Depois que o povo judeu ouviu todos os Dez Mandamentos, D'us ordenou a Moshê para ascender a montanha: "Dar-te-ei duas tábuas de pedra preciosa de safira, sobre as quais estão escritos os Dez mandamentos que contém a essência de todas as 613 mitsvot da Torá".

Moshê deu instruções para que, em sua ausência, o povo deveria obedecer Aharon, os anciãos, e Chur, filho de Miriam, que foi nomeado como responsável. Disse ao povo que voltaria em quarenta dias, e implorou-lhes: "Por favor, orem e jejuem por mim! Estou prestes a entrar no acampamento dos anjos, e ascender à abóbada dos seres de fogo celestiais de D'us. Implorem misericórdia de D'us, para que eu retorne em paz!"

No dia sete de Sivan, Moshê e seu pupilo Yehoshua começaram a ascender a montanha juntos. Yehoshua armou sua tenda no sopé da montanha, e não deixou o local por quarenta dias, enquanto esperava a volta de seu mestre. Por um milagre especial, a maná desceu lá especialmente para ele, a fim de sustentá-lo.

Moshê subiu ao topo da montanha e ficou coberto pela Nuvem por seis dias. Este foi um período preparatório para purificar seu corpo, de modo que ficasse parecido com um dos anjos. Então pôde ascender ao Céu, adentrando os círculos da Shechiná.

Moshê penetrou a escuridão da Nuvem, e foi admitido no Acampamento Celestial. Temendo por sua vida, Moshê recitava o capítulo de Tehilim que protege uma pessoa contra poderes danosos, o salmo 91: "Aquele que habita no local secreto do mais Elevado... Não temerás o terror à noite, nem a flecha que voa de dia."

A Permanência de Moshê nos Céus

Moshê permaneceu no céu quarenta dias e quarenta noites, aprendendo toda a Torá Escrita e a Torá Oral. Durante este período, ele sabia da passagem do dia e da noite apenas pelo sol e pela lua. Quando via o sol subindo para prostrar-se diante de D'us dizendo: "Senhor do mundo, fiz o que ordenaste", ele sabia que mais um dia se passara e a noite chegara.

D'us então ensinava Mishná, a Torá Oral, a Moshê. Quando a lua surgia diante de D'us, prostrando-se e dizendo: "Fiz o que me ordenaste, meu D'us", Moshê sabia que a noite terminara e o dia começara. D'us então ensinava a Moshê o texto, a Torá Escrita.

Moshê tinha um sinal adicional que lhe indicava as horas da noite. Quando via os anjos preparando a maná que os judeus comeriam no dia seguinte lá embaixo no deserto, ele sabia que era dia. Quando a maná caía, ele sabia que era noite na terra.

(Mais detalhes referentes ao estudo da Torá de Moshê no Céu estão escritas na parashá de Ki Tissá).

Moshê vê o Futuro

Durante a estada de Moshê, foram-lhe mostrados todos os grandes líderes judeus de cada geração. Ele viu os juízes, os profetas e os reis que serviriam aos judeus até o final dos tempos.

Enquanto estava no céu, Moshê também viu D'us sentado em Seu trono poderoso e exaltado, acrescentando coroas às letras da Torá. Ele pediu a D'us que explicasse a razão para estes adornos e foi lhe dito: "Daqui a muitos anos nascerá um grande tsadic com o nome de Akiva, filho de Yossef, que revelará muitos segredos ocultos da Torá. Ele saberá derivar leis e pensamentos da Torá de cada cabeça e coroa que estou acrescentando agora às letras.

Moshê implorou que lhe fosse mostrado este justo. D'us mostrou-lhe um edifício que abrigava muitos discípulos sentados em filas. À sua frente estava sentado um homem que parecia um anjo celestial. Moshê aproximou-se dos homens, mas não conseguia entender o que diziam, o que o entristeceu.

Neste momento, ouviu um dos alunos perguntar ao professor como ele sabia tudo o que estivera lhes ensinando. O homem de aparência angelical respondeu: "Tudo que estou ensinando e inovando na Torá é uma transmissão direta daquilo que Moshê, filho de Amram, recebeu no Monte Sinai."

Moshê foi então consolado por estas palavras e perguntou a D'us: "Se pretendes criar uma pessoa tão elevada, por que não concedeste a ele o privilégio de levar a Torá aos judeus?"

D'us respondeu: "Porque você foi tão modesto, pensando que Rabi Akiva é mais digno do que você de transmitir a Torá aos judeus, aumentei sua sabedoria e conhecimento, pois Eu o escolhi especialmente para levar a Torá a Meus filhos."

