A cidade israelense de Sderot não é de forma alguma estranha à tragédia.

Desde 2001, mais de 10.000 foguetes foram disparados contra civis por terroristas baseados em Gaza. Durante o massacre de 7 de outubro perpetrado pelo grupo terrorista Hamas, que deixou 1.400 israelenses mortos, 4.500 feridos e até 240 sequestrados para Gaza – terroristas se infiltraram em Sderot massacraram 45 pessoas a sangue frio, invadiram uma delegacia de polícia e lançaram mais de 100 foguetes sobre civis.

Após os ataques do Hamas, Israel realocou cerca de 200 mil pessoas do norte e do sul de Israel, em uma evacuação em massa, consequência da violência brutal do Hamas, deixando cidades e aldeias quase desertas.

Com uma população pré-guerra de 31.000 habitantes, Sderot agora vê um vazio sinistro em suas ruas, a habitual movimentação de pessoas vivendo suas vidas foi substituída pela guerra a poucos quilómetros de distância, no norte de Gaza.

No entanto, nem todos optaram em ir para os hotéis que acolhem os que tiveram que ser evacuados da zona de maior risco. Das cerca de 6.000 pessoas que ainda residem na cidade, algumas são idosas e fracas para viajar, algumas estão doentes e poucas mas corajosas optaram por permanecer em suas casas. Para ajudar os residentes a se adaptarem à nova realidade, o Chabad-Lubavitch de Sderot imediatamente entrou em ação para apoiar a comunidade tanto a nível espiritual quanto logístico.

Até essa data, os voluntários do Chabad recolheram e distribuíram mais de 200 toneladas de alimentos e ajudaram a alimentar 5.000 famílias, incluindo soldados, em área mais ampla.

“Nossos dias aqui começam cedo e terminam muito tarde”, declara o sheliach Rabino Asher Pizem, diretor do Chabad-Lubavitch de Sderot . “É nosso dever ajudar todas as pessoas que pudermos. É por isso que estamos aqui."

Rabino Asher Pizem ao lado de soldados das FDI que seguram seus novos pares de tefilin, presenteados pelo Chabad de Sderot. - Foto: Chabad de Sderot
Rabino Asher Pizem ao lado de soldados das FDI que seguram seus novos pares de tefilin, presenteados pelo Chabad de Sderot.
Foto: Chabad de Sderot

De Sinagoga para Armazém

O Beit Chabad de Sderot foi fundado pelos pais do Rabino Asher Pizem, Rabino Moshe Zeev e Sima Pizem, em 1985. Numa sociedade que por vezes parece fragmentada, eles, assim como Chabad em todo Israel, tem servido às suas comunidades em todos os momentos como um farol de esperança e ajuda ao mais amplo espectro de pessoas.

Nos primeiros dias após a guerra, quando os terroristas ainda estavam à solta no sul, os Pizem priorizaram o bem-estar espiritual das vítimas e ajudaram a organizar minyanim em funerais e visitaram muitos que estavam de shivá [período de sete dias de luto].

Assim que os soldados começaram a se mobilizar na fronteira, Chabad ativou mais voluntários e começou a fornecer às FDI centenas de pares de tefilin e mezuzot para garantir que eles não estivessem apenas prontos para a batalha do ponto de vista físico e espiritual.

Naqueles dias de caos e incerteza, muitos soldados precisaram com urgência de equipamentos básicos de combate e o Chabad intensificou campanhas para a arrecadação de fundos, com a ajuda de doadores internacionais, garantindo o tão necessário equipamento antes dos soldados entrarem em Gaza.

“No que nos diz respeito, os soldados da FDI e os civis são um só”, explica o jovem Pizem. “É nossa responsabilidade dar-lhes tudo o que precisam.”

Como resultado, o próximo componente importante da operação massiva de Chabad envolveu a conversão do Beit Chabad num armazém para receber artigos essenciais, onde soldados e civis poderiam vir e obter gratuitamente o que precisavam. Uma breve visão das instalações mostra intermináveis fileiras de caixas, transformando o centro judaico e a sinagoga em um balcão único onde as pessoas podem acessar tudo o que precisam para superar estes dias difíceis.

Um jovem voluntário em Chabad de Sderot ajuda um homem a adquirir o que necessita. - Foto: Chabad de Sderot
Um jovem voluntário em Chabad de Sderot ajuda um homem a adquirir o que necessita.
Foto: Chabad de Sderot

Trabalho Conjunto

O trabalho da família Pizem na cidade é resultado de um esforço de gerações: Rabino Moshe Zeev Pizem, Rabino Asher Pizem e seu filho de 9 anos, Avrami, passam inúmeras horas no centro Chabad todos os dias garantindo que todos na comunidade recebam tudo que precisam.

Com muitos israelenses na reserva, a falta de mão de obra significa que a ajuda do pequeno Avrami como voluntário em seu armazém improvisado é realmente necessária.

“Temos apenas um pequeno grupo de voluntários, mas todos que vêm ajudar realizam um trabalho significativo”, acrescenta Pizem.

Na maioria dos dias, os voluntários do Chabad recebem listas de compras de famílias necessitadas e organizam diligentemente as caixas para entrega, muitas vezes usando capacetes e coletes de proteção para o caso de um foguete cair muito próximo. Na verdade, em 9 de outubro, um foguete caiu no pátio do Beit Chabad, quase atingindo o idoso Pizem, que correu para dentro segundos antes da explosão.

