60 Anos Marcam Seu Falecimento.
A mãe do Rebe faleceu em 6 de Tishrei de 1964
60 Anos Marcam Seu Falecimento.
A mãe do Rebe faleceu em 6 de Tishrei de 1964

Prefácio

Ao comemorarmos o aniversário de falecimento da Rebetsin Chana Schneerson, de abençoada memória, ocorrido em 6 de Tishrei de 5725 (1964), temos o grande prazer de apresentar Rebetsin Chana Schneerson: Uma Breve Biografia.

Tentamos captar o notável legado de Rebetsin Chana, esposa de Rabi Levi Yitschak Schneerson e mãe do Rebe de Lubavitch, Rabi Menachem Mendel Schneerson. Esperamos que este livro ajude a divulgar o seu espírito único e nos inspire a todos.

Merkos L'Inyonei Chinuch – Brooklyn, Nova York



Rabi Meir Shlomo
Rabi Meir Shlomo

Nascimento

A Rebetsin Chana nasceu em 1880, em 28 de Tevet, na cidade de Nikolayev, na Ucrânia, filha de Rabi Meir Shlomo e Rachel Yanovsky. Foi a mais velha de quatro filhos: duas irmãs, Gittel e Ettel, e um irmão mais novo, Yisrael Leib, que faleceu ainda jovem. Rabi Meir Shlomo era Rabino Chefe de Nikolayev; na verdade, os Yanovsky eram conhecidos como uma renomada família rabínica de eruditos e líderes.




Primeiros Anos

Rebetsin Chana na juventude
Rebetsin Chana na juventude

Os chassidim de Nikolayev relembrariam carinhosamente a erudição de Chana quando adolescente. Quando um maamar (discurso chassídico) chegava de Lubavitch – fosse repetido por um chassid que estivera presente ao discurso do Rebe, ou por notas enviadas à casa de seu pai – ela o transcrevia meticulosamente, tornando-o disponível para os chassidim interessados.

Brilhante e talentosa, Chana tinha um excelente ouvido para a música – qualidade que ela partilhava com seu pai.





Casamento

O quinto Rebe da dinastia Chabad-Lubavitch, Rabi Sholom Dovber, o Rebe Rashab, fotografado em Rostov-no-Don
O quinto Rebe da dinastia Chabad-Lubavitch, Rabi Sholom Dovber, o Rebe Rashab, fotografado em Rostov-no-Don

Em 1900, aos vinte anos, Rebetsin Chana casou-se com Rabi Levi Yitschak Schneerson, Bisneto de Rabi Menachem Mendel, o "Tsemach Tsedec" (o terceiro dos Rebes de Chabad-Lubavitch). Rabi Levi Yitschak foi um renomado erudito e brilhante cabalista. Rabi Shalom DovBer Schneersohn, tinha sugerido o casamento. A cerimônia ocorreu a 13 de Sivan, em Nikolayev.












Filhos

O Rebe quando criança
O Rebe quando criança

Rebetsin Chana teve três filhos: Menachem Mendel, DovBer e Yisrael Aryeh Leib. Seu primeiro filho, Menachem Mendel, nasceu a 11 de Nissan ed 1902. Naquele dia, Rabi Shalom DovBer enviou seis telegramas ao pai da criança, Rabi Levi Yitschac, cada qual com bênçãos e várias instruções. Antes de amamentar o filho, Rebetsin Chana lavava as mãos à maneira ritual, e fazia o mesmo com o bebê. Ela mandou fazer um yarmulke e tsitsit para ele, e tomava muito cuidado ao criar o filho – que se tornaria o sétimo Rebe de Lubavitch – num ambiente sagrado.


Yekatrinoslav

Rabi Levi Yitschak
Rabi Levi Yitschak

Em 1907, quando Rebetsin Chana tinha 27 anos, Rabi Levi Yitschak tornou-se rabino da cidade ucraniana de Yekatrinoslav – conhecida hoje como Dnepropetrovsk. Ele serviu à comunidade durante 32 anos, assumindo o cargo de rabino chefe até 1939, quando foi preso pela NKVD (precursora da KGB) por suas atividades em prol do fortalecimento do Judaísmo na União Soviética.

