“E essas são as ordens que você deve colocar diante deles.” (Shemot 21:1)

O Talmud (Guitin 88b) aprende desse versículo que nossas disputas civis deveriam ser julgadas somente “perante eles” – os tribunais judaicos, e não no sistema de tribunal comum. Isso se aplica até em exemplos em que o decreto da corte não judaica não entra em conflito com a lei ditada pela Torá.

Portanto, a observância de um judeu a uma determinada lei deve estar baseada no fato de ela ser a vontade declarada de D'us, ao passo que, a mesma regra nas cortes seculares é determinada pelas convenções humanas e pela lógica.

Essa ideia reflete o dito talmúdico, a respeito do método de operação do yetser hará, a má inclinação: “Hoje ele diz a ele, ‘Faça isso’ (uma transgressão mais simples); amanhã ele diz a ele ‘Faça aquilo’; até que ele lhe diz : ‘Vai e serve ídolos, e ele vai e serve’” (Shabat 105b).

A Chassidut explica que, a princípio, o yetser hará não tenta convencer um judeu a transgredir a vontade de D'us. Pelo contrário, ele começa emprestando crença à observância da mitsvá, sob uma perspectiva racional, dizendo: “Faça isso – essa mitsvá é justificada até pelos meus padrões”. Dessa maneira, a má inclinação, lentamente, penetra na atitude de sua vítima, rumo à observância da Torá.

Em vez de focar na obediência a D'us, a observância da pessoa se torna baseada no grau ao qual ela acha ser benéfico, sob a perspectiva egoísta de sua Alma Animalesca também. Tendo com sucesso desviado a pessoa de seu foco, em obedecer a vontade divina, e somente a vontade de D'us, o yetser hará pode agora levá-la a transgredir, até o mais grave dos pecados.

É por isso que nossas disputas civis não devem ser levadas perante um tribunal secular até mesmo quando seu julgamento irá concorrer com a Torá. Para não cair presa dos vícios do yetser hará, devemos ter cuidado para não relegar as leis da Torá para os confortos da racionalização e conveniência humanas. Mas sim, devemos abordar todas as mitsvót com uma atitude de kabalat ol, obedecendo as mitsvot simplesmente porque D'us assim o desejou.

Likutei Sichot vol. 3, pág. 900