Dois querubins de ouro ficavam em cada lado da cobertura da Arca Sagrada no Templo. Nossos Sábios relatam que quando o povo judeu seguia a vontade de D'us e estavam em paz, os querubins ficavam de frente, se abraçando com amor; quando o povo judeu tornava-se rebelde, os querubins viravam seu olhar e encaravam paredes opostas.

Nossos Sábios declaram que quando os invasores gentios entraram no Santo dos Santos, eles viram os querubins se abraçando. Eles os tiraram do local e os separaram, exclamando: “Como Israel poderia adorar estes?”

Como sabemos, durante a destruição do Templo Sagrado D'us “derramou Sua ira como fogo; D'us era como um inimigo.” Por que, então, os querubins estavam ligados em amor nessa época de aparente fúria? Se a configuração deles refletia o relacionamento flutuante entre D'us e Israel, o que poderia significar seu abraço num tempo em que “Ele cortou, em forte ira, o orgulho de Israel?”

Essas perguntas podem ser resolvidas através de uma compreensão mais abrangente do nosso relacionamento com D'us. Num nível, o vínculo depende da conduta de Israel. Se Israel é meritório, será recompensado: se pecar, será punido. Nessa veia, o exílio parece ser um castigo, uma expressão da ira de D'us pelos erros de Israel.

Essa opinião, no entanto, reflete somente uma dimensão do vínculo entre D'us e Israel. Além dessa conexão, porém, há um relacionamento mais profundo, num nível em que Israel é como “filhos do Eterno seu D'us.” O Baal Shem Tov intensifica a metáfora filho-pai: “D'us ama todo judeu com o amor de um pai por um filho único que nasceu para ele em sua idade avançada.”

Um pai não ama seu filho apenas porque o filho é virtuoso ou obediente; mais fundamentalmente, ele o ama – incondicionalmente – porque ele é seu filho. Com ou sem qualidades redentoras, seu pai o ama. D'us ama Israel na mesma maneira. Não importa qual seja nossa conduta, somos Seus filhos. Portanto, quando D'us parece estar descontente conosco, Seu amor por nós é revelado no Santo dos Santos, no âmago do Santuário.

Continuando com a metáfora filho-pai, podemos até entender a ira de D'us como uma expressão de amor. Está escrito: “Aquele que recusa o bastão, odeia seu filho,” implicando que quando um pai pune um filho ele está na verdade manifestando seu amor. Na verdade, desafiar o próprio impulso natural para desculpar a má conduta, e em vez disso, repreender um filho querido, demonstra um profundo e generoso compromisso por parte do pai.

Seguindo este padrão, o exílio pode ser concebido como um meio temporário para um final positivo. O objetivo de D'us em exilar o povo é elevá-lo a um nível mais alto, e as dificuldades passadas – embora difíceis – são eclipsadas pela sua suprema meta.

A percepção da natureza desse processo é um elemento fundamental para levá-lo à sua culminação. Quando um filho percebe o amor de seu pai e corrige sua conduta, seus pais não irão mais mostrar a ele qualquer rigor. Similarmente, nossa consciência do amor de D'us por nós vai nos motivar a espelhar aquelas emoções. E isso por sua vez irá motivar Seu amor a ser expresso apenas em maneiras positivas.