Este ano marca 80 anos do evento monumental na história da humanidade – a libertação dos prisioneiros sobreviventes do campo de concentraçnao e extermínio de Auschwitz-Birkenau pelo exército soviético, localizado no que era então a Polônia ocupada pela Alemanha nazista.
A Organização das Nações Unidas presta anualmente uma homenagem às vítimas do Holocausto desde 2005, ao tornar 27 de janeiro o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.

Amanhã a sobrevivente do Holocausto, Marianne Miller, discursar na ONU. Nascida em Budapeste durante a guerra, Marianne falará em Nova York sobre sua história de sobrevivência, cercada por três gerações de sua família. No ano passado, ela contou sobre a sua trajetória de vida enquanto liderava uma delegação da Marcha da Vida, caminhando da cidade onde nasceu até Auschwitz.
Yom HaShoá
Holocausto, também conhecido como Shoá (em hebraico: השואה, HaShoá, "a catástrofe"; em iídiche: חורבן, Churben, do hebraico Hurban para "destruição"), foi o genocídio - assassinato em massa- de cerca de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Este foi o maior genocídio do século 20, ocorrido através de um programa sistemático de extermínio étnico patrocinado pelo Estado nazista, liderado por Adolf Hitler e pelo Partido Nazista, e que ocorreu em todo o Terceiro Reich e nos territórios ocupados pelos alemães durante a guerra.
Dos nove milhões de judeus que residiam na Europa antes do Holocausto, cerca de dois terços foram mortos; mais de um milhão de crianças, dois milhões de mulheres e três milhões de homens judeus assassinados.

Sally Wasserman, sobrevivente
Uma rede de mais de quarenta mil instalações na Alemanha e nos territórios ocupados pelos nazistas foi utilizada para concentrar, manter, explorar e matar judeus e outras vítimas. A perseguição e o genocídio foram realizados em etapas. Várias leis para excluir os judeus da sociedade civil — com maior destaque para as Leis de Nuremberg de 1935 — foram decretadas na Alemanha antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial na Europa.
Campos de concentração foram criados e os presos enviados para lá eram submetidos a trabalho escravo até morrerem de exaustão ou por alguma doença. Quando a Alemanha ocupou novos territórios na Europa Oriental, unidades paramilitares especializadas chamadas Einsatzgruppen assassinaram mais de um milhão de judeus e adversários políticos por meio de fuzilamentos em massa.
Os alemães confinaram judeus em guetos superlotados, até serem transportados, através de trens de carga, para campos de extermínio, onde, se sobrevivessem à viagem, a maioria era sistematicamente morta em câmaras de gás. Cada ramo da burocracia alemã estava envolvido na logística onde o ódio era a lei em sua pior versão.
Marcha da Vida
A Marcha da Vida é um programa educacional que reúne sobreviventes e jovens de todo o mundo em uma viagem a Auschwitz em memória de todas as vítimas do genocídio nazista e contra o preconceito, o ódio e a intolerância e um lembrete eterno sobre a capacidade da humanidade de praticar o mal - um alerta que deve ser repetido a cada geração.
Depoimento de uma Sobrevivente

Marie (Mariette) Rozen Doduck tinha cinco anos quando os nazistas invadiram Bruxelas em 1940. Escondida por não judeus durante a guerra, ela serviu na resistência como mensageira. Ela perdeu sua mãe e dois irmãos em Auschwitz. Após a libertação, ela imigrou para o Canadá em 1947. Cofundadora do Vancouver Holocaust Education Centre e autora de A Childhood Unspoken, Doduck recebeu a Ordem do Canadá em 2024 por seu trabalho de educação sobre o Holocausto.
Refletindo sobre o 80º aniversário da libertação de Auschwitz, Doduck diz: "É incrível para mim que nós, sobreviventes, ainda estejamos vivos. Eles disseram a alguns de nós que éramos mercadorias danificadas e que eu morreria aos 30 anos... E 80 anos depois - estamos prosperando!"
Descrevendo a libertação, ela lembra: "Foi como respirar um pouco de ar fresco. De repente, eu conseguia respirar e talvez dormir a noite toda sem ser movida de um lugar para outro com estranhos."

