Enquanto eu andava sob a esteira que tínhamos alugado recentemente em nossa casa em Israel, me perguntei como poderia continuar por 20 minutos. Eu queria me exercitar. Eu sei que precisava desesperadamente entrar em forma. Não tenho energia para dar um passeio e o tempo está sempre muito quente ou frio (para mim). Mas não é fácil simplesmente andar no mesmo lugar, se você não tem nada para se distrair.

E então ri para mim mesma ao me lembrar da última vez que tive esse pensamento.

Estava deitada sobre uma placa de aço fria na sala de radiação do Hospital Hadassa Ein Kerem em Jerusalém. O objetivo do tratamento com radiação era reduzir o tamanho do tumor em meu corpo antes da cirurgia para remover o que restava dele.

Eu estive lá seis dias por semana durante várias semanas. Sem exceções. Ficou bem claro para mim que, não importa o quão terrível eu me sentisse, eu precisava receber radiação todos os dias. Se eu estivesse me sentindo muito mal para ir, deveria chamar uma ambulância e, se necessário, eles me hospitalizariam e me levariam da enfermaria todos os dias para o meu tratamento.

Para mim parecia como um carro sem freios - uma vez que o tratamento teve início, ele precisava continua, aconteça o que acontecer; não havia como pará-lo. A quimio, por outro lado, poderia ser alterada, adiada. Em suma, era mais flexível, mas não tanto quanto à radiação.

A radiação durou cerca de 10 minutos. Eu não tinha permissão para me mover e me perguntei como iria passar o tempo.

Eu sei, eu sei ... 10 minutos não é tão longo. Mas quando você ouve um rangido pesado e observa uma máquina enorme se movendo lentamente sobre seu corpo tão de perto, você só quer fechar os olhos, imaginar e se transportar completamente para outro lugar.

No primeiro dia, contei lentamente, sabendo que levaria cerca de 600 segundos. Queria ver até onde conseguiria contar antes que a máquina parasse e os técnicos voltassem. Mas essa não era uma maneira satisfatória de passar o tempo porque eu saberia quanto tempo ainda faltava e fazia o tempo parecer interminável.

Decidi recitar mentalmente alguns capítulos de Tehilim (Salmos) que sabia de cor. Isso foi melhor porque eu os intercalava, então eu nunca tinha certeza de quantos eu poderia recitar em minha mente.

Mas depois de um tempo, decidi que precisava de uma mudança. Então, decidi “escrever” alguns ensaios em minha mente, e apenas esperava lembrá-los quando saísse da mesa e voltasse para o meu computador. Muitos dos meus ensaios, que eventualmente se transformaram em um livro, tiveram seu início naquela temível sala de radiação.

E agora, aqui estava eu, querendo encontrar uma maneira de fazer o tempo passar enquanto me exercitava em uma esteira que há dois anos eu nunca poderia imaginar usar novamente. D'us em Sua bondade me trouxe com segurança durante dois anos de radiação, quimioterapia e cirurgias, bem como meses de debilitante fadiga.

Abri meu laptop e posicionei-o em cima da cama de beliche das crianças, o que o trouxe ao nível dos olhos, e sintonizei um vídeo do workshop. Enquanto ouvia e observava, gradualmente aumentava a velocidade na esteira até estar caminhando em um ritmo razoável e mal percebia o esforço.

Ao sentir o sangue fluindo por meus membros me dando força, não pude deixar de pensar nas pessoas que conheci no setor de câncer do hospital que não estão mais neste mundo - aquelas que sucumbiram à Covid-19 ou ainda sofriam dos efeitos colaterais, e aqueles que foram roubados da convivência com um pai, irmão, marido ou esposa pelo vírus.

Quão pouco sabemos sobre o que D'us tem reservado para nós. Achamos que sabemos tudo sobre todas as doenças possíveis existentes e como evitá-las, minimizá-las ou pelo menos lidar com elas. E então, bum! O mundo é atingido por uma pandemia que desafia todos os nossos conhecimentos médicos anteriores.

Este ano, aprendemos que a medicina não tem todas as respostas. Conforme está escrito no Machzor - teshuvá, tefilá e tsedacá (arrependimento, preces e atos de bondade) - juntamente com a fé e a confiança em D'us precisam ser acrescentadas às instruções do Ministério da Saúde para fazer a verdadeira receita para nós para ser escrito no proverbial “Livro da Vida”. E acrescenta: “Porque neste dia você será perdoado, você será purificado e limpo de todos os seus pecados”.

Que chance incrível nos é dada de começar de novo com nossas lousas limpas de todas as nossas contravenções passadas, nossos erros esquecidos. Não vamos perder esta oportunidade!

Ao pensar no ano passado, sou grata por estar aqui, capaz de fazer exercícios na minha esteira. Este ano, enquanto rezamos (com sorte, seremos capazes de rezar ao ladoe de volta com a nossa comunidade, em vez de sozinhos em casa), D'us ouvirá nossos pedidos sinceros para sermos perdoados e sentirá nossa genuína determinação de tentar e atingir o nosso melhor.