A comunidade judaica de Yekatrinoslav incluía muitos profissionais não religiosos, que também tinham muito respeito por Rabi Levi Yitschak. Rebetsin Chana, que era fluente em vários idiomas, contribuía para o sucesso do marido e sua influência como líder comunitário. Era uma mulher elegante e de presença, cujo lar estava sempre repleto de atividade comunal. Ela se comunicava especialmente bem com os estudantes universitários judeus, pelos quais tinha um interesse especial, tentando aproximá-los do yiddishkeit. Ela com frequência visitava os congregantes em suas casas, aconselhando-os e conversando com eles sobre assuntos pessoais, acadêmicos e espirituais.

Uma celebração em Yekatrinoslav

Em 14 de Kislev de 1928, o filho mais velho de Rebetsin Chana, Rabi Menachem Mendel, casou-se com Rebetsin Chaya Mushka, filha do então Rebe de Lubavitch, Rabi Yosef Yitschak Schneersohn. O casamento ocorreu em Varsóvia, Polônia.

Rebetsin Chana e o marido não puderam comparecer ao casamento, porque o governo soviético tinha restringido severamente as viagens para fora do país. Ansiosa por participar na alegria do filho, Rebetsin Chana organizou uma celebração festiva em sua própria casa ao mesmo tempo em que o casamento acontecia em Varsóvia.

Apesar do perigo em organizar uma reunião pública, e esperando apenas trinta convidados, ela ficou extasiada quando trezentas pessoas corajosamente compareceram. Enquanto alguém tocava violino e a música chassídica enchia o apartamento, os judeus de Yekatrinoslav celebravam com seus queridos Rabi e Rebetsin.

Todos os presentes partilharam a alegria de Rebetsin Chana, porém sentiam o desejo que ela tinha de estar com o filho mais velho no dia de seu casamento. Apesar da tristeza em seu coração, Rabi Levi Yitschak dançou com os convidados, comovendo-os profundamente. Lágrimas agridoces lhe rolavam dos olhos.

Prisão e Exílio

Apartamento de Rebetsin Chana em Yekatrinoslav
Apartamento de Rebetsin Chana em Yekatrinoslav

Embora o governo soviético alegasse que permitia a liberdade religiosa, lançava leis cada vez mais complexas que tornavam a observância judaica impossível. Em 1939, após batalhar duramente contra as autoridades, Rabi Levi Yitschak conseguiu aprovação para assar matsá casher para Pêssach. A notícia da produção de matsá de Rabi Levi Yitschak logo se espalhou, e judeus de toda a Ucrânia e Rússia Branca alegremente compraram a matsá. O júbilo dessa conquista durou pouco, no entanto, com a súbita prisão de Rabi Levi Yitschac.

Em 9 de Nissan, às 3 horas da madrugada, quatro agentes da NKVD foram ao apartamento de Rabi Levi Yitschak e Rebetsin Chana no número 13 da Rua Borigodna. Os agentes fizeram uma busca pelo apartamento, examinando todas as cartas e responsas do Rabi, bem como muitos de seus papéis pessoais. Não deixaram nada intocado.

Três horas depois, o oficial encarregado ordenou ao Rabi que se vestisse e os acompanhasse. Quando Rebetsin Chana perguntou aonde estavam levando seu marido, eles responderam que no dia seguinte ao meio-dia o Quartel da Polícia Militar a informaria sobre o paradeiro do marido. O dia seguinte chegou e passou, mas ela não recebeu qualquer informação, apesar de suas súplicas.

Não sabendo onde seu marido estava preso ou como ele estava passando, Rebetsin Chana começou sua corajosa campanha pela libertação dele. Ela estava com 59 anos de idade.

Num julgamento falso forjado pelos soviéticos, Rabi Levi Yitschak foi considerado culpado de propaganda anti-soviética e sentenciado a cinco anos de exílio na região da Ásia Central, então parte da União Soviética. Em Kislev de 1939, oito meses depois de ter sido preso pela primeira vez, a NKVD convocou Rebetsin Chana à sede central e ali informou-a da sentença. Deram a ela uma lista de itens que o marido tinha requisitado, o que incluía um talit, tefilin, gartel, Chumash, Tehilim e Tanya. Ela também foi informada de que poderia passar alguns poucos instantes com ele para se despedir, antes que ele partisse para o exílio.

