Conselho de um Médico
Uma mulher acompanhou o marido ao consultório de um médico. Após o exame, o médico chamou a mulher em particular. Ele disse: “Seu marido está sofrendo de um grave estresse. Se você não fizer o seguinte, com certeza seu marido vai se deteriorar e morrer”.
“Toda manhã,” instruiu o médico, “prepare para ele um desjejum saudável. Seja agradável o tempo todo. Para o almoço, prepare uma refeição nutritiva. Para o jantar, prepare uma refeição especial, que esteja esperando por ele quando chegar do trabalho. Não o incomode com trabalhos domésticos. Não discuta seus problemas com ele; isso apenas vai aumentar o estresse. Não é permitido incomodá-lo. Você também deve elogiá-lo pelo menos cinco ou seis vezes ao dia, dizendo como ele é inteligente e talentoso. E o mais importante, nunca discorde dele.
“Se você puder fazer isso nos próximos dez meses a um ano,” disse o médico, “creio que seu marido vai recuperar completamente a saúde.”
A caminho de casa, o marido perguntou: “O que disse o médico?”
“Disse que você vai morrer,” respondeu ela.
Decepção
Yaacov foge de sua casa em Canaã e viaja para a casa de Lavan, a leste. Ao chegar, ele conhece a filha mais nova de Lavan, Rachel, e se apaixona por ela. Laban propõe um acordo: trabalhe para mim sete anos e eu a darei a você em casamento. Yaacov faz isso, mas na noite do casamento Lavan substitui Rachel por Lea. Lea entra na tenda escura em vez de Rachel. Yaacov consuma o casamento, e descobre o engano somente na manhã seguinte. Por fim, Yaacov aceitou seu destino e permaneceu com Lea. Porém mais tarde ele também casou com Rachel, a noiva de sua escolha.
A Torá nos previne contra viver com um cônjuge que desprezamos. Mude sua atitude ou saia do casamento. É especialmente danoso para os filhos este tipo de relacionamento.Eis como a Torá descreve isso (Bereshit 29):
30 – E ele [Yaacov] coabitava com Rachel também, e ele amava Rachel mais do que a Lea; e ele trabalhou com ele por mais sete anos.
31 – E D'us viu que Lea era desprezada, portanto Ele abriu seu útero, mas Rachel era estéril.
32 – E Lea concebeu e deu à luz um filho, e o chamou de Reuven, pois ela disse: “Porque o Eterno viu minha aflição, pois agora meu marido vai me ama.”.
33 – E ela concebeu novamente e teve um filho, e ela disse: “Como o Eterno soube que eu sou desprezada, Ele me deu esse filho também”. E ela o chamou de Simeon.
Ele realmente a odiava?
Essa é uma das histórias mais intrigantes em todo o Tanach. Contem algumas das ideias mais profundas sobre relacionamentos, amor e os trabalhos da mente humana. Mas hoje quero fazer uma pergunta simples: Como Yaacov podia odiar a própria esposa, Lea? Yaacov é o terceiro patriarca de Israel, o pai de todo judeu vivente desde então. Ela realmente odiava a própria esposa? E que lição isso nos ensina? Afinal, Torá significa “lição”. As histórias na Torá não são meramente narrativas históricas, pois somente poucas histórias estão registradas. Cada história constitui uma lição eterna, um exemplo para nossas próprias vidas.
De fato, a Torá nos previne contra viver com um cônjuge que odiamos e desprezamos. Mude sua atitude ou saia do casamento. É especialmente danoso para os filhos este tipo de relacionamento. Se Yaacov realmente odiava Lea, por que ele continuou casado com ela?
Há muitas interpretações, cobrindo centenas de anos. A mais original é encontrada nos escritos do segundo Rebe de Chabad, Rabi Dov Ber, conhecido como o Miteler (1733-1828), filho de Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador de Chabad.
Lea, ele explica, era muito mais profunda que Rachel. Enquanto Rachel representa o ser consciente, o ser que é projetado, manifestado e expresso em palavras e pensamentos, Lea representa o ser inconsciente, ou o ser supra-consciente – os componentes da identidade que estão ocultos da superfície de nossas experiências conscientes.
