O dia 27 de Adar marca uma data tocante e triste. Neste dia, em 1992, Rabi Menachem Mendel Schneerson, “O Rebe”, sofreu um grave derrame, que lhe roubou a capacidade de falar e o levou à doença da qual ele nunca se recuperou. Esta é a data em que se calou a voz que educou, inspirou e encorajou milhões de judeus e gentios.
Conforme o Rebe sempre nos ensinou, olhamos para a porção da Torá da semana para obter uma lição ou mensagem e encontramos relação sobre este aniversário, bem como o aparente estado de “falta de liderança” de Chabad.
Esta semana temos uma leitura composta da Torá – as porções combinadas de Vayakhel e Pekudei. O Rebe apontou em muitas ocasiões que esses dois nomes transmitem uma mensagem importante. Vayakhel significa “reunir” e “congregar”. Moshê reuniu a nação em um kahal, uma congregação. O todo é maior que a soma de suas partes; a congregação é uma nova entidade que, como um casamento, é maior que a soma de seus membros. Cada um de nós é uma parte deste corpo maior, o povo judeu, unificado, misturado e combinado uns com os outros.
Dito isto, passamos a Pekudei, “números”: a numeração e a contagem de cada indivíduo no Santuário. Sim, o total é maior que a soma de suas partes, mas Moshês conta cada um porque cada componente individual é significativo. O mesmo vale para a nação judaica: cada judeu é dotado pelo Criador de uma personalidade singularmente preciosa e é individualmente significativo – não apenas como parte do total. Todo judeu serve a D'us de uma forma única e inimitável. Tanto Vayakhel, a congregação, quanto Pekudei, o indivíduo, são componentes absolutamente essenciais na construção de um Tabernáculo onde a presença de D'us se manifestará.
Em 1950, o Rebe foi coroado como o sétimo líder do venerável movimento Chabad-Lubavitch. Àquela altura, Chabad possuía uma história de prestígio — mas não tanto quanto atualmente, e certamente não parecia ter um futuro tão brilhante. Esse movimento glorioso, que outrora reivindicou centenas de milhares de adeptos em toda a Europa Oriental, foi quase completamente dizimado pela Gestapo nazista e pela KGB soviética. A “grande” sinagoga Lubavitch no Brooklyn, onde o Rebe presidia, não podia acomodar confortavelmente mais de 150 pessoas!
Nas décadas seguintes, o Rebe cultivou Chabad, transformando-o em um dos maiores movimentos judaicos do nosso tempo. Ele fez isso através de Vayakhel – unindo todos os judeus conversando com a alma judaica coletiva. O Rebe falava a linguagem da alma, e almas de todo o mundo ouviram o chamado e se reuniram aos milhares às portas da sinagoga do Rebe em constante expansão. O Rebe então poliu e revelou almas judias incrivelmente belas.
Lembro-me claramente de estar nas reuniões públicas do Rebe. Meu coração ainda dói quando me lembro da sensação Vayakhel de estar em meio a um mar de milhares de judeus que “perderam” suas identidades individuais, egos, talentos, desejos, etc., e foram apanhados em uma atmosfera de santidade e pureza que transcendia sua própria existência. Não repito histórias que ouvi de meu pai ou professor, histórias de outra geração ou de uma terra distante. . . Estou transmitindo o que meus próprios olhos viram e minha própria alma experimentou.
Por mais belo e edificante que tudo isso fosse, para que a presença Divina fosse revelada, devemos agora nos voltar para o modo Pekudei. O próximo passo para nós é levar a mensagem comovente do Rebe e, em vez de usá-la para transcender nossos seres para se tornar parte de um todo coletivo, permitir que essa mensagem penetre e transforme nossas forças e capacidades únicas dadas por D'us. A paixão e o fogo do Rebe devem agora ser a luz que faz com que os milhões de cores únicas do caleidoscópio de nossa nação brilhem e dancem.
Inacreditavelmente, o último discurso do Rebe foi feito no Shabat de Vayakhel. Na semana seguinte, no Shabat de Pekudei, a voz do Rebe ficou em silêncio. Talvez pode-se dizer que agora ele é ouvido através das vozes de cada um de seus incontáveis seguidores e admiradores que vivem sua mensagem e aguardam ansiosamente o momento em que serão reunidos a ele com a vinda de Mashiach.
Que seja be karov mamash!
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