônicas, pois, como indica no parágrafo introdutório da carta, tem plena simpatia com os objetivos de minha dita missiva, a saber, para resolver quaisquer dúvidas que a ciência apresenta como desafio aos mandamentos da Torá.
Devo começar com duas declarações preliminares:
a – Deveria ser evidente que minha carta não implica em negação ou rejeição da ciência ou dos métodos científicos. Na verdade, assim declarei explicitamente ao fim da mencionada carta. Espero não me tornar suspeito de tentar diminuir os feitos da ciência, especialmente porque em certas áreas os pontos de vista da Torá dão à ciência ainda mais crédito que a própria ciência reivindica; de fato muitas leis da Halachá são levadas a conclusões científicas (como por exemplo em medicina), dando-lhes a validade da realidade objetiva.
b – Uma declaração que tem sido atribuída a você é que afirma que assim como problemas rabínicos deveriam ser tratados por alguém que estude a respeito, da mesma forma assuntos científicos devem ser deixados àqueles que estudam ciências. Não sei o quanto tal relato é acurado, mas sinto que não deveria ignorá-lo, pois concordo com este princípio. Estudei ciência em nível universitário de 1928 a 1932 em Berlim, e de 1934 a 1938 em Paris, e tenho tentado acompanhar o desenvolvimento da ciência em certas áreas desde então.
Agora a respeito de sua carta:
1) Concordo, é claro, que para o objetivo acima mencionado, teorias científicas devem ser julgadas pelos padrões e critérios estabelecidos pelo próprio método científico. Este é precisamente o princípio que segui em minha carta. Sendo assim, propositadamente omiti de minha discussão quaisquer referências às Escrituras ou ao Talmud, etc.
2) Você escreveu que pode aplaudir entusiasticamente minha ênfase de que teorias científicas nunca têm a intenção de dar as verdades definitivas. Porém eu iria mais longe que isto. O problema não é que a ciência não esteja (agora) em posição de oferecer verdades definitivas, mas que a moderna ciência estabelece seus próprios limites, declarando que suas predições são, e sempre serão, em todo caso, meramente as mais prováveis, mas não certas; fala apenas em termos de teorias. Abrindo parênteses neste ponto, esta visão difere do conceito da natureza e nosso próprio conhecimento dela (ciência) como apoiada pela Torá, pois a idéia de milagres implica uma mudança na ordem estabelecida e não a ocorrência de um evento menos provável.
Reconhecer as limitações da ciência, estabelecidas pela própria ciência, como visto acima, é suficiente para resolver qualquer dúvida de que a ciência possa representar um desafio para a Torá. O restante da discussão na minha carta era principalmente minha maneira de enfatizar, mas também porque, como já mencionado, de acordo com a Torá, i.e., no domínio da fé e não da ciência, é admissível para as conclusões da ciência ter a validade da lei natural.”
3) Em seguida, você deplora o que considera um ataque gratuito nos motivos pessoais de cientistas. Porém, tal ataque não será encontrado em minha carta. Eu me referi especificamente a um certo segmento de cientistas numa certa área de pesquisa científica, a saber, aquelas que produzem hipóteses sobre o que realmente ocorreu milhares e milhares de anos atrás, como a teoria evolucionária do mundo. Hipóteses que contêm nenhum significado para a pesquisa moderna (veja na minha carta o parágrafo imediatamente seguinte ao parágrafo que você menciona); hipóteses não apenas altamente especulativas, como também não estritamente científicas, e estão de fato repletas de fraquezas. Mesmo carecendo de qualquer base sólida, estes cientistas rejeitam totalmente qualquer outra explicação (incluindo a narrativa da Torá): as molas propulsoras destes cientistas que eu tentei analisar, pois essas atitudes não podem ser igualadas com um desejo de promover a verdade, ou promover avanço tecnológico, pesquisa científica, etc. Eu não queria acusá-los de preconceito anti-religioso, especialmente porque alguns deles, incluindo alguns dos criadores da teoria, eram religiosos. Por isso tentei explicar a atitude deles como um traço humano, na busca por realizações e reconhecimento. Incidentalmente, este traço natural tem seus aspectos positivos e é também básico na nossa religião, pois sem o incentivo da realização, nada seria atingido.
4) Sua observação sobre o mau uso dos termos fissão e fusão com respeito a reações químicas é, naturalmente, válido e bem aplicado. Confio, entretanto, que o significado não tenha sido indevidamente afetado, pois foi indicado por duas vezes naquele parágrafo que o assunto era reações químicas. Sem dúvida, o termo combinação e decomposição deveria ter sido usado. Na verdade, acredito que o uso diferente destes termos em reações nucleares e químicas é mais convencional que básico. Apesar disso, eu deveria ter sido mais atento da terminologia padrão.
