Somos um só organismo, uma tênue membrana estirada sobre um globo vasto mas delicado, toda célula partilhando cada pedaço do ar, cada gota de água, todo micróbio – até mesmo cada pedacinho de conhecimento. Vastas redes de comunicação e comércio têm nos unido, como proteínas que ligam os elementos da vida. Somos a humanidade.
Mas não tão depressa... Não somos células – somos seres humanos, cada qual um mundo inteiro. Temos famílias e culturas, crenças e religiões. Valorizamos essas distinções, pois sem elas cada um de nós nada mais é que outra ameba solitária flutuando sem rumo sobre as ondas de um universo sem significado. A diferença é vital, pois neste universo, sem diversidade não há vida. Portanto aqui está o problema: Podemos encontrar uma nova consciência que permitirá a cada um de nós reter nosso legado único enquanto tocamos junto com a grande orquestra da humanidade?
Parece fantasia, se não fosse por uma coisa: o caminho tem estado aqui desde que existimos. É a única coisa que todos nós partilhamos. Porque nenhum de nós o inventou.

A Não-Religião
Há um antigo ensinamento que não tem nenhuma casa de adoração, nenhum sacerdote, nenhuma cerimônia de conversão. Ninguém precisa abandonar seu legado para o abraçar; somente retornar, mergulhar fundo, de volta às verdades essenciais que estão enterradas dentro de cada sistema de crença conhecido da humanidade e descartar as camadas externas que podem ter distorcido sua mensagem.
E quanto à pessoa que segue colocando alguém para baixo, por exemplo? Isso não é também uma forma de tirar algo que não é realmente seu? O mesmo com rir às custas de outra pessoa. Ou fofocar sobre alguém apenas por entretenimento. Quaisquer que sejam os benefícios que você recebe neste mundo, garanta que nenhum deles é às custas de alguém.Você pode ter ouvido sobre este ensinamento, preservado e transmitido no decorrer dos milênios pelo povo judeu – embora seja ainda mais velho que a nação antiga: que todas as religiões brotaram de uma única semente e partilham uma só raiz.
Segundo essa tradição, Noach, o pai da bumanidade, plantou aquela semente, um presente que ele recebeu do Criador de Todas as Coisas. Está baseada num conjunto de leis que ele tinha recebido de Adam, renovado e expandido para a época de Noach. É um guia vindo do além para mostrar à humanidade como criar um mundo sustentável que nunca mais iria enfrentar a destruição.
E é um ensinamento que leva muitas vozes à harmonia, pois é a essência de todas elas, porém não nega a nenhuma delas sua beleza única. Afinal, uma vez que você tenha encontrado verdade em seu próprio quintal, isso não significa que ninguém mais pode ter um quintal. Mas sim, em cada quintal há um outro vislumbre da verdade conhecida por Noach. Cada povo criou e desenvolveu uma certa sabedoria, uma determinada beleza que os outros não possuem.
Portanto isso é tudo que estamos apresentando aqui: um guia para encontrar as verdades dentro das tradições que já temos. Pois nessas verdades latentes está tudo que precisamos para respirarmos juntos com harmonia, abraçando um planeta Terra saudável.

Poder do Além
O poder por trás dessas sete leis é que nenhum de nós as criou. Você poderia dizer que elas são de “fora do sistema”. Isso é importante. Porque, como todos sabem, nenhum sistema pode apoiar a si mesmo.
Pense sobre isso: Você pode fazer uma máquina de movimento perpétuo? Não, porque uma máquina não pode dirigir a si mesma. Você pode fazer um sistema de lógica sem presunções? Não. Porque a lógica não pode explicar a si mesma. A humanidade pode determinar como viver junto em paz e harmonia o tempo todo? Não. Porque não nos colocamos aqui. Precisamos entrar em algo além de nós, infinitamente mais alto que nós, para fazer isso.
Precisamos de um conjunto de princípios baseados não na razão humana, mas na santidade essencial de vida e justiça. Portanto aqui há sete leis que não são verdades relativas que podem mudar como a sociedade muda. Elas são absolutas: uma base solida sobre a qual o mundo pode se apoiar firmemente.
As Sete Leis de Noach

1 – Abrace a Relevância da Unicidade
O primeiro princípio de Noach é que a Essência do Ser se preocupa com o que estamos fazendo e deseja algo de nós. Noach olhou sobre o planeta Terra e viu que toda vida sobre ele respira com propósito e significado. Ele viu a si mesmo e a seus filhos como seus condutores, encarregados com um dever e uma missão.
A diferença é crucial: a fundação não era mais a razão humana, mas a vontade daquilo que transcende toda razão. A razão humana provê um alicerce inconstante; eventualmente deve cair – como a mensagem de Avraham, o pai do monoteísmo, que enfraqueceu após seu falecimento. O alicerce do Sinai veio de além do espaço e do tempo.
Hoje, 50% do mundo reconhece Avraham como o pai de seus sistemas de crença. Porém a visão de Avraham ainda tem de amadurecer. Estamos no limiar daquele sonho. O restante cabe a nós.

