Na noite anterior à circuncisão de um menino, muitas comunidades têm o costume de se reunir amigos e parentes na casa do recém-nascido e estudar a noite toda (ou pelo menos até a meia-noite haláchica1).2 Nesta noite também existe o costume de crianças pequenas irem logo ao anoitecer à casa do bebê recém-nascido para recitarem o Shemá, bem como outros versículos da Torá.3

Em ídiche, esta noite é chamada vacht nacht, "noite de vigília". Essa tradição correspondente nas comunidades sefarditas é chamada de brit Yitschac, "o pacto de Isaac".

O costume pode ser encontrado no Zohar, onde lemos que os sábios ficaram acordados aprendendo a Torá e se aprofundando nos aspectos mais profundos do brit milá na noite anterior à circuncisão. Muitos têm o costume de estudar essa parte do Zohar, juntamente com outros textos específicos, durante o ctranscorrer da noite.4

Avraham nos portões do Guehenom

A circuncisão é uma das maiores mitsvot, um sinal físico do vínculo e aliança entre D'us e o povo judeu. Como o Talmud e o Midrash descrevem, nosso patriarca Avraham “senta-se aos portões do Guehenom (Inferno)” e não permite que ninguém que tenha um brit milá desça nele.5

Os místicos explicam que conhecendo o grande poder espiritual dessa mitsvá, as forças espirituais negativas tentam prejudicar a criança e impedir que a circuncisão ocorra. Assim, na noite anterior à circuncisão, ficamos acordados estudando a Torá e fazendo mitsvot nas proximidades do bebê para protegê-lo espiritualmente.6

Além disso, alguns explicam que o aprendizado da Torá pelo recém-nascido infunde à criança uma santidade adicional.7

Crianças recitam o Shema

Essa também é uma das razões pelas quais é costume que as crianças recitem a prece do Shemá (assim como outros versículos). As crianças pequenas, que são puras e sem pecados, têm um tremendo poder espiritual; assim, ao recitarem versículos da Torá elas protegem o bebê contra o mal. Isto é especialmente verdadeiro no que diz respeito a recitar o Shema. Explicando os versículos dos Salmos: “Os piedosos exultam em glória; eles irão cantar louvores em suas camas. Elogios elevados de D'us em suas gargantas e uma espada de dois gumes nas mãos”8 o Talmud nos diz que quem recita Shemá em sua cama é como se estivesse metaforicamente "segurando uma espada de dois gumes" que o protege de todo mal.9

Assim, o costume é recitar o Shemá ao lado do recém-nascido.10

Além disso, o Talmud explica que o primeiro parágrafo de Shemá, “Shema Yisrael" ("Ouça O Israel..."), é sobre aceitar o jugo do Céu, e o parágrafo “Vehoyah im shemoah” ("E acontecerá..." ) é aceitar o jugo das mitsvot. Então, quando o recém-nascido está prestes a participar de sua primeira mitsvá, ou seja, a brit milá, recitamos o Shemá.11

Ficar acordado na noite do Shabat

Como o motivo para ficar acordado na noite anterior ao brit milá é vigiar espiritualmente a criança, alguns pensam que, se o brit cair no Shabat, o vach nacht não será necessário. O próprio Shabat serve como um guardião espiritual contra as forças negativas, como evidenciado pelas preces de sextas-feiras à noite, onde omitimos certas orações que examinam D'us nos vigiando.12

Outros, no entanto, afirmam que ainda precisamos estar vigilantes, embora em menor medida. Assim, alguns fazem o vach nacht mas num menor período da noite.13

Perseguição ao longo das gerações

Embora até agora tenhamos abordado as forças espirituais negativas que tentam impedir que a criança judia complete seu brit, não é por acaso que nossos opressores ao longo das gerações, fosem gregos, romanos ou nazistas, primeiro proibiriam a circuncisão em seus esforços para acabar com o judaísmo.

Apesar disso, os judeus sempre estiveram prontos para realizar essa mitsvá com grande alegria e sacrifício, cconforme proclama o Talmud: “Toda mitsvá que os judeus inicialmente aceitaram com alegria, como a circuncisão. . . eles ainda a cumprem com alegria. . . Qualquer mitsvá pela qual os judeus sacrificaram suas vidas na época dos decretos do império [romano] perverso, como a proibição da idolatria e a mitsvá da circuncisão, ainda é observada com firmeza ”.14