Outro desafio para a organização é o fato de o sul de Israel – embora muito mais calmo do que no início da guerra – ainda ser um lugar muito arriscado. “Toda vez que saímos para fazer algo, sabemos que há um risco”, diz o rabino Asher Pizem. Sderot está tão próximo de Gaza que os habitantes da cidade mais visada de Israel sabem muito bem que têm apenas 12 segundos para procurar abrigo. “Encontrar abrigo naquele lugar com as mãos cheias de suprimentos não é fácil.”

Pizem explica o alcance do trabalho de Chabad na cidade: “Recebemos uma quantidade enorme de solicitações e é um desafio acompanhar tudo”, diz ele. “Não estamos apenas ajudando os residentes de Sderot, mas também outros residentes que moram perto de Gaza e soldados que estão acampados na área. Há uma grande demanda. Esta é uma situação difícil e estamos fazendo tudo o que podemos para tornar as coisas um pouco mais fáceis para todos.”

Rabino Asher Pizem avalia os danos. Mais de 10.000 foguetes foram disparados por terroristas em Gaza, para Sderot, Israel, desde o início dos anos 2000. No dia 7 de Outubro, quando os terroristas do Hamas entraram em Israel com o objetivo de massacrar judeus, assassinaram pelo menos 45 homens e mulheres em Sderot. - Foto: Chabad de Sderot
Rabino Asher Pizem avalia os danos. Mais de 10.000 foguetes foram disparados por terroristas em Gaza, para Sderot, Israel, desde o início dos anos 2000. No dia 7 de Outubro, quando os terroristas do Hamas entraram em Israel com o objetivo de massacrar judeus, assassinaram pelo menos 45 homens e mulheres em Sderot.
Foto: Chabad de Sderot

Escapando de um pesadelo

Para aqueles que não conseguem acessar o armazém por motivos físicos, é aí que entram voluntários como Racheli Lahav, nascida em Sderot, levando itens essenciais direto para a residência das pessoas. Lahav é uma das voluntárias do Chabad que ajuda a atender à alta demanda. Professora de história do ensino médio, ela é uma daquelas almas intrépidas que permanece em sua cidade natal e apoia outros que fizeram o mesmo ou estão retornando gradualmente.

“É claro que nunca julgaria ninguém, mas penso que foi um erro evacuar toda a população em massa”, diz Lahav, alegando que a situação hoteleira para muitos é caótica e que estas comunidades próximas de Gaza deveriam concentrar-se na sua reconstrução agora.

“Todos fazem o que é certo para eles, mas para mim, esta é a minha casa e não ficarei intimidada em deixá-la”, proclama ela, acrescentando que já percebe sinais de vida chegando à cidade que já provou muito trauma antes mesmo do ataque de 7 de Outubro.

Em 9 de outubro, um foguete do Hamas caiu no pátio do Beit Chabad de Sderot, atingindo por pouco o principal emissário da cidade, Rabino Moshe Zeev Pizem. - Foto: Chabad de Sderot
Em 9 de outubro, um foguete do Hamas caiu no pátio do Beit Chabad de Sderot, atingindo por pouco o principal emissário da cidade, Rabino Moshe Zeev Pizem.
Foto: Chabad de Sderot

“Escolhi ficar aqui e ser voluntária”, disse Lahav. “Acho que é importante fornecer apoio a esta comunidade em dificuldades que ficou para trás, especialmente aqueles que estão fracos e enfermos.”

Lahav se sente especialmente compelida a se voluntariar devido ao seu quase encontro com a morte. “Moramos em um apartamento com jardim e duas entradas. Eu estava sentada quando literalmente tínhamos terroristas patrulhando a área nos fundos da minha casa”, lembra ela. “Por alguma razão, não ouvi nenhuma comoção e, eventualmente, voltei para dentro e retomei o resto do feriado normalmente.”

Mais tarde, quando ligou o telefone e viu a notícia do que havia acontecido ao seu redor e em toda a região, começou a soluçar incontrolavelmente. “Chorei por uma semana; simplesmente não parava”, diz ela. “Decidi que não poderia mais chorar e que precisava realmente fazer alguma coisa, não apenas para ajudar minha comunidade, mas como uma forma de agradecer a D'us por ter poupado minha vida.”

Hoje, ela trabalha em estreita colaboração com a equipe de voluntários do Chabad para entregar caixas de refeições quentes e remédios aos moradores do sul. Das 14h até tarde da noite, Lahav dirige com o filho para fazer entregas em ritmo acelerado. “Todos aqui estão passando por um dos estágios de luto”, acrescenta ela. “Para mim, colocar-me lá fora e elevar o moral das pessoas, para enfrentar o dia seguinte, é a única maneira de sair deste pesadelo vivo.”

O rabino Moshe Zeev Pizem, sheliach Chabad de Sderot desde 1985, auxilia soldados com tefilin em sua sinagoga na cidade fronteiriça.
O rabino Moshe Zeev Pizem, sheliach Chabad de Sderot desde 1985, auxilia soldados com tefilin em sua sinagoga na cidade fronteiriça.

Esse tem sido o lema de Chabad de Sderot há décadas: concentre-se não na escuridão, mas em realizar o bem ao seu redor, sempre continuando a crescer, transformando assim a escuridão em luz.

Na verdade, todos os anos, em Chanucá, Chabad acende uma menorá gigante feita da sucata de foguetes Kassam que explodiram em seu pátio, onde permanece para que todos possam ver pelo resto do ano.

“Todos os dias rezamos para que a guerra acabe”, diz o Rabino Pizem mais velho. “Enquanto isso, há muito trabalho a ser feito.”