Sou de uma sexta geração de Jerusalém: Do lado de meu pai, descendo do famoso ramo lituano da família Rivlin que emigrou para a Terra de Israel junto com um grupo de discípulos do Vilna Gaon em 1809. Do lado de minha mãe venho do ramo Chabad da mesma família: meu tataravô, Rabi Eliyahu Yosef Rivlin, foi um membro pioneiro do estabelecimento Chabad em Chevron [Hebron], que foi fundado poucos anos depois, em 1821.

Na minha juventude, antes da fundação do Estado de Israel em 1948, estudei na Universidade Hebraica de Jerusalém, enquanto também fui convocado para a brigada judaica de polícia que operava sob o mandato britânico. Meus estudos, porém, foram interrompidos pela Guerra da Independência, quando atuei como um oficial nos Corpos de Comunicação da FDI, e em seguida viajei para a Inglaterra e completei meus estudos na Universidade de Londres.

Em 1950, fui um dos membros fundadores da estação de rádio Galei Tzahal fundada pela iniciativa de David Ben Gurion, e então fui convidado a trabalhar para o Ministério do Exterior, para acabei servindo por 34 anos.

Enquanto estava no serviço exterior, fui enviado para dois cargos em Nova York, o primeiro como vice-cônsul de 1958-1962, e o segundo como cônsul geral de 1971-1975. Como minhas responsabilidades incluíam questões soviéticas, uma das primeiras pessoas que encontrei em Nova York foi o Rebe; eu eu sabia como esse assunto era próximo do seu coração.

Já na minha primeira audiência com ele, o Rebe me surpreendeu falando da conexão da minha família com o Rebe Chabad; um dos filhos de Rabi Eliyahu Yosef Rivlin casou com a filha de Rabi Dovber, o segundo líder de Lubavitch. Parece que ele estava bem familiarizado com a história da família Rivlin, e sabia sobre minha linhagem mista de chassidim e seus oponentes – os mitnagdim.

“Diga-me”, certa vez o Rebe me perguntou, “quando você veio aqui hoje, veio como um chassid ou um mitnagued?”

“Quando venho a você, sou um chassid total,” respondi instantaneamente. Pude ver que o Rebe apreciou minha resposta.

O Rebe sabia que, como parte do meu trabalho, eu visitava frequentemente comunidades judaicas por todo o país para vários pedidos e palestras, como em prol do Judaísmo Soviético. Esse assunto, em particular, era um no qual ele estava profundamente envolvido e portanto ele era muito encorajador. Pediu-me para advogar e trabalhar em prol dos judeus da Rússia, e ele continuou a manter contato comigo durante meu próximo cargo, como Cônsul Geral em Montreal. Enquanto estava em Montreal, fiz uma viagem até a União Soviética, visitando todo centro de população judaica, de Moscou até Odessa. Antes da viagem, perguntei ao Rebe se eu podia comentar aos judeus que encontraria que conhecia o Rebe – ele disse que sim, é claro. Cobriu-me com bênçãos, e pediu-me para trazer de volta “um quadro claro” da situação do povo judeu ali.

Embora a pressão sobre o Judaísmo Soviético tivesse diminuído levemente durante a era Krushchev, ainda havia dois agentes da KGB que me acompanhavam onde quer que eu fosse, o que significava que nenhum dos judeus que eu encontrava podia falar livremente. Apesar disso, ao ouvirem que eu tinha trazido comigo presentes do Lubavitcher Rebe era difícil descrever a incrível felicidade. Eles me pediam para segurar minha mão, pois lágrimas rolavam de seus olhos, e eu via como suas faces se iluminavam ao ouvir o nome dele.

No meu retorno, fui informado que o secretário do Rebe tinha ligado, convidando-me a visitar o Rebe. Em nosso encontro fiz um relato detalhado e compartilhei a profunda impressão que os judeus russos tinham causado sobre mim.