Quando ela finalmente pôde vê-lo na prisão, Rebetsin Chana ficou entristecida pela fraqueza que seu marido aparentava. Temendo não ter forças para sobreviver à difícil viagem, o Rabi pediu perdão à esposa, como alguém faz quando se aproxima da morte. O casal se separou, com Rebetsin Chana voltando para casa.

Passaram-se semanas sem uma palavras sobre o destino do marido. Uma noite, cerca de 1 da manhã, uma jovem judia que trabalhava no correio bateu à porta de Rebetsin Chana. Trazia um telegrama dizendo que Rabi Levi Yitschak fora exilado para a distante aldeia de Chi'ili, na república do Cazaquistão.

Rebetsin Chana imediatamente resolveu que, fosse como fosse, ela viajaria até aquele local remoto para juntar-se ao marido no exílio. Na primavera de 1940, ela viajou até Moscou, e dali tomou um trem para Chi'ili, uma árdua jornada de cinco dias. Ela conseguiu levar matsá, vinho e alguma gordura para cozinhar no feriado de Pêssach que se aproximava. Finalmente chegou, e pôde se reunir ao marido.

Chi'ili

Uma página das anotações de Rabi Levi Yitschak sobre o Zohar, escrita com tinta preparada secretamente por Rebetsin Chana. No original, pode-se perceber as cores variadas da tinta caseira. Estes incríveis manuscritos mais tarde chegaram a Nova York, e foram publicados por seu filho, o Rebe.
Uma página das anotações de Rabi Levi Yitschak sobre o Zohar, escrita com tinta preparada secretamente por Rebetsin Chana. No original, pode-se perceber as cores variadas da tinta caseira. Estes incríveis manuscritos mais tarde chegaram a Nova York, e foram publicados por seu filho, o Rebe.
A primeira casa de Rabi Levi Yitschak e Rebetsin Chana em Chi'ili era um único aposento na residência de um grosseiro casal tártaro que tinha um filho pequeno. O quarto não tinha porta, era úmido, barrento e repleto de mosquitos.

Eles viviam em extrema pobreza e desconforto, sem privacidade. Em 2 de Nissan, pouco depois da chegada de Rebetsin Chana, Rabi Levi Yitschac acordou sentindo-se muito fraco. Porém, como era o aniversário de falecimento de Rabi Shalom DovBer Schneersohn, ele quis homenagear a data escrevendo alguns pensamentos chassídicos. Mas, veja só, não havia papel nem tinta.

Profundamente preocupada pelo sofrimento do marido, Rebetsin Chana viajou à vizinha cidade de Kazil-Orda e retornou com dois cadernos, um pouco de pó que podia ser transformado em tinta, e um pequeno frasco que serviria como tinteiro.

Quando esse material acabou, ela conseguiu obter mais tinta e papel para o marido, apesar da escassez e da extrema pobreza. Quando a tinta não estava mais disponível, Rebetsin Chana conseguiu fabricar um pouco secretamente com ervas que apanhava nos campos. O papel era tão escasso que seu marido escrevia nas margens dos livros que ela tinha levado com ela, ou em pequenas tiras de papel que ela conseguia arranjar. A capacidade dele para escrever pensamentos de Torá, ela observaria mais tarde, dava ao marido um prazer maior que o pão que ela serviu a ele após dias de fome.

Gradualmente, as provisões que Rebetsin Chana levara foram se acabando. O espectro da inanição os rondava. Embora jamais tocassem no assunto, as dores da fome os atormentavam. Certa vez, ficaram sem comer um pedaço de pão por um mês inteiro.

Partida e Retorno

Sinagoga de Rabi Levi Yitzchak em Yekatrinoslav
Sinagoga de Rabi Levi Yitzchak em Yekatrinoslav

Cinco meses após juntar-se ao marido no exílio, Rebetsin Chana decidiu, em desespero, voltar para sua casa em Yekatrinoslav. Isso lhe daria a chance de enviar comida regularmente a ele, e eliminar a necessidade de obter outra porção de alimentos em Chi'ili. Além disso, ficando na casa havia a possibilidade de que o governo não se apropriasse do apartamento e o entregasse a outra pessoa.