Os eventos de 7 de outubro de 2023 a afetaram profundamente: “No dia 7 de outubro, eu não conseguia respirar – senti que não conseguia respirar de novo… Nós, as crianças sobreviventes, sentíamos como se fôssemos crianças na Segunda Guerra Mundial mais uma vez. Para mim, foi como se eu estivesse me escondendo novamente por cinco anos quando criança… É como se ninguém tivesse aprendido as lições.”
E acrescenta: “Agora representamos a linha de frente de Israel aqui no Canadá. Temos que defender quem somos em todos os países do mundo onde os judeus vivem – devemos ficar onde estamos e lutar em defesa do povo judeu em Israel. Sabemos que se formos expulsos de qualquer país – temos um lugar para ir. Não tínhamos um lugar para correr na Segunda Guerra Mundial.”

Relembrando sua experiência na Marcha da Vida, Doduck diz: “Estar na Polônia na Marcha da Vida com nossa delegação foi difícil para mim. Caminhar em Auschwitz – Birkenau me fez pensar na minha família que andou no mesmo chão. Para mim foi como caminhar na Marcha da Morte. Mas os jovens que marchavam ao meu lado — elas eram as únicas que me davam esperança. Eu as abracei, elas me abraçaram. Elas estavam chorando. Quando me deixaram sozinha e eu fui para uma das barracas, onde cinco mulheres dormiam no mesmo beliche, vi os fornos nas fotos na parede. Eu estava procurando nomes da minha família. Eu estava procurando fotos da minha família. Toquei nas paredes. Acho que morri um pouco lá.”
Após a Marcha da Vida na Polônia, Doduck visitou Israel: “Depois da marcha, fomos para Israel e senti que podia respirar novamente... Para mim, sempre foi um lar, estou em casa.”
Doduck mantém fortes conexões com os alunos: “Os alunos — eles ainda estão em contato comigo... E relembramos a viagem... Acontece que muitos dos meus ex-alunos se tornaram professores do Holocausto.”
Ela expressa confiança no futuro da memória do Holocausto: “Estamos agora educando nossa segunda, terceira e quarta gerações. Sei que nossos filhos vão cuidar de nossa memória e isso é muito esperançoso. Não tenho dúvidas de que a memória não vai morrer.”

Há 35 anos, durante a Marcha da Vida de 1990, o sobrevivente de Auschwitz Elie Wiesel, de pé em Auschwitz – Birkenau, observou: “Pensávamos que o antissemitismo pereceu aqui. O antissemitismo não pereceu aqui. Suas vítimas pereceram aqui."
Infelizmente, hoje essas palavras ainda soam tão verdadeiras como sempre. Vivemos em uma época em que, de acordo com pesquisas recentes, quase metade da população adulta do mundo - cerca de 2,2 bilhões de pessoas - ainda abriga crenças antissemitas vis; as mesmas crenças que levaram ao assassinato de 6 milhões de judeus durante o Holocausto.Este é um lembrete gritante de que nossa missão está longe de terminar e muito trabalho ainda precisa ser feito.
Continuaremos, ano após ano, a retornar a Auschwitz-Birkenau e outros campos para educar as próximas gerações. Continuaremos a lembrar ao mundo sobre os perigos do antissemitismo, racismo, ódio e intolerância de todos os tipos.
Continuaremos a levantar nossas vozes pela memória sagrada de 6 milhões de nossos ancestrais que pereceram e por todos os inocentes, vítimas do ódio e da intolerância. Rezaremos pelo retorno de todos os reféns e das vítimas assassinadas covarde e brutalmente pelo grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro. Rezaremos e agiremos, física e espiritualmente. Rezaremos e cumpriremos as diretrizes de nosso eterno legado. Sobrevivemos para viver e para jamais esquecer.
Am Israel Chai!
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