“Em toda cidade que visitei, encontrei duas coisas: Coca Cola e Chassidim de Lubavitch”
Você poderia dizer que tudo começou com um sonho. O tipo de sonho que apenas as crianças que se tornam rebes quando crescem têm.
Qualquer que seja o caso, o restante de nós tem uma grande dívida com aqueles sonhos: sem saber, somos o resultado e colhemos os benefícios daqueles sonhos.
Agora, falemos sobre o sonho.
Numa carta endereçada ao segundo presidente de Israel, Yitschak Ben-Zvi,1 o Rebe de Lubavitch escreve: “Desde o tempo em que eu era criança e frequentava o cheder, e até antes disso, começou a tomar forma em minha mente a visão da futura redenção – a redenção de Israel de seu último exílio, redenção que iria explicar o sofrimento, os decretos e os massacres do exílio…”
Onde quer que se olhe nos ensinamentos do Rebe, vê-se isto: o sonho. Às vezes implícito, mas com maior frequência explícito, em suas palestras e cartas, encontra-se a aspiração que é mais próxima do seu coração: o desejo de ver nosso mundo imperfeito entrar numa era utópica sem guerra e sofrimento, e repleta de bondade e busca pelo conhecimento de D'us.
Mais do que apenas uma nobre crença ou um desejo passageiro, o Rebe investiu muito tempo, pensamento e energia para realizar sua visão da infância, e a razão de ser coletiva judaica. A ampla visão do Rebe era igualada apenas pelo seu desejo inexaurível.
Em 1961, em conversa com um grupo de jovens estudantes universitários israelenses, o Rebe compartilhou o seguinte pensamento, uma pergunta que é feita com frequência: “Como podemos ter esperança de estabelecer o malchut Shadai [reino de D'us] nessa terra com tão poucos judeus observantes?” A raça judaica é uma minoridade entre todas as nações do mundo, e judeus observantes de Torá são uma minoria ainda mais reduzida. Parece impossível que a vasta maioria seja influenciada pelo estilo e ensinamentos da minoria. E mesmo assim, os judeus ainda estão esperando pela vinda de Mashiach, embora tenham sido uma minoria no decorrer da história.
Anos atrás, o país com o maior exército e maior efetivo militar era sempre o vitorioso. Hoje não é mais assim; se uma pessoa pudesse inventar uma bomba super atômica, teria o poder de governar a terra. Da mesma maneira, se uma pessoa ensina sobre um estado de perfeição espiritual, pode impactar positivamente o mundo inteiro e a atual ordem da existência.
Desde o momento em que chegou aos receptivos rincões da América, o Rebe tentou fazer exatamente aquilo que descrevia aos seus alunos: implementar um plano que levasse o mundo a “um estado de perfeição espiritual,” com a visão de que haveria no mundo perfeição social e física.
É natural, então, que o slogan que o Rebe adotou, e algo recorrente em suas obras, fosse Ufaratsta (em hebraico, “você deve divulgar”), do versículo em Bereshit (28:14) que diz: “Você deve divulgar para o oeste e para o leste, para o norte e para o sul. Todas as pessoas na terra serão abençoadas por seu intermédio e de seus descendentes.”
Uma Fundação Secreta
Uma encantadora história sobre os primeiros planos do Rebe nos chega por meio de uma carta escrita a Rabi Simon Jacobson, autor de” Rumo a Uma Vida Significativa” (um campeão de vendas sobre os ensinamentos do Rebe).
Na carta, Nechama Cohen, que cresceu em Crown Heights e fez amizade com o Rebe após um encontro casual na rua, escreve sobre um encontro que teve na infância com o Rebe, que na época era conhecido por ela como Sr. Menachem:
O Sr. Menachem sempre me perguntava quais livros eu estava lendo. Quando eu tinha sete anos – na primavera de 1948, creio – eu descobri a Ficção Científica na biblioteca da Avenida Schenectady. Adorei. Fiz para ele um resumo de dois autores, Robert Heinlein e Isaac Asimov. (Ele ficou intrigado pela ideia de ensinar ciência às crianças com histórias divertidas. Eu disse a ele que deveria lê-las, que ele iria adorar. Ele respondeu que somente lia livros judaicos.) Então um dia, um ano depois, contei a ele sobre o livro de Asimov, “Fundação”.