No mês de Elul, após conseguir que outro exilado judeu fosse morar com o marido, Rebetsin Chana partiu com o coração pesado. A caminho de Yekatrinoslav ela passou por Moscou, onde fez petições para que a sentença de exílio do seu marido fosse comutada. Seus esforços incansáveis em prol da libertação do marido foram recebidos com cruel indiferença pelas autoridades. A situação permaneceu inalterada.

Durante o inverno de 1941, após passar cinco meses na casa em Yekatrinoslav, Rebetsin Chana corajosamente decidiu juntar-se novamente ao marido no exílio. Mais uma vez viajou a Chi'ili, chegando duas semanas antes de Pêssach. Ao chegar, encontrou o marido numa situação desesperada. O governo tinha cortado sua ração diária de pão, deixando-o faminto e debilitado. Sempre empreendedora, Rebetsin Chana tentou melhorar a situação crítica. Por meio de sua notável engenhosidade, de alguma forma eles conseguiram sobreviver.

Refugiados

Com a Segunda Guerra Mundial assolando a Europa, muitos refugiados e pessoas desalojadas foram para a região do Cazaquistão, onde Rebetsin Chana e seu marido viviam.

Rabi Levi Yitschak e Rebetsin Chana logo se tornaram conhecidos entre todos os refugiados judeus. Grandes grupos de homens e mulheres, especialmente aquelas mulheres cujos maridos tinham sido levados para a guerra, costumavam visitar o estimado Rabi e sua esposa, buscando conselhos sobre vários assuntos.

Com poucos recursos à disposição, e enfrentando constantes ameaças à própria vida, Rabi Levi Yitschak e Rebetsin Chana heroicamente faziam contato com seus irmãos que precisavam, ajudando-os de todas as maneiras – material e espiritualmente.

Enfrentando a Morte

Cartão postal enviado por Rabi Levi Yitschac e Rebetsin Chana ao filho mais velho, Rabi Menachem Mendel, em 1943. O cartão foi enviado de Chi’ili, Cazaquistão, para o Brooklyn, Nova York. Embora carimbado com “Expresso”, o cartão levou mais de três meses para chegar.
Cartão postal enviado por Rabi Levi Yitschac e Rebetsin Chana ao filho mais velho, Rabi Menachem Mendel, em 1943. O cartão foi enviado de Chi’ili, Cazaquistão, para o Brooklyn, Nova York. Embora carimbado com “Expresso”, o cartão levou mais de três meses para chegar.

O inverno de 1942-43 foi extraordinariamente frígido. Rebetsin Chana caiu doente com febre alta. Temendo que sua doença pudesse ser contagiosa, ela não pediu ajuda a ninguém. Sua condição deteriorava-se dia a dia.

Um dia, um casal que visitava Rabi Levi Yitschak viu-o lutando com o fogão tentando cozinhar uma panela de kasha (trigo sarraceno). A mulher percebeu que sua ajuda era necessária, e ficou durante alguns dias. Enquanto ela cuidava para que a Rebetsin recuperasse a saúde, Rabi Levi Yitschak rezava pela cura de sua esposa. Logo ela recupero sua saúde.

Alma Ata – Falecimento de Rabi Levi Yitschak

Lápide de Rabi Levi Yitschak em Alma Ata
Lápide de Rabi Levi Yitschak em Alma Ata

Em 1944, quando a sentença de Rabi Levi Yitschak estava se aproximando do final, sua saúde começou a deteriorar. Embora ele não soubesse, uma doença grave estava se espalhando por seu corpo, enfraquecendo-o severamente.

Enquanto isso, amigos na cidade próxima de Alma Ata decidiram garantir a libertação do Rabi. Contribuíram com milhares de rublos, doando a maior parte da sua riqueza, a fim de adquirir a permissão para a mudança. Após seis semanas permeadas de problemas e obstáculos, eles finalmente conseguiram obter os documentos para a libertação.

Logo após Pêssach, tendo completado a sentença, Rabi Levi Yitschak e Rebetsin Chana deixaram Chi'ili, e chegaram a Alma Ata. Nessa cidade maior, suas condições de vida melhoraram, e trabalhavam mais vigorosamente para ajudar os necessitados. Porém, durante o verão, a doença do Rabi piorou. Um jovem amigo viajou especialmente de Leningrado a Alma Ata com um conhecido médico. O doutor não fez um bom prognóstico para o Rabi. Ele não tinha cura para a doença.

