Um homem vai num bar toda noite. Ele costumava atirar copos de vidro no barman e nas pessoas sentadas ao redor depois de beber. No entanto, ele sempre desculpava sua violência, pedindo perdão. “Eu sofro de uma fúria incontrolável e eu estou profundamente envergonhado, por favor, perdoe-me por meu comportamento constrangedor e imperdoável”, dizia sempre.

Finalmente, o barman fez um ultimato ao homem. Ele não poderia voltar para o bar, a menos que se submetesse a uma terapia por um ano inteiro. O homem consentiu. Ele não apareceu no bar por um ano.

Depois de um ano, finalmente, o homem apareceu no bar numa noite. Dito e feito, assim que tomou o primeiro copo, o arremessou direto no barman.

“Epa! O que está acontecendo aqui?” O barman trovejou.

“Bem, como você sugeriu, fui para a terapia”, respondeu o homem, “e agora não estou mais envergonhado.”


A Porção da Torá desta semana lida com as leis de animais que provocam danos a animais ou propriedades de outras pessoas. Digamos, por exemplo, um cachorro geralmente bem-comportado fica furioso e, de repente, ataca e morde uma pessoa ou outro cão num lugar público. Ou o seu touro de repente e fora do comum chifra e mata outro touro. Qual é a lei?

Nas três primeiras vezes que acontece um incidente, diz a Torá, o proprietário do touro paga apenas metade do dano. Uma vez que é incomum para o touro chifrar alguém de repente, o proprietário do touro não teria obrigação de evitar isso. Portanto, ele não é considerado totalmente responsável pela perda e divide o prejuízo com o proprietário do animal ferido.

Isso só é verdade para as três primeiras vezes. Depois disso, fica comprovado que esse touro (ou cachorro) é de natureza destrutiva e o proprietário deverá guardar seu animal e será totalmente responsável por todos os danos causados como resultado de sua falha em impedir esse comportamento.

E o “arrependimento” é possível?

Como reeducar o animal?

Pode um touro ou qualquer outro animal, que se desviaram do caminho, retomar ao seu estado original de inocência?

O Talmud diz que isto pode ser conseguido de duas maneiras. Ou o proprietário treina rigorosamente seu animal até que é transformado de um agressor num animal tranquilo. Outra opção segundo o Talmud é vender o animal, ou concedê-lo como um presente a outra pessoa. Com um novo proprietário e os novos padrões e rotinas, a Halachá (lei judaica) assume que o animal, vindo de uma espécie que costuma ser domesticada e bem comportada, retorna ao seu estado de não-violência até que seja provado que se tornou destrutivo novamente.

Cada lei da Torá contém, além de uma interpretação concreta e física, também uma interpretação psicológica e espiritual. Esta é uma das principais funções da tradição judaica mística - Cabalá e Chassidut - explicar o significado metafísico por trás de cada lei e Mitsvá da Torá e do Talmud.

Como podemos aplicar o referido conjunto de leis para a nossa vida pessoal? Cada um de nós possui um animal no interior, uma consciência terrena e mundana, que busca a auto-preservação e auto-aprimoramento. Na tradição judaica, em contraste com algumas outras tradições, o animal humano não é visto como intrinsecamente mau e destrutivo, apenas como potencialmente mau e destrutivo.

Originalmente, quando nascemos, o animal dentro de nossa psique é inocente e mesmo bonito, como um cachorrinho bonitinho. Seu principal objetivo é apenas preservar a sua existência, satisfazer suas demandas naturais e desfrutar de uma vida boa e confortável. No entanto, se a nossa consciência animal não é educada, culta e refinada, este animal inocente e fofinho pode se tornar uma besta egocêntrica e, às vezes, pode se transformar num monstro, propenso a destruir a si mesmo e outros, na sua busca de auto-valorização e auto-engrandecimento. Às vezes o nosso animal pode se tornar viciado em diversas coisas (alimentos, medicamentos, nicotina, álcool, sexualidade, etc.) num desespero para preencher um vazio na sua experiência.

