Acabo de receber sua carta.
Para começar com uma bênção, que D'us conceda a você e toda sua família somente bondade e benevolência – no tipo de bem que é revelado e evidente. Ao mesmo tempo, você deve fazer todo esforço para recuperar o apropriado estado de mente, apesar do sofrimento.
Você deveria lembrar-se dos ensinamentos e instrução da Torá que é chamada Torat Chaim [Torá da Vida], aquilo que ela ensina não é apenas para alimentar ou aperfeiçoar o intelecto, mas ela é a verdade real.
Assim, a Torá, levando em conta a natureza humana e os sentimentos num caso de luto, e a necessidade de prover um alívio para os sentimentos naturais de tristeza prescreve um conjunto de regulamentos e períodos de luto. Ao mesmo tempo a Torá estabelece limites em termos da duração dos períodos de luto e da expressão adequada, como Shivá (os primeiros sete dias), Shloshim (trinta dias) etc.
Sábios declaram que um ser humano deve aceitar tudo que acontece, tanto aqueles que são obviamente bons como aqueles que são incompreensíveis, com a mesma atitude positiva de “Tudo que D'us faz é para o bem,” embora esteja além da compreensão humana.Se alguém estende a intensidade do luto que é adequado para Shivá e Shloshim, e embora Shloshim seja parte do período geral de luto, é um grau menos extenso. E como a Torá diz que não é adequado aumentar, não faz bem para a neshamá, alma, do ente querido falecido ver prolongado este período. Pelo contrário, é doloroso para a neshamá ver que é a causa para a conduta que não confere com as instruções da Torá.
Um segundo ponto a ter em mente é que um ser humano não pode entender os caminhos de D'us. Por falar nisso, uma simples ilustração: Um bebê não pode entender o pensamento e as maneiras de um grande erudito ou cientista embora ambos sejam seres humanos, e a diferença entre eles seja apenas relativa, em termos de idade, educação e maturidade. Além disso, é bem possível que o bebê possa algum dia suplantar o cientista, que também começou a vida como um bebê. Mas a diferença entre um ser humano criado e seu Criador é absoluta.
Portanto, nossos sábios declaram que um ser humano deve aceitar tudo que acontece, tanto aqueles que são obviamente bons como aqueles que são incompreensíveis, com a mesma atitude positiva de “Tudo que D'us faz é para o bem,” embora esteja além da compreensão humana.
Mesmo assim, D'us tem tornado possível para os seres humanos entender alguns aspectos e visões sobre a vida e após a vida. Uma dessas verdades reveladas é que a Neshamá é uma parte da Divindade e é imortal. Quando chegar a hora de retornar ao céu, deixa o corpo e continua sua vida eterna no espiritual Mundo da Verdade.
É também uma questão de senso comum que qualquer que seja a causa direta da separação da alma do corpo (seja um acidente fatal, uma doença etc), poderia afetar apenas alguns dos órgãos vitais do corpo físico, mas de maneira alguma poderia afetar a alma espiritual.
Um outro ponto, que também é compreensível, é que durante o tempo de vida da alma na terra em parceria com o corpo, a alma está necessariamente “aleijada” – em certos aspectos – pelas exigências do corpo (como comer e beber). Até um tsadik – um justo cuja vida inteira é consagrada a D'us não pode escapar das restrições da vida num ambiente material e físico.
Consequentemente, quando chega a hora para a alma retornar para “casa”, é essencialmente um alivio para ela, pois a faz ascender a um mundo mais alto, não mais restrita por um corpo físico e um ambiente físico. A partir daí a alma é livre para desfrutar da alegria espiritual de estar perto de D'us de maneira plena. Este é certamente um pensamento confortador!
Poderia ser indagado, se é um “alívio” para a alma, por que a Torá prescreveu períodos de luto, etc?
A Neshamá continua a ter interesse em sua família que foi deixada para trás, vê o que acontece (melhor do que antes), se alegra com sua alegria, etc.Mas na verdade não há contradição. A Torá reconhece o sentimento natural de luto que é sentido pela perda de um ente querido, cujo falecimento deixa um vácuo na família, e a presença física do ente querido certamente ficará faltando. Portanto a Torá prescreveu os períodos adequados de luto para dar vazão a estes sentimentos e tornar mais fácil recuperar o equilíbrio e ajuste. No entanto, permitir que alguém seja levado por estes sentimentos além dos limites impostos pela Torá – além de ser um desserviço ao ser e a todos em volta, bem como para a Neshamá, como mencionado acima iria significar que alguém está mais preocupado com os próprios sentimentos que com os sentimentos da Neshamá querida que subiu a novas alturas espirituais de eterna felicidade.
Assim, paradoxalmente, o sentimento ampliado de luto, que se deve ao grande amor pelo ente que se foi, na verdade causa sofrimento ao ente querido, pois a Neshamá continua a ter interesse em sua família que foi deixada para trás, vê o que acontece (melhor do que antes), se alegra com sua alegria, etc. Algo que a alma que se foi não pode mais fazer é o real cumprimento dos mandamentos, que somente podem ser cumpridos pela alma e corpo juntos neste mundo material. Mas isto, também, pode ao menos parcialmente ser superado quando aqueles que permanecem vivos cumprem mais alguns mandamentos e boas ações em honra e pelo benefício da alma querida que partiu.
Poderia ser dito mais sobre o assunto, porém confio que o dito acima será suficiente para ajudar você a descobrir dentro de si a força que D'us lhe deu, não apenas para superar a crise, mas também para seguir em frente na vida diária e em atividades totalmente de acordo com a Torá.
No seu caso há mais uma capacidade dada por D'us, tendo sido abençoado com filhos adoráveis, que vivam longamente, com um forte sentimento de responsabilidade maternal para criar cada um deles para uma vida de Torá, casamento e boas ações, com atenção e cuidado ainda maiores do que antes, pois como ocorre com todas as coisas boas, sempre há espaço para melhorias.
Com bênção,
Assinatura do Rebe
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