I
1 – Todos estão sujeitos às obrigações de tsedacá e Gemilut Chassadim. Até o homem pobre que é sustentado pela tsedacá deve dar tsedacá daquilo que consegue poupar de seu sustento. E certamente todos são capazes – e portanto obrigados – a cumprir Gemilut Chassadim1.
2 – Não há limite para as obrigações de Gemilut Chassadim que sejam realizadas por envolvimento pessoal. Isso equivale a dizer que não há medida de observância sobre a qual alguém pode afirmar que o dever foi descartado. Isso aplica-se não somente ao princípio de Gemilut Chassadim como um todo, mas a todo detalhe específico deste preceito.
3 - Tudo aquilo que é feito em prol de D'us deve ser o melhor e o mais perfeito. Por exemplo, quando construir uma Casa de Oração ela deve ser mais refinada que a residência particular da pessoa. Da mesma forma, ao alimentar o faminto, a pessoa deve dar-lhe o que houver de melhor em sua mesa. Ao cobrir o desnudo, deve-se dar-lhe as melhores vestes; e assim por diante.
II
4 - O dever de emprestar dinheiro a quem precisa é mais meritório, e tem precedência, sobre o dever de fazer caridade a quem implora por ela; pois aquele já foi levado a mendigar, ao passo que o outro ainda não atingiu aquele estágio. Severa, na verdade, é a censura da Torá contra aquele que se abstém de emprestar dinheiro aos pobres2.
5 - É um dever emprestar dinheiro até aos ricos que estejam precisando de um empréstimo, e ajudá-los com palavras de encorajamento e conselho.
6 - A pessoa está proibida de pressionar um devedor quando sabe que ele está incapacitado de pagar a dívida. Além disso, é proibido de aparecer perante um devedor, ou até passar diante dele, mesmo sem fazer quaisquer exigências a ele, para que o devedor não fique intimidado ou constrangido.
7 - Nenhum judeu pode aceitar juros, ou pagar juros, por um empréstimo de outro judeu.
III
8 - O dever de prover hospitalidade é cumprido fornecendo aos hóspedes alimento, abrigo e acompanhando-os aonde for preciso.
9 - Os deveres relacionados ao princípio da hospitalidade são aprendidos do exemplo clássico de nosso Patriarca Avraham, como está relatado na Torá em Bereshit 18:2ff:
a - Não espere até que os viajantes o procurem, mas procure-os e leve-os a sua casa.
b - Forneça a eles todas as suas necessidades.
c - Proporcione aos seus hóspedes um local confortável para descansar e se recuperar do cansaço da viagem.
d - Atenda pessoalmente as necessidades dos hóspedes, mesmo que você tenha muitos empregados, e trate-os como se fossem seus amos.
e - Diga e prometa pouco, mas faça muito.
f - Ensine os membros de sua família, e faça-os saber da importância dessa mitsvá.
g - Acompanhe os hóspedes quando tiverem de sair.
10 - Os perigos da estrada não espreitam mais hoje em dia como ocorria nos tempos antigos. Mesmo assim, atualmente, também, é meritório acompanhar e guiar estrangeiros no caminho deles, mesmo que seja por uma curta distância.
IV
11 – A mitsvá de visitar os doentes refere-se a qualquer pessoa doente, seja rica ou pobre, parente seu ou não.
12 - Todos estão obrigados a visitar os doentes. Até uma pessoa importante deve visitar alguém de menor importância.
13 - A visita aos doentes deve ser freqüente, se possível várias vezes ao dia, desde que isso não seja inconveniente ao enfermo. Se a visita incomoda o paciente, mesmo assim a pessoa é obrigada a cumprir os outros deveres relacionados a esta mitsvá (veja o próximo parágrafo).
14 - A mitsvá de visitar os doentes consiste de três partes essenciais:
a - Ver e assegurar que o paciente está sendo bem cuidado;
b - Confortar e animar o paciente;
c - Rezar pela sua recuperação.
V
15 - É um dever alegrar os noivos, e especialmente fornecer aos pobre todas as suas necessidades para o casamento.
16 - A pessoa deve fazer parte da procissão que conduz os noivos à canópia e animá-los. Até o estudo de Torá fica suspenso para cumprir este dever.
VI
17 - Quando uma pessoa morre, o Céu não o permita, todos os habitantes da cidade estão proibidos de seguir com suas ocupações até que o enterro tenha ocorrido. Se houver pessoas designadas que atenderão às exéquias, no entanto, todas as outras podem continuar com seu trabalho.
18 - Os serviços a serem prestados aos mortos são: a) vigília, b) remoção, c) lavar, d) vestir, e) acompanhar e enterrar o corpo.
19 - Mesmo quando há uma Sociedade Funerária é uma mitsvot atender os mortos e participar da procissão funerária.
VII
20 - Os enlutados devem ser visitados e consolados.
21 - Ao visitar os enlutados, a pessoa não deve oferecer palavras de conforto e simpatia até vir que os enlutados desejam isso, e não lhes causa inconveniência.
22 - O dever de confortar os enlutados tem precedência sobre o dever de visitar os doentes, porque confortar os enlutados é um ato de benevolência tanto para com os vivos como para os mortos.
VIII
23 - É dever buscar e promover a paz, e reconciliar aqueles que estão em discórdia.
24 - Aharon, o Sumo Sacerdote, é o exemplo clássico de pacificador e mestre dos ignorantes. Assim foi ensinado: "Seja como os discípulos de Aharon, amando a paz e promovendo a paz, amando a humanidade e aproximando-a da Torá." (Avot 1:12) Aharon saía do seu caminho para promover a paz e reconciliar aqueles em discórdia. Com respeito aos outros preceitos, o homem está apenas sob a obrigação de cumpri-los quando cruzarem seu caminho; quanto a promover a paz, no entanto, está escrito "busca a paz e a persegue." (Tehilim 34:15), i.e., em toda parte3.
IX
25 - "Aproximando-os da Torá" significa que deve-se influenciar as pessoas e levá-las sob as asas da Shechiná (a Divina Presença). Aharon costumava ir a todos os lares de Israel e quem não sabia ler o Shemá ou rezar, ele o ensinava. Da mesma forma, ele ensinava qualquer um que não soubesse como estudar Torá. Assim, também, é o dever de todos aqueles que conhecem Torá, ensinar e orientar os ignorantes.
26 - Todo aquele que está sujeito à ordem de estudar Torá é também ordenado a ensinar Torá. O dever de ensinar é relativo não apenas aos próprios filhos, mas a qualquer pessoa.
Notas:
1 - (Cf. acima, cap. VII: "Considere os pobres…")
2 - Veja Devarim 15:9
3 - Sobre este (e o próximo) parágrafo, veja Kalah Rabati, cap. 3: Avot de R. Nathan, cap. 12, e Eliyahu Rabba, cap. 13.
ב"ה
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