Uma das mitsvot mais intrigantes da Torá é a cerimônia de eglá arufá (“bezerro decapitado”), realizada quando uma pessoa desconhecida foi assassinada e encontrada no campo e o assassino era desconhecido.1
Após a descoberta, o cadáver era deixado em seu lugar e cinco anciãos do Sanedrin (Tribunal Superior) vinham e mediam a distância do cadáver até as cidades ao redor para determinar qual era a mais próxima. Mesmo que a resposta fosse óbvia, era uma mitsvá medir. Depois que a cidade mais próxima era estabelecida, o cadáver era enterrado no local em que foi encontrado e os representantes do Supremo Tribunal retornavam a Jerusalém.
Então os membros da corte da cidade designada levavam um bezerro que nunca havia trabalhado ou carregado um jugo, pago por todos os habitantes da cidade, para o meio de um rio.
O bezerro era decapitado por trás com um cutelo. Então os membros da corte, juntamente com todos os anciãos da cidade, lavaram as mãos naquele local.
Então, no meio do rio, os anciãos declaravam: “Nossas mãos não derramaram esse sangue, nem vimos isso com nossos olhos.”2
Em outras palavras, eles não deixavam esse viajante assassinado sair de sua cidade sem provisões para o caminho, nem o deixaram sair sem acompanhamento.
Os Cohanim que estavam presentes então falavam o versículo: “Expia por tua nação Israel …”3
Depois que a cerimônia de eglá arufá era concluída, D'us concedia perdão aos habitantes da cidade, como continua o versículo acima: “E o sangue será expiado”.
Isso, é claro, não absolve o agressor de ser levado à justiça se for pego.
Era proibido cultivar ou plantar na área em que a cerimônia de eglá arufá era realizada.4
Uma Cerimônia Chocante
Se esta cerimônia soa um pouco chocante para a sensibilidade de alguém, esse é exatamente o ponto! Os comentaristas explicam que um de seus propósitos subjacentes era angariar muita publicidade, o que ajudaria a identificar e capturar o assassino.5
Responsabilidade Comunitária
Outra razão dada para esta cerimônia é ensinar a responsabilidade comunitária. Os anciãos declararam que eram inocentes e que “suas mãos não derramaram este sangue . . .” É claro que eles não poderiam fazer tal declaração diante de D'us a menos que tivessem certeza de que esse era realmente o caso. Isso mostra que somos responsáveis até mesmo por um simples viajante desconhecido.6
Por Que um Bezerro Que Nunca Recebeu Jugo Sobre si? Com base no exposto, podemos entender alguns dos detalhes também. O Rabino Don Isaac Abarbanel explica que um bezerro é usado porque o povo judeu é comparado a um bezerro.7 O bezerro jovem e que nunca havia trabalhado simboliza uma pessoa jovem, inocente e livre de pecado, e essa pessoa foi assassinada sem qualquer culpa.8
Outra razão interessante dada para usar especificamente um bezerro jovem é que a palavra hebraica para “bezerro”, eglá (עגלה), tem o mesmo valor numérico (107) que “Inferno”, Gehinom (גיהנם). Além disso, a palavra עגלה é um acrônimo para o maior dos pecados: עבודה זרה (idolatria); גילוי ערוית (pecados sexuais como adultério, incesto, etc.); לשון הרע (“língua maligna”); הריגה (assassinato). Assim, esta cerimônia também serve como expiação para os habitantes por um crime tão terrível ter sido cometido perto de sua cidade.9
Por Trás de um Rio Furioso
Um rio de água potável que sacia a sede e dá vida representa a Torá, simbolizando que este ato ocorreu perto de uma cidade onde a Torá foi estudada. 10 De fato, quando eles mediam para averiguar qual a cidade que era mais próxima, eles mediam apenas para uma cidade que tivesse um tribunal completo formado por 23 juízes eruditos, cada um dos quais era um rabino ordenado (capacitado de julgar a pena capital). 11
E, no entanto, esse ato horrível ocorreu e essa pessoa foi morta sem motivo, sem nenhum julgamento.
Assim, o bezerro é decapitado por trás, pois essa pessoa foi morta em sigilo.12
Proibição de Arar a Terra
Como era proibido cultivar o solo onde acontecia a cerimônia de eglá arufá, o proprietário daquela área era estimulado a fazer um esforço extra para encontrar o autor. Afinal, a cerimônia de eglá arufá só é feita se a identidade do perpetrador for desconhecida.13
O Bem Estar Espiritual dos Outros
O Rebe nos ensina uma profunda lição das leis do eglá arufá. Um cadáver simboliza aquele que está morto e separado do divino. A razão para isso é que ele é “encontrado no campo”, ou seja, ele não está em um lugar de Torá e Judaísmo. Mesmo maiores líderes, os membros do Sanedrin, são obrigados a sair aos campos para retificar a situação e garantir que todos estejam conectados à Torá, que é comparada à “árvore da vida”.14
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