Por fim, fui enviado novamente a Nova York. Durante aquele tempo, eu me encontrava frequentemente com o Rebe, muitas vezes por sua iniciativa, pois ele me via como uma fonte de informação e como um homem importante.

Os membros do consulado tinham uma tradição de visitar o escritório do Rebe anualmente aem Simchat Torá, mas eu também ia em outras ocasiões, muitas vezes acompanhando líderes políticos israelenses ou escritores que visitavam Nova York. A maioria deles escutaram de colegas que tinham encontrado o Rebe e queriam fazer o mesmo. Eu mantinha contato com o escritório do Rebe e marcava visita para eles.

Entre os personagens que levei até o Rebe estavam Binyamin Eliav, o Cônsul Geral em Nova York, que dirigia algumas das atividades secretas do governo para os judeus soviéticos por trás da Cortina de Ferro, e Eliyahu Eilat (Epstein), um orientalista nascido na Rússia que foi junto com o Presidente ZAlman Shazar em mais do que uma das suas reuniões com o Rebe,e houve algumas vezes em que ele pediu desculpas antes de pedirpara que eu o deixasse a sós com o Rebe.

Um dos homens mais educados a trabalhar para o serviço civil israelense foi Rabi Dr. Yaakov Herzog, e um erudito altamente dotado. Ele atuava com embaixador para os Estados Unidos, bem como para o Canadá, onde ficou famoso por um debate público que teve com o historiador britânico Arnold Toynbee sobre Israel.

Em uma visita a Nova York, ele me disse: “”David, temos de ir até o Rebe,” portanto juntei-me a ele para uma longa audiência que chegou quase até o amanhecer. A conversa entre eles era profunda e fascinante, abrangendo uma ampla gama de assuntos, Torá e outros, incluindo seu recente debate com Toynbee.

Foi interessante ver como o Rebe sempre sabia exatamente com quem estava falando e ele se comunicava no próprio idioma deles. Quando ele falou com Avraham Krinitzi, o carismático prefeito e fundador de Ramat Gan, em vez de discutor Torá ou história judaica, ele perguntou sobre esforços na construção de prédios em Israel e o crescimento de sua cidade em particular. “Eu soube que muitos judeus iraquianos se instalaram ali,” ele disse. “Eles sem dúvida irão contribuir com o crescimento da cidade.”

Uma das pessoas mais proeminentes que jamais tive o privilégio de acompanhar até o Rebe foi Moshe Sharett, o ex- Primeiro Ministro. Foi durante o Julgamento de Eichman, e uma das coisas que eles discutiram em sua longa conversa foi o assunto da lembrança do Holocausto.

O Rebe enfatizou a importância dessas iniciativas, destacando que a memória do Holocausto servia como “um guia pra nossos tempos, para a contínua sobrevivência do povo judeu.” Porém, referindo-se ao doloroso desrespeito da tradição judaica e partes da sociedade israelense, ele acrescentou: santificar a memória do Holocausto é importante, mas há necessidades de tomar a mesma atitude pelo o que é sagrado no Judaísmo, para fortalecer Torá e mitsvot – a rocha do nosso povo.”

Quando saímos, Sharett estava imerso em seus pensamentos.

“Ele sem dúvida é uma pessoa muito impressionante,” falou para mim. “Preciso refletir muito sobre o que ele me disse.”

Foi minha grande sorte ter estado em contato tão próximo com o Rebe, uma figura central do Judaísmo Americano com influência mundial, e que possuía uma profunda preocupação pela Terra e pelo povo de Israel. Não era surpresa que todos queriam encontrar o Rebe. Eles eram curiosos sobre o segredo da sua influência, e queriam comprovar por si mesmos o que todos estavam falando: seus olhos azuis e sorriso radiante, suas maneiras refinadas, o respeito que ele demonstrava por todas as pessoas, e as palavras sábias que ele tinha para dizer.