A educação financeira é muitas vezes negligenciada pelo sistema escolar e, infelizmente, até por nós, pais. Não quero que meus filhos sejam um dos muitos adultos que, como eu, chegaram à idade adulta com poucas habilidades de gerenciamento de dinheiro e aprenderam lições financeiras principalmente por meio de erros que nos custaram caro. Minha inspiração? Um menino de 11 anos que cresceria para se tornar o sexto Lubavitcher Rebe—Rabino Yosef Yitzchak Schneersohn.
Surpresos? Eu também!
Mas a Torá é holística e impacta todos os aspectos da vida e do caráter de uma pessoa. Assim, não deveria ser surpreendente que em algum lugar na educação de um gigante da Torá devamos encontrar lições sobre gerenciamento de dinheiro. Permitam-me apresentar alguns pequenos detalhes sobre sua infância extraídos de uma antologia de suas palestras,1 lições que pude extrair desses detalhes, bem como algumas perguntas que podemos nos fazer para moldar e desafiar nosso papel como pais nessa área financeira.
É evidente que a educação do Rebe foi muito além do que é trazido aqui, com os elementos financeiros formando nada mais do que uma pequena nota de rodapé na vida desse líder transformador. No entanto, acredito que as lições abaixo fornecem informações valiosas a partir das quais todos podemos crescer.
O pai do Rabino Yosef Yitzchak – o quinto Rebe, Rabi Shalom Dov Ber – costumava dar dinheiro a seu filho por memorizar Mishnayot. Cinco copeques para cada capítulo, para ser exato. O menino costumava dominar um capítulo por dia.
Sua mãe, Rebetsin Shterna Sara, também costumava lhe dar outros cinco copeques por dia, provavelmente por outras razões.
Aos 11 anos, o jovem estudioso acumulou uma pequena fortuna. “À medida que continuei a suar e aproveitar todas as oportunidades para este estudo, minha riqueza cresceu semana a semana”, 2 ele escreveu.
No entanto, o garoto de 11 anos também recordou que houve momentos em sua infância em que a situação financeira da família não permitia que seus pais lhe dessem a habitual “mesada”. 3
Que tipo de decisões financeiras e investimentos ele fez com seu capital? Maiores e melhores do que a maioria de nós conseguiu fazer em uma idade tão precoce!
O jovem Yosef Yitzack Shneerson estabeleceu um fundo de empréstimos livres, seguindo os passos de seus pais justos, que sempre tiveram um papel ativo na assistência às necessidades espirituais e físicas dos judeus oprimidos pelo governo czarista da Rússia.
Embora seu fundo de empréstimo gratuito lhe trouxesse alegria, às vezes resultava em adiar seu próprio investimento pessoal. Não tendo acesso total a todo o seu capital, por ter parte tedo sido emprestado, o jovem Yosef Yitzack teve que fazer trocas:
“Devo primeiro comprar os livros, mesmo que nesse meio tempo eu pudesse conseguir emprestando [livros], ou devo primeiro comprar o relógio, que não podia ser emprestado? Quando a questão foi devidamente ponderada, a balança da minha lógica determinou que o relógio era mais necessário, pois seria mais útil para uma economia de tempo disciplinada.” 4
Embora ele tentasse programar a compra de um item que desejava adquirir com o pagamento esperado do empréstimo, nem sempre ele conseguiu realizar sua compra. Às vezes, os empréstimos não eram reembolsados. O jovem Yosef Yitzchak admite seu desapontamento, apesar de seu grande amor pela mitsvá de tsedaca.
Como sexto Rebe de Chabad, Rabino Yossef Yitzchak ensinou o que aprendeu com seu pai: é “um dever absoluto para cada pessoa passar meia hora todos os dias pensando na educação de Torá de seus filhos, e fazer tudo que estiver em seu poder - e além de seu poder - para inspirar as crianças a seguir o caminho ao longo do qual estão sendo guiadas.”5
A partir dessas anedotas infantis, que lições podemos aprender como pais tentando educar crianças judias no século 21? E que reflexões podemos usar para orientar nossa própria implementação dessas lições?
Aqui segue minha visão:
1. Permita que seus filhos tenham acesso ao próprio dinheiro e tomem suas próprias decisões financeiras.
Não apenas os riscos são menores, mas a aplicação prática garante que as lições sejam aprendidas para a vida. Ter seu próprio dinheiro permite que as crianças pratiquem importantes habilidades na vida que inevitavelmente terão que desenvolver na idade adulta, como separar maaser (dízimos) e decidir para onde vão seus fundos de tsedaca; poupar para adquirir um brinquedo, gadget ou experiência em particular; e gastar em coisas que eles pensaram cuidadosamente (e às vezes não tão cuidadosamente…).
Reflexão para os pais:
Estou oferecendo oportunidades suficientes para meus filhos lidarem com seu próprio dinheiro? Ou a maior parte de sua experiência com dinheiro é usando meu dinheiro, cartão de crédito ou conta da Apple?
Eu comunico diretrizes sobre como o dinheiro é investido em nossa família – exigindo que eles deem o dízimo quando necessário e explicando claramente que tipos de itens são bem-vindos na casa e esperados deles como parte da unidade familiar?
Eu sigo este modelo também? Estou orientando-os com perguntas que eles poderiam considerar para tomar suas próprias decisões, permitindo que eles pensem por si mesmos em vez de oferecer respostas?