Cabe aqui uma palavra de esclarecimento sobre a terminologia de minha carta. Se os termos ou expressões usados nem sempre são os apropriados, isso deve-se ao fato de que eu geralmente não dito minhas cartas em inglês, e embora eu confira a tradução em seguida, o manuseio pode às vezes obstar um deslize, como o presente exemplo em questão; e pelo fato de que recebi meu treinamento científico em francês e alemão, e anteriormente em russo, o que pode ser a causa de algumas das variações.
5) Você se refere à minha declaração de que cientistas sabem muito pouco sobre interações de átomos isolados e partículas sub-atômicas, e também questiona a relevância das teorias sobre a idade do mundo. A relevância é esta. A teoria evolucionária aplicada à origem do nosso sistema solar e planeta Terra, da qual a idade é concluída, presume (pelo menos no caso da maioria das hipóteses), que no início havia átomos e partículas sub-atômicas em algum estado puro, que se condensaram, combinaram-se juntas, etc.
Estou consciente do fato de que a maior parte da pesquisa em física deste século tem se preocupado com interações de unidades individuais indo desde átomos até as mais elementares partículas conhecidas. Mas em 1931, das partículas sub-atômicas apenas prótons e elétrons eram conhecidos e estudados. As câmaras de bolha foram construídas apenas em 1952, e um microscópio de campos de íons (pelo Dr. Muller da Universidade Penn State), chegando ao reinado do átomo e partículas sub-atômicas apenas em 1962. Temos boas razões para crer que da mesma forma que o conhecimento científico foi enriquecido com a introdução do primeiro microscópio, podemos esperar que uma extensão similar de avanço com a ajuda do último (embora tenha sido precedido pelo microscópio eletrônico).
Por este motivo, é seguro dizer que tudo que aprendemos no campo da nucleônica nas últimas décadas é mínimo, quando comparado ao que confiantemente podemos esperar aprender nas próximas poucas décadas.
6) Você faz objeções à minha declaração de que condições de pressão, temperatura, radiatividade, etc., devem ter sido totalmente diferentes nos estágios Iniciais supostos por alguns evolucionistas daqueles existentes hoje, e afirma que aquelas condições ambientais foram, na maior parte, duplicadas em laboratório ou observadas em fenômenos naturais. Aqui, com o devido respeito, discordo, e acredito que o estudo das fontes confirmará minha afirmação.
7) Você declara não haver evidências de que qualquer elemento radiativo produz mudanças cataclísmicas, e prossegue dizendo que há uma falta de distinção clara na minha carta entre cosmogonia e geocronologia. A razão para a falta de tal distinção em minha carta é que isto é irrelevante para nossa discussão. O assunto geocronologia: a razão para a falta de tal distinção na minha carta é que é irrelevante para nossa discussão. O assunto objeto de minha carta é a teoria da evolução enquanto contradiz a narrativa da Criação conforme a Torá, a criação do universo como um todo foi feita “do nada”, incluindo a Terra, o sol, etc. A teoria da evolução apresenta, ao contrário, uma explicação diferente da aparência do universo, sistema solar e nosso planeta. Agora, ao avaliar esta teoria, tenho em mente que a força de uma cadeia é medida pelo seu elo mais fraco, e em minha carta tentei apontar alguns dos elos mais fracos em ambas as áreas, cosmologia e geocronologia. A respeito de geologia e as mudanças e descobertas que podem ter ocorrido numa época em que acredita-se que o universo passou por um estado de violenta instabilidade atômica, com mundos em colisão, etc., mudanças cataclísmicas não podem ser organizadas, tais reações nucleares e transmutações que normalmente iriam levar longos períodos de tempo.
8) Finalmente, você declara que o ponto crucial a considerar a respeito da geocronologia é a existência de objetos e formações geológicas dentro e sobre a crosta da terra, que servem como relógios de observação visíveis, etc. Porém, eu apontei em minha carta que tais critérios são válidos apenas se para hoje e para o futuro, mas não podem ser aplicados nem científica nem tecnologicamente a um estado primordial. A título de ilustração, embora você não identifique nenhum dos objetos a que se refere, vamos examinar a datação radiocarbônica, mencionada na maioria das cartas e perguntas que recebo sobre este assunto. Este método assume que a intensidade média do raio cósmico tem permanecido constante por todo o período da datação, e que a mistura atmosférica é rapidamente comparada à duração da vida. Para mencionar apenas uma falha neste critério: ele requer que a força de blindagem (densidade, etc.) permaneça constante. Mas a teoria da evolução é construída sobre a premissa que têm havido muitas mudanças radicais. Em épocas recentes, geólogos na África do Sul descobriram tal desordem nas formações geológicas naquela parte do mundo que contradisseram todas as teorias de geologia aceitas. A descoberta foi publicada naquela época, mas eu não tenho a informação da midia à mão, e menciono isso de passagem. Sugiro outra olhada à minha carta, parágrafo inicial. A teoria da evolução…
Se desejar continuar esta discussão, por favor não hesite em escrever-me.
