A Torá ordena: "E se teu irmão empobrecer e ficar desprovido de seus recursos, você deve sustentá-lo mesmo se tratar-se de um convertido, ou guer toshav - (um não-judeu que cumpre as Sete Leis de Nôach) para que possa viver com você." (Vayicrá 25:35)

Este versículo ensina que é uma obrigação estender auxílio financeiro a um semelhante judeu ou até a um guer toshav que necessite de um empréstimo ou caridade. É uma mitsvá emprestar ou dar-lhe dinheiro para gerir seus negócios, ou o necessário para alguma transação para a qual lhe faltam os meios.

A Torá enfatiza que devemos reerguê-lo sobre seus pés antes que seja reduzido à bancarrota e necessite de caridade.

Se um burro começa a sucumbir sob sua carga, um homem possui força suficiente para ajustar a carga em seu lombo, ou retirar um pouco dessa, de modo que consiga prosseguir. Uma vez que o burro tenha sucumbido, contudo, nem mesmo cinco homens fortes conseguem colocá-lo novamente de pé.

Similarmente, devemos ajudar alguém assim que seus meios começarem a escassear, e não adiar até que tenha ido à falência.

"Bem afortunado é o quinhão daquele que auxilia os pobres sabiamente" (Tehilim 41:2). Dar caridade sabiamente, sem envergonhar quem a recebe é uma arte.

Sempre que Rabi Yoná escutava que um homem muito rico perdera todo seu dinheiro mas estava envergonhado para pedir caridade, costumava visitá-lo em casa e dizer-lhe: "Tenho ótimas notícias para você! Soube que você é herdeiro de uma fortuna de alguém que mora além-mar. Enquanto isso, por favor, aceite um pequeno empréstimo de minha parte! Você me pagará assim que tomar posse do dinheiro."

Ao recuperar-se financeiramente e ir pagar seu débito, Rabi Yoná dizia: "Guarde-o, dei-lhe de presente."

No Templo Sagrado havia uma câmara chamada "Lishcat Chashai" -"Câmara dos Presentes Secretos." Judeus tementes a D'us depositavam dinheiro neste local, e famílias pobres o recebiam anonimamente, conseguindo viver destas doações.

Ao perceber um pobre atrás de si, Rabi Lezer deixava cair propositadamente um dinar, dando a impressão de tê-lo deixado cair acidentalmente. O pobre o levantava e corria para devolvê-lo. "Pode ficar com ele," dizia Rabi Lezer, "Já tinha perdido a esperança de recuperá-lo."

Nossos sábios ensinam: "Se você tiver mérito, satisfará a fome de Yaacov (despenderá dinheiro em caridade); se não, a de Essav (em vez disso, o dinheiro será consumido por "Essav"). Esta verdade é evidenciada pela seguinte história:

Rabi Yochanan ben Zacai sonhou na noite de Rosh Hashaná (quando os proventos de uma pessoa são determinados para o ano todo) que seus dois sobrinhos perderiam a soma de setecentos dinares no decorrer do ano vindouro.

Após Yom Tov, visitou os sobrinhos e ordenou-lhes que se encarregassem de sustentar os pobres.

"De onde conseguiremos os fundos?" - perguntaram.

"Sustentem-nos com seu próprio dinheiro," ordenou Rabi Yochanan. "Anotem as quantias distribuídas. Se perderem com a proposta, eu lhes reembolsarei ao final do ano."

Os sobrinhos obedeceram, e distribuíram enormes somas para caridade. Perto do final do ano, um oficial do governo romano chegou e exigiu que pagassem setecentos dinares de propina. Para que não reagissem, dois soldados os jogaram na prisão.

Rabi Yochanan ouviu as notícias e foi ver os sobrinhos na prisão.

"Ao todo, quanto dinheiro vocês distribuíram para tsedacá?" - perguntou-lhes.

"Anotamos tudo," retrucaram. Consultando seus registros, calcularam que distribuíram um total de 683 dinares.

"Deixem-me dizer-lhes como agir," instruiu-os Rabi Yochanan. "Dêem-me mais dezessete dinares, e eu garanto que sairão da prisão."

"Que idéia mais esquisita," disseram-lhe. "Estamos sendo mantidos cativos por devermos setecentos dinares, e você diz que nos libertará com dezessete!"

Retrucou: "Apenas dêem-me os dezessete dinares, e não se preocupem!"

Deram a quantia a Rabi Yochanan, que foi ver o emissário do governo. Passando as moedas de suas mãos ao emissário, Rabi Yochanan pediu-lhe que deixasse seus sobrinhos escaparem. Sob a influência da propina, o homem deu instruções para que fossem soltos secretamente.

Os sobrinhos foram a Rabi Yochanan e perguntaram-lhe como sabia com tanta certeza de que dezessete dinares garantir-lhes-iam a fuga.

"Tive uma revelação Divina na noite de Rosh Hashaná de que vocês perderiam setecentos dinares este ano," explicou-lhes. "Uma vez que estavam destinados a terem esta despesa, aconselhei-os a sustentarem os pobres - é melhor gastar esta soma em tsedacá."

"Por que não nos contou sobre seu sonho?" - perguntaram-lhe os sobrinhos. "Teríamos despendido os remanescentes dezessete dinares também em tsedacá."

"Preferi guardar segredo de vocês," respondeu Rabi Yochanan, "para que dessem em prol da própria mitsvá, em vez de pensar que seria em seu próprio benefício."

Esta história demonstra que se alguém é avarento com tsedacá, recairá em despesas imprevistas, que levarão sua renda ao original decretado em Rosh Hashaná passado.

Ao dar tsedacá, o pobre dá ao seu benfeitor mais que o benfeitor dá ao pobre. Enquanto o doador despende apenas riqueza material, recebe, em troca, uma inestimável riqueza de méritos espirituais que ultrapassam de longe o que deu.

Através da caridade, uma pessoa pode ser resgatada da morte neste mundo.