Nasci em Melbourne, filho de sobreviventes do Holocausto da Polônia que chegaram à Austrália em 1949. Meu pai fora criado num lar chassídico – sua família era seguidora do Rebe de Radomsk – mas aquele grupo chassídico foi dizimado durante a guerra, e os sobreviventes não foram para a Austrália.
Devido às suas raízes chassídicas, meu pai se filiou a Chabad e se tornou muito amigo, entre outros, com Rabi Zalman Serebryanski, o fundador da Yeshivá Guedolá, o Colégio Rabínico da Austrália e da Nova Zelândia, bem como com Rabi Yitzchok Groner, diretor das instituições Chabad na Austrália. Rabi Groner – cujo irmão, Rabi Leibel Groner, foi um dos secretários do Rebe – marcou para meus pais uma audiência privada com o Rebe em 1970.
Minha mãe não teve uma criação chassídica portanto, antes da audiência, meu pai explicou a ela como deveria se comportar na frente do Rebe, dizendo-lhe que não deveria sentar-se e que eles não deveriam falar até que isso lhes fosse pedido.
Quando entraram no escritório do Rebe, este convidou minha mãe a sentar-se. Tendo levado a sério as instruções de meu pai, ela permaneceu de pé. O Rebe pediu-lhe uma segunda vez, mas ela ainda não se sentou. Finalmente, o Rebe disse: “Ou você se senta ou eu terei de ficar em pé.” Àquela altura, é claro, minha mãe concordou.
Um dos temas que eu pai mencionou ao Rebe foi sua recente aquisição de uma propriedade em Israel, perto da yeshivá Radomsk fora de Tel Aviv. Meu pai ficou surpreso quando o Rebe mostrou grande interesse nessa yeshivá, passando a pedir cada detalhe sobre ela. Ele queria saber exatamente quem estudava ali, quem ensinava ali, o que estava sendo estudado ali, etc.
Outro tópico a ser abordado foi o meu futuro. Meu irmão mais velho Laibl tinha ido à universidade e recebido um diploma de advogado, mas então foi trabalhar como diretor de uma Casa Hillel no campus. (Atualmente ele é um conhecido professor de Cabalá.) Meus pais estavam muito interessados sobre eu também ir para a universidade, mas o Rebe disse a eles: “Assim como seu filho Laibl não exerceu aquilo que tinha estudado na universidade, uma grande parte das pessoas que frequentam e se formam terminam não fazendo aquilo que tinham planejado inicialmente.”
O Rebe não estava negando a ideia de estudos universitários, mas estava questionando se essa seria a escolha correta para mim.
Na verdade, eu tinha esperanças de continuar minha educação rabínica nos Estados Unidos. Após estudar na Yeshivá Guedolá por quase três anos, eu pensava estar pronto para estudos mais avançados no Chabad de Nova York. Levando um recado dos meus professores atestando minha prontidão para estudar em Nova York, cheguei para as Grandes Festas de 1972 com a intenção de ficar. Aquela foi a primeira vez que vi o Rebe e estava me sentindo privilegiado por ter minha primeira audiência privada com ele.
Passei ao Rebe uma carta na qual eu enumerava minhas perguntas e pedidos entre eles a permissão para me transferir da Yeshivá Guedolá em Melbourne para a Yeshivá Chabad em Nova York, e pedi bênçãos ao Rebe. E foi quando o Rebe atirou uma bomba sobre mim: “Você deveria retornar à Yeshivá Guedolá, e quando o verão estiver chegando, deveria discutir com seus professores e com seu pai uma época adequada para se juntar à empresa de seu pai.”
Fiquei chocado. Estava tão abalado pelas suas palavras que, quando saí, me sentia em transe. Fora do escritório do Rebe, encontrei Rabi Arel Serebryanski que também estava vindo da Austrália para visitar, e me disse: “Você pensava que tinha seus planos, mas olhe o que o Rebe preparou para você…”
Obviamente, fiz como o Rebe aconselhou.
Dois anos depois, quando eu estava para me casar, fui novamente ver o Rebe. Eu estava muito cuidadoso sobre meus pedidos – não queria perguntar a mesma coisa novamente ao Rebe, então simplesmente escrevi que não estava satisfeito com o que estava fazendo. Estava trabalhando no escritório do meu pai, e não me sentia realizado ali. Nesse ínterim, Rabi Yitzchok Groner tinha me perguntado várias vezes se eu estava interessado em trabalhar na Yeshivá Central, uma organização de apoio das instituições Chabad, então falei ao Rebe sobre aquela proposta.
A resposta do Rebe foi muito forte. Na essência, ele me disse que trabalhar para a Yeshivá não era para mim. Embora ele tivesse me encorajado a ter horários fixos para estudo de Torá na minha agenda diária, ele enfatizou que eu deveria ficar no negócio. “O principal é você garantir que seu estudo de Torá esteja fixado em sua alma,” disse ele.
Entendi que ele estava me dizendo que o que importa não é quanto tempo eu passo estudando Torá ou no trabalho, mas que a Torá tenha prioridade em meu coração e na minha vida. O Rebe então explicou a única oportunidade que eu tive enquanto trabalhava com meu pai: “Na sua ocupação atual, você pode conseguir em uma hora aquilo que outra pessoa pode não conseguir em vinte e quatro horas. As pessoas olham para um empresário de modo diferente que para um rabino, e se você, como empresário, fizer conexão judaica, eles vão reagir diferentemente a você do que a alguém engajado somente em serviços sagrados.”
Suas palavras se tornaram a absoluta luz para dirigir o resto da minha vida. Da melhor forma possível, eu segui seu conselho e tenho conseguido trabalho numa capacidade honorária a bordo de instituições Chabad durante mais de 35 anos.
Embora eu tenha fixado horários diários para estudo de Torá, sempre tento ter em mente que o principal é como a Torá afeta a mim e à minha família, como eu vivo segundo seus preceitos, e como posso impactar aqueles ao meu redor.
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