“Eu não tinha quase nenhum controle sobre nada”, compartilhou o ex-refém Sasha Troufanov. “Muitas vezes, minha vida estava em perigo e eu me sentia desesperado. Eu poderia ter me rendido ao desespero e desabado, dominado por emoções negativas. Mas todas as vezes, pouco antes de implodir, algo acontecia para me puxar de volta do precipício.

“E me refiro até às coisas simples. Por exemplo, um dia, quando eu estava realmente faminto e desesperado, de repente, mais tarde naquele dia, chegou comida relativamente decente. “Comida decente” não significa uma refeição, mas comida que pelo menos me deixou sem fome depois de comê-la. Talvez arroz, ou tomates e cebolas, ou um pouco de feijão.”

Em uma longa entrevista em hebraico com Mendy Kurtz, da revista Kfar Chabad, Troufanov falou abertamente como descobriu D'us em Gaza: “Muitas vezes, justamente quando eu me sentia profundamente deprimido, acontecia algo que melhorava meu humor e, com o tempo, gradualmente me consolidou a compreensão de que algo além do meu controle estava me influenciando. Foi assim que passei a acreditar em D'us e a entender que nem tudo está sob meu controle.”

Foi exatamente por isso que ele concordou em ser entrevistado, explicou. “Quero que as pessoas agradeçam a D’us pelo que têm. Quero que quem ler minhas palavras se sinta positivo em relação à própria vida. Quando uma pessoa se sente bem de coração, isso é bom para os outros também, para o ambiente ao seu redor. Isso irradia.”

Ele também revelou como aprendeu árabe no cativeiro:

“Durante o sequestro, atiraram em minha perna. Tenho certeza de que qualquer pessoa que levasse um tiro na perna choraria, reclamaria e diria: ‘Quão amargo e cruel é o meu destino’. E posso dizer: realmente não é agradável... A bala estilhaçou meu osso — tive uma fratura completa. Fui tratado lá em Gaza. Mas, por causa disso, coisas boas aconteceram.

Primeiro, a razão pela qual não me algemaram como fizeram com os outros foi que eu estava fisicamente destruído naquele momento. Eu tinha levado uma facada no ombro, um ferimento aberto na cabeça e ferimentos de bala nas pernas. Mais tarde, meu ombro também foi deslocado.

Felizmente, isso fez com que me tratassem com mais gentileza. Superficialmente, não deveria ter sido assim. Eles pensaram que eu era um oficial militar. Quando fui sequestrado, meu físico era muito maior do que é hoje — eu era mais musculoso e robusto. Sempre amei exercícios físicos. Eles pensaram que eu era um lutador, um Rambo, e teria sido natural para eles me amarrarem e não me deixarem me mover. Mas, por causa dos meus ferimentos, eles não me algemaram. Mas essa é só a primeira parte.

“Mais tarde, eles me transferiram para um centro médico para tratamento. Não havia outra escolha, mas levou algum tempo. Depois, eles queriam me devolver ao mesmo lugar onde eu estava inicialmente detido. Mas algo aconteceu — as coisas não deram certo — então me transferiram temporariamente para outro lugar em Gaza. Lá, havia um novo terrorista que também falava inglês. Graças a ele, aprendi árabe. Eu perguntava a ele várias palavras em árabe. Lentamente, construí um vocabulário básico que me permitiu me comunicar em árabe e desenvolver o idioma. Em cativeiro, você pensa rápido. Você aprende um idioma e

m um instante — seu cérebro funciona a 200%. “Por cerca de 40 dias, fiquei no novo local este terrorista que falava inglês. Depois disso, me levaram para outro lugar e, desde então, até quase o fim do meu cativeiro, não encontrei ninguém mais que falasse inglês como ele. Tive sorte de tê-lo conhecido. E isso só foi possível por ter levado um tiro na perna.”

Sobre seus primeiros momentos em Gaza, Troufanov relembrou: “Esses são os momentos de que mais me lembro — a compreensão de onde eu estava. A mudança da vida a que eu estava acostumado foi absolutamente total — do cheiro em Gaza para, é claro, as condições horríveis em que me colocaram. Fui sequestrado sozinho e espancado durante o sequestro. Cheguei fisicamente machucado e quebrado.

“No início, me levaram para uma casa, que na verdade era um barraco. As pessoas lá eram muito diferentes do tipo de pessoas que eu estava acostumado a ver. Com o tempo, entendi onde eu estava. A comida nos primeiros dias era relativamente decente, mas rapidamente passou a ser uma porção por dia. Levou um tempo para me acostumar a não ter tudo a que estava acostumado, a precisar de permissão para tudo. Até para ir ao banheiro, eu precisava de aprovação. As horas de sono também eram determinadas para mim. Como uma prisão — mas muito pior.

“Percebi que precisava me lembrar de que ainda era mentalmente uma pessoa livre e que precisava tentar encontrar liberdade nos lugares onde tinha escolha. Eu adorava brincar com a comida que me davam. Comia um pouco e guardava um pouco para depois. Mesmo que não fosse muita coisa. Assim, eu sentia que era eu quem tomava as decisões. Tentei transformar a falta de escolha em escolha.”

Este ano, Troufanov celebrou Pessach com sua família em Moscou. “Estamos celebrando no melhor lugar possível — como convidados do Rabino Berel Lazar, o Rabino-Chefe da Rússia. Ele convidou toda a família e quis que fôssemos. Nunca celebrei um feriado judaico antes. Sinceramente, é muito emocionante.”

“Quando vi o Rabino Lazar no dia seguinte à minha libertação, o que mais me chamou a atenção foi sua gentileza. É muito presente, irradiando dele. Ele é uma pessoa muito agradável e afetuosa, e não tem medo de perguntas difíceis.

Quando ele me ajudou a colocar os tefilin, fiz várias perguntas sobre eles, e o rabino respondeu a todas, dizendo que era bom eu estar perguntando e demonstrando interesse. Isso me impressionou: até então, eu achava que pessoas religiosas não gostavam de ser questionadas — porque, para mim, a religião se baseava na fé pura e em evitar perguntas. Eu achava que quanto mais religiosas as pessoas eram, menos aceitavam o outro lado. Mas com o Rabino Lazar, foi exatamente o oposto. Recebi tanta aceitação, carinho e amor.”

Pessach simboliza o Êxodo do Egito. Eu não saí do Egito; eu não estava escravizado. Eu era um refém — não sei como chamar isso. Mas certamente é uma festa que simboliza a liberdade e a capacidade de escolher e se concentrar em coisas que dizem respeito a você e a mais ninguém. Agora, me foi concedida a oportunidade de escolher por mim mesmo onde celebrar o feriado este ano e com quem.

Ao mesmo tempo, Troufanov diz que não consegue esquecer aqueles que ainda estão em Gaza.

"Embora eu tenha recebido minha liberdade, de certa forma, ainda me sinto acorrentado — não fisicamente — àquele lugar. Acho que todos podem entender e sentiriam o mesmo se seu amigo ainda permanecesse lá em cativeiro."