Seja no início ou na conclusão da leitura da Torá (dependendo se você segue o costume sefaradita ou askenazita), alguém ergue o rolo de Torá aberto e lentamente se volta para sua direita e esquerda para mostrar o manuscrito para toda a congregação. Isso é conhecido em hebraico como hagbá.
Enquanto isso, a Congregação olha para o manuscrito ao mesmo tempo que recita “ Vezot haTorah (“E esta é a Torá que Moses colocou perante os filhos de Israel...”)1 bem como outros versos, dependendo do costume.2
Além disso, alguns apontam para a Torá com o dedo enquanto recitam os versos. Alguns usam o dedo indicador, enquanto outros usam seu dedo mindinho para apontar, o que muitos acreditam ser um costume sefaradita.
Quais são as origens e as razões por trás desse costume?
Como veremos, a maioria das fontes fornece explicações sobre o uso do dedo indicador. O uso do dedo mindinho parece ser um fenômeno relativamente novo.
Primeira Menção – Expressão de Amor
A primeira menção3 desse costume parece ser a resposta de Rabi Mordechai Krispin (cerca de 1730), que atuava como rabino da Ilha de Rodes.4 Ele encontra apoio e justificativa para o costume no Midrash,5 que declara que, ao contrário de apontar para uma imagem de um rei de carne e osso – que é considerado insolente e é punível com a morte – quando as crianças chegam ao beit midrash (sala de estudos) e apontam para o nome de D'us, D'us considera o ato da criança “elevando-se acima de D'us” uma expressão de amor. Ele conclui que as pessoas confiam neste Midrash para apontar para a Torá durante a hagbá.
Louvor a D'us e a Torá
O Rabino Chaim Palachi (1788-1868) explica que a razão pela qual alguns apontam especificamente com o dedo indicador está baseada numa série de declarações de cinco palavras no Salmo 19 em louvor à Torá, começando com “[A] Torá [do] Senhor [é] perfeita, restaurando [a] alma...6
Em cada uma dessas declarações, o Nome de D'us é a segunda palavra. Como a própria Torá é considerada “o Nome de D'us,” é adequado usar o segundo dedo – que corresponde ao Nome de D'us – quando apontamos para a Torá. Ele acrescenta que essa é também a razão pela qual, durante a cerimônia de casamento, há um costume de colocar o anel no dedo indicador da noiva (e não no “dedo anelar”) pois este dedo corresponde ao Nome de D'us.7
“Esta” é a Torá
Alguns explicam 8 que o motivo para apontar pode estar ligada com a declaração do Talmud de que quando o versículo diz Zé (“isto”), indica algo tão visível que a pessoa pode apontar para ele com seu dedo.9 Assim, quando declaramos “Essa é a Torá” apontamos com nossos dedos.
Apontando Com o Mindinho
Então onde entra o dedo mindinho?
A fonte mais antiga que menciona apontar com o mindinho é a antologia Me’am Lo’ez da Torá. Essa parece ser uma fonte ainda mais antiga do que o responsum do Rabino Mordechai Krispin mencionado acima, uma vez que o Me’am Lo’ez foi escrito por Rabino Yaakov Culi (falecido em 1732). Infelizmente, porém, o Rabino Culi faleceu antes que pudesse terminar sua obra. A seção em Devarim 10 que menciona o costume de apontar para a Torá com o mindinho parece ter sido acrescentada muito mais tarde pelo Rabino Shmuel Kroizer (1921-1997).11
Isso não apenas significa que é uma fonte relativamente recente, mas também que, apesar da concepção de que este é um costume sefaradita, a fonte mais antiga para apontar com o mindinho é registrada por um rabino askenazita.
Apesar disso, várias explicações contemporâneas têm sido oferecidas sobre por que usar o mindinho para apontar.
613 Mitsvot
A palavra hebraica para “o mindinho”, hazeret, (הזרת), tem o valor numérico de 613 (se você incluir a palavra como um todo como parte da contagem). Assim, apontar com o mindinho indica a Torá, que tem 613 mitsvot.12
Humildade
Alguns explicam que o dedo menor é usado para demonstrar que a Torá somente é adquirida através da humildade.13
Audição
Cada um dos cinco dedos está associado a um dos cinco sentidos, e dedo mindinho é associado com o sentido da audição.14 Assim, alguns explicam que o apontamento do dedo é para refletir a declaração do Povo Judeu de Naassê vê Nishmá, “Faremos e ouviremos”, na Outorga da Torá no Monte Sinai. Com essa declaração, afirmamos que iremoss seguir a Torá mesmo antes de necessariamente entendermos tudo.15
Respeito
Alternativamente, alguns explicam que, como apontar com o dedo indicador pode não ser visto como respeitoso, o mindinho é usado em seu lugar.16
Lendo a Torá Durante a Hagbá
Alguns conjecturam que o costume de apontar pode ser atribuído ao Rabino Yitzchak Luria, o Arizal, que se aproximava da Torá para que ele pudesse realmente ler as letras, o que, segundo ele, atrai uma “grande luz espiritual”.17
Assim, apontar para a Torá pode simplesmente ser uma maneira de focar visualmente nas palavras.18
Beijando a Torá
Alternativamente, alguns levantam a hipótese de que o costume de apontar veio da prática de estender a mão para beijar o Rolo da Torá enquanto se dirigia para a bima, o pódio de leitura. Nem todo mundo estava perto o suficiente para realmente tocar a Torá, e alguns apenas estendiam a mão e então a beijavam como uma maneira de “beijar a Torá.”
Apontar durante a hagbá se alinharia assim com o costume sefaradita de fazer hagbá exatamente quando o Rolo da Torá chega ao pódio e antes que a Torá seja realmente lida.19
Na Época da Redenção
Como você pode ver, apontar para a Torá não é um costume universal e suas origens não são totalmente claras.
No entanto, encontramos no Talmud (como alguns que discutem esse costume apontam 20), que haverá um tempo em que os justos irão apontar.21
Ulla da cidade de Bira’a citou o Rabino Elazar: no futuro, D'us organizará uma dança dos justos, e Ele estará sentado entre eles no Jardim do Éden, e cada um deles apontará para D'us com o dedo, conforme está escrito: “E será dito naquele dia: ‘Eis, este é Este é o nosso D'us, por quem esperávamos para que nos salvasse. Este é o Senhor, por quem esperamos. Nós ficaremos alegres e nos rejubilaremos em Sua salvação.’”22
Que seja rapidamente em nossos dias!
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