Os cientistas americanos Harvey J. Alter, judeu, e Charles M. Rice e o britânico Michael Houghton ganharam em conjunto o Prêmio Nobel de Medicina por sua descoberta do vírus da hepatite C.

Ao anunciar o prêmio em Estocolmo, o Comitê do Nobel destacou que o trabalho dos três ajudou a identificar uma fonte importante de hepatite transmitida pelo sangue que não poderia ser explicada pelos vírus da hepatite A e B anteriormente descobertos. O trabalho deles, que remonta às décadas de 1970 e 1980, ajudou a salvar milhões de vidas, disse o comitê.

"Graças à sua descoberta, testes de sangue altamente sensíveis para o vírus estão agora disponíveis e eliminou a transmissão através de transfusão em muitas partes do mundo, contribuindo para a melhoria da saúde global", disse o comitê.

"A descoberta deles também permitiu o rápido desenvolvimento de medicamentos antivirais direcionados à hepatite C", acrescentou. ?Pela primeira vez na história, a doença agora pode ser curada, aumentando as esperanças de erradicar o vírus da hepatite C da população mundial".

Em um artigo autodepreciativo de 2013, Alter creditou sua carreira médica à sua educação judaica, dizendo que seu pai queria ser médico, mas foi impedido por restrições financeiras.

"Por ser filho único de pais judeus na cidade de Nova York, estava predestinado a me tornar médico. Um de meus amigos, de formação semelhante, optou por não ser médico e nunca mais se ouviu falar dele", escreveu ele em "O caminho não percorrido ou como aprendi a amar o fígado: uma perspectiva pessoal sobre a história da hepatite".

"De qualquer forma, meu pai teve uma forte influência em meu caminho para a medicina, embora eu ache que teria escolhido esse caminho mesmo sem sua inspiração; as ciências biológicas sempre me pareceram mais interessantes do que qualquer outra disciplina, exceto, é claro, o beisebol. Eu teria largado a medicina em um milésimo de segundo para jogar pelo Brooklyn Dodgers. Havia, no entanto, certos impedimentos para que eu me tornasse um jogador de beisebol profissional - eu não podia rebater e não podia jogar, assim, sublimei meu sonho para me tornar médico", escreveu ele.

A OMS estima que haja mais de 70 milhões de casos de hepatite C em todo o mundo e 400.000 mortes por ano. A doença é crônica e uma das principais causas de câncer de fígado e cirrose, requerendo transplante de fígado.

John McLauchlan, professor de hepatite viral da Universidade de Glasgow, chamou os três laureados de "pioneiros" e disse que sua descoberta tornou possível a eliminação global da doença. Em 2016, a Organização Mundial da Saúde divulgou uma estratégia para erradicar a doença até 2030.

"Isso marcaria a primeira vez que poderíamos controlar uma infecção viral usando apenas drogas", disse McLauchlan.

"O único problema é a dificuldade em levar essas drogas às pessoas e lugares onde elas precisam desesperadamente", disse ele, acrescentando que a doença atinge principalmente populações estigmatizadas, como usuários de drogas e pobres.

Alter, que nasceu em uma família judia em 1935 em Nova York, realizou seus estudos no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos em Bethesda, onde continua ativo, disse o comitê. Rice, nascido em 1952 em Sacramento, Califórnia, trabalhou na Washington University em St. Louis e agora atua na Rockefeller University em Nova York. Houghton, nascido na Grã-Bretanha em 1950, estudou na Chiron Corporation na Califórnia antes de se mudar para a Universidade de Alberta, no Canadá.

O prêmio de medicina teve um significado especial este ano devido à pandemia do coronavírus, que destacou a importância que a pesquisa médica tem para as sociedades e economias em todo o mundo.