A história de Pêssach é bem conhecida: o povo judeu era escravo do Faraó no Egito... Moshê (Moisés) o libertou da servidão para receber a Torá no Monte Sinai... e, após quarenta anos no deserto, entrou na Terra Prometida.
No deserto, aliás, tudo dava certo: era uma vida repleta de milagres e maravilhas. Você mesmo já parou para pensar como o povo sobreviveu no meio do nada? Pois saiba que aconteceu um verdadeiro "show" de milagres. As roupas que as crianças vestiam cresciam junto com elas. Lavanderia? Nem pensar! Ao passar entre nuvens, a sujeira sumia! Estavam brancas com aquele "branco total", de dar inveja até às melhores multinacionais fabricantes de sabões em pó deste século. A comida, chamada maná, caia do céu e tinha o sabor do alimento que a pessoa desejasse. Na sexta-feira, véspera de Shabat, caia em dose dupla. Imagine se fosse com a gente... Uma fonte de água jorrava constantemente de uma rocha. Uma nuvem em torno do acampamento do povo de Israel agia como escudo e durante a movimentação do pessoal no deserto.
Nada de sustos, tínhamos seguro contra tudo. Aliás, estávamos com tudo. Quem poderia querer mais? Mas o que significa o Êxodo nos tempos atuais? O que nos ensina a festa de nossa liberdade e como sentir a futura Redenção de toda a humanidade na Era Messiânica?
Sem Egito
Para os judeus, Egito representa muito mais do que apenas um ponto no mapa. Egito é um estado de espírito. Em hebraico, Mitsráyim (Egito) relaciona-se com a palavra metsarim (limites e fronteiras). Para o povo judeu, "escapar do Egito" significa ultrapassar os limites naturais que impedem a realização de seu potencial.
A essência da alma é uma pura faísca da Divindade - infinita e ilimitada. Mas a alma está no exílio, no "Egito"- intrinsecamente restrita ao mundo material e finito. O "Egito" para uma pessoa pode estar em seu egoísmo e em seus desejos impulsivos; para outra, o "Egito" pode estar em seu isolamento ou seu apego a conquista de apenas sucesso material ou reconhecimento pessoal.
Pêssach é uma oportunidade de transcender as limitações e realizar o infinito potencial espiritual em cada aspecto da vida. Pêssach chega e através da Hagadá narra nossa trajetória para que afinal, possamos buscar nossa vitória individual e coletiva, e sair de nosso próprio mitsráyim.
Verdadeira liberdade
Nossa libertação não foi completa até recebermos a Torá no Monte Sinai.
A Torá e os mandamentos de D'us são a chave-mestra para se atingir a verdadeira liberdade - liberdade não apenas da escravidão física, mas de todas as crenças e condutas limitadas. A Torá mostra como evitar as armadilhas que a vida apresenta e ensina como fazer deste mundo um lugar de paz, harmonia e felicidade para todos os seres humanos.
Matsá e chamêts
Pêssach é conhecida como "A Festa das Matsot". Devemos comer somente matsá a partir da primeira noite de Pêssach e nos livrar de todo o chamêts - todo pão e produtos levedados - durante todos os oito dias da festa. Este importante mandamento oferece uma ampla visão da verdadeira natureza da liberdade.
A diferença entre pão levedado e matsá é óbvia: enquanto se deixa crescer a massa de pão, a das matsot de Pêssach não pode subir de modo algum. Nossos sábios explicam que a natureza "inchada" do chamêts simboliza o traço de caráter da arrogância e vaidade. É como aquela pessoa que sobe ao palanque para discursar para que todas a olhem e a admirem.
A matsá, plana e não levedada, representa a absoluta humildade. Como uma pessoa que sempre ajuda a outras sem deixar pistas de seu bondoso ato, ficando sempre no anonimato.
Humildade é o princípio da libertação e o pilar de todo crescimento espiritual. Somente alguém que reconhece suas próprias falhas e se submete a uma sabedoria mais elevada pode se libertar das próprias limitações.
Em Pêssach é proibida até mesmo a mais ínfima quantidade de chamêts. Devemos nos livrar da arrogância e do egocentrismo de nosso coração até não sobrar uma "migalha" sequer. Ao comer as matsot de Pêssach, internalizamos a qualidade de humildade e de auto transcendência que é a essência da fé.
A Divisão do Mar
No sétimo dia de Pêssach comemoramos o milagre da Divisão do Mar Vermelho, que finalizou o Êxodo do Egito. Com as carruagens egípcias em seu encalço, os judeus pularam no mar; D'us "transformou o mar em terra seca", criando paredes de água em ambos lados e permitindo que Seu povo atravessasse. Em seguida, as águas retornaram a seu estado normal, afogando os egípcios.