Nesse momento, D'us abriu os cinqüenta portões da sabedoria, permitindo que Moshê passasse por quarenta e nove deles. A sabedoria de Moshê era tão grande que nenhuma outra pessoa no mundo poderia comparar-se a ele, nem no passado nem no futuro.

Os Julgamentos de D'us são Justos

Moshê perguntou a D'us: "Juiz do mundo, por que de fato o justo sofre enquanto o pecador prospera? Sei que todos os Seus atos são justos, mas nós mortais nem sempre os entendemos. Portanto, suplico-lhe que explique Seu método de julgamento, para que eu possa contá-lo aos outros, convencendo-os de Sua justiça e provando-a no mundo." D'us concordou e prometeu mostrar a Moshê uma cena que nenhum homem tivera antes o privilégio de testemunhar, para que ele pudesse entender e lembrar que os julgamentos de D'us são sempre justos.

Moshê viu então um homem se aproximando de um pequeno riacho que corria montanha abaixo. Ia montado a cavalo, mas assim que alcançou a margem ele desmontou e ajoelhou-se para beber um pouco de água. Neste momento, um maço de dinheiro caiu de seu bolso sem que ele notasse. Depois de dar de beber ao cavalo, montou novamente e seguiu seu caminho. Pouco depois, um jovem pastor chegou ao mesmo riacho. Vendo o maço, apanhou-o e colocou-o no bolso, alegrando-se e a agradecendo a D'us pela boa sorte. Agora não precisaria mais continuar trabalhando como pastor e poderia viver com a mãe. Conseguiria comprar uma casa e um campo com aquele dinheiro. Grato, o rapaz prosseguiu seu caminho.

Um homem velho chegou logo depois, sentou-se ao lado do riacho, tirou um pedaço de pão seco da mochila, mergulhou na água, comeu e adormeceu.

Tendo dado conta de sua perda, o cavaleiro retornou para procurar o dinheiro. Agarrou o velho pelo ombro e sacudiu-o violentamente para acordá-lo, exigindo que devolvesse o dinheiro. O velho, que nada sabia a respeito da bolsa perdida, tentou em vão explicar que não roubara nenhum dinheiro. Mas o cavaleiro não acreditou nele e o espancou impiedosamente até a morte. Em seguida, revistou as coisas do velho, mas não encontrou o dinheiro na mochila e simplesmente seguiu o seu caminho.

Extremamente confuso, Moshê voltou-se para D'us e perguntou: "É assim a justiça? Acabo de ver um velho inocente ser brutalmente espancado até a morte. Vi um homem perder seu dinheiro e outra pessoa, um rapaz, encontrá-lo e tornar-se rico sem nenhum motivo aparente." D'us disse a Moshê que continuasse assistindo antes de julgar. Na cena seguinte, tudo ficaria claro.

Então ele viu um fazendeiro manco com um menino pequeno ao seu lado. Um velho de repente se aproximou do fazendeiro e lançou-se sobre ele, matando-o e roubando o seu dinheiro. Enquanto isso acontecia, o mesmo cavaleiro da cena anterior por acaso passava por ali. D'us explicou: "O velho que foi assassinado à margem do riacho sem nenhuma razão aparente era o mesmo homem que matou o fazendeiro de forma tão cruel e lhe roubou o dinheiro. Portanto, ele realmente merecia a morte. O cavaleiro, que viu o velho cometendo o ato perverso e nada fez para impedi-lo, perdeu o dinheiro que não lhe pertencia mas fora roubado do fazendeiro e depois perdido pelo assassino. Finalmente, o menino que achou o maço de dinheiro era o filho do fazendeiro, cujo pai fora assassinado e roubado."

Desta maneira, D'us concede a Moshê um lampejo na absoluta Justiça de Seus caminhos.

Moshê percebeu que os julgamentos de D'us são verdadeiros, ainda que não entendamos o que vemos, ainda que pensemos que não há justiça no mundo, porque vemos pessoas más que não sofrem, ao contrário, progridem na vida, enquanto os justos que praticam o bem e são generosos sofrem na pobreza, passando necessidade, doença e problemas. Deve-se sempre ter em mente, porém, que tudo que acontece é obra da Providência Divina, exatamente como os destinos do assassino que Moshê viu sendo morto por outro, do ladrão perdendo seu dinheiro e do pequeno órfão encontrando o dinheiro que pertencera a seu pai.

Vendo tudo isto, Moshê declarou diante de todos os anjos: "D'us é o D'us da Verdade sem injustiça; Ele é justo e correto."