Rebe Elimelech de Lizhensk (1717-1787) foi um antigo mestre chassídico cujo poderoso exemplo estabeleceu um modelo para liderança inspirada que se tornou padrão nas cortes chassídicas na Polônia e Galícia.
Ele e seu irmão, Rebe Zusha de ANipoli, eram devotados alunos do Maguid de Mezrich, que liderou o movimento chassídico após o falecimento do Baal Shem Tov.
Reverentemente citado como “o Rebe, Rabi Elimelech”, e um guia espiritual para muitos milhares, ele era um “rebe dos rebes” Entre seus alunos havia alguns dos líderes mais influentes da geração seguinte: Rabi Yaakov Yitzchak, o Chozê (“vidente”) de Lublin; Rabi Avraham Yehoshua Heshel, o Ohev Yisrael (“amante dos judeus”) de Apta; Rebe Yisrael Hopsztajn, o Maguid de Koznitz; e Rebe Mendel de Riminov. Cada um desses alunos tinha muito dos seus próprios alunos que também se tornaram rebes; e nessa maneira, sua abordagem e ensinamentos se espalharam pela Polônia e além dali.
Os ensinamentos de Reb Elimelech estão colocados em seu livro, Noam Elimelech, um clássico do pensamento chassídico, destacando sua ênfase sobre o Rebe e seu papel em pastorear seu rebanho e interceder em prol deles. Até hoje, milhares visitam seu túmulo em Lizhensk, na Polônia, especialmente em seu yahrtzeit, 21 de Adar.
O Legado de Sua Mãe
Muitas histórias são narradas sobre R. Eliezer Lipa e Mirel, que foram abençoados por terem Rebe Elimelech como seu filho. O Rebe Anterior contava a seguinte história:1
Mendigos iam à casa de Reb Eliezar e Mirel e pediam se podiam tomar banho ali. Os dois aqueciam água para eles. Um dos mendigos era um leproso com feridas sobre toda a pele, e os outros mendigos se recusaram a ajudá-lo a tomar banho.
Mirel teve pena desse mendigo e ela o ajudou entregando a ele os unguentos e roupas que precisava.
O mendigo disse a ela:
“Como você me ajudou tão devotadamente, darei a você minhas bênçãos para que tenha um filho que seja como eu!”
Aquela era a última coisa que Mirel queria ouvir. Mas de repente, o grupo inteiro milagrosamente desapareceu.
Ela entendeu que essas eram pessoas especiais, sagradas. Um ano depois, Elimelech nasceu.
Amor ao Próximo
Nascido pelo mérito da bondade, os ensinamentos de Reb Elimelech enfatizam a mitsvá de amar o próximo.
Uma prece que ele compôs inclui a linha: “Coloquem em nossos corações que todos deveriam ver as qualidade do seu próximo, e não seus defeitos.”
O aluno de Rebe Elimelech, Reb Zecharyah Mendel de Shedisnshov, descreveu o amor que existia entre seus alunos, que é certamente devido à influência de Rebe Elimelech: “Há muito amor entre eles. O amor é maior que o amor que um pai tem pelo seu filho ou o amor que um marido tem pela esposa. Eles são totalmente um; eles praticamente partilham a mesma carteira. Eles amam os filhos de seus amigos como deles mesmos, e pessoas quase não são capazes de discernir quem são os pais...2
O filho de Rebe Elimelech escreveu:
“Meu pai constantemente abençoava judeus, e ele era moser nefesh para eles o tempo todo...”
Seu ahavat Yisrael era um ponto principal em sua vida; atos de bondade e rezar pelos outros era como ele servia a D'us.
O Chamado à Teshuvá
Cedo numa manhã, o Maguid de Mezerith disse a Rebe Elimelech:
“Você ouviu a mensagem proclamada no céu? Eles disseram que e mitsvá de amar o seu próximo é amar um rashá (pessoa perversa) assim como você ama um tsadik (pessoa justa). Um tsadik pode levar... as pessoas à teshuvá, e um minyan dos alunos do tsadik pode levar um grande rashá à teshuvá.”
Reb Elimelech repetiu essa conversa com outros alunos do Maguid, e eles estavam estudando a lição com profundidade quando um rashá entrou. Ele os ouviu dizerem que poderiam influenciar um rashá a fazer teshuvá, e ele riu: “O que vocês estão falando? Teshuvá? Eu? Nunca!”
Enquanto ele zombava deles, os alunos rezavam com lágrimas, entoavam Salmos, e imploravam a D'us para erguer o homem a retornar para os caminhos da Torá.
E na verdade, ele teve uma mudança no coração e fez teshuvá completa.3 Rebe Elimelech e seu irmão, Rev Zusha, com frequência viajavam de cidade a cidade para levar as pessoas à teshuvá.4
De fato, Rebe Shalom (o “Shaar Shalom”) de Belz disse: “A teshuvá que as pessoas fizeram, atualmente fazem e farão é inspirada por Reb Elimelech.”5
O Condutor de Trem
Um motorista de trem estava certa vez levando chassidim até seu Rebe, e disse a eles:
“Anos atrás, quando Elimelech estava vivo, eu levei chassidim até ele neste mesmo vagão.”