2 – Não Negue Aquela Unicidade
O segundo princípio de Noach é não profanar de maneira alguma aquela unicidade. Num sentido simples, significa não ofender ou amaldiçoar aquele que conduz este universo, ou negar que há um.
Isso, também, é uma parte essencial de criar um mundo sustentável para a humanidade em nosso planeta. Se a magnífica abundância de vida que nos cerca nada mais é que um acidente, por que deveríamos fazer os sacrifícios necessários para preservá-la? Reconhecer que este mundo tem um chefe que fez de nós seus ajudantes é um passo vital para assumir responsabilidade pelo nosso ambiente a longo prazo.
É também uma parte essencial de construir uma sociedade sustentável. A base da moralidade de sociedades saudáveis é a intuição humana de que há significado e propósito na vida, que este propósito serve como uma medida absoluta de bem e mal, e que a escolha cabe a nós se vamos trabalhar ou não para cumprir aquele propósito.
O propósito requer um contexto mais elevado. Assim como um automóvel pode não ter nenhum propósito sem uma estrada e um destino, assim como um martelo pode não ter nenhum propósito sem um prego e uma estrutura a ser construída, assim nosso mundo e a vida dentro dele não pode ter propósito sem uma consciência mais elevada que escolhe um destino para o mundo e lhe dá significado.
Mas sem um contexto maior que si mesma, a vida não pode ter propósito. E quando o propósito é roubado dos seres humanos, a própria origem da sua moralidade desmorona rapidamente. Se não houver significado, então todos os cursos da vida são igualmente despropositais. Se não houver propósito, então todos os esforços para defender nossos valores são uma piada. Se não houver bem ou mal absoluto, então a moralidade é deixada para cada pessoa decidir, segundo sua própria vontade e benefício. Se não tivermos livre arbítrio para escolher entre bem e mal, então tudo é justificado – porque nenhuma justificativa é necessária. Não há nenhum “eu” que fez algo de errado. Há apenas uma cadeia interminável, sem culpa, irracional de causa e efeito. Qualquer coisa pode acontecer. E acontece.
O Século 20 nos fornece uma demonstração de laboratório. Quando os seres humanos abandonaram uma autoridade mais alta para servir aos ícones feitos por eles mesmos então as maiores atrocidades da desumanidade, escravidão em massa, ódio e genocídio jamais visto pela humanidade se espalhou pelo planeta. O nazismo alemão, a Rússia stalinista, a China Maoísta e Pol Pot do Cambodja são os principais, mas não únicos, espécimes dessa verdade. Esses não foram atos de bárbaros, mas atos frios e calculados perpetrados em nome de ideologias humanas sem D'us.
Esta é a importância fundamental da segunda lei de Noach: ela nos diz que negar ativa e explicitamente a existência de um condutor único, deliberado e proposital deste universo é um crime grave, irresponsável e perverso contra a humanidade. Porque ele mina o próprio alicerce da conduta humana responsável – o conhecimento de que há uma realidade singular além da nossa que nos dá propósito e pela qual somos considerados responsáveis.

3 – Preserve a Santidade da Vida Humana
O terceiro princípio de Noach é que o valor da vida humana não pode ser mensurado. Noach não ouviu simplesmente: “Não mate”. Foi-lhe dada uma razão: porque o ser humano é feito à imagem Divina.
Assim como é vital saber que há somente uma força por trás do universo, também é vital saber que esta força respira dentro de cada ser humano. Não somos apenas máquinas funcionais feitas de carne e sobre duas pernas: cada um de nós contém o universo inteiro – cada um contém a própria alma do universo. Isto é o que o Livro Bereshit chama de “a Imagem Divina”.
Destruir uma vida humana é destruir o universo inteiro – porque, para essa pessoa, essa realidade deixou de existir. E portanto ocorre que sustentando uma única vida humana, você está sustentando um universo inteiro.
Nenhuma ideia na história humana causou tanta elevação e progresso como esse dogma básico. Avraham e Moshê foram seus grandes proponentes, mas não foi até ele finalmente ressurgir na Europa há 500 anos que o mundo foi transformado além do reconhecimento.