Rebetsin Chana passou por aqueles dias desoladores com excepcional força e coragem. Apesar das condições difíceis, ela continuou a receber em sua casa qualquer pessoa deprimida ou alquebrada, atendendo às suas necessidades específicas, e fornecendo comida quando necessário. Ela mantinha seus modos dignos e sua graça durante toda a provação – até mesmo usando luvas e um elegante chapéu quando recebia convidados – e conversava com os médicos sobre uma variedade de assuntos, fossem de natureza mundana ou espiritual. Rebetsin Chana tinha ainda mais interesse quando a discussão se voltava para a erudição e piedade do marido.

Em 20 de Av, as condições de Rabi Levi Yitschak se tornaram críticas. Embora ele não conseguisse mais falar, ainda continuava a murmurar palavras de Torá ou Salmos. Naquela noite, Rebetsin Chana permitiu-se um breve descanso para que mais tarde tivesse forças para continuar cuidando dele; quando acordou, encontrou a casa repleta de pessoas. O marido tinha devolvido sua alma pura ao Criador.

Deixando a Rússia

Com a perda do marido, os filhos distantes e os refugiados da guerra voltando para casa, Rebetsin Chana agora estava completamente sozinha. Ansiava por reunir-se com seu filho mais velho. Um amigo ajudou-a a obter uma passagem de trem de Alma Ata a Moscou, naquela época algo quase completamente impossível.

Chegou a Moscou no final de 1945, e passou a morar discretamente num pequeno subúrbio. Sua situação era péssima. Forçada a esconder seu paradeiro, ela tinha de encontrar um novo local para passar cada dia – onde ela dormia uma noite, não podia voltar na seguinte. Assim ela viveu durante vários meses.

Rebetsin Chana sabia que tinha de deixar a Rússia, mas havia numerosas dificuldades no caminho. Um comitê formado por alguns chassidim estava empenhado numa elaborada missão de resgate.

No verão de 1946, Rebetsin Chana finalmente cruzou a fronteira russo-polonesa, chegando a Cracóvia. Dirigiu-se então para um campo americano para "Pessoas Desalojadas" em Pokking, na Alemanha.

O filho mais velho de Rebetsin Chana, Rabi Menachem Mendel, então vivendo em Nova York, enviou telegramas a várias pessoas influentes para intervir em prol de sua mãe, para obter os papéis e vistos necessários para que ela continuasse a viagem para a segurança. Rebetsin Chana deixou Pokking e viajou a Paris passando por Munique e Frankfurt, finalmente chegando a Paris em Adar de 1947.

Encontro em Paris

Paris, 1947. Após a reunião de Rebetsin Chana com seu filho mais velho, uma recepção especial foi preparada com a participacão de chassidim e amigos. Aqui, o futuro Rebe preside um farbrenguen, com a mãe sentada à sua direita.
Paris, 1947. Após a reunião de Rebetsin Chana com seu filho mais velho, uma recepção especial foi preparada com a participacão de chassidim e amigos. Aqui, o futuro Rebe preside um farbrenguen, com a mãe sentada à sua direita.

Assim que ela chegou a Paris, Rabi Menachem Mendel apressou-se a voar de Nova York até lá para encontrá-la. Separados durante vinte anos, a reunião de mãe e filho após tanto sofrimento e perda foi profundamente emotiva.

Após Shavuot, Rebetsin Chana e Rabi Menachem Mendel viajaram de Paris para Nova York de navio, tendo sido instruídos por Rabi Yosef Yitschak, o Rebe de Lubavitch, a viajar por mar e não de avião. No porto, houve uma despedida com um grande grupo de chassidim e amigos.

O navio chegou a Nova York em 28 de Sivan de 1947.

Vida em Nova York

Residência de Rebetsin Chana no Brooklyn, President Street, 1418.
Residência de Rebetsin Chana no Brooklyn, President Street, 1418.

