A Parashá Vayicrá começa quando o livro de Shemot termina. Talvez você ainda se lembre que depois que Moshê levantou o Mishcan, as nuvens de D'us rodearam o Mishcan por todos os lados e também por cima. A Shechiná (Presença Divina) repousou dentro do Mishcan. Moshê ficou fora do Mishcan.
"Eu não devo entrar sem a permissão de D'us", pensou. "O Mishcan é ainda mais sagrado do que o monte Sinai quando D'us apareceu para falar com o povo judeu. Eu não obtive permissão de subir a montanha até que D'us me chamou. Então, com certeza não tenho a permissão de entrar no Mishcan."
De repente Moshê escutou uma voz poderosa chamando-o, "Moshê, Moshê!" Era a voz de D'us. Qualquer outra pessoa teria morrido pelo choque de ter escutado a poderosa voz de D'us. Apenas Moshê podia suportá-la.
"Estou pronto" respondeu Moshê.
"Entre no Mishcan!" Ordenou D'us. Moshê entrou. Quando estava na porta, escutou a voz de D'us vinda de cima do aron, onde a Shechiná sempre repousava.
"Moshê", ordenou D'us, "Eu quero que fale com o povo judeu palavras que façam com que aprimorem seus caminhos. Diga-lhes que Minha Shechiná repousa no Mishcan devido ao meu amor pelo povo judeu.
"Ensine Benê Yisrael as leis de corbanot. Eles construíram o Mishcan, mas não sabem como me servir através dele. Só se eles oferecerem corbanot é que a Minha Shechiná continuará a repousar no Mishcan."
Por que D'us conferiu tantas honras à Moshê?
D'us honrou Moshê mais do que qualquer outro judeu. Apenas Moshê foi convidado por D'us a entrar no Mishcan e ouvir Suas palavras, ninguém mais. A razão deste procedimento é que Moshê sempre se sentiu humilde e pouco importante. Ele não perseguia honras, ao contrário, fugia das honrarias e elogios.
Nossos sábios nos ensinaram: "Se uma pessoa foge da honra, a honra irá persegui-la. Porém, se a pessoa persegue a honra, a honra fugirá dela." Em outras palavras, uma pessoa que é modesta e se sente humilde, eventualmente irá receber de D'us a honra que merece; mas aquela que está cheia de orgulho, no final não será honrada. Moshê foi muito honrado por D'us, já que ele nunca se considerou grandioso ou importante.
Será que Moshê não sabia que ele era de fato a pessoa mais importante de todo o povo judeu? Afinal, foi ele quem tirou Benê Israel do Egito, cruzou o mar Vermelho e buscou a Torá! Ele não sabia que era uma pessoa especial?
Para responder tal questão, eis a seguinte parábola:
O "Rav" que Tinha Orgulho de seu Conhecimento
Numa cidadezinha viviam alguns judeus. Eles guardavam o Shabat, comiam casher e rezavam num minyan. Só havia um problema, a cidade não tinha uma Yeshivá, então eles mal sabiam ler o hebraico. Apenas um homem entre eles havia aprendido Torá de seu pai. Ele sabia ler e traduzir o Chumash e Mishnayot e sabia ler halachot (leis) no Kitsur Shulchan Aruch (um resumo das leis judaicas). Já que ele sabia mais do que os outros, ele fazia o papel de Rabino da comunidade. Era muito honrado e respeitado por todos que pensavam que tatava-se de um grande sábio. Com o passar do tempo, ele começou a se considerar um conhecedor de Torá muito especial e importante.
Um dia, um judeu de uma comunidade afastada veio visitar esta cidadezinha. Ele sofria de uma doença que tornava a respiração difícil, e seu médico havia recomendado o ar puro daquela cidade. O homem que considerava-se um Rabino convidou-o a ficar em sua casa.
O "Rav" observou como este judeu fazia netilat yadáyim (ablução das mãos feita antes de fazer uma refeição com pão) com todo cuidado, como ele pronunciava a bênção pausadamente e em voz alta, refletindo sobre as palavras antes de pronunciá-las e como depois das refeições fazia Bircat Hamazon, palavra por palavra. Observou como este judeu rezava com cuidado e como se concentrava sobre o significado das palavras que estava falando. De repente, o "Rav" se sentiu envergonhado. Percebeu como era "pobre" a sua própria reza e como ele fazia as mitsvot sem cuidado. Quanto mais ele observava e estudava os modos do visitante, mais humilde se tornava. O visitante cumpria leis que os judeus daquela cidade não cumpriam corretamente. Ele tinha conhecimentos suficientes para mostrar a eles que seus tefilin e mezuzot não eram casher. Ele também motivou os judeus a estudarem Torá diariamente. Quando o "Rav" se conscientizou da sua ignorância, tornou-se cada vez mais humilde.
A Chave da Parábola
Moshê nunca se orgulhava de si próprio, pois quando subiu ao Monte Sinai viu anjos perfeitos e sagrados que serviam D'us dia e noite. Teve também uma visão da grandeza de D'us.
Após Moshê ter visto os anjos, sentiu-se envergonhado. Pensou, "Não sirvo D'us tão bem quanto os anjos, nem mesmo um milésimo do que eles servem. Preciso me aprimorar!"Portanto, quando Moshê via outros judeus que faziam coisas erradas ou que não faziam o melhor que podiam para servir D'us, ele pensava, "Não são culpados, pois não viram a glória de D'us nos céus. Eu vi a grandeza de D'us, portanto D'us espera de mim mais do que de qualquer um!" E assim Moshê sempre se sentia humilde.
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