4 – Honrar a Santidade do Consumo Regrado
O quarto princípio de Noach tem a ver sobre como exploramos a vida e os recursos do nosso mundo.
Este princípio é claramente declarado em Bereshit: “Não coma carne enquanto sua alma ainda estiver dentro dela.” Simplesmente, se desejamos comer carne, devemos esperar até que o animal tenha morrido por completo antes de remover um dos seus membros. Não somos permitidos causar sofrimento desnecessário a nenhuma criatura. Mas devemos olhar mais profundamente, dentro do espírito das palavras: devemos respeitar a vida e a função daquilo que consumimos. E isso somente é sustentável quando reconhecemos que toda a vida tem propósito porque é a obra de uma consciência, deliberada e proposital.
Em todo lugar do planeta, surge uma grande sinfonia de vida. Oxigênio, carbono e hidrogênio são fundidos pelo sol para dar vida a plantas e árvores; uma infinidade de seres nadadores, rastejantes, corredores e voadores; cada qual desempenha sua parte como organismos simples são consumidos por seres mais complexos, inteligentes e conscientes.
Qual caminho é para cima e qual é para baixo? Não há como dizer. Pois é o simples que dá vida ao mais complexo e cada um depende do outro – até todos juntos apresentarem um todo poderoso, integrado.
A cadeia da vida continua até o âmbito não-físico, pois o ser humano se coloca como uma ponte entre o material e o espiritual. Estamos aqui para viver com nossos pés sobre a terra e nossos corações na direção dos céus, inclinados às questões mais mundanas de comer e dormir de maneira consciente, consumindo nosso alimento com cuidado e respeito pela vida que o trouxe até nós. Nessa maneira, levamos a vida que consumimos um degrau mais alto, do material para o espiritual. Com cada bocado que comemos, toda caloria de energia que queimamos, podemos escolher continuar levando nosso ambiente ao maior desarranjo – ou ligar céu e terra, conectando a vida deste planeta com um propósito mais elevado.
Como a Fonte de todas as coisas é uma unidade essencial, também todo detalhe do mundo ao nosso redor expressa uma unidade magnificente. Como explicam os cabalistas, em todo evento, toda vida e toda criatura pode ser encontrada uma luz infinita, porque a verdade dentro de cada coisa é divina.
A humanidade tem a capacidade de revelar aquela divindade dentro de todas as coisas terrenas e conectá-las com a luz infinita. Mas também temos a capacidade para o oposto, causar prejuízo e desequilíbrio. Este é um desafio para todo ser humano: escolher harmonia com a alma do universo e revelar a harmonia de toda a criação. E isso começa com o reconhecimento de D’us como o Mestre do Mundo e reverência pela obra de arte na qual habitamos.

5 – Respeite a Santidade da Propriedade Privada
O quinto princípio de Noach é sobre respeitar a propriedade dos outros. Em outras palavras, não roubar. Mas há muito mais para roubar que você poderia ter imaginado.
Cada uma das nossas vidas tem seu propósito único – e aquelas coisas que entram em nossas vidas e se tornam nossas posses são a chave para aquele propósito. Você não pode roubar propósito da vida de alguém, não importa o quanto você tira dele. Mas a propriedade de outra pessoa em sua posse se torna um peso pesado que não permite que seu próprio objetivo seja realizado.
Pensando sobre isso dessa maneira, você vai entender que há muitas maneiras de roubar sem sequer tirar as mãos do bolso. E quanto à pessoa que segue colocando alguém para baixo, por exemplo? Isso não é também uma forma de tirar algo que não é realmente seu? O mesmo com rir às custas de outra pessoa. Ou fofocar sobre alguém apenas por entretenimento. Quaisquer que sejam os benefícios que você recebe neste mundo, garanta que nenhum deles é às custas de alguém.