O sofrimento e as dificuldades de Rebetsin Chana finalmente tinham chegado ao fim, e começou uma nova era em sua vida. Aos poucos, as cicatrizes das décadas de opressão começaram a ser substituídas por alegria e tranquilidade.

Em 10 de Shevat de 1951, o filho de Rebetsin Chana, Rabi Menachem Mendel, assumiu a liderança do Movimento Chabad-Lubavitch Mundial. Rebetsin Chana, que não conseguia esconder seu orgulho, falava com frequência sobre o caráter e grandeza de seu filho, e a semelhança com o pai que ela enxergava nele. Quando o fazia, lágrimas de júbilo podiam ser vistas em seus olhos, lágrimas que podia-se dizer superavam todas as lágrimas tristes e amargas dos anos anteriores.

O Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson em 1951, logo após aceitar a liderança do Movimento Chabad-Lubavitch.
O Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson em 1951, logo após aceitar a liderança do Movimento Chabad-Lubavitch.

Com dignidade e sem pretensão, Rebetsin Chana sempre teve um interesse genuíno no bem-estar de cada pessoa que conhecia. Tinha o dom de se relacionar com todos, independentemente da idade ou posição, e todos que partilhavam com ela alguns momentos de conversa sentiam que era uma experiência agradável e marcante. Seu amor pelos judeus e sua sincera preocupação com cada indivíduo ficavam evidentes em cada palavra que pronunciava.

Todo dia, sem falta, o Rebe visitava a mãe, quando então lhe preparava uma xícara de chá.

Finalmente, a sua nova vida e a alegria que sentia pelo seu ilustre filho pareciam apagar os anos de angústia e sofrimento.

Foi durante esse período que Rebetsin Chana escreveu suas notáveis memórias, começando com as palavras memoráveis: "Não sou escritora nem a filha de um escritor…" Estas pungentes memórias foram mais tarde publicadas em A Mother in Israel (Uma Mãe em Israel).

Seu Falecimento

O Rebe em seu funeral
O Rebe em seu funeral

No Shabat, 6 de Tishrei de 1964, Rebetsin Chana faleceu, aos 85 anos de idade.

O funeral ocorreu na manhã do domingo. Cerca de cinco mil pessoas, encabeçadas pelo seu filho, o Rebe, acompanharam Rebetsin Chana ao seu local de repouso no Cemitério Chabad em Queens, em Nova York. Os participantes se lembram do Rebe chorando profusamente no enterro da mãe.

Para homenagear sua memória, os alunos da Yeshiva Central de Lubavitch imediatamente dividiram entre si os 63 Tratados da Mishná, completando o estudo inteiro em Yom Kipur. O Rebe ficou bastante feliz com esse gesto.

O Rebe sentou shiva no apartamento de Rebetsin Chana enquanto milhares de pessoas iam prestar condolências. Durante o ano de luto, o Rebe promoveu um farbrenguen toda tarde de Shabat e, em honra à mãe, devotava um segmento especial para explicar o comentário de Rashi sobre a porção semanal da Torá.

Ele introduziu uma abordagem singular ao estudo de Rashi, revolucionando o estudo de Torá. O Rebe continuou com suas palestras sobre Rashi durante o resto de sua vida.

Seu Legado

A lápide de Rebetsin Chana contém menção ao exílio e falecimento do marido
A lápide de Rebetsin Chana contém menção ao exílio e falecimento do marido

Todo ano, em 6 de Tishrei, o Rebe promovia um farbrengen para celebrar o yahrtzeit de Rebetsin Chana. Com frequência o Rebe enfatizava que as letras iniciais das três mitsvot especialmente confiadas à mulheres – chala, nidá e hadlakat nerot – correspondiam às letras do nome de sua mãe, "Chana", e encorajava todas as mulheres e meninas a fortalecerem seu cumprimento de Torá e mitsvot.

Em homenagem à mãe, o Rebe estabeleceu Keren Chana, um fundo que provê empréstimos a longo prazo para meninas que buscam continuar seus estudos judaicos.

Atualmente há muitas instituições em todo o mundo que orgulhosamente levam o nome Chana. Juntamente com as incontáveis meninas e mulheres que receberam esse nome, elas servem como um tributo apropriado à notável vida e personalidade de Rebetsin Chana. Que ela seja para todos nós uma fonte de inspiração.