Esconde-esconde

Quando criança, o rabino Avraham, o Malach, filho do rabino Dovber, o Maguid de Mezeritch, irrompeu no escritório de seu pai em lágrimas. 1 Enquanto brincava de esconde-esconde com seus amigos, ele explicou que havia se escondido tão bem que ninguém conseguia encontrá-lo. Depois de algum tempo, ele concluiu que o silêncio prolongado de seus amigos significava que ele havia vencido o jogo e decidiu sair de seu esconderijo para se revelar e reivindicar sua recompensa.

Assim que ele emergiu, no entanto, ele percebeu que todos tinham se voltado para outras brincadeiras e desistido de tentar encontrá-lo. Ele chorou para seu pai ao pensar que todos haviam abandonado a esperança de que ele retornasse, pensando que ele havia desaparecido para sempre.

De várias formas, a dor do menino é semelhante ao nosso relacionamento coletivo com D'us ao longo da história.

Logo após sua criação, Adão e Eva, os primeiros seres humanos, brincaram de esconde-esconde com D'us no Jardim do Éden. Eles primeiro se esconderam com vergonha e constrangimento de sua nova autoconsciência; 2 logo depois, foi a vez de D'us se esconder. Infelizmente, Ele se escondeu tão bem durante nossos anos sombrios e difíceis de exílio que, com o tempo, começamos a esquecer Sua existência e, finalmente, paramos de procurá-Lo. 3 Mas, na verdade, a conexão nunca foi cortada.

Nossa Lealdade

Sempre lemos a narrativa intrigante do incidente entre Yehuda e Tamar em estreita proximidade com a festa de Chanuca que aparentemente achamos não ter qualquer conexão. 4

A Torá descreve como Tamar, duas vezes viúva dos dois filhos de Yehuda, escondeu sua identidade, vestiu-se como uma prostituta e teve relações com seu sogro, Yehuda. Antes de se envolver neste ato, ela solicitou que ele deixasse seu anel, vestimenta e cajado com ela como garantia em vez de pagamento por seu breve encontro. 5

Três meses se passaram, e alguém informou a Yehuda que sua nora, Tamar, havia engravidado por meio de prostituição. Ignorando o fato de que ele era o responsável por sua gravidez, Yehuda ordenou que ela fosse levada para fora e executada. Tamar então rapidamente revelou os objetos em seu poder afirmando que é pertencente àquele com quem ela teve relações. Yehuda imediatamente reconheceu que lhe pertenciam e assumiu a responsabilidade pelo que havia feito.

Tamar mereceu dar à luz meninos gêmeos, um dos quais dará a linhagem ao futuro Mashiach.

Cada um de nós é criado literalmente com uma centelha (parte da essência) de D'us em nosso interior, 6 e nunca podemos perder nossa conexão profunda com nossa Fonte, apesar de nosso comportamento às vezes não ser compatível.

O rabino Avraham Dovber de Avritch ensina que da mesma forma que Yehuda acusou Tamar de ser indecente ou infiel, D'us nos acusa de trair nosso relacionamento com Ele. 7

Mas quando acendemos as luzes de Chanuca três meses após experimentar uma proximidade elevada e íntima com D’us durante as Grandes Festas, apontamos para nossa alma e clamamos em protesto: "A centelha de Ti mesmo que deixaste dentro de nós quando te escondeste há três meses ainda está lá! Ainda acreditamos no potencial de proximidade entre nós e em nossa capacidade de reacender a chama!"

A Chama Interior

O Rebe de Lubavitch, Rabino Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória, deu um passo adiante. Ele ensinou que, simbolicamente, cada um de nós é uma vela ansiando por ser acesa.8 A cera da vela é análoga ao corpo, enquanto seu pavio simboliza a alma. Nem combustível nem pavio, corpo ou alma, servem a qualquer função positiva a menos que se unam, com o propósito comum de criar uma chama.

Na verdade, cada um de nós possui um pequeno jarro de óleo enterrado bem fundo, ainda com o selo do Sumo Sacerdote (mais especificamente, o selo de D'us) que os Greco-sírios (ou qualquer opressor) nunca podem acessar. .9 É por isso que, depois de entrar novamente no Templo Sagrado após a guerra com os Greco-sírios, os judeus insistiram em procurar óleos que tivessem especificamente o selo do Sumo Sacerdote, 10 e não começaram a produzir novo óleo desde o início, embora isso fosse realmente permitido. 11

Coragem de Acender Nossa Própria Luz

Podemos discutir se o milagre de Chanucá centrou-se na guerra entre os valores (e exércitos) judaicos e helenísticos e que estavam em conflito 12 ou se focou no pequeno jarro de óleo queimando por muito mais tempo do que o normal esperado. 13

Mas talvez o maior milagre nesta história seja que durante a hora mais escura do mês mais escuro do calendário judaico, tivemos a coragem, ano após ano, de acender aquele óleo e iluminar o mundo ao nosso redor.

Quando tudo parece escuro e perdido, quando nossos inimigos — tanto externos quanto internos — atacam nosso Templo pessoal e profanam nosso Santo dos Santos, Chanuca nos capacita a nos levantar e dissipar essa escuridão com luz.

Por mais sombria que a realidade possa parecer, a escuridão não pode existir ao lado da luz — mesmo que seja apenas a menor das chamas. Cada um de nós, sem exceção, possui a força interna para acender essa centelha.

Precisamos ser a luz que queremos ver neste mundo, acendendo nossas próprias almas e inspirando outros a acender as deles também. Quantas vezes temos aspirações que mantemos adormecidas porque nos convencemos de que falharemos no final? Quantas vezes desistimos de nossos sonhos antes mesmo de começar a trabalhar para alcançá-los? Não podemos deixar passar oportunidades porque acreditamos que outras brilharão mais ou queimarão por mais tempo. Cada um de nós traz uma luz pela qual o mundo tem esperado por tantos anos. Agora é a nossa época de brilhar!

Adaptado do Expanding Potential: Journeying Beyond Who We Think We Are, publicado por Mosaica Press.