6 – Domar e Sublimar a Libido Humana
O sexto princípio de Noach é sobre domar e sublimar a libido humana. Incesto, adultério, estupro e outras práticas licenciosas são proibidas por esse princípio. Sexualidade é a fonte de vida e portanto nada é mais divino que o ato sexual. No entanto, nada pode tornar-se mais baixo e destrutivo para o ser humano do que as más escolhas e caminhos que distorcem seu mais sublime propósito e grandeza.
A união de homem e mulher é um reflexo da dança cósmica pela qual todas as coisas vieram a existir. É a união de céu e terra, espiritual e material, alma e corpo, energia e matéria, unicidade e diversidade. Quando homem e mulher se unem numa maneira harmoniosa, carinhosa, sua união passa pelo universo como uma canção ressoando numa vasta câmara. Toda a realidade toca como uma orquestra toca um grande concerto. Eles trazem cura e bênção ao mundo, assim como trazem novas almas, vestidas numa luz pura e incorrupta.
Porém, como em qualquer arte, atingir essa harmonia é uma batalha. Como o artista deve domar seu talento, escolhendo o belo e rejeitando o feio; como um músico disciplina seus dedos e um bailarino seus membros – assim essa arte primária da união humana tem suas próprias regras e disciplinas.
Como arte é um ato sobrenatural do ser humano, assim é o casamento. É mais elevado que a natureza. Para algumas pessoas isso requer um esforço sobre-humano. É disso que trata a beleza da sexualidade humana: a capacidade de ser sobrenatural, transcendente. A longo prazo, nada poderia ser mais satisfatório e criar mais beleza.

7 – Criar Mecanismos para Assegurar Justiça
O sétimo princípio de Noach exige que asseguremos a justiça em nosso mundo. Nenhuma outra criatura no planeta exceto o ser humano exige um tribunal para manter a lei e a ordem. O peixe conhece seu lugar no mar, as aves seus caminhos nos céus e os animais conhecem as leis de seus reinos. Somente o ser humano deve ter um escore diante dele, assim ele não vai jogar em grande discórdia. Somente o ser humano tem a habilidade de perturbar a ordem do planeta inteiro, sair da sincronia com seu próprio objetivo e o plano divino.
Se o Criador tem um propósito para a humanidade, por que Ele Próprio não reina na humanidade? Que Ele encontre a justiça Ele Próprio – por que deveríamos nos intrometer em Seu assunto? Mas essa é a razão – tanto para nossa liberdade e para nossas responsabilidades: devemos ser parceiros na Criação. E isso, acima de tudo, é através de determinar e liberar a justiça.
Não devemos observar passivamente a opressão, a desigualdade e a injustiça e aceitar isso como destino. Devemos abominar, clamar ao Criador de todas as coisas: “Como isso pode ser?” E então fazer algo a respeito.
Até um pequeno ato de justiça para um único ser humano impacta outro ser humano no planeta. Estamos restaurando harmonia para nossa realidade, colocando-a em sincronia com uma realidade mais elevada, uma ordem sobrenatural. Naquela ordem, toda vida é um mundo inteiro, ninguém é insignificante. E assim, ao estabelecer justiça para uma pessoa, todo o mundo é curado.