A Divisão do Mar simboliza mais uma jornada espiritual rumo à liberdade verdadeira. Assim como as águas do mar cobrem e escondem tudo o que se encontra nelas, do mesmo modo o mundo material oculta a força vital Divina que mantém sua existência. A transformação do mar em terra seca representa a revelação da verdade oculta de que o mundo não é separado de D'us; de fato, é unido a Ele.
Freqüentemente, após "sair do Egito" passamos por um despertar brusco. Podemos ter trabalhado o Egito em nosso interior, mas a vida em termos de valores materiais, ainda continua aqui. Devemos buscar então maior empenho para estarmos cientes da presença e influência de D'us em nossas vidas, pois hoje em dia é realmente um milagre sobreviver a cada dia, e não nos damos conta disto. Devemos aguardar mais um pouco, até que "o mar se divida" e a liberdade seja completa.
Eu lhes mostrarei maravilhas
Nas palavras do profeta Michá, D'us proclama: "Como nos dias de tua saída do Egito, Eu lhes mostrarei maravilhas." O Êxodo do Egito é o protótipo da Redenção Final quando Mashiach (Messias) virá e escravidão e sofrimento serão banidos para sempre da face da Terra.
Nossos sábios perguntam: "Por que 'nos dias de tua saída', se o Êxodo ocorreu num só dia?"
A resposta é que a verdadeira liberdade é um processo contínuo. Os primeiros passos fora do "Egito" são apenas o início. E assim diz o Talmud: "A cada geração e em cada dia, cada um é obrigado a se ver como que se ele próprio estivesse saindo do Egito naquele mesmo dia."
Todas as lições de Pêssach devem ser aplicadas diariamente: devemos nos livrar da arrogância e nos tornar humildes; devemos aprofundar nossa consciência de D'us, como se o mar se abrisse; e devemos nos esforçar para aperfeiçoar nossa conduta, como convém à nação que recebeu a Torá no Monte Sinai. Cada passo que damos em direção a Torá e mitsvot nos conduz mais próximo às revelações de uma Era de paz e harmonia.
The End... Happy End!
O oitavo dia de Pêssach está associado à esperança da vinda de uma época sem guerras, sem desemprego e miséria, sem mais sofrimento. A época de Mashiach (Messias). A Haftará (leitura dos Profetas) daquele dia contém as famosas profecias de Yesha'yáhu sobre a Era Messiânica: "O lobo habitará com o cordeiro, o leopardo com o cabrito... não farão nenhum mal nem destruirão... pois a Terra ficará repleta do conhecimento de D'us assim como as águas encobrem o leito do oceano."
Maimônides cita a crença em Mashiach como um dos treze princípios básicos da fé judaica. Ele explica em sua codificação da Lei Judaica que Mashiach é um sábio que irá liderar todo o povo judeu no fiel cumprimento do guia de vida que é a Torá. Finalmente, reconstruirá o Templo Sagrado em Jerusalém, reunirá os exilados em Israel e trará uma época com final feliz, na verdade, o início de uma nova era!
Atitude positiva
Ao olhar as manchetes dos jornais ou escutar sobre um incidente ocorrido com um amigo ou vizinho, o mundo se apresenta hoje mergulhado em um verdadeiro caos. Como então podemos aceitar a idéia da Redenção iminente vendo tudo isto acontecendo frente a nossos olhos, a todo momento e sem aviso prévio, invadindo nossas vidas e a de nossos filhos? Entretanto, podemos ficar tranqüilos com o exemplo da história de Pêssach. Lá no Egito, apesar do desprezível jugo nas mãos da nação da qual nenhum escravo escapara antes - a redenção veio rapidamente, como "num piscar de olhos" e estávamos livres.
Em tempos recentes, por outro lado, presenciamos acontecimentos tão notáveis que até mesmo líderes leigos classificaram como milagrosos: a queda do comunismo, a Guerra do Golfo, o Êxodo em massa e a absorção em Israel de judeus provenientes de países anteriormente opressores.
Hoje, a riqueza das nações está sendo desviada da produção de armas de destruição para meios de construção e cooperação - concretizando-se o provérbio de "espadas em arados". Tal progresso - já há muito profetizado como arauto da Era Messiânica - fortalece a crença na sua chegada iminente.
O último dia de Pêssach é uma ocasião propícia para externar a espera sincera pela chegada de Mashiach: "...mesmo que ele demore, ainda assim espero por sua vinda a cada dia".
A Era Messiânica será uma época de paz e abundância para toda a humanidade... uma época quando, como Maimônides continua, não precisaremos mais lutar pela sobrevivência. "Os luxos serão tão abundantes como o pó da terra, e todos nós estaremos livres para nos ocupar com buscas espirituais - para aprofundar nosso conhecimento de D'us."
Que possamos comemorar Pêssach fora de nosso Egito e mais próximos de um mundo onde tudo dará certo outra vez.
ב"ה
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