Recentes eventos em universidades americanas, com ataques a estudantes judeus, as obrigaram a ser evacuadas com proteção policial. Na Unicamp, uma atividade acadêmica foi cancelada pois estudantes contrários ameaçavam invadir o local. Na USP, estudantes ocuparam o prédio de História e Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em manifestações contra Israel.

Estará renascendo o fenômeno dos anos 1920-193070 racismo alemão - que confinou e dizimou judeus e antecedeu a vitória do nazismo - iniciou-se como movimento organizado dentro dos muros das universidades, supostamente celeiro de criação, tolerância é formação de lideranças.

O caso alemão é um alerta sobre o que ocorre no ambiente universitário atualmente. Muito antes da ascensão do nazismo, estudantes alemães adotaram forte judeofobia. Motivos: a corrosão dos valores humanistas, a insegurança quanto ao mercado de trabalho, a queda dos padrões de vida após 1918 e a criação (em 1926) da Liga Nacional-Socialista de Estudantes. Entre 1922 e 1932, estudantes alemães exigiam a redução da presença de professores e alunos judeus. Talvez isso tenha impulsionado o recém-eleito governo nazista a criar (no quarto mês de governo) a Lei para a Restauração do Serviço Público Profissional, exigindo a demissão de funcionários públicos judeus e forçando cerca de 1.200 a deixar seus cargos universitários. A demissão de professores não foi suficiente para os estudantes, que passaram a boicotar as aulas dos professores judeus remanescentes - até que o regime nazista baniu todos os professores judeus das universidades (1935).

A tolerância do governo ao antissemitismo estudantil incentivou estender a perseguição aos estudantes judeus. Na Universidade de Baden, os estudantes proibiram alunos judeus de se sentar nas primeiras filas da classe e, pouco depois, o governo estadual proibiu a admissão de qualquer aluno judeu. Em outubro de 1933, a Prússia decretou que alunos judeus de medicina e odontologia só receberiam seu diploma ao renunciar à cidadania alemã. Dada a pressão estudantil, em novembro de 1938 não havia sequer um aluno judeu em medicina na Alemanha, fato saudado pelo jornal estudantil Die Bewegung com a manchete: "O fim do médico Dr. Cohn". A pressão se espalhou ainda em 1933 contra estudantes judeus de Direito, arquitetura e até a cursos que contavam com ínfimo número de judeus.

Em 1938, estudantes bloquearam e impediram a entrada de judeus em universidades, tal como ocorreu em 2025 na Universidade Columbia e noutras nos Estados Unidos. No Brasil, em maio de 2024, o Centro Acadêmico de Serviços Sociais da PUC-SP resolveu expulsar um aluno por ser judeu.

Na Universidade Federal de Santa Maria, estudantes exigiram da reitoria os nomes de todos os estudantes judeus.

Esses fatos fazem ressoar perguntas da jornalista Pilar Rahola, ex-deputada da Esquerda Republicana da Catalunha. Sobre Israel, ela pergunta, num de seus artigos:

Por que, de todos os conflitos no mundo, apenas esse lhes interessa? Por que um país minúsculo que luta para sobreviver é criminalizado? Por que todo o povo de Israel é reduzido a uma simples massa de imperialistas assassinos?

E ainda:

Por que, quando Israel é o único país do mundo ameaçado de extinção, também é o único que ninguém considera vítima?

Muitos dos universitários galgarão postos importantes, inclusive na política. Temos de nos preocupar com os riscos que o ambiente universitário significará em nosso futuro como sociedade.

Muitos não são vítimas, nem perpetradores de absurdos, mas meros "observadores". Na Europa foram "isentos" durante o Holocausto; testemunharam episódios racistas e antissemitas, mas foram passivos, indiferentes à escalada da perseguição. Teremos nós, nesta geração, a culpa moral e a responsabilidade por sermos meros "espectadores"?