A Caixa de Resposta

Sempre que alguém me faz uma pergunta, primeiro tenho de pensar: “Em que tipo de armadilha este sujeito me colocou?” Então consigo desmontar a armadilha. Se a caixa se dissolve, ali está a pergunta. Se não se dissolve, é melhor eu prestar atenção. O sujeito está certo. Aqui vai uma delas:
“Rabino, qual era a reação do Rebe à modernidade?”

Durante pelo menos duzentos anos, os judeus tentam encontrar uma resposta à modernidade. Atualmente, não há mais muita dificuldade na procura. Os movimentos pararam de se mover, firmemente enraizados. Mas houve uma época em que o gênio criativo judaico gerava uma cacofonia de respostas à modernidade: Reformista, Ortodoxia, Sionismo, Sionismo Religioso, Conservador, Ultra-Ortodoxia, Reconstrucionismo, Ortodoxia Moderna, Renovação e outros. Cada movimento tinha líderes que passavam os anos zelosamente articulando e rearticulando sua resposta particular ao progressivo, liberal, esclarecido, moderno mundo que estava correndo em nossa direção, especialmente depois que a França decapitou seus reis e a fumaça começou a subir para o céu.

Ora, no Brooklyn sentava-se um líder judeu que construiu um poderoso movimento que transformou a face do Judaísmo no mundo inteiro. Qual era sua reação à modernidade?
Gotcha. Uma caixinha. Mas isso não funciona. O que não funciona? A caixa: “Resposta”.

Siga em Frente

O Rebe dissolveu aquela caixa com esse Midrash: Os Filhos de Israel estão parados no Mar dos Sargaços. O exército egípcio está se aproximando depressa. Os judeus se dividem em quatro partidos – quatro reações diferentes à mesma situação, resumindo perfeitamente as respostas ortodoxas da era moderna: A reação Simplesmente ‘Voltem Para o Egito’, a reação ‘Eu Preferia Afogar-me’, A reação ‘Levanta e Luta’, e a reação ‘Abaixe-se e Reze’.

A resposta de D'us? Vocês estão todos errados!

“Por que estão clamando a Mim?” pergunta D'us a Moshê. “Fale com os Filhos de Israel e diga a eles para seguirem em frente!”

Nenhuma resposta. Nenhuma reação. Pró-ação. Assuma o comando, vocês têm um objetivo, estão indo a algum lugar. Sigam em frente. E foi exatamente isto que os Filhos de Israel fizeram. E o obstáculo se transformou num milagre.

Mostre o Que Tem

Um obstáculo exige uma reação. Um mundo de obstáculos constantemente exigindo reações é um mundo assustador. O Rebe nunca viveu num mundo assustador. No mundo do Rebe, somente uma coisa existe: o propósito pelo qual estou aqui. E aquele propósito é o mesmo que o propósito pelo qual o mundo inteiro está aqui.

“Por que um mundo que partilha seu propósito apresenta obstáculos?”, o Rebe perguntaria. Portanto não há quaisquer obstáculos. Somente desafios. Os desafios incentivando você a mostrar do que é capaz. Mostre isso e faça aquilo que um judeu tem de fazer, e aqueles mesmos desafios carregarão você sobre os ombros deles, levantando você.

Cada palestra, cada carta, cada ensinamento do Rebe deve ser entendido naquele contexto: não somos prisioneiros dentro de um mundo ameaçador; somos os agentes de seu Amo. Não estamos aqui para aplacar o mundo, mas para consertá-lo; não para nos reformar segundo o gosto dele, mas para reformá-lo de acordo com os gostos de seu Criador; não para conservar o Judaísmo, mas para ser uma parte orgânica de seu crescimento florescente; não para reconstruí-lo, mas para usá-lo para reconstruir nosso mundo. Porque a nossa não é uma Torá do passado, mas algo que nos chama a um futuro magnífico.

Assim, você pode entender todos os aparentes paradoxos das diretrizes do Rebe – sobre Israel, sobre academia, sobre ciência, sobre sociedade. Pomba ou gavião? Conservador ou progressista? Erudito ou ativista? Racionalista ou místico? Cientista ou medievalista? Ativista ou judeu do gueto?

Nenhum dos acima. Apenas um eterno judeu. Abraham, que esteve aqui para mudar o mundo inteiro.

Tudo que existe no mundo, ensinou o Rebe, espera por nós. Chama-nos para redimi-lo e usá-lo para seu verdadeiro propósito. Se o mundo coloca algo em suas mãos – teccnologia, conhecimentoo, talento, oportunidade – procure uma maneira de usá-lo para o bem.

O mundo joga as coisas na sua direção – está dizendo qual é o seu objetivo. Mas se o mundo lhe diz: “Este é o seu propósito!” diga a ele para cair fora.

Se você se encontra num local, está ali por um motivo. Mas quando mundo diz: “Não pensamos mais daquela maneira!” diga a ele como pensar.

Não se escravize a um mundo que procura um amo. Se ele lhe dá algo que você não precisa, não aceite. Se lhe disser que todo mundo está fazendo aquilo, diga que você não é todo mundo. Depois que você mostrar quem manda, então ele lhe dará as joias mais finas.

Não, o Rebe não reagiu à modernidade – ele a agarrou pelos chifres e a domou para arar seu campo.

Faça Isso Agora

É por isso que a presença mais forte do Rebe e seu maior impacto começaram após seu falecimento em 1994.

Se o importante na vida é a sobrevivência, e a história dos judeus é de uma pequena tripulação numa jangada num oceano vasto e tempestuoso, então estamos precisando muito de um capitão que esteja sempre agarrando o leme com força, gritando suas ordens e nos mantendo a bordo.

Mas se a vida é sobre o propósito, e aquele propósito está dentro de cada um de nós; se fomos colocados neste mundo para agarrá-lo pela base e virá-lo de cabeça para baixo; se o navio tem um destino e aquele destino está diante de nós aqui e agora – então o mestre está mais presente em sua aparente ausência, o capitão é encontrado guiando no convés.

Quando você fica num local de esclarecimento, o Rebe ensinava com frequência, pode ter uma luz infinita ilimitada – mas não tem o próprio D'us. No vácuo de luz onde este mundo foi feito; nas trevas do exílio judaico, onde devemos escolher a vida a partir das profundezas e criar nossa própria luz para encontrá-la; numa sociedade que nos força a acordar, tomar as rédeas da nossa própria vida e desafiar tudo – ali tocamos D'us bem no âmago.

Em 1991, o Rebe estava pronto para a chegada da Era Messiânica. Aparentemente, nós não estávamos. Ele nos incumbiu de fazer a nossa preparação e a do mundo inteiro, de nos livrarmos da mentalidade do exílio e ansiarmos e gritarmos por um mundo como deveria ser. Aqueles que partilham essa visão, que ressoam com sua sabedoria, que mantêm vivo seu espírito e o tornam real, esses têm sua orientação agora mais do que nunca, firmemente, quase de maneira palpável. Ele é nosso Rebe, nosso mestre, nosso capitão. Ele confiou em nós para levarmos o navio até o porto.