O início da Parashá Vayakhel assemelha-se a um inventário do Depósito do Monte Sinai. Uma lista detalhada dos equipamentos é fornecida, e não apenas menciona-se as matérias primas, como também os indivíduos que doaram os itens. Um grupo que se destaca especialmente é o dos doze príncipes, cada um representando uma das doze tribos de Israel.
Aprendemos que "os príncipes levaram as pedras para o shohan, e as pedras para o peitoral" (Shemot 35:27). Rashi declara que os príncipes declararam que fariam sua doação ao Mishcan por último, a fim de suplementar qualquer carência de bens doados. Entretanto, como as contribuições das nações foram mais do que suficientes para a construção, nada sobrou para os príncipes doarem, exceto as pedras acima mencionadas. Aprendendo com seu erro, foram os primeiros da fila meses depois a levarem presentes para a consagração do Mishcan.
O Midrash enfatiza que durante a construção do Mishcan, Moshê não queria aceitar conselhos dos príncipes. Portanto, eles sentaram-se passivamente a um lado, deduzindo que Moshê os chamaria quando precisasse de conselho ou ajuda. Entretanto, quando ouviram o anúncio no acampamento de Israel de que as doações não mais seriam necessárias, os príncipes ficaram preocupados de que tivessem perdido a oportunidade de participar na construção do Mishcan. Por esta razão, assumiram um grande compromisso financeiro ao doar as pedras preciosas para o peitoral do Cohen Gadol.
Este comentário parece problemático. Não poderia ser que Moshê, o mais humilde de todos os homens, insistisse que os príncipes se sentassem preguiçosamente durante a construção do Mishcan? Seria Moshê arrogante demais para aceitar conselhos dos mais destacados representantes das doze tribos?
Embora Moshê possa ter sido um grande líder, certamente não foi um empreiteiro experiente. Além disso, o próprio Moshê mais tarde disse a seu sucessor, Yehoshua, que quando este tomasse as rédeas da liderança deveria pedir o conselho dos anciãos da nação, e seguir suas opiniões e sugestões. A este conselho, D'us respondeu a Yehoshua que o fardo da liderança estava sobre seus ombros: "Pode haver apenas um líder a cada geração" (Comentário de Rashi sobre Devarim 31:7). Moshê pensou que Yehoshua não era tão capaz quanto ele, Moshê, de liderar o povo judeu?
Segundo Rabi Ben Zion Firer, Moshê e Yehoshua enfrentaram dois tipos diferentes de situação. Moshê estava ocupado construindo objetos sagrados. Nesta empreitada não há lugar para idéias humanas. Tudo é construído segundo as especificações esboçadas por D'us na Torá. Até mesmos os planos de Betzalel, o arquiteto do Mishcan, foram inspirados por estipulações Divinas. A participação de Moshê na construção do Mishcan também foi ditada por D'us, conforme D'us disse a Moshê: "Deves construir o Mishcan conforme o modelo que te mostrei na montanha" (Shemot 26:30).
Moshê acreditava que, ao contrário da construção do Mishcan, a missão principal de Yehoshua, de estabelecer o povo na terra de Israel, não fora completamente ditada pela Torá. Na verdade, o próprio Moshê ouviu as exigências do povo judeu no deserto mandando espiões para pesquisar a terra de Israel antes entrarem nela. Portanto, sentiu que ao conquistar Israel, Yehoshua poderia aceitar conselhos de outras pessoas ao seguir a orientação dos anciãos.
Entretanto, contrário a Moshê, D'us declarou que os assuntos referentes à colonização de Israel são de natureza similar aos assuntos a respeito do Mishcan. Apenas D'us pode dar ordens sobre o acampamento na Terra Santa, e não pode haver deliberação humana neste problema. Sendo assim, quando Moshê disse a Yehoshua para procurar a orientação dos mais velhos, D'us por Sua vez disse a Yehoshua exatamente o oposto, ao declarar que pode haver apenas um líder para cada geração – o próprio Yehoshua, sem os anciãos.
A assembléia do Mishcan destaca um aspecto do relacionamento que o povo judeu tem com D'us. Embora não houvesse nenhuma idéia humana na planta do Mishcan, cabia a Moshê e ao povo judeu no deserto construir a morada de D'us. Ao invés de criar os utensílios sagrados por si mesmo, D'us pede ao homem que empregue seu próprio esforço na criação e decoração do Mishcan.
Da mesma forma, D'us nos deu a Torá para que a usemos como um manual de instruções para construir nossas vidas. Fica a nosso critério desenvolver-nos de forma a enfrentar as provações e tribulações da vida. Felizmente, assim como Moshê teve sucesso na construção do Mishcan por seguir a ordem de D'us, foi-nos assegurado que seguindo a Torá passo a passo, nós também teremos sucesso em nossa própria construção pessoal.
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