Ninguém nunca me disse como me vestir. Nunca tive uniforme escolar. Meus pais nunca comentavam meus looks, mesmo quando eu passava por uma fase chique (ou não tão chique) de brechós. Eu apenas seguia o fluxo, vestindo o que era confortável ou com estilo. Mesmo quando comecei a me tornar mais religiosa, todas as manhãs eu tinha a opção de vestir calça ou saia.

No último ano da faculdade, minha rotina passou a ser usar meus vestidos velhos, de qualquer comprimento, com jeans por baixo. As pessoas pensaram que eu estava lançando moda, mas na verdade eu estava um pouco em conflito.

Encontrei-me presa no meio de um dilema que hoje é ainda mais premente. No seu cerne está a seguinte questão: Qual é o papel do vestuário de uma mulher na forma como a sociedade se relaciona com ela e como ela se relaciona com a sociedade?

Eventualmente, aprendi que o pensamento judaico tem uma resposta clara para esta questão. Existe uma noção comum de que você deve “vestir-se para o sucesso” ou “vestir-se para seu papel”. Um cirurgião usa um uniforme, um jogador de baseball usa capacete e protetores e uma mulher judia veste roupas dignas de uma princesa. Pode parecer engraçado, mas as mulheres judias são consideradas filhas de D’us . Se D’us é o “Rei” do mundo, então somos princesas.

Isso não significa que podemos agir como pessoas mimadas ou arrogantes; significa que devemos nos comportar com dignidade e propósito. Nosso papel no mundo é atrair a santidade para lugares sombrios. Num mundo tão focado na fisicalidade, incluindo a objetificação dos corpos das mulheres, é uma afirmação poderosa vestir-se de uma forma que combata isso. Vestir-se modestamente não reflete apenas a nossa missão, mas é uma parte fundamental dela. Através das nossas escolhas de vestuário, mostramos ao mundo que o valor de uma mulher vem de dentro – não apenas da sua aparência e, especialmente, não da sua sexualidade.

Se a roupa é uma linguagem, então o que eu realmente quero dizer?

Sempre senti que minhas roupas eram uma forma de me expressar. Se a roupa é uma linguagem, então o que quero dizer?

Quando eu estava na faculdade, as meninas costumavam usar camisas ou moletons com as letras de suas organizações. Elas tinham orgulho de pertencer a algo e queriam exibi-lo. Quando comecei a me vestir modestamente, senti orgulho da afirmação que estava fazendo. Eu sou parte de algo. Eu represento algo maior do que eu mesma.

Uma camisa de manga comprida, especialmente no verão, é uma afirmação que diz: “Eu valorizo minha conexão com D'us em vez de me adaptar aos tempos, mesmo que nem sempre seja confortável”. Ainda uso roupas da moda e gosto de fazer compras, mas usar o critério de modéstia se enquadra nas minhas escolhas de indumentária através de lentes judaicas.

Dois aspectos de roupas discretas têm forte impacto. Uma delas é facilmente adaptável por qualquer pessoa: simplesmente vestir-se com mais recato. Revelar menos pele significa que você está mostrando aos outros que seu corpo é algo secundário considerando em primeiro lugar as suas características internas. Mesmo que o Judaísmo valoriza a beleza externa e da mesma forma que somos encorajadas a “embelezar uma mitsvá ” como adquirir uma menorá de prata ou uma capa para envolver a Torá que seja bordada em um nobre tecido. No entanto, essa beleza vem para honrar aquilo que é precioso, e não para expô-lo.

O segundo aspecto é mais específico. A lei judaica tem diretrizes para vestimentas modestas – tanto para homens quanto para mulheres – que são exclusivas do judaísmo. Algumas delas se desenvolveram ao longo de milhares de anos de vida em diferentes culturas.

O valor de uma mulher vem de dentro

A vestimenta judaica para homens envolve vestimentas religiosas externas, como kipá e tsitsit. A vestimenta judaica para mulheres envolve o uso de roupas que cubram a clavícula, cotovelos e joelhos. Para as mulheres judias casadas, cobrimos o cabelo com peruca, lenço ou chapéu. Este é o nosso uniforme e a nossa afirmação.

Dependendo da comunidade a que as pessoas pertencem, há mais ou menos flexibilidade na forma como aderem a estas estruturas, mas quase sempre nota-se que são nitidamente judeus. Dessa forma, sua vestimenta revela seus valores e abre caminho para se conectar facilmente com outras pessoas que compartilham as mesmas crenças.

As escolhas de roupas são uma parte fundamental da autoimagem e da imagem pública de uma mulher.

Você está consciente da afirmação que está fazendo?

Do ponto de vista judaico, a roupa é muito mais do que o tecido que você usa para cobrir o corpo. Ela é uma linguagem e, mais profundamente, uma revelação do seu próprio ser.