Ela era, em suas próprias palavras, "não uma escritora, nem filha de um escritor", mas o segundo volume recém-descoberto de memórias manuscritas de Rebetsin Chana Schneerson, de abençoada memória, fornecem um retrato comovente de algumas das perseguições mais angustiantes que aconteceram a um dos estudiosos mais ilustres das gerações anteriores.
Como esposa do Rabino Levi Yitzchak Schneerson, e mãe do Rebe, Rabino Menachem M. Schneerson, Rebetsin Chana foi uma testemunha do auto-sacrifício demonstrado por seu marido - um notável erudito talmúdico e Cabalista que serviu como rabino-chefe do que é hoje Dnepropetrovsk, Ucrânia - e filho, que aos 9 anos pulou nas águas geladas do Mar Negro para salvar a vida de um menino que havia caído do convés de um navio atracado.
Mas antes da descoberta de um novo volume de seus relatos extremamente detalhados - escrita com uma combinação de iídiche, russo e hebraico - algumas das únicas fontes disponíveis para historiadores e adeptos do movimento Chabad-Lubavitch foram trechos publicados anteriormente e artigos do jornalista Nissen Gordon publicados na revista Di Yiddishe Heim.
Gordon baseou seus artigos em entrevistas com a Rebetsin Chana, que começou seu diário logo após chegar aos Estados Unidos em 1947.
Segundo o rabino Chaim Shaul Brook, diretor da Lahak Publications e supervisor da equipe que lançou, semana a semana, as memórias completas em iídiche, ao lado de traduções oficiais em inglês, hebraico, russo, francês e espanhol, a descoberta deste segundo caderno iluminou alguns dos detalhes mais pessoais da vida do Rebe e de seus familiares.

Tão valiosos, ele explica, são os pensamentos privados que Rebetsin Chana registrou. Ao longo do tempo, está claro que ela está tentando proteger seu filho da dor do que ela e seu marido passaram: “Peguei o caderno e fiquei indecisa”, escreveu ela no final do verão de 1958. “Devo rasgar o que escrevi antes? Se meu filho, que esteja com saúde, vai ler esses relatos em algum momento, por que ele deveria sofrer? Mas, no entanto, eu não fiz isso."
“Por 16 anos, ela reviveu todos os detalhes dos momentos felizes da infância de seus filhos e da dor da prisão de seu marido em 1939 nas mãos das autoridades soviéticas e mais tarde do exílio, nas mais duras condições, no Cazaquistão”, diz Brook. “As páginas do diário, no entanto, podiam mover-se rapidamente de um dia para outro dia, enquanto, em outras ocasiões, ela ficou até meio ano sem escrever.”
Iniciado no jejum de Guedalyia em 17 de setembro de 1947, o diário abre com a detenção e prisão do Rabino Levi Yitzchak nos dias que antecederam Pêssach no ano de 1939. O rabino-chefe havia passado os meses anteriores garantindo a cooperação do governo local ao ignorar cotas de farinha previamente estabelecidas para que ele pudesse presidir um esforço comunitário local para produzir o pão sem fermento, a matsá. Produzida de acordo com os mais estritos padrões de cashrut, a mera existência dessa matsá desafiava a liberação das próprias autoridades soviéticas de uma matsá do governo russo que era casher apenas no nome.
Nas semanas que antecederam a prisão de seu marido, Rebetsin Chana começou a notar homens perambulando no pátio de sua residência em Dnepropetrovsk tarde da noite. Ela concluiu mais tarde, enquanto os agentes do NKVD vasculhavam os papéis do Rabino Levi Yitzchak, manuscritos de valor inestimável e volumes acadêmicos, que os homens que ela viu deviam ser espiões.
“A princípio, considerei meus medos especulativos”, escreve ela, “mas um mês depois entendi muito bem o que eles estavam fazendo”.
Na noite de sua detenção, Rabi Levi Yitzchak conseguiu obter permissão para carregar dois quilos de sua matsá para a prisão. Durante Pêssach, ele viveu apenas da matsá redonda e água. Embora ligasse para o promotor local duas vezes por dia e todas as manhãs fosse à prisão para obter informações sobre seu marido, Rebetsin Chana passou cinco meses sem saber de seu destino.
“Eu ia ao presídio levar comida ou uma muda de roupa, mas sempre me diziam que ele não estava, embora o promotor me dissesse que sim”, lembra ela.
Mais tarde, ela se juntou ao marido no Cazaquistão, onde ele faleceu em 1944. Ao longo de sua provação, o Rabino Levi Yitzchak continuou escrevendo comentários sobre obras judaicas acadêmicas, usando tinta que a Rebetsin Chana fabricava em casa com grama e raízes que ela coletava nos campos.
Felicidade e Dor
De seu escritório no Brooklyn, N.Y., Brook se lembra do dia em que pôs os olhos pela primeira vez no, até então desconhecido, segundo volume das memórias de Rebetsin Chana.
“Não acreditei nos meus olhos”, disse ele. “Muitas horas fiquei sentado com este caderno, sem saber o que fazer.”
Ele acabaria indo para o Cemitério Old Montefiore nas proximidades de Cambria Heights para visitar os locais de descanso do Rebe e sua mãe. Lá, ele expressou sua gratidão ao Todo-Poderoso pela descoberta e, após consultar seus colegas, começou a publicar as memórias completas sob a égide da Sociedade de Publicação de Kehot.
“Este segundo volume contém novas histórias sobre Rabi Levi Yitzchak, bem como histórias previamente desconhecidas sobre sua casa e filhos”, comentou Brook. “Também há relatos das reuniões chassídicas do Rebe em Nova York. Em uma palavra, essas páginas não têm preço. ”
Brook é rápido em apontar que os cinco meses de trabalho de tradução e impressão não poderiam ter acontecido sem o apoio financeiro de Benyomin e Rochel Federman, Yossi e Nechama Dina Katz, Uri e Bassie Laber e Sholom e Esther Laine. Ele também destaca as muitas horas gastas labutando sobre o manuscrito pelos rabinos Aharon Leib Raskin, Yosef B. Friedman, Menachem Mendel Kaplan e Yisroel Shimon Kalmenson como a chave para o sucesso do projeto.
O rabino Elkanah Shmotkin, diretor da Jewish Educational Media e co-autor de “The Rebbe’s Early Years,” atua como conselheiro do projeto. Ele vê nas memórias completas uma confirmação dos detalhes da vida do Rebe e novos insights sobre a liderança de seus pais, que mesmo sob forte coação e ameaças, acabariam fornecendo um modelo de sua influência na revolução mundial da vida judaica e além dela.
“Embora já soubéssemos que essas histórias eram verdadeiras, visto que foram publicadas em seu nome e durante sua vida por um jornalista a quem ela concedeu acesso, aqui está sua própria escrita”, explica ele. “E há coisas lá que não eram conhecidas anteriormente, como um relato muito descritivo de um Seder de Pêssach em sua casa com seus três filhos sentados ao redor da mesa.
“Isso fornece uma nova camada de detalhes”, continua Shmotkin. “Qualquer pessoa interessada em história pode agora colocar as mãos em toda essa obra documentada e apreciar as nuances e os detalhes.”
Leia o “Diário da Rebetsin Chana”, mãe do Rebe, que compartilhou a vida de seu marido Rabino Yitzchak Schneerson. Seus relatos pessoais pintam um quadro realista da valente luta para fortalecer o judaísmo em face da mais dura opressão.
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