Se você não leu a série “Fundação”, de Asimov, então devo contar-lhe que é sobre uma fundação secreta criada por um “psicohistoriador” chamado Hari Seldon. O objetivo da psicohistória e da fundação era aperfeiçoar o Universo, e basicamente foi isso que eu disse a ele.
Porém, o Sr. Menachem mais tarde contou-me que tinha lido o livro – o que me empolgou. Ele então me disse que tinha escrito para Asimov e recebido uma resposta.
Fiquei encantada por Asimov ter tanta consideração por ele a ponto de escrever uma resposta. (Naquela altura eu não sabia bem quem ele realmente era, muito menos quem se tornaria.) Ele estava se correspondendo com Asimov, e para mim aquilo era ainda melhor que escrever para Jackie Robinson, e creio ter dito isso a ele.
Então o Rebe me perguntou o que eu achava da ideia de criar uma fundação para aperfeiçoar o mundo. Achei que era melhor que Asimov e Robinson combinados, e disse isso a ele. Então me contou que estava criando aquela fundação. Fiquei tão empolgada que comecei a saltar para cima e para baixo, dizendo a ele que eu queria participar. Ele disse que eu podia. Bem, ele a criou, e eu participei…
Ele estava falando sobre Chabad e sua rede mundial de devotados emissários.
Tornando-se Nacional
Outra memorável interação do sonho surgiu em 1972 num farbrenguen que celebrou o 70º aniversário do Rebe. Naquela ocasião, ele promoveu o estabelecimento de 70 novas instituições Chabad. Rabi Shlomo Cunin, diretor das atividades de Chabad na Califórnia, encarregou-se da tarefa de estabelecer 10 novas Casas de Chabad naquele estado.
No mesmo farbrenguen, Rabi Cunin levou vários doadores ao Rebe para presenteá-lo com a chave da Casa de Chabad que já tinha sido estabelecida no campus da Universidade da Califórnia em Los Angeles. O Rebe disse a eles: “Se vocês estão me dando a chave, então ela se torna minha casa. E se é a minha casa, quero as portas abertas 24 horas por dia, 7 dias por semana, para todos que precisem.”
Ele acrescentou: “Isto vai estabelecer um padrão. Será como uma corrente. Logo haverá Casas de Chabad em todo o país.”
Notícias
Hoje, Chabad mantém instituições em mais de mil cidades e 70 países em todo o mundo, com um novo centro abrindo em média a cada dez dias. E estima-se que haja 3.300 instituições Chabad e mais de 4.000 emissários em todo o mundo.
Nas famosas palavras ditas por uma das maiores figuras da Ortodoxia Israelense, Rabi Yosef Shlomo Kahaneman, “Encontrei duas coisas em toda cidade que visitei, Coca Cola e Chassidim de Lubavitch.”2 Aparentemente, a fundação secreta do Rebe não é mais secreta.
Colocando Chassidim a Bordo
Embora hoje a visão do Rebe seja aceita, e tenha sido adotada e adaptada por tantos grupos judaicos agora imitando a obra de sua vida e fazendo contato com judeus não afiliados, o sonho nem sempre foi popular, para dizer o mínimo, e foi recebido com incredulidade até pelos próprios seguidores do Rebe.
Uma visão fascinante da mudança da maneira de pensar entre os primeiros chassidim é fornecida por este trecho de um diário escrito em 1942 pelo chassid Rabi Tzvi Fogelman: “Naquelas ocasiões mensais especiais quando o Ramash [acrônimo hebraico para o nome do Rebe, Rabi M. Schneerson, que era como o Rebe era mencionado antes de assumir a liderança de Chabad] nos liderava gentilmente em farbrenguen, ele instilava em nós, a comunidade Chabad dos anos 40, a perspectiva de que Lubavitch não era apenas uma seita chassídica pequena e obscura, mas sim um movimento universal que “transformaria o mundo”.