Os chassidim se encolheram quando ouviram o motorista pronunciar o nome de Rebe Elimelech sem usar o título apropriado. O motorista era uma pessoa simples, ignorante, e ele não sabia como respeitar adequadamente os tsadikim.
“Eu estava curioso para saber o que este Rebe é, portanto fui vê-lo na sexta-feira à noite,” ele continuou. “As preces eram muito enérgicas, e eu não entendia por que todos estavam tão empolgados. O talit caiu da cabeça de Elimelech e eu vi seu pescoço; estava vermelho como uma beterraba. Eu pensei: “Oh, então é isso! O Rebe provavelmente bebeu uma garrafa inteira de vodca!”
“Mas então o Rebe voltou-se (ao final de Lecha Dodi) eu vi que sua face estava branca como a dos mortos. Eu não pude entender. Se o Rebe bebera tanto, e seu pescoço estava tão vermelho, por que seu rosto estava tão branco? Vou dizer a verdade a vocês: até hoje não entendo isso.” E então, o motorista disse com uma voz partida, emotivo e com lágrimas escorrendo pela face: “Mas quando Elimelech cantou Lecha Dodi, era algo para se ouvir.” O motorista cantou para eles a canção que ouvira Rebe Elimelech cantar 50 anos antes.
Os chassidim no vagão disseram uns aos outros: “Isso nos mostra a habilidade de Rebe Elimelech de levar as pessoas à teshuvá (retorno). Olhe como este simples judeu chora quando se lembra de uma canção que Rebe Elimelech cantou cinquenta anos atrás.”
Repreensão
Rebe Elimelech conseguiu repreender as pessoas, certificando-se de nunca condescender ou humilhá-las. Uma maneira de fazê-lo foi contando histórias, que continham mensagens direcionadas a cada indivíduo em particular presente.
Certa vez, o Rebe Elimeleque estava do lado de fora de sua casa contando uma história, e muitas pessoas se reuniram para ouvir. Cada pessoa sentiu o Rebe falando diretamente com ela, abordando o pecado específico que precisava retificar, e em lágrimas resolvia fazê-lo imediatamente.6
Rebe Elimelech ensinou:
“O caminho do tsadic é repreender a si mesmo, sempre. Ele diz às pessoas que cometeu pecados terríveis. Ele está realmente listando os pecados que outros cometeram, mas quando ele diz que cometeu esses pecados, isso faz com que as pessoas temam a D'us e voltem aos Seus caminhos.”7
Certa vez, em Nikolsburg, muitas pessoas foram ouvir o discurso do Rebe Elimelech, e ele lamentou diante da multidão:
“Elimelech, Elimelech! Lembre-se do pecado que você cometeu naquele dia... E do pecado que você cometeu naquele lugar...”
Foi assim que ele contou aos ouvintes sobre seus pecados, porque eles eram os que haviam cometido esses pecados naqueles momentos e naqueles lugares. Ele não humilhou as pessoas, mas elas entenderam a mensagem e a levaram a sério.8
Em suas próprias palavras:
“Quando um tsadic quer repreender alguém, ele deve falar sobre o pecado na frente de muitas pessoas. Dessa forma, a pessoa [que precisa ouvir essas palavras] as ouvirá.”9
Grandeza para todos
Seu filho, Reb Elazar, escreveu:
“Confio em tudo que meu pai, Reb Elimelech, me diz, porque sei que por todo o dinheiro do mundo, ele não mentiria… Ele disse que uma pessoa pode facilmente atingir ruach hakodesh (revelação Divina), desde que ele seja um estudioso que conheça os comentários da Guemara com Rashi... e se ele conhece com pilpul (em profundidade), melhor ainda.”
Em vez de derrubar as pessoas com dura repreensão, ele as edificou, dizendo-lhes que altos níveis de conexão espiritual estavam ao seu alcance.
Aflições
Antes do Baal Shem Tov começar a ensinar o Chassidismo, as pessoas praticavam regularmente a auto-aflição – jejuns excessivos e até rolar na neve – como parte de seu serviço Divino. Os propósitos dessas aflições eram: (a) ensinar a obediência do corpo, para que ele concordasse em seguir as leis da Torá, (b) purificar o corpo da mancha dos pecados, (c) enfraquecer o yetzer hará, (d) para se proteger da necessidade de ser punido mais severamente do Alto. Mas essa não era a forma de Rebe Elimelech.