Aqueles aspectos em seu cônjuge que o incomodam mais, podem encerrar o segredo para sua recuperação; aqueles aspectos no relacionamento que desafiam algumas emoções profundas em você, podem conter a chave para um novo nível de autodescoberta.Cada um de nós tem sua “Rachel” e sua “Lea” dentro de si mesmo, dentro dos cônjuges, dos filhos, dos pais, irmãos e amigos, dentro de toda a nossa vida – e na nossa experiência de D'us. Rachel simboliza aquelas dimensões de seu cônjuge que você compreende, aprecia, valoriza e pode controlar; você consegue envolver seu cérebro. Rachel representa aqueles aspectos de seus filhos que você “entende” e se sente bem com eles. Rachel reflete as partes de você mesmo que você pode entender; aqueles aspectos da sua psique com os quais você combina.
Lea – oh meu D'us! – representa os componentes de seu cônjuge que desafiam você, os aspectos de seus filhos que forçam você a reavaliar tudo sobre si mesmo, as dimensões da sua identidade que você reprimiu há muito tempo e elas chocam você.
Rachel é naturalmente amável; Lea é naturalmente odiável. Por quê? Aqui, o
Miteler Rebe faz uma surpreendente observação: as pessoas odeiam aquilo que não entendem.
Elas se afastam daquilo que não podem envolver com seus cérebros; temem aquilo que não conseguem dominar; desprezam aquilo que não podem controlar. Eu valorizo, amor e aprecio aquilo que posso assimilar dentro das modalidades e estruturas da minha identidade, que cabem na minha”caixa”. Quando me vejo frente a uma realidade que desafia minha zona de conforto, isso desencadeia desconforto dentro de mim, me assusta e me domina. Faz com que eu me sinta vulnerável, força-me a abrir mão do controle, informa o quanto tenho saído fora do meu sistema para sobreviver. Então o que eu faço? Odeio! Isso me permite ignorar e seguir em frente.
Rachel é a mulher “formosa e linda”; ela é atraente e bela. Amamos Rachel porque “a entendemos” e apreciamos aquilo que entendemos. Em hebraico Rachel significa “ovelha”, um animal caracterizado pela sua cor branca brilhante e sua natureza serena e amável. A numerologia do nome hebraico Rachel, 238, é o mesmo que a numerologia das palavras “Vaayehe Ohr”, e houve luz. Rachel é luz. Ela é nosso ser projetado, incorpora a luz que nos permite observar e entender.
Lea é derivada da palavra hebraica “nilê”, exaustão. Ela incorpora uma profundidade infinita que nos cansa – nos deixa perplexos, confusos e nos incomoda. Não “vemos” Lea apenas ficamos desconfortáveis com ela. Você não pode ver seu inconsciente. Seus olhos finitos não podem alcançá-lo.
Como você encontra Lea? Nunca conscientemente.
Yaacov não pode entrar num relacionamento com Lea por opção. Lea sempre nos surpreende. Não é algo para o qual estamos preparados – por que aquilo para o qual nos preparamos é sempre um reflexo das nossas próprias aspirações e expectativas. Lea representa as realidades da vida que desafiam nossas bases e portanto, as encontramos “por engano”. Coisas que transcendem seus sistemas entram em suas vidas através de caminhos inconscientes.
Yaacov entendia isso. Aos poucos, ele aprendeu a apreciar, respeitar e amar Lea. Nós também devemos descobrir essa habilidade dentro de nós mesmos. Aqueles aspectos em sua vida que você foge deles – podem conter os mais profundos “tikunim” para você; aqueles aspectos em seu cônjuge que o incomodam mais, podem encerrar o segredo para sua recuperação; aqueles aspectos no relacionamento que desafiam algumas emoções profundas em você, podem conter a chave para um novo nível de autodescoberta.
Às vezes odiamos as coisas porque são ruins para nós. Mas nem sempre. Algumas coisas odiamos porque temos medo da sua verdade; ou porque temos medo de nos abrir para horizontes desconhecidos. Nós as odiamos porque nos fazem sentir ignorantes e vulneráveis.
Mas como a Torá coloca as coisas de maneira chocantemente simples e profunda: “E D’us viu que Lea era desprezada, portanto Ele abriu seu útero; mas Rachel era estéril.”
Com frequência é naquilo de que temos medo que nos permite abrir nossos poderes mais profundos da alma. Ao cercar-se somente com coisas e pessoas que o fazem sentir que está no controle, você permanece estéril. Quando se expõe ao desconhecido, você pode dar nascimento à grandeza.
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