São quase 10 horas da noite em Bucareste, Romênia, quando Rabi Naftali Deutsch, nascido em Jerusalém, finalmente tem um pouco de tempo para conversar. Ele fala do famoso restaurante casher recentemente aberto na capital, o primeiro em décadas nessa nação de rica história judaica. Nossa conversa – na qual ele partilha as dificuldades e os triunfos que ele e sua esposa tiveram como emissários Chabad-Lubavitch na Romênia – é frequentemente interrompida quando ele responde a cumprimentos, dá instruções e deseja “boa noite” numa sequência de hebraico, inglês e romeno. Muita coisa mudou desde que os Deutsch chegaram duas décadas atrás como recém-casados para promover o crescimento judaico e a conexão neste pais da Europa Central, e continuam cada dia mais fortalecendo a comunidade.
PerguntResposta: Você é de Jerusalém, e sua esposa é de Kfar Chabad, Israel. O que o levou à Romênia, e o que encontrou ao chegar aqui 20 anos atrás?
Resposta: Depois que nos casamos, tínhamos certeza de que iríamos trabalhar em algum local. Pensamos em várias opções, incluindo aquelas com muitas comunidades judaicas estabelecidas e aquelas com infra-estrutura zero. Quando ouvimos falar da Romênia, parecia atraente. Há sinagogas, judeus, uma comunidade venerável e ativa, porém obviamente havia muito para fazermos.
Naquela época, 1999, a comunidade judaica era formada quase que exclusivamente por judeus nascidos ali: sobreviventes do Holocausto e seus descendentes. Antes do Holocausto, tinha havido um milhão de judeus na Romênia. Ao final da guerra, ainda havia mais de 300.000. Durante os anos da opressão comunista, centenas de milhares imigraram para Israel, bem como para os Estados Unidos, Canadá e Brasil.
Na época em que chegamos, havia – como ainda há – uma estimativa de 10.000 judeus aqui. Cerca de 4.000 estavam morando na capital, Bucareste, e os restantes estavam espalhados em dezenas de pequenas comunidades pelo pais.
Uma grande mudança veio alguns anos depois quando judeus de outros países – Israel, Estados Unidos, Reino Unido e França – chegaram aqui para oportunidades educacionais e comerciais. Enquanto a Federação Judaica Romena se concentra em judeus nascidos no local, nossos serviços e eventos são promovidos também para judeus nascidos em outros locais.
Você pode descrever algumas realizações da comunidade que você ajudou a concretizar nos últimos 20 anos?
Resposta: Logo após chegarmos, tornei-me rabino numa linda sinagoga, a mais antiga de Bucarest, com cerca de 200 anos. Naquela época, os serviços eram feitos uma vez por semana. Aumentamos isso e estamos orgulhosos porque agora temos serviços diários em um ambiente plenamente renovado.
Em 2002, fundamos uma escola maternal e um jardim de infância, que cresceu até incluir uma escola diurna em 2007. Agora educamos 70 crianças ali. Refletindo a natureza internacional da nossa comunidade, as crianças são todas ensinadas em romeno, hebraico e inglês.
Um fato interessante: seguindo o estilo israelense, queremos que nosso jardim de infância aceite crianças a partir dos 3 meses, o que é incomum aqui. Para fazer isso, pedimos ao parlamento para mudar a lei para que pudéssemos legalmente cuidar de crianças naquela idade.
Mais recentemente, abrimos uma loja e um restaurante casher. É lindo saber que as pessoas agora podem se manter casher com facilidade. Num certo sentido, isso é continuar a obra do Rebe – Rabi Menachem M, Schneerson, de abençoada memória – que garantiu que até mesmo nos anos mais difíceis do jugo comunista, estivesse disponível carne casher através dos abnegados shochatim que moravam aqui como seus emissários.
Você pode partilhar mais sobre a conexão entre o Rebe e o Judaísmo Romeno?