A Meta
Por que ter esses sete princípios se tornou tão crucial atualmente? Porque hoje estamos no limiar de um total novo mundo. Toda a nossa tecnologia, nossos avanços na ciência e justiça social, tudo nos leva a uma trilha firme rumo a uma era prometida pelos profetas e descrita pelos sábios – uma era de sabedoria e de paz.
O “saber-como” está à vista. Podemos alimentar todos. Podemos ensinar a todos. Podemos todos nos juntar em diálogo e criatividade. Precisamos somente de um terreno em comum. Não aquele que qualquer ser humano pode estabelecer para nós, não aquele que pode surgir do nosso consenso. Isso é apenas mais poeira no solo, facilmente dispersada pelo primeiro vento. O solo comum que precisamos pode ser o solo do qual fomos formados, na essência do propósito da humanidade e o significado da realidade.
E isso está somente na mão da Luz Infinita que nos formou. A voz que Noach escutou. Para ter propósito, o universo deve ter um âmago singular – uma deliberada e consciente Essência do ser que escolhe cuidar da realidade que surge a partir dele.
Toda cultura tem seus nomes para essa unicidade essencial por trás da realidade. Uma coisa é aceita por todos: não estamos falando sobre um ser, físico ou espiritual, que pode ser conhecido ou definido de qualquer maneira. Afinal, essa essência é responsável por todo ser e toda forma – portanto ela mesma transcende todo ser e forma. Até os termos da “existência” ou “não existência” não se aplicam. Apesar disso, a tradição de Noach insiste que essa unicidade desconhecida se preocupa com nossa realidade e é acessível a nós através da prece e ações; que a realidade não é um acidente – todo detalhe da vida é deliberado e é preenchido com propósito e significado. A Essência deseja ser encontrada em cada coisa. Por quê? É uma paixão além da razão. A razão, afinal, é apenas outra ideia que essa Unicidade Essencial sustenta.
Aquela consciência essencial falava de dentro dos primeiros membros da humanidade. Pela sua voz, aprendemos que atos de bondade, carinho, prece, sabedoria e iluminação nos colocam em harmonia com o universo. Assassinato, roubo, adultério, incesto e crueldade leviana para criaturas vivas – todos esses e tudo associado com eles são destrutivos para aquele relacionamento. E fomos ensinados a administrar justiça.
Como essas leis foram esquecidas?
Com o passar do tempo, as pessoas passaram a confiar mais em seu próprio entendimento e menos na voz Divina. Elas entenderam que há somente uma Essência Suprema, mas decidiram que as muitas forças da natureza também mereciam ser consideradas como seres autônomos, conscientes. “Afinal”, elas disseram, “como você pode falar com a Essência do Ser? Como um ser desses poderia se preocupar conosco? Precisamos de algo com o qual podemos nos relacionar. Algo concreto.”
Foi assim que a ideia de um panteão de deuses logo se tornou popular. Não foi muito antes que os templos fossem erguidos para aquelas muitas forças e seres. Logo houve representações físicas, portanto aquelas pessoas puderam concentrar suas mentes e corações em manipular o fluxo cósmico. Mais tarde, surgiu outra geração que conhecia somente os rituais externos, completamente cega ao significado interior. Por fim, a humanidade se deteriorou ao ponto em que homem e mulher comuns conheciam somente a madeira e a pedra e acreditavam que esses eram os deuses que controlavam suas vidas. Aqueles que buscavam e os eremitas que sabiam a verdade não ousavam partilhá-la, exceto com seus discípulos mais próximos.
Com a idolatria, veio a queda da dignidade humana. Os governantes alegavam serem deuses e tratavam seus súditos como seres inferiores. As únicas vidas que eram valorizadas eram aquelas consideradas próximas aos deuses.
Até que uma alma elevada entrou no mundo e virou a maré. Seu nome era Avraham e ele também foi criado na idolatria e superstição da época. Mas ele levou essas práticas seriamente, ponderou sobre seu significado, e percebeu que eram mentiras.
Sem nenhum mestre para guiá-lo, ele percebeu que todas as forças da natureza funcionavam em harmonia sincronizada. Ele escolheu ligar sua alma não com o fogo e não com o sol, não com o céu e não com o vento, não com as constelações celestiais e não com os espíritos invisíveis, mas com a divindade singular que respira dentro deles todos. Por fim, ele passou a entender que essa grande força da natureza, também, era somente uma manifestação da toda transcendente Fonte do Ser da qual toda a existência se origina.
As ideias de Avraham ameaçavam a autoridade dos reis-deuses e seus sacerdotes nomeados. Ele os desafiava abertamente, declarando que todo ser humano poderia clamar diretamente à Suprema Autoridade por todas as suas necessidades, por compaixão e por justiça.
Os antigos gregos e egípcios mencionam Avraham como um sábio notável e astrônomo. Três grandes religiões o consideram como seu patriarca. Alguns ensinamentos judaicos traçam o conceito monoteísta de Brahman – que parece bastante relacionado com seu nome – e deriva de seus ensinamentos. Sem sua convicção de que há harmonia nos muitos opostos da natureza, a busca da ciência não seria possível.
Após o falecimento de Avraham, o mundo caiu de volta na escuridão. Seus filhos seguiram seu rumo num mundo hostil. Por fim eles, também, como escravos no Egito, caíram em falsidade e a semente que Avraham tinha plantado quase murchou e morreu.
Foi então que surgiu outro revolucionário. Moshê libertou os filhos de Avraham e os levou para a desolada península do Sinai. Ali, ele fez um encontro de céu e terra, para que todas as pessoas, não apenas entendessem, mas também vissem por si mesmas que toda a realidade é sustentada por um único Ser, que imbui toda a vida com significado. Eles receberam leis pelas quais guiar suas vidas e a vida de seus filhos após eles. E foram designados para uma missão: preservar o ensinamento de Noach e a mensagem de Avraham, espalhando a todos os povos e nações onde quer que suas viagens os levassem.
O Monte Sinai foi um evento divisor de águas para a humanidade. Até aquele ponto, a mensagem de Avraham era a convicção de um homem simples, feita pela sua própria intuição. Avraham foi um homem que atingia o alto, para se conectar com a luz além.
Com Moshê, no Sinai, foi a própria Luz Infinita que chegou ao interior, tocando a humanidade, pedindo-nos para deixá-La entrar.
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