Corpo e alma são opostos. A alma nada mais quer que escapar na direção do céu, deixar sua existência neste mundo e se reunir com sua Fonte Infinita. O corpo, por outro lado, procura passar por uma vida terrena repleta de prazeres terrenos.
O corpo anseia por gratificação instantânea, tangível. Como então o corpo e a alma se unem tão suavemente para se tornarem um ser humano? Por que a alma não está em guerra com a força gravitacional do corpo? Por que a alma não escapa dos confins do corpo?
Os cabalistas ensinam que a energia Divina que cria o mundo – a “alma” do mundo – é formada de duas partes: luz e vasos. A luz é a energia indefinida, e os vasos expressam a energia numa forma limitada e definida.
Assim como o corpo humano e a alma, os vasos e a luz são opostos. A luz procura escapar para o alto e se reunir com sua Fonte Infinita, enquanto os vasos são felizes em manter sua própria personalidade distinta. Por que então a luz se conecta com os vasos? Por que a luz não se recolhe à sua fonte?
Vamos entender isso por meio de uma parábola:
Um professor brilhante ensinava numa escola graduada, onde ele tinha muitos estudantes bem dotados que entendiam a profundeza de seu ensinamento e apreciavam seu profundo discernimento. Um dia, o professor convidou os alunos para irem com ele visitar uma sala de aula do primeiro grau, onde ele iria explicar suas mais recentes descobertas às crianças.
Compreensivelmente, os alunos graduados não quiseram ir com ele. Preferiram experimentar a grande capacidade do professor na escola graduada, não na primária. Não tinham o desejo de limitar seu estudo à capacidade intelectual do primeiro grau.
Um aluno, no entanto, decidiu ir com o professor. O estudante entendia que para uma teoria ser projetada ao mundo distante de um aluno primário, o professor precisaria buscar muito mais profundamente dentro de si mesmo. Para se comunicar com pessoas tão intelectualmente longe de si mesmo, ele pesquisaria e iria descobrir a essência da ideia. O estudante entendeu que a sala de aula do primeiro grau era o local onde o verdadeiro brilhantismo do professor seria expressado. A capacidade de se comunicar com uma realidade distante vem das fontes mais profundas do intelecto da pessoa.
E assim, enquanto os alunos da escola primária estavam ouvindo a palestra do homem mais velho, estavam alheios à grandeza de sua sabedoria. Eles teriam preferido brincar com os brinquedos empilhados no fundo da sala de aula. Porém o aluno graduado se encantava com cada palavra que saía da boca de seu professor. Nunca antes ele tinha experimentado esse elemento do impressionante poder intelectual do professor. Jamais ouvira ideias tão profundas expressas em palavras tão simples. Interessantemente, os alunos do primeiro grau, a causa dessa revelação, não eram maduros o suficiente para apreciar isso. Foi somente o estudante graduado que apreciou a natureza elevada daquilo que estava transpirando na sala de aula do primeiro grau.
Similar ao estudante graduado apreciando a palestra dada no primeiro grau, a alma aprecia a grandeza do corpo. O corpo, como os alunos do primeiro grau, não entende que o corpo é uma expressão mais profunda da grandeza da alma que o corpo é.
Para criar um corpo, para D’us expressar Sua energia num local espiritualmente distante, D'us deve expressar uma parte mais profunda de Si Mesmo. E mesmo assim, é preciso uma alma para entender a grande fonte espiritual de um corpo.
E assim é com a Divina luz. Ela, também, sente que os vãos, especificamente porque são limitados e definidos, estão enraizados num local mais elevado dentro do Divino. A luz abstrata indefinida sente que a criação de vasos é D'us projetando uma parte mais profunda de Si Mesmo.
Isso, então, ilumina a atitude do Judaísmo rumo a todas as coisas físicas.
Fisicamente, deixada aos seus próprios dispositivos, é vazia de luz espiritual e é uma distração do propósito da pessoa na vida. É preciso uma alma para entender a grande fonte espiritual de um corpo. Porém quando a alma se engaja com o físico, a alma revela a verdade, que a fisicalidade é uma expressão maior do impressionante poder de D'us. Pois quando um D'us infinito Se expressa num âmbito finito, aquela é a verdadeira indicação de Sua infinidade.
Na Parashá Reê, a Torá descreve a suprema experiência espiritual do judeu durante a peregrinação a Jerusalém três vezes por ano.
“E deves comer perante o Eterno, teu D'us, no local que Ele escolhe para estabelecer Seu nome, os dízimos de teu grão, teu vinho e teu óleo, e o primogênito de teu gado e de tuas ovelhas, para que possas aprender a temer o Eterno, teu D'us, todos os dias.”
Como o judeu atinge a epítome das alturas espirituais? Comendo seu cereal, vinho, azeite, rebanho e ovelha!
Pois a luz sente a superioridade dos vasos. A alma sente a superioridade do corpo. E o judeu sente que enquanto está numa deliciosa refeição com vinho, ele pode simultaneamente experimentar um júbilo espiritual, atingindo a essência da Divindade.
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