Filho mais velho de uma família judia ortodoxa de Tost, na Alemanha (atualmente na Polônia), Ludwig Guttmann nasceu em 1899 e cresceu ao lado de suas três irmãs.

Aos 18 anos, apresentou-se como enfermeiro voluntário no Hospital para Acidentes com Mineiros, depois de testemunhar um acidente e ficar impressionado. Foi nesse hospital que se interessou pelo caso de um paciente que deu entrada com lesão nas costas e paralisia abaixo da cintura, morto semanas depois por infecção urinária que evoluiu para septicemia.

Com 19 anos, em 1918, Guttmann começou a estudar Medicina na Universidade de Breslau, hoje Wroclaw, na Polônia, onde passou cinco anos. Após uma inclinação para a área de Pediatria, acabou se especializando em Neurologia e Neurocirurgia. Na década de 1930, já era diretor do hospital da cidade e reconhecido no país por seu trabalho, até que subiu ao poder Adolph Hitler em 1933. Impedido de trabalhar livremente pelas pressões exercidas sobre os judeus, Guttmann aceitou convite do governo britânico e mudou-se em 1939 para Oxford com sua esposa, Else, e dois filhos pequenos, Dennis e Eva. Lá desenvolveria projetos de pesquisas.

Após a eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939, o governo britânico decidiu se preparar para um contingente maior de soldados que certamente voltariam ao país com ferimentos graves, principalmente depois das investidas de 1944 contra as forças alemãs.

Em 1943, (já refugiado alemão) o governo britânico ofereceu-lhe a oportunidade de dirigir uma ala de um hospital em Stoke Mandeville. Ele concordou com a condição de que não receberia qualquer interferência externa em sua pesquisa sobre lesões na medula espinhal. Ele montou um programa educacional para que pacientes gravemente feridos fossem contratados como carpinteiros, relojoeiros ou simplesmente datilógrafos. Guttman estava convencido de que era necessário mudar a percepção das pessoas com deficiência que foram marginalizadas e abandonadas à própria sorte. (Esses pacientes eram deixados nos leitos dos hospitais abandonados até morrer.) Ali desenvolver métodos de tratamento para casos de paraplegia. Em 1944 tornou-se diretor dessa ala, chamada inicialmente de Enfermaria X (Ward X, em inglês) e dotada de 26 leitos para mutilados de guerra e pacientes paralíticos. A unidade iria se tornar o Centro Nacional de Lesões da Coluna, no Hospital de Stoke Mandeville.

Guttmann estimulou ex-soldados a praticar esportes como forma de terapia. Os tratamentos de reabilitação eram longos e, muitas vezes, a imobilidade ou falta de perspectiva de futuro, levavam-lhes ao óbito. Guttmann teve uma ideia sensacional: movimentar o corpo do paciente, reabilitando-o com múltiplos exercícios recreativos e esportivos.

De acordo com artigo do cardiologista Lauro Arruda, publicado no site do Hospital do Coração, de São Paulo, Guttmann estudava e ajudava as pessoas que ficavam presas a camas ou cadeiras e que em três anos chegaram a um índice de mortalidade de 18% por conta de escaras, infecções ou de depressão. Além de começar a usar a fisioterapia no tratamento, Guttmann introduziu o esporte para motivar esses pacientes, começando por arremessos de bola, para exercitar os membros superiores. Os reflexos da iniciativa produziram um aumento de resistência física e de auto-estima.

Um veterano da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que havia passado 26 anos na cama, em seis meses passou a andar apoiado em bengalas, com os novos métodos implantados por Guttmann. Entre esses métodos estavam, além da prática de exercícios físicos, o desenvolvimento de novos modelos de cadeiras de rodas.

Dr. Ludwig Guttmann morreu de infarto no miocárdio em 1989. Uma estátua em homenagem a Sir Ludwig Guttmann foi erguida em Stoke Mandeville. Sua filha, Eva Guttmann, foi indicada como prefeita da Vila Paraolímpica, em homenagem ao seu pai.

Guttmann, Olimpíadas e Paraolimpíadas na História:

Há pelo menos 100 anos, o esporte tem disputas entre atletas com algum tipo de deficiência física. Em 1888, Berlim, na Alemanha, já contava com clubes que promoviam a participação de surdos nos esportes. Mas foi somente depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que as competições entre aqueles que depois seriam chamados de atletas parallímpicos ganharam força mundialmente. E com o propósito, justamente, de acolher o grande número de soldados feridos nos combates.

1920 - A origem do esporte paralímpico está associada ao tratamento dos portadores de deficiência. Durante a década de 1920, o neurologista Ludwig Guttmann, chefe do Centro Nacional de Traumatismos da Inglaterra, revolucionou o modo de se tratar os deficientes físicos com uma técnica inovadora: o esporte. Com a ajuda de modalidades como tiro com arco, basquete e sinuca, ele aumentou a eficiência nesse campo da Medicina.