Resposta: Pesquisamos e publicamos um livro a respeito. Um elo importante na corrente foi o Rabino Chefe Moses Rosen, que parecia de alguma forma oscilar entre ser um instruído rabino ortodoxo e um comunista leal. O Rebe trabalhou incansavelmente pelo direito dos judeus romenos emigrarem para Israel. Ao mesmo tempo, ele proibiu Rabi Rosen de partir, sabendo que ali não haveria ninguém para substituí-lo.
Lembro que em 1992, apenas três semanas antes que o Rebe sofresse o ataque que prejudicou sua capacidade de falar, Rabi Rosen foi encontrar-se com o Rebe em uma audiência privada. Quando vi o Rebe acompanhá-lo até a porta às 2 da madrugada, jamais imaginei que um dia eu iria atuar em seu país.
Você mencionou o Rebe. Quem mais inspirou você em seu trabalho?
Resposta: É claro, nossa maior inspiração vem da nossa comunidade. Quando uma família judia resolve manterá casa casher, ficamos inspirados a assegurar que há variedade de escolhas que possam adquirir. Quando um casal decide viver de acordo com as leis de pureza familiar (Taharat Hamishpachá), somos galvanizados a assegurar que o micvê seja o mais belo possível.
Uma menção especial é devida à família Rohr. Junto com Rabi Moshe Kotlarsky [vice diretor de Merkos L’Inyonei Chinuch, o braço educacional do movimento Chabad Lubavitch], eles têm sido parceiros leais e visionários em nosso trabalho.
Lembro-me bem do telefonema que recebi após a meia-noite numa noite de primavera em 2002. Era Sami Rohr, que então já tinha passado dos 70 anos de idade. Após trocar gentilezas, ele perguntou-me o que eu estava fazendo para as crianças do local. Em poucos minutos ele doou os fundos necessários para iniciar nosso jardim de infância, incluindo dinheiro para comprar uma instalação e três anos de salário para um jovem casal que iria dirigir a escola.
Não há dúvida de que a sua dedicação ao nosso sucesso nos levou a fazer ainda mais.
Historicamente, a comunidade judaica romena é bastante diversificada, com o norte servindo como incubadora de muitos grupos chassídicos agora em Nova York e Israel, e o sul uma fortaleza de sefaradim que falam ladino. O que restou daquilo hoje?
Resposta: Conheço uns poucos judeus sefaraditas, mas agora eles estão na faixa dos 90 anos. Quando chegamos, muito daquilo que havia aqui se foi – perdido pela devastação do Holocausto e sucessivas ondas de imigração. Mesmo assim, os judeus no pais tendiam a ser mais tradicionais e mais próximos da observância judaica que os moradores da cidade.
Hoje, ainda há 42 comunidades judaicas na Romênia, e servimos a todas com o melhor de nossa capacidade, especialmente em Pêssach e nas Grandes Festas enviando estudantes rabínicos para ajudá-los nos preparativos e comemorações.
Há jovens na Romênia? O que é oferecido para eles?
Resposta: A maioria dos judeus aqui é de idosos, talvez 80 por cento da população. Mas há jovens. Temos um capítulo CTeen ativo e CTeen Junior, coordenados pela minha esposa, Risha.
Incidentalmente, outro projeto maravilhoso que ela dirige é o Baby Chai, que empresta móveis e outros itens para bebês, desde recém-nascidos até os três anos. Pelo que sabemos, este é o único programa desses na Romênia, e tem sido muito bem recebido.
Para atender às necessidades de pessoas jovens, recentemente chegaram para unir forças, o Rabino Yitzchok e Devorah Raskin, que estarão liderando atividades para jovens, bem como programas no Beit Chabad aqui em Bucareste.
Há também muitos estudantes judeus, especialmente israelenses, em Cluj Napoca, conhecidos entre os judeus como Klausenberg, Rabino Dovber e Fraidy Orgad, que estiveram aqui em Bucareste conosco, e recentemente se mudaram para estabelecer um centro Chabad, que é muito empolgante.
Por fim, somos três casais Chabad. Dois pares de nós estão focados fortemente nos jovens porque eles são nosso futuro, nosso maior investimento, a garantia de que haverá um amanhã judaico.
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