Na época, todas as atividades de Lubavitch se resumiam a um programa solitário chamado Mesibot Shabat, que promovia reuniões para crianças nas tardes do Shabat, quando eram contadas histórias da Torá, refrescos casher eram servidos, e jogos e canções judaicas eram jogados e cantados. Além desse programa, no entanto, o Lubavitch da época – sob o nosso ponto de vista – era apenas uma pequena yeshivá cercada por um pequeno grupo de chassidim.
Cá entre nós, um rabino bem intencionado certa vez sugeriu ao sexto Rebe de Lubavitch que ele se instalasse com seus seguidores numa pequena e calma cidade em Nova Jersey, “Uma comunidade chassídica como Lubavitch,” disse ele, “pertence a um ambiente rural afastado mais do que ao “grande mundo” da Cidade de Nova York.”
Particularmente memorável foi uma declaração que o Rebe fez num farbrenguen: “O Rebe [referindo-se ao seu sogro, que era Rebe na época], começou com Mesibot Shabat, e a partir de Mesibot Shabat ele ‘assumiu’ o mundo inteiro.”
Formando os Tempos
E aqui chegamos a outra mudança de conscientização atingida pela percepção e imaginação do Rebe.
Quando o Rebe chegou pela primeira vez aos Estados Unidos no inicio dos anos de 1940, ele previu: “o anúncio de uma nova classe em Chassidismo um dia fará manchetes no New York Times”.
Essa alegação deve ter soado ingênua e fantasiosa numa época em que o assassinato de milhões de judeus mal chegava às últimas páginas do The Times. Foi uma época em que o Judaísmo tradicional, muito menos o Chassidismo, não parecia ter qualquer futuro na América. E apesar disso, 70 anos depois, ninguém se surpreende quando se fala de um mundo messiânico nas primeiras páginas do Wall Street Journal; quando livros de ensinamentos chassídicos são mostrados em importantes jornais; e quando o The New York Times, em sua edição do bicentenário, publica uma primeira página imaginária para 1º de janeiro de 2100, edição que inclui o horário para o acendimento das velas do Shabat naquele dia, uma sexta-feira cem anos à frente.
O grau de assimilação que a visão do Rebe atingiu na cultura vigente pode ser demonstrado por uma declaração feita pelo gerente de produção do The New York Times – um irlandês católico – quando foi indagado sobre a inclusão dos horários de acendimento das velas do Shabat naquela edição. Ele explicou: “Não sabemos o que irá acontecer no ano 2100. É impossível prever o futuro. Mas de uma coisa vocês podem estar certos: que no ano 2100, as mulheres judias estarão acendendo velas de Shabat.”
Portanto se hoje, um casal judeu não-afiliado tiver uma comunidade onde sinta-se bem acolhido…
… e um estudante judeu alienado no campus tiver um lar longe de casa onde se sente amado…
… e uma menina judia na escola pública sabe como (e quando) acender velas do Shabat…
… e um prisioneiro judeu rejeitado ou um soldado solitário no fronte recebe uma visita antes das Festas…
… e uma criança com necessidades especiais é incluída na vida judaica e é tratada com respeito e até reverência…
… e uma criança doente de Chernobyl é levada para Israel e recebe cuidados médicos e uma maravilhosa educação…
… e um órfão de Teerã se muda com Chassidim para Crown Heights…
... e um não-judeu viciado na Califórnia ou Londres tem um local de apoio para vencer o vício…
… e não-judeus ao redor do mundo aprendem o código de moralidade Noahida…
É porque um menino judeu certa vez ousou sonhar sobre um mundo perfeito, e devotou o resto de sua vida a tornar aquele sonho realidade.
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