“Rebe Elimlech nos ordenou que não jejuássemos, exceto nos jejuns estabelecidos pelos rabinos”, escreveu seu aluno, “porque nos dias de hoje não temos forças para jejuar…”10
Então, como podemos alcançar os benefícios que vêm da aflição?Uma maneira é passar por desconfortos muito pequenos, por exemplo: “Quando uma pessoa quer comer, mas adia a refeição por uma hora ou menos, e enquanto isso ela estuda Torá… …”11
No entanto, o próprio Rebe Elimelech jejuava e afligia seu corpo o tempo todo. Tzadikim disseram: “De Avraham até Rebe Elimelech, ninguém passou por tantas aflições.”12
Rebe Elimelech disse que por causa de sua própria auto-aflição frequente, de agora em diante os outros podem usar auto-desconfortos muito menores para alcançar o mesmo nível espiritual daqueles que costumavam se afligir imensamente.
Humildade
Um oponente do chassidismo perguntou a seu colega, o Alter Rebe: “Você conhece o autor de Noam Elimelech? Ouvi dizer que ele também estudou com seu mestre, o Maguid de Mezritch. Estou curioso, porque tenho o livro dele em minha casa. Eu o mantenho debaixo do banco, sobre o qual me sento.”
O Alter Rebe respondeu: “Posso falar sobre ele. Mesmo se você o colocasse debaixo do banco em vez do livro, ele não protestaria, porque ele é tão humilde.”13
De fato, a humildade do Rebe Elimelech foi verdadeiramente fenomenal. Embora ele rezasse a maior parte do dia com todo o seu coração e alma,14 fosse um gigante no conhecimento da Torá, profundamente sintonizado com a espiritualidade e servindo a D'us com vigor e devoção, ele sempre sentiu que não estava fazendo o suficiente, e que suas intenções não eram puras o suficiente.
Seguem algumas de suas citações, apenas uma amostra de exemplos que mostram a profundidade de sua humildade:
“Eles precisarão criar um novo Guehinom para mim, porque o Guehinom que existe agora não é grande o suficiente para me punir, devido a todos os meus pecados.”15
“Após minha morte, quando estiver diante da corte divina, eles me perguntarão se servi a D'us. Vou responder que não servi a D'us, nem por um momento. O tribunal responderá: ‘Você fala a verdade. Nesse mérito, você pode ir direto para o Gan Eden.'”16
“Gostaria que minha mãe desse à luz uma pedra em vez de mim, porque uma pedra não enfurece D'us, mas eu enfureço D'us.”17
“Já tenho 60 anos e não cumpri uma mitsvá.”18
Uma vez, ele revisou seus atos e sentiu que era a pior pessoa do mundo. Ele estava à beira de adoecer, por causa de sua intensa angústia.
Havia uma garrafa de vinho na mesa. Ele disse:
“Mestre do Mundo! Eu nunca te servi antes, mas vou te servir agora! Eu te abençoarei com todas as minhas forças”.
Ele tomou um copo de vinho e disse a bênção com toda a sua alma. Essa boa ação o reviveu.19
Mesmo enquanto milhares afluíam a ele, pedindo suas orações e bênçãos, ele permaneceu humilde e despretensioso. “Eles estão me contando seus problemas porque a culpa é minha”, dizia ele. “Meus muitos pecados poluíram o mundo, e isso trouxe todas essas tristezas.” E então Rebe Elimelech iria rezar por eles.
Orgulho Sagrado
A humildade é uma virtude essencial, mas também pode levar uma pessoa a assumir falsamente que seus esforços não são valorizados no Alto. Portanto, o “santo orgulho” também é necessário às vezes.
Quando as pessoas pediam ao Rebe Elimelech para rezar, ele dizia a si mesmo: “Posso salvá-lo com minhas preces, e ninguém mais pode”. Ele construiu sua crença de que suas preces eram essenciais.20
O Rebe Elimelech disse certa vez (sobre um decreto do governo opressivo): “O decreto foi estabelecido antes de Elimelech estar no mundo. Mas agora Elimelech está no mundo, e eu não concordo com isso.”
Ele sabia quando ser humilde e quando ter orgulho sagrado.
Temor aos Céus
Tzadikim disseram que o temos aos céus do Rebe Elimelech podia ser comparado ao medo que os anjos têm do céu.21
Muitas preces judaicas começam com as palavras Baruch Atá, “Bendito és Tu”. Quando ele dizia “Baruch”, ele era tomado por tal reverência que não conseguia dizer “Atá”.22
Alegria
Rebe Elimelech uma vez caiu em um prego, e ele mostrou a ferida para sua esposa, para perguntar a ela quão profundo era.
Seu primeiro pensamento foi gritar de angústia, porque era uma ferida muito profunda. Mas ela aprendeu com o marido a importância de manter o bom humor. Então ela se preparou e disse: “Kein ayin hara, você pode colocar um fardo inteiro de feno lá”.
Rebe Elimelech riu e disse que o riso ajudou a curá-lo.23
Histórias de Tzadikim
O Rebe Elimelech escreveu:
“É um bom sinal para uma pessoa quando ela ouve histórias… de tzadikim… e seu coração é inspirado a servir a D'us. Este é um bom presságio de que D'us está com ele.”24
Que as histórias aqui contadas e as lições aprendidas cumpram esse objetivo!
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