Na Parashá dessa semana ocorre o "Sacrifício de Yitchac" (Akedat Yitshak), que talvez possa ser considerado o episódio mais dramático e também o mais estranho de toda a Torá.

Imagine-se numa longa caminhada na floresta, andando em paz por várias horas e de repente percebe à distância uma visão terrível: um homem amarrando o seu filho no que parece ser... um altar, com fogo queimando embaixo dele!

Você não consegue acreditar no que está vendo! Completamente atordoado, você pega o celular, liga para a polícia e começa a gritar, fazendo barulho para interromper o ritual macabro. A polícia chega rápido, sai do carro e começa a se aproximar do homem com a faca, enquanto anunciam pelo megafone "Abaixe a faca e solte o rapaz, e nada te acontecerá".

Ele obedece e minutos depois começa a explicar calmamente: "D'us falou comigo três dias atrás mandando eu sacrificar meu filho. Nós dois aguardamos na estrada por um sinal que finalmente chegou".

Se esse homem fosse seu parente, você se orgulharia dele? Você tentaria imitá-lo? Porque então a "Akedat" (o sacrifício que Avraham faria com seu filho Yitschac - descrito alegoricamente acima) está nos fundamentos da religião judaica, e está impresso em todo livro de rezas para nos inspirar todas as manhãs antes de rezar? Aqui segue uma história.

Era uma vez um Rei que adorava caçar javalis. Numa tarde fria de inverno, depois de um dia sem sucesso, sua comitiva avistou um javali enorme. O rei se lançou para a caça. Ele quase conseguiu após várias tentativas, mas após algumas horas ele percebeu que tinha se separado do grupo e estava sozinho e na escuridão. Ele virou sua vestimenta real pelo avesso para que ninguém o reconhecesse (com medo dos inimigos), e começou a caminhar sem rumo, na floresta congelante, coberta de neve. Depois de várias horas ele estava aterrorizado. Os uivos dos lobos se aproximavam quando, de repente, ele viu uma pequena cabana iluminada. Ele se aproximou calmamente com o seu cavalo e espiou pela janela. Viu um velho judeu, obviamente um lenhador, sentado à beira do fogão, e lendo um livro enquanto sua esposa dormia ao seu lado.

O rei bateu na porta e o lenhador abriu com cuidado e disse "Se o senhor é um ladrão, não tenho nada para o senhor roubar, mas por favor entre pois deve estar congelando!" Ele colocou o seu hóspede perto do fogão, lhe deu vodca, uma refeição quente, e finalmente um lugar confortável para dormir.

Quando o rei acordou na manhã seguinte, agradeceu ao judeu por ter salvado a sua vida, com dificuldade o convenceu a aceitar uma moeda de ouro, montou no seu cavalo e voltou para o palácio.

No dia seguinte o judeu ouviu uma batida na sua porta. Ele abriu e ficou chocado! Um guarda do rei com uma escolta de vinte soldados montados, pedindo que ele viesse ao palácio nas suas melhores roupas para falar com o rei.

Duas horas mais tarde o lenhador viu-se em frente ao rei (que ele não reconheceu obviamente). O rei falou: "Zalman, eu estive te observando e os meus espiões me falaram que você é uma das pessoas mais puras e honestas do meu reino. Quero que você se torne um dos meus conselheiros. Seu horário será da uma às duas da tarde todos os dias, com um salário de 1000 dólares por dia começando hoje. Mas com um pequeno detalhe: você terá que mudar a sua religião, não posso ter um judeu na minha corte".

"Sua majestade", respondeu Zalman, "sou-lhe muito grato, mas não posso aceitar já que eu sou judeu, pois nasci judeu e morrerei um judeu."

De repente o palácio ficou silencioso. O rei começou a gritar "O que você pensa que é, que eu sou um dos seus amigos a quem você pode dizer não! Eu sou seu rei! Você não é NADA!!! Ou você aceita a minha oferta ou você está morto!"

O rei bateu palmas três vezes e três imensos carrascos entraram. Um colocou Zalman de joelhos, outro o agarrou pelo cabelo e colocou seu pescoço numa tora de madeira e o terceiro levantou uma espada cintilante pronta para cortar sua cabeça fora.

"Quem sabe agora você muda de opinião?" falou o rei.

Zalman olhou para o rei e de repente pronuncou de olhos fechados: "Shema Yisroel Hashem Elokenu Hashem Echaaaad!"

O rei bateu palmas mais três vezes e disse: "Zalman, por favor se levante meu amigo, não está me reconhecendo?", enquanto retirava seu manto real e sua coroa.

"Você é o andarilho que apareceu na minha casa ontem! Por que você está fazendo isso comigo, o que está acontecendo?" perguntou Zalman surpreso.

"Deixe-me explicar: você salvou a minha vida Zalman, se não fosse por você eu estaria congelado até a morte na última noite. Eu queria recompensá-lo, mas eu não sabia como. Eu percebi que você não tinha dinheiro e você estava feliz com sua vida modesta. Lembrei-me de quando eu era criança, meu pai, que era então o rei, me encorajava a andar pelo palácio observando os trabalhadores simples.

“Eu gostava especialmente do alfaiate judeu. Sua vida era diferente dos outros, especialmente no modo como ele tratava as crianças. Todos os dias ele sentava e conversava com elas, ensinando-as Torá e contando histórias. Mas uma vez ele contou uma história que me impressionou muito. Ele contou como Avraham, o primeiro judeu, deveria sacrificar seu filho aos 37 anos a fim de obedecer uma ordem de D'us, e como seu filho Yitchac aceitou alegremente! Ele explicou que todos pensariam que Avraham estava insano e perderia tudo na vida, mas porque Avraham e seu filho estariam fazendo isso? Porque estavam felizes de cumpri a vontade de D'us.

"Eu me lembro de ter pensado comigo mesmo: esses judeus são realmente estranhos. Todos nós fazemos algo por recompensas para nós mesmos, e esses judeus sacrificam tudo para D'us, sem receber nada em troca. Isso é realmente incomum! Então decidi que a maior recompensa que eu poderia te dar era te permitir sacrificar a tua própria vida para teu D'us, mas eu também sabia o quanto você amava sua vida e eu não aguentaria ver você morrer, então preparei essa cena para ver até onde iria a sua fé."

Isso então explica as nossas perguntas. A Akedat é a essência do judaísmo: servir ao Criador e O amar com todo nosso intelecto, com todo nosso coração e mesmo sacrifício, se necessário, nunca abrindo mão de nossa fé. E essa herança Ele deixou para nós para cumprir o plano Divino.