2. Forneça um incentivo para o estudo da Torá.
O dinheiro supera um brinquedo ou gadget por todos os motivos listados acima. Quanto ao medo de fornecer uma recompensa tangível para o aprendizado da Torá, a abordagem judaica – claramente declarada por Maimônides e o Alter Rebe – é motivar e reconhecer as realizações de uma criança com elogios e recompensas.
O próprio Rebe Anterior escreve em seus Princípios sobre Educação e Orientação: “Elogios e reconhecimento elevam um aluno, tirando-o de sua situação atual e colocando-o em um patamar mais elevado. E a recompensa na forma de um presente ou gratificação motiva e revigora o aluno, animando-o com o desejo de ascender de nível em nível, tanto nos estudos quanto na conduta.” 6
Reflexão para os pais:
Qual seria uma quantia razoável de dinheiro para recompensar meu filho por ter realizado um avanço em seu estudo de Torá? O que poderia ser um tópico interessante e útil que eu poderia incentivá-lo a se aprofundar?
3. Permita que seus filhos acompanhem os altos e baixos de sua vida financeira.
Se você lidar com os altos e baixos com bitachon e humildade, estará modelando dois dos atributos emotivos mais importantes que eles precisarão ter como gerentes de seu dinheiro durante sua própria jornada financeira. Há mais a ganhar com a transparência sobre uma situação que pode garantir escolhas e compensações diferentes do que escondê-la deles e fazer escolhas por medo de que outros descubram (seus filhos incluídos).
Reflexão para os pais:
Estou sendo claro e aberto sobre as situações financeiras de uma forma apropriada à idade? Estou me esquivando de falar com meus filhos por medo da reação deles?
Prefiro me endividar do que deixar meus filhos saberem que não posso pagar por algo? Tenho tendência a tomar decisões financeiras por medo do que os outros possam pensar, incluindo meus filhos? Meus filhos vêem tensão e se preocupam com uma situação financeira, ou estou transmitindo a eles confiança em D'us?
4. Se você deseja que seus filhos sejam caridosos, dê o exemplo primeiro.
Embora a modéstia seja importante, essa é uma área em que você não precisa mostrar cautela, especialmente quando se trata de educar seus filhos. Embora você não precise fornecer detalhes pessoais sobre os destinatários de sua generosidade, seus filhos devem ser capazes de perceber muito claramente que doar é um valor praticado por seus pais e, por sua vez, esperado deles. Faça elogios por suas escolhas em relação à sua própria caridade.
Reflexão para os pais:
Compartilho com meus filhos tenho uma conta para doação de maaser? Eles me ouvem falando sobre certas instituições de caridade que são importantes para mim e por quê?
Pergunto sobre causas que podem ser importantes para eles e os encorajo a pesquisar aquelas em que demonstram interesse? Eu exijo que eles separem o maaser de seus ganhos como é ordenado por D'us para cada indivíduo judeu?
Eles me veem dando com um sorriso ou criticando aqueles que fazem um pedido?
5. Seus filhos podem lidar com a decepção.
Na verdade, eles aprenderão muito se a decepção for resultado de suas próprias escolhas. Não os prive de experiências valiosas e permita que a própria experiência torne-se a lição, mostrando empatia e compreensão.
Reflexão para os pais:
Eu permito essa experiência não demonstrando raiva ou frustração nas escolhas de meu filho? Eu reajo com empatia e valido seus sentimentos, ou minha reação é dizer “eu avisei” ou repreendê-los por uma má escolha?
Sou grato por eles terem cometido erros agora, quando os riscos são menores, e por verem o valor a longo prazo na oportunidade de aprendizado de hoje?
Eu acredito que eles são fortes e podem lidar com a decepção agora, ou estou tentando resgatá-los, comunicando sutilmente que eles não podem se virar sozinhos?
6. Deixe claro os valores que suas decisões financeiras promovem e apoiam.
Tsedaca, aprendizado de Torá e gerenciamento de tempo para cumprir nossa missão são evidentemente coisas que o Rebe então com 11 anos viu modelados como valores básicos. Reserve algum tempo para pensar sobre os valores que sua família defende e que D'us espera de sua família, e pense em maneiras de garantir que seu dinheiro esteja apoiando esses valores.
Reflexão para os pais:
Minhas decisões financeiras dizem muito sobre o que eu valorizo. Quais são os valores em que estou investindo e ajudando a moldar a formação de meus filhos? Minhas decisões financeiras estão apoiando esses valores?
Nossos filhos estão aprendendo a se relacionar e gerenciar o dinheiro desde muito cedo, quer ensinemos isso intencionalmente ou não. Eles vêem o mundo ao seu redor. Mas principalmente, eles olham para nós – as principais influências em suas vidas. Eles observam e internalizam como falamos e nos comportamos com o dinheiro. Somos educadores de nossos filhos como visto na conexão entre as palavras hebraicas: “pais” (horim), “professor” (moreh), “instrução” (horah) e Torá. Como os encarregados por D'us com sua educação, cabe a nós sermos intencionais sobre as lições de gerenciamento de dinheiro que queremos que nossos filhos internalizem, para que eles possam se tornar adultos responsáveis e auto-suficientes com a mentalidade judaica e hábitos sobre dinheiro adequados.
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