1948 - Em 28 de julho de 1948, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, Guttmann organizou a primeira competição de arco e flecha e basquete em cadeiras de rodas para seus 16 atletas (14 homens e duas mulheres) portadores de deficiências. Apenas competidores britânicos participaram.

1952 - A partir desta data, a competição ganhou o nome oficial de Jogos Internacionais de Stoke Mandeville, cidade inglesa onde estava situado o Centro Nacional de Traumatismos.Os Jogos organizados por Guttmann já tinham caráter internacional e neste ano contou com a participação de mais de 130 competidores estrangeiros.

1959 - Já consolidado e com várias modalidades em disputa, os Jogos Internacionais tomaram novos rumos. Guttman pediu ao Comitê Olímpico a oportunidade de fazer coincidir seus jogos com os Jogos Olímpicos de 1960 em Roma. Ficou decidido que, no ano seguinte, as disputas seriam, pela primeira vez, fora de Stoke Mandeville. Os atletas desembarcariam em Roma, sede dos Jogos Olímpicos.

1960 - A competição iniciada por Guttmann foi disputada em Roma, na Itália, já sob o nome de Jogos Paraolímpicos. Foram 400 inscritos, de 23 países, participando de oito esportes, dos quais seis seguem no programa paraolímpico até hoje: tênis de mesa, tiro com arco, basquete, natação, esgrima e atletismo.Ficou determinado que os jogos ocorreriam a cada quatro anos.

1961 -Guttmann fundou a Federação Inglesa de Esportes para Portadores de Deficiência, ano em que também assumiu a presidência da Sociedade Médica Internacional de Paraplegia, atualmente Sociedade Internacional de Medula Espinhal.

1964 – Olimpíadas e Paraolimpíadas de Tóquio.

1965 - Em sua homenagem, Barcelona, na Espanha, fundou o Instituto Guttmann, o primeiro hospital especializado em neurorreabilitação de portadores de lesão medular e danos cerebrais.

1969 - A Cidade do México alegou não ter estrutura para abrigar atletas paralímpicos e a competição passou para Tel-Aviv, Israel.

1972 – A cidade de Munique abriu mão da competição que foi realizada em Heidelberg, ambas na Alemanha. Até este ano os Jogos eram restritos aos paraplégicos. A história brasileira nos Jogos começa em 1972. Com uma delegação pequena, de apenas 14 atletas em três esportes, o Brasil não se destacou.

1976 – A expansão das Paralimpíadas para outras categorias de deficiência se deu em 1976: amputados e deficientes visuais e com paralisia cerebral passaram a fazer parte do programa. No Canadá, quem abrigou a disputa foi Toronto, e não Montreal.

1980 – Enquanto as Olimpíadas foram realizadas em Moscou, na antiga União Soviética, os Jogos Paralímpicos ocorreram em Arnhem, Holanda.

1984 – Ano dos Jogos de Los Angeles, foram duas sedes. Em Nova York, também nos Estados Unidos, se disputaram as categorias para deficientes visuais, portadores de paralisias e amputados. Já os cadeirantes voltaram à Stoke Mandeville. O Brasil deslanchou neste ano: foram sete ouros, 17 pratas e quatro bronzes. O primeiro ouro foi no atletismo (onde o Brasil faturou seis das sete medalhas douradas), com Márcia Lasmar nos 200m rasos.

1988 – Desde a Olimpíada de Seul-1988, na Coreia do Sul, e da Olimpíada de Inverno em Albertville-1992, na França, os Jogos Paraolímpicos são disputados nas mesmas cidades e locais de competição dos Jogos Olímpicos, em acordo com os respectivos Comitês Internacionais.

1989 – Em em 22 de setembro o Comitê Paraolímpico Internacional foi fundado como entidade sem fins lucrativos em Dusseldorf, na Alemanha, para atuar como órgão dirigente do movimento parallímpico global. Foi acertado, em inglês, que fosse "paralímpico", sob argumento de que a denominação derivaria da preposição grega "para" (ao lado) e da palavra olímpico, significando que os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos caminhariam em paralelo, lado a lado.

1996 – A partir dos Jogos Paralímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos, nesta data, foram incluídos os deficientes intelectuais. Eles foram tirados do programa paralímpico em Atenas (2004) e Pequim (2008), mas voltaram em Londres em 2012.

2012 – Os Jogos Paraolímpicos de contou com 4.200 inscritos.

No Judaísmo existe um princípio chamado Tikun Olam - consertar o mundo. Segundo o judaísmo, D’us oferece a todos os seres humanos a possibilidade de intervir corrigindo as imperfeições do mundo. Guttman foi um destes grandes exemplos. Morre o gênio, permanece seu legado.