Muitas pessoas realmente se tornam animais! As forças nocivas causam a dor para si ou para outros. No entanto, existem duas categorias de dano nos animais humanos. Aquele que em momentos de agressão são vistos como desvios incomuns, e aquele cujo padrão de comportamento destrutivo se tornou comum.

Nos casos em que o animal é geralmente moral e decente e seu ato de destruição é uma anomalia rara, a Torá diz que devemos ser compreensivos com o “dono” do animal. Ninguém tem o direito de machucar ou morder outro ser humano mas, em termos práticos, é preciso lembrar que até o marido mais suave pode perder a calma e levantar a voz de raiva e até mesmo a mulher mais amorosa pode, em um momento de stress, fazer uma comentário ofensivo. É doloroso, e deve ser corrigido, mas não é o fim do mundo.

Quando o autor reconhece seu delito e aceita a responsabilidade por ele, deve ser compreendido e perdoado.

Ser humano é errar. Nosso objetivo não é a perfeição, mas a responsabilidade. A vida, às vezes, coloca pedras no nosso caminho e quando tropeçamos podemos perder a cabeça e começar a dar patada ou chifrada. Contanto que você seja responsável por seus atos e palavras, o seu comportamento negativo será considerado uma “anomalia”, uma aberração de seu ‘eu’ natural.

Mas se os incidentes de abuso e destruição persistirem - por exemplo, se um marido grita constantemente com sua esposa ou filhos, ou uma pessoa em posição de liderança desestrutura a vida das pessoas sob seu controle, ou uma mulher tem apenas desprezo por seu marido, ou a pessoa não consegue controlar sua alimentação ou vício sexual - esse comportamento não deve ser tolerado. Estamos lidando com um animal cuja natureza egoísta, destrutiva e tendências negativas se tornaram a norma.

Errar faz parte da vida. Mas quando esses erros tornam-se hábitos regulares, sem controle, eles são perigosos. Eles se transformam num estilo de vida, numa rotina, por vezes, até um vício. O dono deste tipo de animal não pode se desculpar, dizendo: “Eu não sabia, eu não sei.” Ele ou ela deve pegar o touro por seus chifres e o controlar.

Mas como pode um animal retornar ao seu status original e inocente? Como um animal selvagem pode recuperar a confiança das pessoas com quem agiu tão mal? Como você pode mudar a sua vida e ao redor?

Duas estradas estão disponíveis: a primeira é um processo rigoroso de auto-aperfeiçoamento, em que o animal aprende a enfrentar e desafiar os seus mais profundos medos e anseios animais e seu caráter abusivo.

No entanto, mesmo antes de vasculhar todas as câmaras escuras do seu animal selvagem, os ensinamentos do judaísmo apresentam outra alternativa: Alterar a propriedade do animal.

Leve o seu animal a se submeter ao poder maior, e se tornar uma propriedade de D’us.

Do ponto de vista de D’us, o universo é criado de novo em cada momento único. Você, eu e toda a existência está sendo recriada a cada momento. Então, agora, neste momento, você pode colocar seus demônios do passado para descansar e começar de novo. Você é um recém-nascido fresco.

Fale com o seu animal, e o convença sobre a seguinte verdade. “Sim, eu sei que você tem um passado complicado e não o estou negando, eu sei que você acredita que está viciado em todos os tipos de comportamento. Mas agora, meu querido animal, vamos olhar para o presente, e vamos viver no presente. Você e eu fomos criados de novo. Com uma ficha limpa. Por isso, vamos finalmente começar a viver. De verdade!

Sim, eu sei que é assustador sentir de verdade que você não tem mais a bagagem do passado e do que você precisa para ter total responsabilidade por seu futuro, mas por favor, vamos reunir a nossa coragem e nos vermos a partir da perspectiva de existir com D’us como chefe. Em seu mundo, tudo é recriado a cada momento. Podemos libertar-nos do nosso passado e desafiar as previsões sinistras de nosso futuro.”