A Torá faz algo muito intrigante ao final da porção da Torá desta semana. Após uma longa discussão dos melu'im, o serviço de consagração do Mishcan, a Torá começa imediatamente a descrever o corban tamid, a oferenda que devia ser levada ao Mishcan (e nos Templos subseqüentes) duas vezes ao dia, enquanto o Templo existisse.

Em nada se relacionava com os melu'im, mesmo assim as duas seções são separadas apenas por uns poucos espaços em branco (chamado de stumá) no rolo da Torá, após o capítulo 29, versículo 37. Quase se consegue imaginar Moshê e os Filhos de Israel dizendo a D’us:
"Acabamos de consagrar o Mishcan, portanto que tal dar-nos um descanso antes de iniciarmos o serviço diário."

Rabi Samsom Raphael Hirsch explica que a decisão da Torá de justapor a consagração inaugural ao corban tamid diário não foi por acaso. D’us estava nos ensinando uma lição crucial para toda a eternidade. D’us prometera ao povo judeu (na porção da Torá da semana passada): "Façam para Mim um Santuário, e Eu habitarei entre vós" (Êxodus 25:8). Qualquer judeu poderia ter facilmente assumido que simplesmente construir a estrutura era o objetivo final e suprema realização. D’us tinha prometido habitar entre os Filhos de Israel se eles construíssem para Ele um Santuário – fim da história. Após a pessoa ter contribuído para o fundo da construção, ajudado a coletar os equipamentos, e talvez mesmo martelado alguns pregos, poderia achar que estava na hora de ir para casa, completamente satisfeito com o que havia realizado. Alguns indivíduos podem ter sentido que haviam completado suas obrigações a ponto de não mais terem desejo de participar. Afinal, tinham construído o Santuário de D’us como D’us havia pedido.

Para impedir que as pessoas cometessem um erro tão grave, a Torá coloca o mandamento de realizar o corban tamid diário imediatamente a seguir da consagração inicial da própria estrutura. D’us estava nos dizendo que a construção do Mishcan não era o final, mas sim um meio para servi-Lo com toda nossa capacidade. Podemos ir para casa, satisfeitos de que os cohanim realizarão nossas obrigações no Santuário. Similarmente, não podemos deixar de participar e comparecer aos serviços em nossas respectivas sinagogas, satisfeitos de que os rabinos preencherão nosso requerimentos.

O Judaísmo é uma religião participativa, com mitsvot designadas para transformar em ação a moral e a ética da Torá; não se é um expectador de esportes.

Notavelmente, é apenas após os mandamentos do corban tamid, quando principiamos a participar no serviço de D’us de forma diária, que D’us reitera Sua promessa de ser Nosso D’us, diretamente envolvido em nossa vida cotidiana. Como D’us diz em Êxodus 29:45 após descrever o corban tamid: "Eu habitarei entre os Filhos de Israel, e Eu serei para eles um D’us."