Na porção dessa semana da Torá – que se encerra com o Livro de Bereshit – lemos como Yaacov, em seus últimos dias, abençoa seus filhos, as doze tribos. Nessas bênçãos estão muitos segredos prevendo os eventos futuros. Como nos diz o versículo: E Yaacov chamou seus filhos, e disse: “Reúnam-se, para que eu possa dizer a vocês o que acontecerá com vocês ao final dos dias.”

Como um projeto para a vida essas bênçãos têm muito a nos ensinar. Cada uma das doze tribos reflete um caminho singular na vida. Como nos diz o versículo na conclusão das bênçãos: Todas essas são as doze tribos de Israel… cada qual segundo sua bênçãos ele as abençoou (Vayechi 49:28). Qual é o significado das palavras “cada qual segundo sua bênção?” “Bênção” em hebraico também significa “atrair” (hamshocho), do radical “mavrich”. Cada uma das tribos tem sua jornada particular, sua energia específica que deve se manifestar neste mundo.

Na verdade, nossos Sábios ensinam que o Mar Vermelho se abriu em doze trilhas, proporcionando um caminho separado para cada uma das doze tribos.

Para entender essas doze trilhas devemos estudar as diferentes maneiras que as tribos são descritas na Torá. Encontramos três descrições para as tribos. Primeiro, quando elas são nomeadas pelas suas mães (Vayetsê – Bereshit 29:30; 35:18), cada filho/tribo recebe um nome com um significado particular por uma razão específica. Em segundo, quando Yaacov as abençoa (na porção dessa semana). E finalmente, quando Moshê as abençoa ao final da Torá (Devarim 33:6-25).

Além disso, as tribos são nomeadas e especificadas muitas vezes na Torá – quando entram no Egito, quando deixam o Egito, durante sua jornada de 40 anos pelo Deserto do Sinai elas viajam e acampavam como tribos, suas oferendas de dedicação ao Templo são repetidas doze vezes (embora levassem as mesmas oferendas) para enfatizar os doze caminhos singulares.

Eis aqui uma das muitas aplicações desses doze caminhos, baseados fundamentalmente nas bênçãos dessa semana.

Reuven – O Primeiro

Shimeon – O Agressor

Levi – O Clérigo

Yehuda – O Líder

Dan – O Juiz

Naftali – O Espírito Livre

Gad – O Guerreiro

Asher – O Próspero

Issachar – O Erudito

Zevulun – O Homem de Negócios

Yossef – O Sofredor

Menashe – Reconexão

Efraim – Transformação

Benjamin – O Consumidor Voraz

Reuven – o primogênito (bechor) – representa a poderosa energia de tudo que vem primeiro. O primeiro fruto, os primeiros momentos do dia, o início de cada criação – têm enorme quantidade de energia. “Instável como a água”, este poder pode seguir dois caminhos: se domado corretamente, o “bechor/energia de Reuven pode mudar os mundos; se abusado pode destruir. Como a água, pode ser a fonte da vida, mas se deixada livre erode seu ambiente e pode inundar as cercanias.

Shimeon é guevura agresssiva – a antítese de chesed/água de Reuven.

A forte ira e a cruel fúria que podem resultar da guevura indomada devem ser eliminadas para que não se transformem em armas de violência que consomem a pessoa e aqueles com quem ela entra em contato. [A lição disso atualmente é auto-compreendida].

Levi a tribo escolhida para servir no Templo. “Levi” também significa “apegado” ou “juntado”. Levi é a personalidade de dedicar sua vida para atender a um chamado mais alto. De libertar-se de seus vínculos com a sobrevivência material e apegar-se ao serviço Divino (veja Rambam, final de Hilchot Shemitah v’Yovel).

Yehuda significa reconhecimento (hodaah, como em modê ani). O nome de Yehuda também inclui as quatro letras do nome Divino Havaya. Yehuda é o líder; seus descendentes serão reis de Israel, começando com o Rei David e concluindo com Mashiach. Yehuda é o caminho do alltruísmo (bitul) – o ingrediente mais vital na verdadeira liderança.

Dan é o caminho da lei e ordem (dan significa julgar). Justiça objetiva é o coração de qualquer civilização.

Naftali é a personalidade de espírito livre. Como um “cervo correndo em liberdade” – rompendo o status quo – a independência é um componente necessário ao crescimento. Porém, essa liberdade de espírito deve sempre preocupar-se em “pronunciar palavras de beleza”.

Gad é o protótipo do guerreiro. Expandindo a justiça de Dan, Gad está pronto a lutar pelas suas crenças. O guerreiro é necessário tanto para defender nossos valores mais prezados quanto para proteger nossas liberdades.

Asher é prosperidade e prazer. Asher é a dimensão de abençoar além da norma – de receber mais do que o necessário para a sobrevivência. Asher é a personalidade de não apenas conseguir o que precisa, mas também desfrutá-lo.

Issachar é o erudito. A erudição proporciona sabedoria, clareza e direção. É o alicerce de todo sistema. Issachar é a dedicação de imergir no estudo e educação.

Zevulun é o mercador, a personalidade do homem de negócios. Seu papel é entrar no mercado e redimir as Divinas centelhas dentro do mundo material (o “tesouro secreto oculto na areia” – Devarim 33:19). Zevulun complementa Issachar; eles forjam uma parceria”: Zevulun apoia o erudito, ele funda casas de estudo, o que lhe granjeia o direito de partilhar a recompensa pelos estudos de Issachar.

Yossef é o elemento do sofrimento na vida. Porém, ele não apenas sobrevive; ele prospera. Atinge a grandeza por meio de seus desafios. Supera todos os adversários e se torna um grande líder, salvando toda a sua geração. Apesar de seu ambiente corrupto, ele conserva a integridade espiritual. A luz poderosa que emerge da escuridão em Yossef se divide em duas dimensões – seus dois filhos: Menashe e Efraim:

Menashe representa a habilidade de não sucumbir às forças dos “mitzraim-restrições” que desejam fazê-lo esquecer suas raízes espirituais. Permanecer conectado apesar dos desafios.

Efraim vai ainda mais longe. Não basta apenas sobreviver num ambiente alienígena, mas prosperar – “ser frutífero na terra da minha aflição”. Efraim é o poder de transformar as dificuldades em força Divina.

Beniamin está faminto, faminto pelas centelhas Divinas em toda a existência. Assim, como um “lobo feroz”, Beniamin reconhece que sua missão é buscar apaixonadamente a energia Divina embebida na matéria, devorá-la, consumi-la e elevá-la.

Doze tribos. Doze caminhos. Todo o necessário para chegarmos ao nosso destino. Qual é a sua personalidade? Que parte você precisa desenvolver?

Que possamos descobrir nosso caminho e fazer jus a ele. E que isso nos ajude a chegar ao tempo – ao final dos dias – quando receberemos clareza sobre quem pertence a qual tribo (veja Rambam, Hilchot Melochim 12:3). Talvez o significado desta revelação seja a cristalização que virá quando “o mundo estiver repleto de Divino conhecimento como as águas que cobrem o oceano.”