Com estima e bênçãos,
P.S. Acabei de conseguir emprestado um de seus livros. A atenuação dos raios Gama e nêutrons em reatores blindados. Posso dizer que fiquei muito impressionado com o esforço material e clareza da apresentação. Incidentalmente, percebi nela as suas observações sobre as discrepâncias entre teoria e experimentação que achei mais de uma vez em seu livro. Tal declaração diz que não apenas é o mais simples dos organismos uma entidade complicada, cuja química e física são quase desconhecidas, mas o clássico padrão científico de experimentação não necessariamente ao se estudar os esforços da radiação –muito significativo e que tem efeito direto sobre a teoria da evolução que envolve uma era de inimaginável radiatividade, tanto no universo como no planeta Terra.
Saudações e bênçãos
Complementando minha carta datada de ontem, a qual foi confinada a uma discussão puramente científica, é a segunda carta que expressará minha real abordagem a você, a abordagem Torá de um judeu para outro.
É certamente desnecessário enfatizar que o princípio básico do modo judaico de viver é “ Conheça-O em todos seus caminhos.” Este princípio tem sido enunciado no Talmud, Primeira e Última Responsae, até que foi formulado como uma máxima do Sulchan Aruch (Orach Chayim, séc. 231). Lá está explicado quea missão da vida de cada judeu é reconhecer D’us mesmo nas atividades mais simples da vida cotidiana, como alimentar-se, beber, etc.
Quanto mais isto se aplica aos meros aspectos essenciais da vida de uma pessoa, especialmente no caso de alguém que foi dotado de qualidades especiais, conhecimento e distinção, etc., que o colocam numa posição de influência. Estes são dons da Divina Providência, que o judeu tem obrigação de consagrar ao serviço de D’us , para disseminar Divindade através da T orá e mitsvot ao máximo de sua capacidade, em obediência aos Mandamentos e – o grandioso princípio de nossa Torá. E como, de acordo com a Torá, tudo no mundo é ordenado e medido e nada é supérfluo, o dever e zechut de cada judeu são medidos de acordo com suas capacidades e oportunidades.
Apenas tive oportunidade de conhecê-lo brevemente, mas formei algumas impressões, que têm sido ampliadas pelo seu livro, o único que pude obter até agora, e através do qual eu tenho ouvido sobre você e sua estação no mundo acadêmico. Não tenho dúvida de que você oportunidades ímpares de disseminar a Torá e mitsvot entre um largo círculo de cientistas, estudantes e leigos.
Em anos recentes, especialmente nos Estados Unidos, temos testemunhado duas tendências entre a juventude judaica, puxando-a em direções opostas. Por um lado, tem havido uma busca intensificada pela verdade, uma ânsia por uma identificação mais próxima de nosso povo e nossos valores eternos. No outro extremo, a assimilação, casamentos mistos, etc., vem ganhando espaço, também. Além das faculdades e universidades em umas poucas das maiores cidades, a situação nos campi a respeito da cashrut, Shabat, etc., é muito dolorosa de se contemplar, para não mencionar a largamente difundida confusão e concepções erradas a respeito dos mais básicos fundamentos de nossa fé.
Se a primeira das tendências acima mencionadas forem eatimuladas e utilizadas nesta hora auspiciosa, as chances de que ganhará impulso, crescerá e se aprofundará são muito boas. Se, como dizem nossos sábios, salvar uma alma é salvar o mundo todo, quão mais o é a salvação de tantas almas judaicas perdidas.
Quero expressar a você minha ardente esperança – e, se necessário, meu urgente apelo de que você concentre todo seu prestígio de cientista dominante atrás de um esforço resoluto para a causa de Torá e mitsvot. Estou informado que você foi eleito como presidente do ano da organização de cientistas judeus ortodoxos. Você poderia estabelecer o ritmo de toda a organização, individual e coletivamente, para seguir seu exemplo, e colocar em movimento uma “reação em cadeia”.
Concluirei com um bem conhecido dito do Báal Shem Tov, o qual frequentemente ouvi de meu sogro de santa memória: “D’us manda uma alma à terra, a qual é verdadeiramente uma parte da Divindade, para habitar, incorporada, por setenta e oito anos nesta terra, a fim de fazer um favor aoutro judeu, material ou espiritualmente.”
Se um único favor justifica uma vida inteira conectado à terra, quão grandioso é o zechut de um esforço consistente para ajudar o próximo judeu, ou muitos deles, para achar seu verdadeiro caminho, o caminho da Torá e mitsvot na sua vida cotidiana.
Possa D’us garantir que suas palavras vindas do coração penetrem os muitos corações que estão prontos e ansiosos a responder, e possa D’us garantir seu sucesso neste, bem como em todos os seus empreendimentos para si e sua família.

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