A linguagem hebraica é extremamente potente. A Torá nos diz que até o incidente da Torre de Babel, toda a humanidade falava o mesmo idioma: o hebraico bíblico.1 Na verdade, o poder do Idioma Sagrado foi o que impeliu o sucesso inicial dos construtores da torre.2 Para detê-los, D'us “confundiu” seus idiomas, e nasceram as muitas línguas diversas.3

O que torna essa linguagem sagrada?

A Linguagem da Criação

No livro de Bereshit lemos como D'us criou o mundo: “D'us disse: ‘Que haja luz,’ e houve luz.4 Isso não foi simplesmente retórica; essas palavras continham a energia Divina que criou a luz. A Torá descreve dez frases assim – Dez Pronunciamentos através dos quais o mundo foi criado.5 Tudo que existe foi criado através da energia dentro dessas palavras hebraicas.6

Os cabalistas explicam que ao contrário da fala humana – que uma vez falada se vai – a “fala” de D'us é eterna, conforme consta nos Salmos “Para sempre, ó D'us, Tua palavra permanece nos céus.”7 Assim os Dez Pronunciamentos ainda estão nos céus, constantemente recriando e energizando o mundo.8

Como tudo é criado através de palavras, o nome hebraico de um objeto expressa a própria energia que lhe dá existência. É por isso que foi Adam que nomeou os animais, pois foi preciso grande sabedoria para poder entender o caráter de cada animal e dar-lhe seu verdadeiro nome.

Linguagem Limpa

Maimônides, em seu Guia Para os Perplexos, explica que o hebraico é sagrado porque não nomeia explicitamente partes privadas do corpo e atos: “O hebraico não tem nome especial para os órgãos reprodutores em mulheres ou homens, nem para o ato de procriação, nem para sêmen, nem para excreção. O léxico hebraico não tem termos originais para essas coisas, e as descreve somente através de alusão figurativa e pistas…”9

A Linguagem da Profecia

Nachmanides discorda da opinião de Maimônides, declarando que um idioma não pode ser definido como sagrado simplesmente porque omite palavras aparentemente vulgares – palavras, ele argumenta, que não são vulgares de maneira alguma, porque a sexualidade é na verdade sagrada se as intenções da pessoa são puras. Nachmanides é da opinião de que o hebraico é inerentemente sagrado porque é a linguagem pela qual D'us comunicou os Dez Mandamentos e a Torá no Monte Sinai, é o meio para Sua comunicação com profetas, e é a linguagem dos nomes de D'us e Seus anjos.10

O Dilema

Chegamos agora a um dilema. Por um lado, Maimônides aponta, atos sexuais e órgãos não têm nomes hebraicos porque são aparentemente vulgares. Por outro lado, como tudo neste mundo existe somente por causa da energia dentro de seu nome hebraico, eles devem ter nomes hebraicos – o que significa que devem ser sagrados, como Nachmanides acredita.

O Rebe resolve este dilema mergulhando mais fundo nas meditações sobre realidade pré-pecado e realidade pós-pecado. Antes do pecado da Árvore do Conhecimento, atos e órgãos sexuais eram como quaisquer outros atos e órgãos, e certamente havia nomes para eles no Idioma Sagrado. Mas depois do pecado, Adam e Chava se tornaram cônscios da sua sensualidade, e essas ações e órgãos se tornaram inextricavelmente ligados a luxúria. Portanto não sabemos seus nomes, porque sua santidade está além de nós.

(Interessantemente, a explicação do Rebe junta as opiniões de Nachmanides e Maimônides, pois ambos são da opinião de que a sexualidade pode ser sagrada ou profana dependendo do contexto.)11

Energia Espiritual Única

Rabi Yeshayah ha-Levi Horowitz, conhecido como o Shaloh, afirma que as palavras e letras de outros idiomas foram escolhidas arbitrariamente pelo homem. No Idioma Sagrado, porém, há significado no nome, forma e som de cada letra, cada qual aludindo a energia espiritual e atributos únicos.12

Eu Deveria Falar Hebraico?

Nossos sábios nos dizem que aquele que mora na terra de Israel, come num estado de pureza ritual, fala no Idioma Sagrado, e recita o Shemá toda manhã e noite tem garantida uma porção no mundo vindouro.13 Além disso, o Zohar declara que quando falamos no idioma sagrado, a Shechiná (Presença Divina) habita entre nós.14

Por outro lado, é exatamente por causa da santidade do idioma que muitos o reservaram como uma linguagem especial para ser usada somente para estudo de Torá e prece.15

Mas tão importante como é falar, rezar e estudar em hebraico, é muito mais importante compreender realmente o que você está dizendo e aprendendo. É por este motivo que o Talmud foi escrito em aramaico. E é por esta razão que, apesar de tudo que dissemos, se alguém não entende hebraico, deveria rezar no idioma que compreende.